Quem acredita no futuro da nação?

Há um número considerável de cristãos fiéis intérpretes da Bíblia com cujas convicções concordamos em grande parte, os quais, porém, rejeitam a possibilidade de um futuro para o povo étnico de Israel. Esses representantes da chamada teologia da substituição defendem que a nova aliança substituiu a antiga aliança e, assim, as promessas feitas para Israel foram transferidas para a igreja. Dizem que, por causa de sua descrença, Israel perdeu o direito às promessas e como tal, este povo não tem mais um futuro garantido. Citam a passagem de Gálatas 6.15-16 como uma das bases de sua afirmação:

“Pois nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova criatura. E, a todos os que andarem em conformidade com esta regra, paz e misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus.”

Os teólogos da substituição argumentam que essa passagem, além de algumas outras, esclarecem que a igreja do Novo Testamento constitui o “Israel de Deus” e, assim, o povo de Israel não tem mais a promessa de ser o povo eleito de Deus.

Eles se baseiam, também, em outros textos, como Romanos 2.28-29 e 9.6-11. Nessa primeira passagem da carta aos Romanos, Paulo não se refere a um judeu circuncidado e pertencente a Israel, mas a alguém circunciso no coração (justiça pela fé), no espírito:

“Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão é a do coração, pelo Espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede de seres humanos, mas de Deus” (Rm 2.28-29).

A segunda passagem não indica que os filhos da carne (o povo de Israel) sejam os descendentes de Abraão, mas os “filhos da promessa”:

“E não pensemos que a palavra de Deus falhou. Porque nem todos os de Israel são, de fato, israelitas, nem por serem descendentes de Abraão são todos filhos. Pelo contrário: ‘Por meio de Isaque será chamada a sua descendência.’ Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa é que são contados como descendência. Porque a palavra da promessa é esta: ‘Por esse tempo voltarei, e Sara terá um filho.’ E isto não aconteceu somente com ela, mas também com Rebeca, ao conceber de um só, de Isaque, nosso pai. E os gêmeos ainda não eram nascidos, nem tinham feito o bem ou o mal – para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama” (Rm 9.6-11).

O argumento baseado nessas passagens é que, através da nova aliança, as promessas terrenas dadas a Israel, que ainda não foram cumpridas, perderam seu efeito para ele e serão cumpridas somente para os que creram (a igreja) no sentido espiritual.

Atualmente, grande parte de cristãos fiéis à Bíblia é atingida por uma crescente insegurança provocada pela divulgação dessa teologia da substituição. Com isso, surge a pergunta se a grande maioria do movimento fiel à Bíblia, no âmbito do idioma alemão, entendeu e interpretou erradamente o que a Palavra de Deus ensina sobre Israel. Por essa razão, desejamos mencionar algumas passagens bíblicas, que mostram claramente, que Israel continua sendo – como foi desde sempre – o povo eleito de Deus e, com base na Bíblia, tem um grande futuro.

O apóstolo Paulo ressaltou que os crentes, oriundos dos povos gentios, não têm nenhum motivo de se orgulharem e julgarem ser superiores a Israel, reagindo com vaidade ou inimizade: “Não fique orgulhoso, mas tema” (Rm 11.20). Justamente essa exortação logo foi desconsiderada, pois, cedo na história da igreja, se abateu uma tempestade sobre o judaísmo.

Muitos patriarcas da igreja chegaram à conclusão de que os judeus – os “assassinos de Cristo” – foram rejeitados por Deus para sempre. Assim, Israel teria sido deserdado e a igreja teria ocupado o lugar de Israel. Com isso, a cristandade seria a beneficiária de todas as promessas e bênçãos de Deus, para sempre. No decorrer dos últimos dois séculos, esse ponto de vista contribuiu em muito para o mal-entendido a respeito de Israel e causou muito sofrimento para os judeus. Principalmente o teólogo e filósofo grego Orígenes (185-254 d.C.), conhecido como o “primeiro dogmático da história da igreja”, já no início do século III, defendeu o parecer de que todas as promessas do Antigo Testamento, feitas para o povo de Israel, seriam transferidas para a igreja. Ao contrário, todas as maldições e condenações do Antigo Testamento continuariam, palavra por palavra, exclusiva e permanentemente direcionadas ao povo judeu. Essa linha de pensamento foi dominante, principalmente durante os primeiros séculos do cristianismo, influenciou a Idade Média e influenciou até os reformadores.

