Por que a ressurreição?

Por meio da sua ressurreição, Cristo venceu a morte. Esse milagre da redenção tem amplas consequências para a nossa vida, adentrando a eternidade, se o aceitarmos pela fé. Eis aqui um encorajamento bíblico.

A ressurreição física do Senhor Jesus é uma realidade e ela responde a várias questões essenciais da vida. Sua ressurreição lança luz sobre a escuridão que nos envolve. Vemos isso com particular clareza quando acompanhamos o relato da ressurreição segundo João 20.

A ressurreição

A ressurreição acaba com a desesperança

“No primeiro dia da semana, de madrugada, quando ainda estava escuro, Maria Madalena foi ao túmulo e viu que a pedra da entrada tinha sido removida” (Jo 20.1).

Como seres humanos, sempre damos de cara contra a parede. No evangelho de Marcos, as mulheres perguntam: “Quem nos removerá a pedra da entrada do túmulo?” (Mc 16.3). Com todo o progresso, todo o desenvolvimento e toda a inventividade, continuamos marcando passo no mesmo lugar quando o assunto é a morte. Ela é invencível, e nós não temos esperança.

A revista Migros de primeiro de fevereiro de 2021 entrevistou o psicanalista Peter Schneider e a autora Andrea Schafroth a respeito do seu livro Jungbleiben ist auch keine Lösung [Permanecer jovem também não é uma solução]. Sua conclusão transmite desesperança, ainda que muitas vezes apresentada de forma bem-humorada. Assim, eles dizem, entre outras coisas, algo como: “Em algum momento nos tornamos decrépitos sem esperança de melhora. A saúde é principalmente algo que se perde. Sabemos que não haverá mais melhora efetiva, mas com certeza uma piora progressiva. Os problemas da idade nada mais são do que morrer em prestações. Os lares de idosos são algo como um mundo intermediário, uma sala de espera na qual as pessoas aguardam a morte agendada. A maioria das pessoas tem medo de morrer e sofre com a dúvida do que virá depois e se acertaram o sentido da vida”.

Ephraim Kishon disse a respeito da morte: “Não me sinto velho por ter tantos anos atrás de mim, mas porque são tão poucos os que tenho pela frente”. Também isso pretende ser bem-humorado, mas não deixa de testificar a tragédia e a decepção de querer viver e não poder. Já Woody Allen disse: “Não tenho medo de morrer. Só não quero estar presente quando acontecer”.

Toda a humanidade de todos os tempos nunca enfrentou uma desorientação e desesperança maior do que aquela relativa à morte. Consta que o epitáfio de um médico dizia: “Aqui jaz o meu amado marido, o dr. Grimm, e todos os que ele curou repousam ao seu lado”.

A morte é o grande escândalo diante do qual todos fracassamos, com uma exceção: Jesus! “Quem nos removerá a pedra?” Ele tem o poder e remove a pedra: a pedra da desesperança, do medo, da culpa opressiva e de tudo aquilo que nos separa de Deus.

O maior anseio humano é aquele por uma vida eterna e despreocupada, e é exatamente o que Deus proporciona. Jesus, o ressurreto, é a resposta. A pedra foi removida, o caminho para a ressurreição está desimpedido. É a “graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada agora pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus. Ele não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho” (2Tm 1.9-10).

A ressurreição

A ressurreição acaba com a justiça pelas obras

“Simão Pedro, seguindo-o, chegou e entrou no túmulo. Ele também viu os lençóis e o lenço que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, e que não estava com os lençóis, mas enrolado num lugar à parte” (Jo 20.6-7).

Era costume nos sepultamentos daquele tempo envolver a cabeça do defunto num sudário. Esse sudário era um símbolo de trabalho, cansaço, luta e esforço. Depois da queda no pecado, Deus disse a Adão: “No suor do seu rosto você comerá o seu pão, até que volte à terra, pois dela você foi formado; porque você é pó, e ao pó voltará” (Gn 3.19). Nossa vida é esforço, trabalho e canseira, e por fim morreremos.

O sudário do Senhor Jesus fora enrolado separadamente e colocado num lugar à parte. Isso nos ensina que ele foi dispensado e que o trabalho fora executado, que ele completara toda a obra em nosso favor, cumprindo a lei. Não chegaremos ao céu por nossos próprios méritos, mas por meio daquilo que Jesus fez por nós. Ele tomou o pecado sobre si, e ao terminar a obra, ele exclamou: “Está consumado!” (Jo 19.30).

