Por que velas?

Jesus disse: “Eu vim como luz para o mundo, a fim de que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas” (Jo 12.46).

É Advento, e em toda parte brilham luzes. A atmosfera resultante disso é agradável e faz bem. Nas casas acendemos velas e os lares ficam mais aconchegantes. O que, porém, a imagem de uma vela acesa transmite?

A vela arde em silêncio

Deus veio ao mundo sem barulho. Não em algum palácio real em que todos esperavam o nascimento de um monarca, mas em um local quieto. Como não havia espaço na hospedaria, Jesus nasceu em um estábulo. Dificilmente terá havido espectadores no parto.

Jesus permaneceu recluso por cerca de trinta anos (Lc 3.23). Seu ambiente era discreto. Ele aprendeu discretamente e assim cresceu. O evangelista Mateus lança mão de uma profecia de Isaías (Is 42.2) que se cumpriu em Jesus: “Não entrará em discussões, nem gritará, nem fará ouvir nas praças a sua voz” (Mt 12.19). Isso se refere principalmente às ruas de Jerusalém.

Ele se apresentou e atuou de modo humilde e manso, e não manifestou nenhuma reivindicação política. Apresentou-se como um cordeiro, não como um leão. Ele não era um demagogo, mas renunciou a gritar suas mensagens pelas ruas de Jerusalém. Jesus não buscou o poder com violência. Muitas vezes ele se recolheu, buscava a solidão, não queria ser proclamado rei (Lc 5.16; 9.10; Jo 6.15). Frequentava as sinagogas, onde pregava (Mc 1.21; 3.1; 6.2; Lc 4.15-16; 6.6; Jo 6.59). Pregava junto ao lago e nos campos da Galileia. Dirigia-se a indivíduos, falava aos seus discípulos ou a determinados grupos, e é assim até hoje: ao contrário de muita gritaria e clamor pelo mundo, o amor de Deus avança para o nosso coração de forma calma e serena.

Eis um exemplo profético do Antigo Testamento sobre isso: “Então foi-lhe dito: ‘Saia daí e fique diante do Senhor no monte’. Eis que o Senhor estava passando. E um grande e forte vento fendia os montes e quebrava as rochas diante do Senhor. Mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento, houve um terremoto. Mas o Senhor não estava no terremoto. Depois do terremoto, veio um fogo. Mas o Senhor não estava no fogo. E, depois do fogo, veio o som de um suave sussurro. Quando Elias ouviu isso, cobriu o rosto com o manto e, saindo, pôs-se à entrada da caverna. Eis que veio uma voz e lhe disse: ‘O que você está fazendo aqui, Elias?’” (1Rs 19.11-13).

O Senhor não estava no vento, nem no terremoto, nem no fogo, mas no suave sussurro. Assim, Jesus não veio na tempestade do juízo, não no violento poder do terremoto, não no fogo destruidor, mas na brisa suave do amor e da mansidão.

Não precisamos gritar, mas podemos brilhar suavemente no lugar em que fomos postos.

A chama é pequena ...

... e, no entanto, consegue iluminar a escuridão de um grande recinto.

Jesus nasceu de noite como uma pequena criança e foi deitado numa manjedoura. E foi justamente ele que iluminou a escura noite deste mundo e inúmeros corações.

“Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida.” (Jo 8.12)

Os magos viram a luz de longe e se deixaram atrair.

Ninguém conseguiu aquilo que ele conseguiu. Hoje suas palavras são tão atuais como se tivessem sido pronunciadas ainda ontem. Sua obra redentora continua tão válida como há dois mil anos. Sua pessoa provê luz e vida até a eternidade. Qualquer um que o invocar será iluminado. Jesus pôde dizer: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida” (Jo 8.12).

Existem velas grandes, médias e pequenas, dependendo da finalidade; não importa que vela você é, mas apenas se você brilha no seu lugar e para a sua finalidade. Não lhe perguntarão que tamanho você teve como vela, mas se você brilhou.

A chama da vela é movimentada

A luz de uma vela se move e constantemente assume novos formatos. Deus traz movimento à nossa vida. Seu Santo Espírito não é estático. Ele pressiona, conduz, freia, impele e oferece cargas e visões espirituais. O Senhor sempre está pronto a surpreender. Com ele nunca existe tédio.

Ao lermos os Evangelhos, percebemos que os discípulos mal conseguiam acompanhá-lo e que viviam sempre admirados. O tempo todo aconteciam coisas novas e surpresas. As novidades eram constantes. Suas palavras punham tudo de ponta-cabeça. Jesus consolava e era brusco. Edificava e derrubava tradições. Encorajava e decepcionava. Atraía e expulsava. Onde seus discípulos queriam ficar, ele ia adiante. Aonde não queriam ir, ele parava.

Os discípulos exclamavam espantados: “Quem é este que até manda nos ventos e nas ondas, e lhe obedecem?” (Lc 8.25). As pessoas perguntavam: “Quem é este que até perdoa pecados?” (Lc 7.49).

Quando Jesus quis voltar para a Judeia, os discípulos objetaram: “Mestre, ainda há pouco os judeus queriam apedrejá-lo! E o senhor quer voltar para lá?” (Jo 11.8). Mais tarde, quando Paulo e seus companheiros quiseram ir para a Ásia, o Espírito os impediu e os constrangeu a viajarem para a Macedônia (At 16.6-10). Com Jesus, a vida é cheia de aventuras.

Você se deixa mover e levar?

Uma vela se sacrifica

Ao se sacrificar, ela emite luz. Ela queima para entregar algo. Jesus veio como luz do mundo. Ele se entregou, toda a sua vida, até a cruz do Calvário, para que pudéssemos receber a vida eterna. Filipenses 2.6-8 nos apresenta uma descida sétupla do Senhor Jesus, como uma vela que vai queimando cada vez mais baixa:

“[1] Que mesmo existindo na forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus algo que deveria ser retido a qualquer custo. [2] Pelo contrário, ele se esvaziou [do trono de Deus para a manjedoura], [3] assumindo a forma de servo, [4] tornando-se semelhante aos seres humanos [Deus quis ser homem]. E, reconhecido em figura humana, [5] ele se humilhou, [submetendo-se à autoridade, assumiu todos os encargos embora fosse onipotente], [6] tornando-se obediente até a morte [toda a sua vida se encaminhou para a morte], [7] e morte de cruz”.

Você dedica sua vida e seu corpo, tudo o que você possui, até sacrificar a si mesmo?

A chama aponta para cima

Jesus disse: “Quem vê a mim vê o Pai” (Jo 14.9).

Jesus nos trouxe a luz divina. Ele glorificou o Pai e orientou o mundo para Deus. Jesus nos mostra o caminho para Deus. Desde já ele dirige nosso coração para cima, e na ressurreição somos elevados.

Hans-Joachim Eckstein escreve: “Ainda estamos a caminho para ele e de modo nenhum já atingimos o alvo, mas Cristo já nos alcançou há tempo para se pôr a caminho ao nosso lado em direção ao grande alvo da definitiva e celestial comunhão com ele”.[1]

A vela aquece

O calor faz bem. Ajuda a relaxar. Pessoas calorosas fazem bem. Em sua companhia podemos relaxar. Por que Jesus atraía tanta gente? Não eram somente os milagres; era seu calor convidativo. Mais do que ninguém, ele irradiava calor. Os fariseus e escribas eram frios. Assustavam e mantinham distância. Com Jesus ocorria o contrário, e assim também deve ser conosco. Devemos transmitir calor como aquele que uma vela irradia. “Que a moderação [ou a gentileza e a cordialidade] de vocês seja conhecida por todos. Perto está o Senhor” (Fp 4.5).

Uma vela tem um pavio no meio

O pavio é o que arde e gera a chama. Essa é uma maravilhosa imagem do Espírito Santo que quer arder em nós. Jesus era um homem cheio do Espírito Santo. Os apóstolos ficaram cheios do Espírito. “Todos ficaram cheios do Espírito Santo...” (At 2.4). Por isso, Paulo escreve para que os cristãos “deixem-se encher do Espírito” (Ef 5.18) e “não apaguem o Espírito” (1Ts 5.19).

Para que servem todas as velas se o coração permanecer escuro?

Deixe a luz brilhar e seja uma luz! Você aponta para alguma direção? É alguém que irradia calor espiritual? Que arde por Jesus e seu evangelho? Que se consome pelo reino de Deus? Que traz um testemunho silencioso, mas nítido?

“Você aponta para alguma direção? É alguém que irradia calor espiritual? Que arde por Jesus e seu evangelho? Que se consome pelo reino de Deus? Que traz um testemunho silencioso, mas nítido?”

Se apagarmos uma vela com um sopro, o pavio ainda permanecerá em brasa por algum tempo. O Senhor comenta isso e diz de si mesmo: “Não esmagará a cana quebrada, nem apagará o pavio que fumega, até que faça vencedor o juízo” (Mt 12.20; Is 42.3).

O apóstolo escreve: “Porque Deus, que disse: ‘Das trevas resplandeça a luz’, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo” (2Co 4.6). O poder divino que é luz em si mesmo e que criou a luz para iluminar a terra e que no início da criação disse: “Haja luz! E houve luz” (Gn 1.3), esse poder divino também criou luz no nosso coração quando Jesus entrou em nossa vida. Nosso coração estava em trevas e foi iluminado pelo novo nascimento.

“Porque no passado vocês eram trevas, mas agora são luz no Senhor. Vivam como filhos da luz” (Ef 5.8). Deus criou o sol para que iluminasse a terra e a Criação pudesse desenvolver-se, e o Senhor nos criou para a luz, a fim de brilharmos como filhos da luz: “Assim brilhe também a luz de vocês diante dos outros, para que vejam as boas obras que vocês fazem e glorifiquem o Pai de vocês, que está nos céus” (Mt 5.16).

Nossa vida e todas as nossas boas obras devem apontar para cima! Esta é a mensagem da vela brilhante.

Nota

  1. Hans-Joachim Eckstein, Ich schenke deiner Hoffnung Flügel, 3ª ed. (Holzgerlingen: SCM, 2015), p. 76.

Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Dezembro 2022

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