Lições de Megido

Foto aérea do parque nacional de Tel Megiddo, também conhecido como Armagedom. Muitas batalhas importantes aconteceram em Megido, pois a cidade fornecia segurança tanto financeira quanto militar.

Megido (hoje em dia, Tel Megido) é uma importante cidade do Antigo Testamento situada na cordilheira do monte Carmelo. Ela tem vista para a planície de Esdrelom (vale de Jezreel) e fica a aproximadamente trinta quilômetros a sudeste do moderno porto de Haifa, no norte de Israel.

A planície (vale) separa as cordilheiras do Carmelo e de Samaria, no sul, dos morros ao norte da Galileia. Se a história da terra de Israel fosse comparada ao jogo Banco Imobiliário, o local de Megido seria o espaço mais cobiçado do tabuleiro. Como os agentes imobiliários costumam dizer, a questão mais importante no que diz respeito a propriedade é localização, localização, localização (e isso certamente vale para Megido).

Suponhamos que uma pessoa deseje muito controlar algo, como Megido, na antiguidade. Este lugar deveria ser adquirido simplesmente por ser desejado? O que acontece nessas circunstâncias, quando alguém quer o que Deus deu e ordenou que fosse protegido? Obviamente, surge um problema, e o conflito é inevitável. A situação pode até mesmo envolver o coração, a alma, a mente e a força de uma pessoa como o prêmio cobiçado.

A importância de Megido

Megido é uma das localidades mais estratégicas na terra de Israel, pois dali se pode enxergar a passagem mais importante pela cordilheira do monte Carmelo. Sua localização excepcional tornou-a um lugar de conflito para as potências maiores e menores da região. Quem controlasse a antiga Megido poderia dominar as rotas comerciais e de tráfego ao longo da Rodovia Internacional (a Via Maris) que conectava o Egito e a Mesopotâmia. Megido ligava os grandes poderes da antiga Mesopotâmia com o Egito: Assíria, Babilônia e Pérsia. Muitas batalhas importantes aconteceram em Megido, pois a cidade fornecia segurança tanto financeira quanto militar.

Face sudoeste do monte Carmelo. Local onde o profeta Elias desafiou os profetas de Baal. Foto: WikipediaFace sudoeste do monte Carmelo. Local onde o profeta Elias desafiou os profetas de Baal. Foto: Wikipedia

A primeira referência história a Megido ocorreu durante o reinado do faraó Tutemés III. Ele conquistou a terra de Israel, e assim começou o domínio egípcio sobre Canaã, o qual continuou por mais de trezentos anos. Tutemés sabia da importância de sua vitória e comentou: “A captura de Megido é a captura de mil cidades”. A imensidão da planície é tão notável que Napoleão supostamente declarou: “Todos os exércitos do mundo poderiam manobrar suas forças nessa vasta planície. [...] Não há lugar no mundo mais adequado para a guerra do que esse. [...] [Megido] é o campo de batalha mais natural de toda a terra”.

Os habitantes originais de Megido eram os cananeus (Jz 1.27), que permaneceram na cidade mesmo quando os filisteus a conquistaram, e mantiveram controle até ela ser subjugada pelos israelitas na época do rei Davi. Cerca de setenta anos após Tutemés III, Josué derrotou “o rei de Megido” (Js 12.21). Deus usou Débora para derrotar os cananeus de Sísera “junto às águas de Megido” (Jz 5.19-21). A descoberta de estábulos para cavalos em Megido foi atribuída ao rei Salomão, que tinha “quatro mil cavalos em estrebarias, para os seus carros de guerra, e doze mil cavaleiros” (1Rs 4.26; cf. 10.26), e que, aparentemente, mantinha alguns desses carros e cavalos na cidade. Salomão fortificou Megido, reconstruindo suas muralhas: “A razão por que Salomão impôs o trabalho forçado é esta: construir a Casa do Senhor, o seu próprio palácio, a fortaleza de Milo e a muralha de Jerusalém, bem como Hazor, Megido e Gezer” (1Rs 9.15).

O faraó Sisaque invadiu Judá e conquistou Megido em 923 a.C. (1Rs 14.25). Dois reis do reino do norte – Onri e Acabe – reconstruíram sobre ruínas da cidade. A prosperidade econômica e força militar do reino do norte é demonstrada em Megido mais do que em qualquer outra antiga cidade em Israel, o que fica evidente pelas ruínas de impressionantes portões, palácios, estábulos e sistemas de água. Megido era uma importante cidade israelita até 733 a.C., quando foi conquistada pelo rei Tiglate-Pileser III, da Assíria. O rei Acazias de Judá morreu em Megido quando o rei Jeú de Israel liderou uma revolta bem-sucedida (2Rs 9.27). O estimado rei Josias de Judá foi morto ali, em uma batalha com o faraó Neco (2Rs 23.29).

“A localização estratégica de Megido era motivo de inveja a todos que passavam pela terra de Israel.”

O valor de Megido não pode ser exagerado, e tem uma poderosa palavra de aplicação hoje. A localização estratégica de Megido era motivo de inveja a todos que passavam pela terra de Israel. Sempre que alguém capturava Megido, eles frequentemente a reconstruíam diretamente sobre as ruínas de um período de habitação diferente (o que os arqueólogos chamam de “tel”). Não é de surpreender que, hoje, as ruínas imponentes de Tel Megido forneçam uma vista espetacular do vale de Jezreel. As Escrituras até mesmo profetizam uma batalha futura onde a oposição ao Messias se reunirá no “lugar que em hebraico se chama Armagedom [que significa ‘morro de Megido’]” (Ap 16.16). Megido ficou associada a essa batalha escatológica devido às grandes guerras travadas em seus arredores e em memória do piedoso rei Josias, que foi morto ali. A batalha do Armagedom irá além de Megido, uma vez que é o lugar a partir do qual todos os exércitos da terra se reunirão e avançarão para lutar por toda a terra de Israel.

Isaías profetizou a respeito do Messias vindo “de Edom” (63.1), e o profeta Joel (3.2) disse que “todas as nações” serão trazidas “ao vale de Josafá”, o qual fica próximo de Jerusalém. A batalha final se estenderá a partir de Megido, no norte, até a atual Jordânia, no sul – e através do vale de Josafá perto de Jerusalém, o qual será o principal foco de interesse, uma vez que Deus “ajuntar[á] todas as nações para a batalha contra Jerusalém” (Zc 14.2). Muitas fontes judaicas e cristãs consideram “o pranto de Hadade-Rimom” como uma referência ao luto do povo judeu na morte de Josias (Zc 12.12), o que antecipa um tempo futuro, quando a nação lamentará pelo Messias assim como lamentou por Josias (v. 10-12). A campanha de Armagedom envolverá muitas batalhas que serão concluídas na segunda vinda do Senhor Jesus Cristo (Ap 16.13-16; 19.11-19).

O fato de que a batalha final está relacionada a Megido (cf. Ap 16.16) é significativo, pois isso traz à mente o topo do monte Carmelo, onde o profeta Elias batalhou contra 450 profetas de Baal. O rei Acabe e a rainha Jezabel promoveram a adoração a Baal em Israel e, desse modo, persuadiram o povo a envolver-se com idolatria sórdida. Em resposta, Elias desafiou o compromisso do povo ao perguntar: “Até quando vocês ficarão pulando de um lado para outro? Se o Senhor é Deus, sigam-no; se é Baal, sigam-no” (1Rs 18.21). Com todo o Israel reunido no monte Carmelo, Elias forçou-os a tomar uma decisão. Eles tinham de escolher ou a Deus, ou a Baal, e não podiam continuar adorando a ambos.

Elias publicamente e voluntariamente colocou Deus à prova. Ele ofereceu aos profetas de Baal uma oportunidade de fazer o seu deus conhecido. Elias fez um altar para o seu sacrifício, e assim também fizeram os profetas de Baal; contudo, Elias invocou o nome do Senhor, enquanto os profetas de Baal invocaram o seu deus. Quem respondesse com fogo, provaria “que é Deus” (v. 24). O deus dos adoradores de Baal não respondeu, então Elias invocou o verdadeiro Deus, para que se revelasse por meio de fogo, o qual caiu do céu e consumiu a oferta e o altar (v. 38). Elias ordenou que os profetas de Baal fossem presos, e eles foram trazidos ao “ribeiro de Quisom” (o vale de Jezreel) e mortos ali (v. 40). O extraordinário triunfo de Elias sobre os profetas de Baal é uma pequena prévia da grande batalha apocalíptica no Armagedom, na qual o poder de Deus será manifestado na destruição dos seus inimigos. Assim como Baal e seus profetas foram conquistados perto de Megido, também Satanás e suas hostes serão derrotados em “Armagedom” (o “monte de Megido”).

Aprendendo com Megido

Qual é a lição de Megido para nós hoje? Primeiro, os israelitas fracassaram em sua missão de expulsar os cananeus de Megido (além de outros lugares). Esses locais ocupavam as principais estradas pelas quais se podia entrar na terra de Israel. Não assumir o controle dessas cidades é equivalente a deixar as portas de casa destrancadas. A transigência de Israel foi desastrosa, precisamente como Deus disse que seria: “... os deuses deles serão uma armadilha para vocês” (Jz 2.3). O que é incrível é quantos altares permanecem em ruínas em Megido, voltados para o oeste ao invés do leste (na direção do nascer do sol), como Deus havia instruído.

Megido prova que é sempre mais fácil acomodar a cultura do que se opor à sua influência; é sempre mais fácil ser transigente do que guardar a si mesmo como Deus instruiu. As Escrituras fornecem mandamentos específicos para proteger o povo do Senhor de perigos que não são imediatamente evidentes. Certamente, é desafiador obedecer aos mandamentos de Deus, contudo, não é tão difícil quanto os resultados da permissividade.

Semelhantemente aos tempos do antigo Israel, a cultura luta para controlar o coração, a alma, a mente e a força das pessoas (que, por direito, pertencem a Deus). Quando se considera a influência de uma cultura que é frequentemente contrária à vontade de Deus, é ainda mais necessário cuidar “de [nós mesmos] e da doutrina”, como instrui 1Timóteo 4.16. Controlar cidades específicas em Israel significava monitorar pontos importantes entrada em suas vidas. A questão não era simplesmente militar; antes, era espiritual. De maneira similar, os cristãos precisam guardar os meios vitais de acesso ao seu coração, alma, mente e força.

Ron J. Bigalke é o diretor e fundador da missão Eternal Ministries. Foi professor de teologia durante duas décadas e contribui frequentemente para diversas publicações cristãs.

sumário Revista Chamada Março 2023

Confira