Ellen Steiger
No momento estou lendo um comentário sobre o livro de Jó. No prefácio, o autor escreve: “O evangelicalismo de hoje, que se vê como o único executor legítimo do ensinamento dos apóstolos, acredita em um Deus que é mais um tio condescendente do que um criador absoluto, salvador soberano e juiz incorruptível”.[1] Essa é uma afirmação dolorosa. Mas isso é exatamente o que fazemos – e lemos repetidas vezes nos discursos dos três amigos de Jó. Como eles primeiro simpatizam com ele, apenas sentados ao seu lado em silêncio por sete dias. Mas então a imagem muda. Continuando a afirmar que Deus é justo, que Deus só pune os pecadores e abençoa os justos, dizem que Jó pecou, foi insincero e sua piedade não é e nunca foi genuína. Mas sabemos que isso não era verdade. Deus tinha um propósito no sofrimento de Jó.
Em nenhum lugar da Bíblia podemos ler que – nesta terra – nunca estaremos tristes, nunca doentes, nunca desempregados, nunca com falta de dinheiro etc. A Bíblia nos diz que o sofrimento nos aproxima de Deus; ela ainda vai além, mostrando que tais provações fazem parte de nosso chamado (1Pe 2.19-21). Podemos lembrar aqui de Paulo, ao qual Deus deixou um espinho na carne a fim de que ele não se orgulhasse (2Co 12.7).
Assim como os amigos de Jó não entendiam a Deus, a Israel hoje é negada a sua promessa de ainda ser o povo de Deus. Lemos no artigo de capa de Norbert Lieth e Johannes Pflaum: “Lutero considerava que a promessa da terra para Israel e as promessas messiânicas do cetro de Davi estavam cumpridas com a primeira vinda de Jesus e com a dispersão dos judeus para fora de sua pátria. No seu entendimento, as promessas e o culto a Deus foram transferidos para os cristãos” (leia aqui). No entanto, enquanto ainda se podia entender Lutero (e os pais da igreja) pelo “fato de que, na sua época, não havia a mínima perspectiva a respeito do Estado de Israel”, atualmente é difícil de entender por que “os representantes da teologia da substituição se agarr[a]m de maneira obstinada a suas teses, quando vemos Israel obviamente no centro dos acontecimentos mundiais e, com isso, o início do cumprimento das últimas profecias bíblicas”.
Os amigos de Jó agiram semelhantemente: “... o homem se coloca na posição de juiz, acima de Deus e de suas promessas. [...] Assim, perdeu a capacidade de avaliação para analisar devidamente os sinais dos tempos”. Ou, como Daniel Lima escreve: “Aparentemente, em algumas igrejas, mesmo sem que se perceba, Cristo foi demitido, pois suas exortações contrariavam as tradições, os objetivos e procedimentos delas” (leia aqui).
Levemos em nossos corações o que Samuel Rindlisbacher escreve em sua série sobre a carta aos Romanos: “O amor de Deus é tão insondável, tão incompreensível, que ele deu a sua própria vida quando ainda nem queríamos saber nada dele...” (leia aqui).
Com esta visão do nosso maravilhoso Senhor, desejo-lhe uma boa leitura!
Nota
- Benedikt Peters, Das Buch Hiob (Bielefeld: CLV, 2020), p. 14.