Não chegaremos ao céu por nossos próprios méritos, mas por meio daquilo que Jesus fez por nós. Ele tomou o pecado sobre si, e ao terminar a obra, ele exclamou: “Está consumado!” (Jo 19.30).

Os salva-vidas às vezes esperam para atender a quem está se afogando até que a vítima se canse e pare de lutar por conta própria. Só então intervêm e resgatam a pessoa. Foi assim que Deus “nos salvou e nos chamou com santa vocação, não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos” (2Tm 1.9). “Concluímos, pois, que o ser humano é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Rm 3.28).

Li o seguinte no devocional Unser täglich Brot [Nosso pão diário], do dr. M. R. DeHaan: “No alfabeto chinês, a palavra ‘justiça’ é representada pela figura de um ‘cordeiro’ por cima de um ‘eu’. Em outras palavras: se, pela fé, eu assumir para mim os méritos de Jesus, o imaculado Cordeiro de Deus, estarei justificado por todos os tempos e a eternidade”. Como eu queria ter certeza de que aquilo realmente procedia, fui conferi-lo com uma cristã chinesa, minha conhecida. Ela respondeu: “Sim, é verdade. Justiça se compõe de duas partes: a de cima é a ovelha e a de baixo sou eu. Se alguém quiser ser justo, ele dirá: ‘Preciso do cordeiro’”.

Nossa única esperança para o céu são os méritos de Jesus, que ele nos concede. Graças a ele, Deus nos recebe de braços abertos.

Li a história de um homem que observava um cordeiro que parecia muito deficiente. O pelo dele parecia maltratado e – ao que parecia – tinha seis pernas. Duas ficavam suspensas atrás, inertes, e a cada passo balançavam de um lado ao outro. No entanto, o fato por trás dessa visão lamentável era outro. Um cordeiro havia sido picado por uma cobra e morrera. Um outro era órfão de mãe. Aí o pastor teve a ideia de tirar o pelo do cordeiro morto e aplicá-lo sobre o cordeiro órfão. Assim, ele o conduziu até a ovelha mãe que havia perdido o seu cordeiro. Graças ao cheiro do pelo, ela recebeu assim o outro cordeiro como se fosse o seu próprio que havia morrido.

A ressurreição

A ressurreição acaba com o choro

“Maria, no entanto, permanecia junto à entrada do túmulo, chorando. Enquanto chorava, abaixou-se e olhou para dentro do túmulo. Ela viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde o corpo de Jesus tinha sido colocado, um à cabeceira e outro aos pés. Então eles perguntaram: ‘Mulher, por que você está chorando?’ Ela respondeu: ‘Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram’” (Jo 20.11-13).

Consta que, ao longo da vida, uma pessoa produz entre sessenta e oitenta litros de lágrimas. Mulheres choram entre trinta e 64 vezes por ano, e homens, entre seis e 17 vezes. Quantas lágrimas o nosso mundo já viu ao longo da sua história? Lágrimas de tristeza, de horror, de sofrimento, de dor, de injustiça, de guerra, de doenças, de ciúme, de raiva, de ira. Olhos chorosos de crianças desconsoladas, de mulheres desesperadas e de homens horrorizados.

Quando uma lágrima seca, restam cristais. Segundo o professor dr. Werner Gitt, cada cristal de cada lágrima contém a microscópica imagem de uma cruz. Lágrimas são muitas vezes expressão de desespero e também de lamentos amorosos. Existe um lamento amoroso secreto que é o anseio oculto por Jesus – este é o que Maria expressa: “Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram”.

“A Bíblia diz que Deus ‘enxugará dos olhos toda lágrima. E já não existirá mais morte, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram’ (Ap 21.4).”

Alguém subtraiu Jesus de você? Quem vive separado de Jesus sente um inconsciente anseio por ele. A Bíblia diz que Deus “enxugará dos olhos toda lágrima. E já não existirá mais morte, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Ap 21.4). Quando Deus enxuga as lágrimas, isso é definitivo.