No livro Die Wurzeln des Antisemitismus [As raízes do antissemitismo], de Carsten Peter Thiede e Ulf Stingelin, está escrito: “Hoje ficamos chocados, sem compreender, como tais fatos aconteceram e também não podemos concordar com as tentativas mais sutis de explicar a razão pela qual se pensou, escreveu e agiu dessa maneira, nem, ainda, nos omitir a documentar e a admitir a existência dessa mancha vergonhosa desde o segundo século na história da igreja. Quem considera que o cristianismo é inimigo dos judeus, pode, por direito, recorrer àqueles mestres da igreja que determinam os princípios cristãos de pensamento e de ação”.[1]

É possível acompanhar esse desenvolvimento trágico desde cedo na história da igreja. O cristianismo não conseguiu assimilar, com a devida longanimidade espiritual, que os judeus eram um dos principais obstáculos para as atividades missionárias. A partir daí surgiu a teologia da substituição e da deserdação. Alguns pais da igreja contribuíram de maneira infeliz para que essa teoria fosse difundida. João Crisóstomo, no século IV, definiu a sinagoga como “o templo dos demônios [...] a gruta do Diabo [...] o abismo da perdição”.[2]

Em certa ocasião, o Bispo de Antioquia afirmou: “É necessário fugir dos judeus como se fosse uma epidemia que ameaça o mundo todo. É necessário imitar os mártires que odiavam os judeus, pois amavam a Jesus Cristo. Não se pode amar o sacrifício sem odiar os assassinos. [...] A exemplo de animais cevados, inadequados para o trabalho, eles servem apenas para o abate”.[3]

Infelizmente também o patriarca Agostinho, apesar de seus conhecimentos, foi um dos representantes da teologia da deserdação e se expressava de modo fatídico sobre a questão dos judeus. Bernard Lewis complementa que, “de acordo com Agostinho, aqueles que antes eram do povo eleito de Deus, agora eram considerados filhos de Satanás”.[4]

Carsten Peter Thiede e Urs Stingelin chama a atenção para o trágico ódio aos judeus por parte desse patriarca da igreja. Eles salientam que, em sua obra principal De Civitate Dei [Sobre o estado de Deus] aparecem diversos pontos antijudaicos. Ele também defendia a tese de que apenas os judeus mataram a Cristo e que deveriam ser castigados por serem assassinos de Jesus. O antissemitismo de Agostinho transparece claramente na sua obra Tractatus adversos iudaeos [Tratado Contra os Judeus]. Os autores mencionados anteriormente consideram que a má influência dele nessa questão foi significativa na história da igreja.[5]

Essa orientação se estendeu ainda mais através da história da igreja. É o que escreve H. Weber: “O antissemitismo existente no cristianismo antigo superava a qualquer inimizade aos judeus – anterior ou atual – observada entre os não cristãos. A partir do século IV, o ódio que permeava a legislação da igreja e do Estado se manifestou através de numerosos atos violentos contra os judeus e suas sinagogas. Os judeus perdiam seus direitos civis em etapas. Quem aderisse ao judaísmo estava sujeito a ser queimado vivo (cf. Decreto de Constantino em 315 d.C.). A missão aos judeus foi proibida. Numerosos distúrbios violentos contra judeus foram instigados por bispos e monges”.[6]

Esse bacilo também pode ser detectado posteriormente em personalidades proeminentes da história da igreja. No início do movimento da Reforma, Martin Luther tinha sentimentos amistosos em favor dos judeus a ponto de ter, em 1523, se posicionado favoravelmente aos judeus, confrontando a tendência da igreja. Luther denunciou o tratamento antissemita dos cristãos aos judeus com seu modo peculiar. Ele considerava os judeus mais próximos de Cristo do que nós, os gentios, com base na descendência deles. Ele também falava dos privilégios que a Bíblia concedia aos judeus. Ao mesmo tempo, ele considerava que os judeus poderiam se tornar bons cristãos se eles fossem instruídos nas Escrituras Sagradas com pureza. Infelizmente, ao final de sua atividade, o maior de todos os reformadores elaborou um texto sinistro sobre essa questão. Alguns são da opinião que esse texto é consequência de uma grande decepção de Luther, quando esperava uma grande abertura por parte dos judeus em resposta à sua nova interpretação da Palavra de Deus, o que não aconteceu. Outra tese indica que, em 1525, o reformador teria sido ameaçado por um judeu polonês que, aparentemente, tinha a incumbência de envenená-lo.[7]

Imagina-se que, diante dessa ameaça (mesmo que pudesse ter sido falsa), Luther foi levado a reformular seus conceitos a respeito dos judeus. Vários pesquisadores reconhecem a guinada na postura de Luther quando ele, em 1537, rejeitou um pedido recebido através de uma carta, do judeu Josel von Rosheim.[8]

Martin Brecht tenta descrever explicitamente o desenvolvimento do reformador na questão dos judeus, nos três volumes da sua obra sobre Martin Luther. Apesar de Luther ter-se portado bem diante do antissemitismo reinante em sua época, Brecht considera que já há indícios que permitem reconhecer uma crescente ambiguidade na questão dos judeus, por parte do reformador. Brecht enumera os seguintes pontos em sua explanação que culminaram na elaboração do texto antijudaico:

  • O reformador teve experiências negativas com a animosidade dos judeus contra os cristãos;
  • Luther desejava conduzir os judeus ao Messias e recebeu oposição por parte dos rabinos. Sua argumentação com base em passagens bíblicas, às vezes, era rebatida pelos rabinos com citações de outros rabinos e isso o decepcionou;
  • Luther foi confrontado pela influência de extremistas que exigiam a observância do Sábado, inclusive a circuncisão (os chamados “sabatistas judaizantes”). O reformador pressentiu o perigo de uma recaída para o legalismo judaico e, por isso, redigiu o texto Wider die Sabather [Contra os sabatistas];
  • Luther reconheceu os paralelos da justificação pelas obras entre os religiosos judeus e a Igreja Católica, bem como a respectiva rejeição da justificação pela graça;
  • Luther ficou profundamente magoado que os religiosos judeus rejeitavam a Jesus Cristo como Deus e o difamavam, além de considerarem a Trindade como politeísmo.[9]

No entanto, esses pontos mencionados de maneira alguma servem para justificar ou relevar o texto antissemita de Luther. Com isso se pretende apenas demonstrar o desenvolvimento que o levou a elaborar o texto trágico de 1543: Von den Juden und ihren lügen [Dos judeus e de suas mentiras]. Mesmo que o reformador primeiramente tivesse tratado de divergências teológicas com os judeus em suas explanações, ele foi influenciado e acabou assumindo teorias conspiratórias antissemitas correntes em sua época. Ele os acusava de serem preguiçosos, de envenenarem poços, de raptarem crianças para rituais macabros e considerava os médicos judeus como misturadores de poções venenosas. Nesse texto encontramos frases como:

“O que nós, cristãos, faremos com esse povo judeu rejeitado e amaldiçoado? [...] Precisamos exercitar uma profunda misericórdia, com oração e temor a Deus, para tentarmos salvar alguns deles das chamas e do calor do inferno. Não podemos vingá-los, pois eles têm a vingança sobre suas cabeças mil vezes mais severa do que poderíamos lhes desejar. Gostaria de dar minha sugestão [...] que as suas sinagogas e escolas sejam incendiadas e aquilo que não queimar, seja coberto com tanta terra que não mais seja possível ver nenhuma pessoa, pedra ou escória, eternamente. Devemos fazer isto para honrar ao nosso Senhor e ao cristianismo, para que Deus veja que somos cristãos e que, conscientemente, não toleramos essas flagrantes mentiras, maldições e calúnias contra seu filho e seus cristãos...”[10]

Apesar dessa linha antissemita que, claramente, não tem base bíblica, não precisamos jogar tudo na lixeira. Os patriarcas da igreja também chegaram a descobertas importantes e valiosas, pelas quais podemos agradecer a Deus. Assim, por exemplo, a descoberta das 5 “solas” – somente a fé, somente a graça, somente as Escrituras, somente Cristo somente a Deus a glória –, defendidas por Luther, pode ser destacada como imprescindível para a história da igreja.

Luther considerava que a promessa da terra para Israel e as promessas messiânicas do cetro de Davi estavam cumpridas com a primeira vinda de Jesus e com a dispersão dos judeus para fora de sua pátria. No seu entendimento, as promessas e o culto a Deus foram transferidos para os cristãos.

