Como ser guiado pelo Espírito Santo

Quem é o Espírito Santo? A quem ele conduz e como ele faz isso? Uma investigação bíblica e prática.

Todo filho de Deus sincero deseja ser conduzido pelo Senhor. “Ó Senhor, mostra-me o que devo fazer e que decisões devo tomar.” E é correto agir assim, porque Deus tem um plano para a nossa vida e também deseja comunicar-nos esse plano. A Bíblia confirma isso em muitas passagens, como por exemplo em Salmos 32.8: “Eu o instruirei e lhe ensinarei o caminho que você deve seguir; e, sob as minhas vistas, lhe darei conselho”.

Contudo, há quem se decepcione por não experimentar aquelas grandes e extraordinárias conduções de que ouviu nos testemunhos de outros crentes. Talvez até tenha dúvidas fundamentais da sua própria capacidade em reconhecer o plano de Deus em sua vida. Então, a pessoa começa, de modo forçado, a procurar toda espécie de soluções para finalmente conseguir essa experiência especial da condução pessoal. Mas não adianta. Onde será que está o erro? Muitas vezes, o problema é que a nossa ideia de condução não é bíblica.

Quando se trata de manifestações do Senhor a nós, quando ele nos mostra algo que nos orienta e ensina, ele sempre faz isso por meio do Espírito Santo. Lemos isso em Romanos 8.14: “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”. Esse capítulo menciona o Espírito Santo quase vinte vezes. É mais do que em qualquer outro capítulo da Bíblia, e mostra o que o Espírito Santo realiza na vida dos seus filhos renascidos. Romanos 8 é o capítulo definitivo sobre a segurança, a certeza e a confiança dos filhos de Deus.

“Quando se trata de manifestações do Senhor a nós, quando ele nos mostra algo que nos orienta e ensina, ele sempre faz isso por meio do Espírito Santo.”

O primeiro versículo cancela toda espécie de condenação; o último (v. 39) acaba com toda separação. Nesse processo, o Espírito Santo desempenha um papel extraordinário. Os versículos 2 e 3 apresentam a obra do Espírito Santo em nos libertar do pecado e da morte. O versículo 4 mostra que o Espírito Santo nos capacita a cumprir a lei de Deus. Os versículos 5 a 11 mostram que o Espírito Santo transforma a nossa natureza. Os versículos 12 e 13 mostram que o Espírito Santo confere forças para vencermos a carne (carne significa aqui a nossa natureza humana egoísta e teimosa). Os versículos 14 a 16 mostram que o Espírito Santo nos conduz, que por meio dele somos adotados por Deus e temos acesso ao Senhor. Os versículos 17 a 30 mostram o maravilhoso futuro que nos aguarda e o quanto o Espírito Santo se dedica a nós. Os versículos 31 a 39, finalmente, são a mais potente expressão da nossa absoluta segurança e certeza em Cristo. Não é maravilhoso?

Quando então o cerne desse capítulo diz que “todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (v. 14), será de máxima importância saber quem é o Espírito Santo, a quem ele dirige e como o Espírito Santo conduz, ou o que o Espírito Santo revela.

Se não levarmos isso em conta, então mesmo como cristãos sinceros correremos o risco de sermos induzidos a erro por algum espírito falso, um anjo de luz sedutor (cf. 2Co 11.14) ou o próprio Satanás.

Quem é o Espírito Santo?

Em sua valiosa e básica obra Principais Temas da Bíblia, Lewis Chafer e John Walvoord destacam alguns pontos.

Ele é uma pessoa. A Bíblia nos informa que ele faz coisas que só uma pessoa pode fazer: o Espírito convence o mundo (Jo 16.8); o Espírito ensina (Jo 14.26); o Espírito fala (At 13.2); o Espírito nos defende (Rm 8.26); o Espírito conduz (Rm 8.14); o Espírito convoca a pessoa para um determinado ministério (At 13.2); o próprio Espírito também é convocado (Jo 15.26), e o Espírito serve.[1]

Muitos não consideram o Espírito uma pessoa, mas a personificação de uma força. Todavia, todas essas passagens bíblicas mostram claramente que o Espírito de Deus é uma pessoa.

“Mente, sentimentos e vontade são as três características que definem uma pessoa. Como o Espírito Santo possui essas três características, ele deve ser uma pessoa.”[2]

Como pessoa, ele interage com outras pessoas: ele é enviado ao mundo por Deus Pai (Jo 14.16-26) e Deus Filho (Jo 16.7). O ser humano pode entristecer o Espírito (Ef 4.30), inibi-lo e resistir a ele (1Ts 5.19), pode blasfemá-lo (Mt 12.31), mentir a ele (At 5.3), desprezá-lo (Hb 10.29) e falar contra ele (Mt 12.32). Todas as expressões que a Bíblia aplica ao Espírito referem-se a ele como pessoa.

Ele é chamado de “outro consolador/auxiliador” (administrador), o que dá a entender que ele é uma pessoa tal como Cristo: “E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Consolador, a fim de que esteja com vocês para sempre” (Jo 14.16). Ele é chamado de Espírito do mesmo modo pessoal como se fala de Deus como Espírito: “Deus é Espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4.24).

No entanto, o Espírito Santo é mais do que apenas uma pessoa: ele é Deus, eternamente unido a Deus Pai e Deus Filho. Benedikt Peters expressou isso certa vez assim: “Nunca o Pai poderá subsistir e agir sem o Filho e o Espírito. Nunca o Filho poderá subsistir ou agir sem o Pai e o Espírito. Nunca o Espírito poderá subsistir e agir sem o Pai e o Filho”.[3]

Ele é chamado de Deus e tem a mesma natureza que Cristo, o que fica claro em Atos 5.3: “Ananias, por que você permitiu que Satanás enchesse o seu coração, para que você mentisse ao Espírito Santo...?”. E, no final do versículo 4, ele diz então: “Você não mentiu para os homens, mas para Deus”. Em Romanos 8.26, Paulo enfatiza que “o próprio Espírito intercede por nós”, para depois dizer em Romanos 8.34 que “é Cristo Jesus quem... também intercede por nós”. Em Romanos 8.9, o Espírito Santo é chamado de “Espírito de Deus” e “Espírito de Cristo”.

Ele é portador das propriedades da natureza de Deus. Ele é onisciente: “Quem guiou o Espírito do Senhor? Ou, como seu conselheiro, o ensinou? Com quem ele se aconselhou, para que lhe desse compreensão? Quem lhe ensinou a vereda da justiça ou quem lhe ensinou sabedoria? E quem lhe mostrou o caminho do entendimento?” (Is 40.13-14). Ele é onipresente: “... o Espírito da verdade... habita com vocês e estará em vocês” (Jo 14.17). Ele é onipotente: “O Espírito de Deus me fez, e o sopro do Todo-Poderoso me dá vida” (Jó 33.4). Ele é eterno: “Muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!” (Hb 9.14).

O Espírito Santo executa as obras de Deus: “Porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.21).

A Escritura apresenta o Espírito Santo como pessoa, objeto da fé: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28.19). E não devemos apenas crer nele, mas também obedecer-lhe: “Enquanto Pedro meditava a respeito da visão, o Espírito lhe disse: ‘Estão aí três homens à sua procura. Portanto, levante-se, desça e vá com eles, sem hesitar; porque eu os enviei’” (At 10.19-20).

Todavia, o Espírito Santo não é destinatário das nossas orações. Embora o Espírito Santo seja Deus, nenhuma passagem da Bíblia nos instrui a orar a ele. Seu ministério consiste em conduzir a Jesus e em glorificar a Deus. Ele nunca se importa consigo mesmo.

“A pergunta ‘quem é o Espírito Santo’ pode ser respondida, resumidamente, como: ele é uma pessoa; ele é Deus; ele nunca age por iniciativa própria, mas sempre em conjunto com o Pai e o Filho; e ele glorifica o Pai e o Filho.”

Efésios 3.14-16 nos mostra de modo exemplar como devemos orar e como então a Trindade divina entra em ação. Paulo nos ensina ali a orar assim: “Por essa razão, eu me ponho de joelhos diante do Pai, de quem toda a família, nos céus e na terra, recebe o nome. Peço a Deus que, segundo a riqueza da sua glória, conceda a vocês que sejam fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito, no íntimo de cada um”.

A pergunta “quem é o Espírito Santo” pode ser respondida, resumidamente, como: ele é uma pessoa; ele é Deus; ele nunca age por iniciativa própria, mas sempre em conjunto com o Pai e o Filho; e ele glorifica o Pai e o Filho. Devemos crer nele, mas não orar a ele.

Quem o Espírito Santo dirige?

Romanos 8.14 é claro a esse respeito: “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.” O assunto do contexto de Romanos 8 é certeza e confiança, e o versículo 14 oferece uma das respostas mais marcantes de toda a Bíblia à questão de quem é realmente um filho de Deus.

Toda a nossa nova vida se revela no modo como somos conduzidos pelo Espírito Santo. Quem “é conduzido pelo Espírito de Deus”, é filho ou filha de Deus. Todos, sem exceção. A gramática grega do texto original focaliza aqui por meio do tempo verbal presente uma condução contínua e interminável. Portanto, não se trata de uma experiência única e especial no passado, mas de condução presente e constante – uma vida marcada pelo Espírito Santo. Ao afirmar isso, o apóstolo Paulo também enfatiza com toda a clareza que nem todas as pessoas são filhas de Deus. Seria um comportamento decente uma prova de que alguém é filho de Deus? Seria a frequência aos cultos? Ou a leitura da Bíblia ou a obediência aos ditames da consciência? Tudo isso podem ser indícios – mas não mais do que isso. Só quem é dirigido pelo “Espírito de Deus” é “filho de Deus”.

Como foi Deus que nos criou, todo homem é criatura de Deus. Fomos criados à semelhança dele. Como Deus, somos capazes de pensar, amar e falar, mas não somos divinos porque nossa vida é apenas biológica, não espiritual. Não possuímos a mesma essência, a mesma natureza e a mesma vida que Deus. Além disso, nascemos com uma natureza pecaminosa hereditária, pela qual algumas características divinas em nós ainda se degeneraram. O homem natural não é filho de Deus. Ele é inimigo de Deus. Provérbios 15 enfatiza que “o Senhor detesta o sacrifício dos ímpios” (v. 8). “O Senhor detesta o caminho do ímpio...” (v. 9). Observemos o que também Paulo registra em Romanos 3.10-12: “Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus. Todos se desviaram e juntamente se tornaram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer”.

Tudo o que Deus, mesmo assim, realiza em vidas como essas é graça preliminar, efetivada pela ação do Espírito Santo ao convencer a pessoa do seu pecado e ao atraí-la a Jesus. Como humanos podemos criar muitas coisas – um robô, por exemplo. Mas o que criamos não é humano, na melhor das hipóteses, apenas se assemelhará ao homem. Só aquilo que os homens geram torna-se humano. Aquilo que geram torna-se filho do ser humano e possui a natureza humana. Assim também é com Deus. Somente aquilo que é nascido de Deus é divino e tem propriedades divinas, como eternidade e ausência de pecado. Portanto, para vivermos com Deus no céu depois da nossa morte, eternamente e sem pecado, precisamos exatamente dessa sua vida em nós – e isso só acontecerá se formos nascidos de Deus. Jesus explica isso bem claramente em João 3.3: “Em verdade, em verdade lhe digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus”.

Esse novo nascimento é obra do Espírito Santo nas pessoas que reconhecem perante Deus sua condição perdida, sua falta de esperança e sua incapacidade, e que depositam sua confiança no perdão dos pecados por Jesus, consumado na cruz. Assim e só nesse sentido é que nos tornamos filhos e filhas de Deus. Note que não nos tornamos iguais ao Filho de Deus, Jesus Cristo, porque ele nasceu de Deus antes do início dos tempos. Tornamo-nos filhos de Deus apenas por adoção e renovação graças à morte do Filho unigênito de Deus na cruz. Esse é o milagre experimentado por todo aquele que se volta a Deus e se converte: Deus nos dá um coração inteiramente novo, uma nova mentalidade e uma nova identidade familiar. “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2Co 5.17).

Tudo isso acontece num instante por meio do Espírito Santo. Nesse ato, o Espírito Santo efetiva em nós sete bênçãos permanentes, sendo esse o seu ministério em nós. Primeira, o recebimento do Espírito (Gl 3.2), um presente do Senhor, pela graça e sem mérito. Segunda, o novo nascimento pelo Espírito (Jo 3.3,5), a obra de Deus para vivermos eternamente. Terceira, a habitação do Espírito em nós (1Co 6.19), a presença constante de Deus, sua ajuda e sua atuação em nós. Quarta, o selo do Espírito Santo (2Co 1.22), sua proteção e sua guarda. Quinta, o penhor do Espírito (2Co 1.22), a segurança de que Deus guardará a nossa herança. Sexta, a unção do Espírito (2Co 1.21), a capacitação para servir. Sétima, o batismo do Espírito (1Co 12.13), a união de todos os crentes no corpo de Jesus, formando a igreja.

“A conversão e o novo nascimento são a grande obra do Espírito Santo, mas com isso o seu ministério não se encerra.”

Tudo isso é um único e incompreensível presente da graça do Senhor – nada contribuímos para isso! A conversão e o novo nascimento são a grande obra do Espírito Santo, mas com isso o seu ministério não se encerra. Somos equipados com dons espirituais para toda sorte de serviços, e, ao mesmo tempo, o Espírito Santo começa a desenvolver em nosso coração o fruto do Espírito: “Amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl 5.22-23a).

Também o preenchimento com o Espírito é uma obra especial do Espírito Santo, mas não é um evento único tal como os que foram citados antes. Ele deve ser continuamente renovado e depende da nossa fé e obediência pessoais. Por isso, Paulo requer explicitamente em Efésios 5.18: “... deixem-se encher do Espírito”.

O que o Espírito Santo nos mostra ou como o Espírito Santo nos conduz?

A grande confusão que observamos hoje em relação ao Espírito Santo e a insegurança resultante baseiam-se em parte num equívoco sobre o ministério dele. Em seu ministério em nós, o Espírito Santo atua como espírito da condição de filhos ou da nossa aceitação como filhos, ou seja, como espírito de adoção. Paulo refere-se a isso em Romanos 8.15 quando diz: “Porque vocês não receberam um espírito de escravidão, para viverem outra vez atemorizados, mas receberam o Espírito de adoção, por meio do qual clamamos: ‘Aba, Pai!’”.

Atualmente, a adoção muitas vezes é estigmatizada. Naquela época, era bem diferente. Era um privilégio alguém se decidir em favor de outro. Na cultura romana, por meio da adoção a pessoa perdia todos os direitos e deveres relativos à sua família anterior, mas em compensação recebia todos os direitos e privilégios de um filho da nova família, e é exatamente isso o que acontece quando Deus nos adota por meio do novo nascimento. James I. Packer registrou o seguinte a esse respeito:

“O reconhecimento de que recebemos o Espírito Santo como espírito de filiação é a chave para tudo o que o Novo Testamento ensina sobre o ministério do Espírito para o cristão. Desse ponto de vista, reconhecemos três aspectos da sua atuação.

Primeiro, que o Espírito Santo nos mostra e nos mantêm conscientes – às vezes mesmo quando a nossa velha natureza nega isso – de que nos tornamos filhos de Deus pela livre e gratuita eleição de Deus por meio de Jesus Cristo. Assim ele nos proporciona fé, certeza e alegria.

Segundo, ele nos induz a reconhecermos Deus como nosso Pai, a nos dirigirmos a ele de forma respeitosa mas ousada, depositando nele uma confiança ilimitada, como é natural para filhos que se percebem guardados no amor do Pai. É a obra dele que nos leva a clamar ‘Aba, Pai’ – e é nisso que se expressa a atitude do coração.

Terceiro, ele nos motiva a procedermos de acordo com a nossa posição de filhos do Rei, confessando que pertencemos à família (identificação com Cristo), promovendo o bem-estar da família (amando os irmãos) e preservando a honra da família (buscando a glória de Deus). Essa é a obra da santificação. [...]

Por isso não se trata primariamente de buscarmos emoções ou experiências, mas que procuremos o próprio Deus, vendo nele o nosso Pai, estimando a comunhão com ele e tendo em nós um crescente anseio de conhecê-lo e de agradá-lo. Isso tornará visível a realidade da atuação do Espírito Santo em nossa vida. Essa é a verdade capaz de nos libertar do brejo das opiniões espiritualmente incompatíveis sobre o Espírito, nas quais hoje tantos correm risco de submergir”.[4]

Essas considerações lançam uma luz ainda mais clara sobre Romanos 8.14: “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”. Além disso, essa direção pelo Espírito é passiva, ou seja, os filhos de Deus “são guiados”. Não guiamos a nós mesmos!

Mãos folheando a bíbliaO Espírito Santo não nos conduz como presos acorrentados, mas como libertos, pelos laços do amor. Não somos forçados como animais impelidos pelo instinto, mas conduzidos como criaturas racionais.

E existe mais um aspecto importante na direção pelo Espírito: “... onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade” (2Co 3.17). Nenhum constrangimento, nenhuma pressão, nenhuma imposição e nenhuma escravidão. O Espírito Santo nos guia como um professor faz com seus alunos ou um pastor com suas ovelhas, porque isso corresponde à unidade com a natureza de Jesus. Podemos reconhecer isso já no Antigo Testamento: “A minha presença irá com você, e eu lhe darei descanso” (Êx 33.14). A coluna de nuvem de dia, a coluna de fogo de noite.

Ele é o guia em nossa trajetória para a pátria celeste. Não à força, mas convencendo, com exortação e amoroso impulso pessoal. É claro que o Espírito pode nos induzir fortemente, mas nunca forçando ou dominando. Isso é o que ocorre em outras religiões, mas não com o Deus vivo. Ele não nos conduz como presos acorrentados, mas como libertos, pelos laços do amor. Com isso, não somos forçados como animais impelidos pelo instinto, mas conduzidos como criaturas racionais. É uma condução por meio de iluminação da mente e motivação da nossa vontade.

Jesus diz em João 14.21: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele”. Essa manifestação se dá por meio do Espírito Santo. Notam-se aqui dois aspectos: por um lado, toda a Trindade divina está envolvida; por outro, os mandamentos – ou seja, a Palavra de Deus – desempenham um papel decisivo.

É preciso enfatizar isso com toda intensidade: não existe condução íntima pelo Espírito Santo independente da Palavra escrita. Ele é o “Espírito da verdade” (Jo 14.17) que inspirou a “palavra da verdade” (Ef 1.13) e que, por isso, nos guia a toda a verdade (Jo 16.13). Como ele se desviaria disso? Trata-se de um ponto muito importante para entender a condução pelo Espírito.

Assim, em Efésios 1.18, Paulo não ora pedindo grandiosos sinais e milagres acompanhados de experiências inebriantes, mas a iluminação dos “olhos do coração” – e isso será realizado pelo “Espírito de conhecimento” (Is 11.2).

Deus nos criou como seres dotados de discernimento. Por isso, Deus nos conduz primariamente por meio de uma compreensão racional, seguida da aplicação prática da sua Palavra. O Espírito de Deus só nos guia intimamente de acordo com a Palavra de Deus externa. Ele nunca fará algo diferente. Essa Palavra está em nós por meio do seu Espírito. É nessa Palavra que devemos nos apoiar.

Sim, o Espírito sopra conforme quer (cf. Jo 3.8), mas exclusivamente dentro dos limites da Palavra de Deus. Somente ao comparar essa palavra interna com a Palavra externa, escrita, é que reconheceremos que ela provém do Espírito Santo. Só por meio da Palavra escrita é que saberemos que a palavra interna que nos exorta e impele é realmente aquela do Espírito – e assim seremos guardados dos nossos próprios desejos ou imaginação ou, pior, da sedução por algum espírito falso.

Na atual era da igreja, o Espírito Santo conduz cada filho de Deus individualmente com base em seu conhecimento da Palavra de Deus, embora não vocalmente, mas por via moral. Ou seja: não por meio de vozes sonoras, mas de impulsos internos e desejos coerentes com a Escritura. Mas não à força! E, obviamente, ele também guia por meio de circunstâncias, fechando uma porta aqui e abrindo outra mais adiante.

Mãos em oração“Se esperarmos que o Espírito Santo nos guie sem conhecimento da Escritura, isso resultará em toda espécie de decisões alheias à Bíblia, incluindo experiências de êxtase.”

Dá para entender a importância do conhecimento bíblico? E também a importância do discernimento? Se esperarmos que o Espírito Santo nos guie sem conhecimento da Escritura, isso resultará em toda espécie de decisões alheias à Bíblia, incluindo experiências de êxtase. A Bíblia não nos dá indicação nenhuma sobre a cor das meias que devemos vestir, sobre que carro compraremos e também não revela quem deverá ser o nosso cônjuge. A Bíblia não é um livro de oráculos. Na Bíblia, Deus nos revela apenas princípios de acordo com os quais temos de tomar as nossas decisões.

Se retivermos todo o nosso dinheiro para nós, não entregarmos nada para o nosso próximo e a igreja, então a compra de um carrão será um erro. Se, porém, ajudarmos generosamente os nossos irmãos carentes e o reino de Deus e ainda assim nos sobrar alguma coisa, poderemos comprar o que nos agrade. O mesmo ocorre com a escolha do parceiro. A Bíblia diz claramente que isso deve ser “somente no Senhor” (1Co 7.39), ou seja, ele ou ela precisa ser crente. Dentro desses limites, o homem solteiro pode sair em busca de uma morena ou loira, ou uma mulher solteira pode visar a um homem alto ou baixo. Se observarmos os princípios bíblicos, restarão poucas decisões em que efetivamente necessitaremos de uma condução situacional.

Como obter essa plenitude e esse poder do Espírito? Como serei fortalecido, encorajado, consolado, firmado e alegrado, obtendo esperança, discernimento, sabedoria, entendimento e avivamento? