Um panorama do livro de Apocalipse

Recado do Editor

A seguir você terá um breve panorama sobre o livro de Apocalipse. Trata-se do primeiro apêndice da grande obra do doutor em teologia Paul N. Benware, o Manual de Escatologia Chamada. Em mais de 500 páginas, Benware apresenta e explica os principais argumentos a favor de uma posição escatológica pré-milenarista e pré-tribulacionista, ao mesmo tempo não deixando de levar em conta os argumentos das outras posições, fazendo tudo isso com um respeito, uma educação e uma honestidade admiráveis. Se você deseja possuir um livro que lhe proporcione um conhecimento profundo e amplo sobre a área da escatologia, então este é o livro que deve estar em sua estante.

“Escreva, pois, as coisas que você viu, tanto as presentes como as que acontecerão” (Ap 1.19). A declaração de Jesus a João aponta para a tripla subdivisão do livro de Apocalipse. A primeira parte são “as coisas que você viu”, referindo-se à visão inicial de João sobre Cristo (1.10-20), logo após o prólogo do livro. A segunda parte, “as [coisas] presentes”, abrange as cartas às sete igrejas encontradas nos capítulos 2-3. A terceira parte, que abrange a maior parte do livro (4.1–22.21), detalha “as [coisas] que acontecerão”. Essa divisão em três estabelece uma moldura cronológica básica para o livro de Apocalipse.

As primeiras duas partes de Apocalipse cobrem o passado e o presente. No capítulo 1, João recorda sua visão do Cristo vivo e glorificado, e é lembrado de que o Senhor Jesus é o Senhor soberano. Os capítulos 2-3 trazem cartas escritas pelo Senhor da igreja às sete comunidades da Ásia Menor. Na época em que Apocalipse foi escrito, havia claramente mais do que sete igrejas na Ásia Menor, por isso pergunta-se por que essas são chamadas de “as sete igrejas”. A resposta é que essas sete comunidades históricas foram selecionadas por representarem sete situações espirituais fundamentais que igrejas de qualquer era poderiam enfrentar. Elas representam com precisão todas as igrejas ao longo de toda a era da igreja, dos dias de João até o arrebatamento.

“Elas não apenas representam as congregações da época de João, mas pode-se concluir com segurança que, uma vez que as mesmas circunstâncias espirituais cercam os cristãos da era presente, essas sete igrejas também representam todas as comunidades que existiram e existirão durante o tempo da igreja. [...] Se apenas se der ao trabalho de olhar, qualquer segmento do cristianismo poderá ver-se nessas cartas. Assim, a Bíblia repete sete vezes a mesma admoestação: ‘Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas’.”1

Levantou-se algum debate a respeito de se essas igrejas seriam proféticas, isto é, se representariam sete períodos consecutivos na história da igreja. Embora essa posição receba algum apoio de expositores bons e capazes,2 parece faltar-lhe a clareza hermenêutica e exegética necessária para dar-lhe sustentação. A melhor alternativa é entender as sete igrejas como representantes de toda a era da igreja.

A terceira parte (4.1–22.21) contém o foco principal de Apocalipse e segue-se cronologicamente à era da igreja (2.1–3.22), como fica evidente pela expressão de abertura: “Depois dessas coisas...” (4.1). Essa parte começa com a maravilhosa cena celestial do trono de Deus, onde reside toda a autoridade para governar e julgar. O trono (que simboliza a autoridade) é mencionado 17 vezes nesses dois capítulos, pois a grande questão nesse ponto é: “Quem tem autoridade para julgar e governar o mundo e o universo?”. O Senhor Jesus (o Cordeiro-Leão de Judá) é declarado o único digno de dominar e julgar, por isso recebe um rolo das mãos daquele que está no trono. Esse rolo é a escritura de propriedade do universo (comprada pelo sangue do “Cordeiro que foi morto”) e lhe dá autoridade para fazer a reintegração de posse do mundo e despejar o invasor conhecido como Satanás.