Num certo sentido, essa visão errônea do reformador pode ser atribuída ao fato de que, na sua época, não havia a mínima perspectiva a respeito do Estado de Israel. No entanto, é ainda mais incompreensível que, atualmente, os representantes da teologia da substituição se agarrem de maneira obstinada a suas teses, quando vemos Israel obviamente no centro dos acontecimentos mundiais e, com isso, o início do cumprimento das últimas profecias bíblicas.

Por outro lado, podemos acompanhar os efeitos da teologia da substituição durante o surgimento do nacional-socialismo e o respectivo antissemitismo em sua forma mais cruel.

Mesmo no período após a Segunda Guerra Mundial e o respectivo Holocausto, as marcas da teologia da substituição, juntamente com o antissemitismo, são encontradas com alguma frequência na igreja.

Durante a Guerra do Líbano, em 1982, o pastor evangélico e teólogo Ulrich Schoen fez o seguinte pronunciamento, no Líbano:

“Surgem ideias teológicas, acompanhadas de ódio, e eu não ficaria infeliz se contivesse também um pouco de ódio divino. Essa “paz” não tem nenhuma relação com a paz que as três religiões irmãs – islamismo, cristianismo e judaísmo – pretendem promover. Essas três, em conjunto, deveriam mover um processo contra o Estado de Israel, por terem “sequestrado e violentado um menor”. Pois ele furtou o nome do povo de Deus e violentou algo jovem e delicado: a paz. Meu desejo é que apareça um produto derivado inédito dessa guerra: um golpe mortal para todos os teólogos-cristãos “pró-sionistas”.[11]

Em janeiro de 1999, foi publicado na revista Israel Today que mil clérigos americanos (incluindo bispos católico-romanos e protestantes) pediram ao então presidente Bill Clinton para congelar o auxílio para o desenvolvimento a Israel, como forma de pressão sobre Israel e apoio à criação de um Estado Palestino.

O “Documento Kairós-Palestina”, de 12 de dezembro de 2009, foi publicado pelo Conselho Ecumênico das Igrejas (CMI) como “uma palavra de fé, de esperança e de amor, vinda do seio do sofrimento dos palestinos e das palestinas”. Deve-se alertar que esse posicionamento do CMI não é apoiado por todos os representantes da teologia da deserdação (substituição). Também existem representantes crentes dessa orientação teológica que rejeitam esse texto. Todo o documento é impregnado por uma postura básica ideológica, tendenciosa e anti-israelense. Ele mostra claramente que contornos repudiáveis essa teologia da substituição e da deserdação pode alcançar. As frases seguintes indicam a rejeição de qualquer possibilidade para que haja um futuro previsto na Bíblia para a terra e o povo de Israel:

“Nosso Senhor Jesus Cristo veio para este mundo e anunciou que o reino de Deus estava próximo. [...] Ele trouxe uma ‘nova doutrina’ (Mc 1.27) que projetou uma nova luz sobre o Antigo Testamento, sobre temas que se relacionam à nossa fé cristã e ao dia a dia, sobre assuntos como promessas, a eleição, o povo de Deus e a terra. Cremos que a Palavra de Deus é uma Palavra viva, que proporciona uma nova luz para cada época da história e que revela aos crentes cristãos aquilo que Deus diz aqui e agora e não somente o que Deus possa ter dito no passado remoto. Por isso, a Palavra de Deus não pode ser transformada em letras petrificadas, que deformam o amor de Deus e a sua providência na vida dos povos e de cada pessoa, individualmente. A interpretação fundamentalista da Bíblia incorre nesse engano ao nos trazer a morte, ao petrificar e transmitir a Palavra de Deus de uma geração para a outra como sendo letra morta. Essa letra morta é utilizada, em nossa história contemporânea, como uma arma para roubar nossos direitos e nossa terra.”[12]

Na citação acima sugere-se, de maneira sutil, que a fé nas promessas para Israel é equiparável à incitação para a destruição e morte. Em outra parte do documento, lemos:

Cremos que nossa terra tem uma missão universal. Nessa universalidade se amplia o significado das promessas, da terra, da eleição e do povo de Deus e inclui toda a humanidade – iniciando por todos os povos que residem nessa terra. Observamos que, à luz dos ensinamentos da Escritura Sagrada, em nenhum momento a promessa da terra foi um programa político, mas o prelúdio para a plena salvação universal. Ela foi o início da consumação do reino de Deus na terra.[13]