A ressurreição

A ressurreição acaba com a procura

“Depois de dizer isso, ela se virou para trás e viu Jesus em pé, mas não reconheceu que era Jesus. Jesus lhe perguntou: ‘Mulher, por que você está chorando? A quem você procura?’ Ela, supondo que ele fosse o jardineiro, respondeu: ‘Se o senhor o tirou daqui, diga-me onde o colocou, e eu o levarei’. Jesus disse: ‘Maria!’ Ela, voltando-se, lhe disse, em hebraico: ‘Raboni! (“Raboni” quer dizer “Mestre”)’” (Jo 20.14-16).

Toda pessoa anda em busca de vida. Não são os muitos vícios uma expressão dessa busca? Alguns enchem seu travesseiro de lágrimas de tanto anseio e desespero. “De noite, na minha cama, busquei o amado de minha alma; busquei-o, mas não o achei” (Ct 3.1).

Muitos não o encontram por cultivarem uma imagem errada de Jesus. Maria pensou que ele fosse o jardineiro. O que você pensa sobre ele? A biografia dele é exclusiva, incomparável e ao mesmo tempo um convite para a vida. Quando ele mesmo se dá a conhecer e se dirige pessoalmente a você, então você terá encontrado aquele pelo qual você anseia. E quando o tiver encontrado, só lhe restará admiração. Então você reconhecerá quem ele é, o que ele representa para você e o que você tem por meio dele – você será abraçado e amado – e descobrirá que Jesus é muito mais do que você imaginava a respeito dele – tal como Maria em seu encontro com o suposto jardineiro. Ele é o Mestre que preenche o seu vazio com sua doutrina.

Um idoso disse certa vez: “Precisei de 42 anos para aprender três coisas: primeiro, que eu era um pecador perdido; segundo, que eu mesmo não podia fazer nada para me salvar; terceiro, que o Senhor Jesus fez tudo por mim para me redimir”.

Perguntaram certa vez a um professor qual foi a sua maior descoberta. Ele respondeu: “Minha maior descoberta foi Jesus Cristo!”.

A ressurreição

A ressurreição acaba com a incerteza

“Mas vá até os meus irmãos e diga a eles: ‘Subo para o meu Pai e o Pai de vocês, para o meu Deus e o Deus de vocês” (Jo 20.17b).

Gabriel Marcel (nasc. 1889) foi um filósofo francês. Quando ele completou 40 anos, em 5 de março de 1930, ele escreveu em seu diário: “Não tenho mais dúvidas. A felicidade desta manhã é simplesmente maravilhosa. Pela primeira vez na vida sei o que é graça. É vergonhoso ter de admitir isso, mas é assim. Agora, porém, penetrei até a profundidade da fé cristã”.1

“O vaso, nosso corpo, é terreno e, por isso, frágil, mas não o tesouro que Deus colocou nele. Este é celestial e inquebrável.”

O homem busca segurança. Que tipo de segurança você possui? Financeira? Paulo escreve: “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro” (2Co 4.7). O vaso, nosso corpo, é terreno e, por isso, frágil, mas não o tesouro que Deus colocou nele. Este é celestial e inquebrável. Por meio da fé em seu Filho, Deus deposita um tesouro eterno em nossa vida passageira. Este é a luz do conhecimento de Deus por meio de Jesus Cristo (2Co 4.6), o novo nascimento de uma semente eterna (1Pe 1.23). Que certeza essa que a Palavra de Deus transmite por meio de Jesus! Ele subiu ao céu ao encontro de Deus, seu Pai, fazendo com que este também se tornasse Deus, nosso Pai.

Há quem diga que nada é certo, exceto a morte, mas isso é apenas a metade da verdade: “Estas coisas escrevi a vocês que creem no nome do Filho de Deus para que saibam que têm a vida eterna” (1Jo 5.13). Aí acaba toda insegurança e dúvida. Nenhuma religião proporciona certeza absoluta, mas Deus Pai o faz.

A ressurreição

A ressurreição acaba com o medo

“Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando trancadas as portas da casa onde estavam os discípulos, com medo dos judeus, Jesus veio e se pôs no meio deles, dizendo: ‘Que a paz esteja com vocês!’” (Jo 20.19).

Onde o Senhor ressurreto entra com a sua paz, o medo precisa sair. Sua paz se impõe em meio ao medo. “O perfeito amor lança fora o medo” (1Jo 4.18).

O medo nos acompanha ao longo de toda a vida. Ele faz parte de nós como o ar que respiramos. Reinhold Ruthe escreve: “O medo é como uma fera que me ataca. É como uma onda que me submerge, como um tornado que avança sobre mim”.

Jesus disse que o temor dos homens diante da expectativa das coisas que virão sobre a terra aumentará (Lc 21.26). Basta lembrar do coronavírus que aterroriza o mundo inteiro, mas ainda existem tantos outros medos: existenciais, da morte, do futuro. O que virá depois? O que será da minha família? O que nos sobrevirá? O medo da solidão, da velhice, do juízo. Com Jesus, que ressuscitou e subiu ao céu, e por meio do Espírito Santo, temos em nosso coração aquele que domina o medo. Quando ele ingressa em nossa vida, a profundeza é preenchida com a glória do seu amor.

A ressurreição

A ressurreição acaba com o vazio

“E, havendo dito isso, soprou sobre eles e disse-lhes: ‘Recebam o Espírito Santo’” (Jo 20.22).

O conhecido tenista Ivan Lendl comentou numa conversa: “Tenho medo de olhar profundamente para dentro de mim mesmo, porque talvez ali não haja nada...”.2 E o escritor e filósofo francês Albert Camus escreveu: “Perder a vida não é grande coisa, mas ver como o sentido da vida se dissolve é insuportável”.3

Existem especialistas treinados em preencher nossa vida. Esoterismo, ioga, atividades de lazer, revistas e livros. Todavia, não demoramos a perceber que a vida pela qual ansiamos permanece uma ilusão. As ofertas do mundo não proporcionam uma vida realmente realizada e cheia de sentido. São como miragens no deserto.

Aprecio bastante os devocionais do psicoterapeuta Reinhold Ruthe. Em um deles, ele escreve: “Os ateus dizem que a vida não tem objetivo; os niilistas dizem que a vida não tem sentido; os pessimistas, que a vida é inútil; os indiferentes, que a fé não interessa. Os cristãos, porém, dizem: ‘Vivemos uma nova vida’”.4

As seguintes passagens do evangelho de João sempre me comovem: “Jesus respondeu: ‘Quem beber desta água voltará a ter sede, mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna’... Quanto à mulher, deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse ao povo: ‘Venham comigo e vejam um homem que me disse tudo o que eu já fiz. Não seria ele, por acaso, o Cristo?’” (Jo 4.13-14,28-29).

Jesus oferece uma vida plenamente preenchida. Com Jesus não temos mais passado, só futuro. Jesus é a vida. Ele nos oferece a vida e nos enche de vida: com vida espiritual e um novo nascimento que se estende até a vida eterna.

A ressurreição

A ressurreição acaba com as dúvidas

“E logo [Jesus] disse a Tomé: ‘Ponha aqui o seu dedo e veja as minhas mãos. Estenda também a sua mão e ponha no meu lado. Não seja incrédulo, mas crente.’ Ao que Tomé lhe respondeu: ‘Senhor meu e Deus meu!’ Jesus lhe disse: ‘Você creu porque me viu? Bem-aventurados são os que não viram e creram’” (Jo 20.27-29).

Alguém disse certa vez: “Não correr riscos é o maior risco”. Muitos receiam depositar confiantemente sua vida nas mãos do Ressurreto e não percebem o que estão perdendo. Eles duvidam. Todavia, não é raro as dúvidas levarem ao desespero. Quem, porém, aceita o desafio, adorará e exclamará: “Como é que pude duvidar tanto?”.

Tomé duvidou até o momento do encontro pessoal com o Senhor ressurreto. Aí então ele passou por uma conversão total, reconhecendo que Jesus é o verdadeiro Filho de Deus e, com isso, o próprio Deus. A sede não é saciada com miragens, mas apenas na própria fonte da vida. Só com aquele que é a própria verdade é que acabam todas as dúvidas.

Jesus também desafia você pessoalmente: “Venha e veja – não seja incrédulo, mas crente!”. Quando a vida convidar você, segure-se nela!

Notas

  1. Markus Spieker, JESUS – Eine Weltgeschichte (Basileia: Fontis, 2020), p. 732.
  2. Devocional do dia 12 de fevereiro. Reinhold Ruthe, Du bist an meiner Seite.
  3. Devocional do dia 15 de março. Reinhold Ruthe, Tägliche Audienz bei Gott.
  4. Devocional do dia 2 de fevereiro. Ibid.

Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Abril 2023

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