A maior parte dos capítulos seguintes (6.1–19.21) trata da obra salvadora e julgadora de Jesus antes de seu retorno à terra como Rei dos reis. Esses eventos em torno do trono ocorrem depois da cruz (o Cordeiro foi morto), mas antes da tribulação (o primeiro selo do rolo, que dá início à tribulação, ainda não foi aberto). Igualmente, por causa da presença dos 24 anciãos vestidos de branco e coroados (recompensados) (4.4), é provável que a igreja já tenha sido arrebatada; sendo assim, esse evento no céu segue-se ao arrebatamento da igreja.

Nossa compreensão do período da tribulação (descrito em 6.1– 19.21) é amplamente influenciada pelo fato de entendermos as três séries de julgamentos (os selos, as trombetas e as taças) como consecutivas ou simultâneas.3 A evidência interna de Apocalipse favorece fortemente a visão sequencial; isto é, os sete julgamentos dos selos são seguidos pelos juízos das sete trombetas, que, por sua vez, são seguidos pelos juízos das sete taças. A ideia das dores de parto, anteriormente abordada, apoia a visão sequencial, já que cada conjunto de juízos é mais severo e destrutivo que o seu precedente.4 Quanto o sétimo selo é aberto, começam os juízos das trombetas (8.1-2). A sétima trombeta então é associada aos juízos das taças, porque estes, que são o final da ira de Deus, aparecem ao toque da sétima trombeta (10.7; 11.15; 15.1,8; 16.17). Esses sete juízos finais (as taças da ira de Deus) são chamados de “últim[os]” porque completam a ira de Deus (15.1). Dessa forma, o texto de Apocalipse estabelece uma conexão íntima entre as três séries de juízos divinos.

O período da tribulação continua à medida que essas três séries de juízos se desenrolam uma após a outra. Aqui e ali, o apóstolo João faz uma pausa para incluir informações novas e importantes. No capítulo 7, ele garante que a tribulação não é simplesmente um tempo de juízo, mas também de grande salvação. No capítulo 10, João ouve de um anjo que ele deve profetizar novamente (10.11). Essa é uma chave interpretativa, pois nos mostra que, embora já tenhamos atravessado praticamente todo o tempo da tribulação (faltando apenas a sétima e última trombeta), é preciso que haja a revelação de alguma verdade importante.

As informações encontradas em Apocalipse 11–14 parecem encaixar-se melhor na segunda metade da tribulação. O capítulo 11 revela que Deus levantará duas testemunhas, que falarão por ele em Jerusalém durante 1 260 dias. O capítulo 12 fala de Satanás sendo expulso do céu e dos 1 260 dias de perseguição a Israel que se seguem a essa expulsão. O capítulo 13 concentra-se nas duas bestas (o Anticristo e o falso profeta), que dominarão o mundo por 42 meses. O capítulo 14 descreve o grande julgamento final de Deus no Armagedom.

Os capítulos finais de Apocalipse falam do fim do sistema antidivino da “Babilônia” (caps. 17-18), das bodas do Cordeiro, seguidas pela sua segunda vinda à terra (cap. 19), do reino milenar (cap. 20) e, por fim, da eternidade (caps. 21-22).

Notas

  1. Gary Cohen, Understanding Revelation (Collingswood, NJ: Christian Beacon, 1968), p. 51-52.
  2. J. Dwight Pentecost, Manual de Escatologia, trad. Carlos Osvaldo Cardoso Pinto (São Paulo: Editora Vida, 2006), p. 177-181.
  3. Cohen, Understanding Revelation, p. 83-125.
  4. Merrill C. Tenney, Interpreting Revelation (Grand Rapids: Eerdmans, 1957), p. 74- 80.
Manual de Escatologia Chamada

Paul N. Benware é doutor em teologia pelo Grace Theological Seminary e foi professor em diversos seminários e universidades nos EUA.

sumário Revista Chamada Março 2023

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