Em outras palavras: Israel perdeu o seu significado em relação ao plano de salvação e nunca teve o direito de ser um povo com um território e Estado estabelecido. Também o Antigo Testamento, de maneira dramática, é fraudado de seu significado e de suas promessas, mesmo as que já foram cumpridas. Finalmente, esse anúncio do CMI ousa afirmar que a fé nas promessas bíblicas, inseparavelmente relacionadas ao futuro de Israel, é considerada como pecado:

“Esclarecemos, ainda, que a ocupação do território palestino pelos israelenses constitui um pecado contra Deus e contra os homens, pois isso furta os direitos humanos fundamentais dos palestinos que lhes foram concedidos por Deus [...] Esclarecemos que qualquer teologia, que justifique a ocupação e, assim, afirma estar apoiada na Bíblia, na fé ou na história, na verdade está longe da doutrina cristã pois ela incita, em nome do Deus onipotente, à violência e à guerra santa, ao submeter temporariamente os interesses de Deus aos dos homens; desse modo, ela deturpa a imagem de Deus nos homens que são obrigados a viver privados de seus direitos políticos e teológicos.[14]

Não é apenas uma visão unilateral e, em grande parte, contrária aos fatos do conflito israelense-palestino que é tratada aqui; tenta-se inculcar ao leitor, sorrateiramente, a tese de que a fé nas profecias e a tomada de posição pró-Estado de Israel atual seja equivalente à conclamação para a “guerra santa”. Com isso, a fé no futuro bíblico de Israel é colocada no mesmo nível da Jihad islâmica. Além disso, o homem se coloca na posição de juiz, acima de Deus e de suas promessas.

Através desse posicionamento errado diante de Israel, o cristianismo não só já carregou um grande peso de culpa sobre si, mas o faz sempre e de novo. Assim, perdeu a capacidade de avaliação para analisar devidamente os sinais dos tempos. Em Zacarias 2.8, Deus se pronuncia a respeito de Israel: “Porque aquele que tocar em vocês toca na menina dos meus olhos.”.

Em outras palavras, isso significa que, aquele que tocar em Israel, esse traz um mal causador de cegueira sobre si. Foi exatamente isso que observamos na história da igreja. Mesmo que seja possível acompanhar as manifestações de antissemitismo, em suas várias formas, através dos séculos na história da igreja, é necessário mencionar um fato importante nesse ponto, para que não se tire conclusões erradas.

Existem teólogos, além de muitos seguidores de Jesus que, baseados em seu sistema teológico, não veem um futuro para a terra e o povo de Israel, mas que, mesmo assim, não são antissemitas nem defenderiam qualquer forma de antissemitismo. Por essa razão, não se pode erroneamente generalizar. Por outro lado, havia uma grande porção de crentes humildes, durante o capítulo mais obscuro da história da Alemanha, que perceberam esse espírito anticristão e, de acordo com seu posicionamento para com os judeus, não foram arrastados nessa corrente da sedução.

 

Notas

  1. Carsten Peter Thiede e Ulf Stingelin, Die Wurzeln des Antisemitismus (Brunnen-Verlag), p. 127.
  2. Bernard Lewis, Treibt sie ins Meer! (Frankfurt, 1987), p. 116.
  3. Citação de Rudolf Pfisterer, Verantwortung (Neuhausen-Stuttgart, 1985), p. 15-16.
  4. Lewis, Treibt sie ins Meer!, p. 116.
  5. Thiede e Stingelin, Die Wurzeln des Antisemitismus, p. 154-156
  6. H. Weber, Jugendlexikon Religion (Reinbek, 1986), p. 43.
  7. Martin Brecht, Martin Luther, vol. 2 (Calwer Verlag), p. 336.
  8. Martin Brecht, Martin Luther, vol. 3 (Calwer Veralg), p. 332
  9. Ibid., p. 332-345
  10. Extraído de Rudolf Pfisterer, Von A bis Z: Quellen zu Fragen um Juden und Christen, p. 14.
  11. Extraído de Rudolf Pfisterer, Israel oder Palästina?, p. 41.
  12. Kairos-Palästina-Dokument, Ponto 2-2-2, p. 5. Disponível em: http://www.kairospalestine.ps/sites/default/Documents/German.pdf. Acesso em: 11 jun. 2013.
  13. Ibid., ponto 2-3, p. 6.
  14. Ibid., ponto 2-5, p. 7.

Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Maio 2022

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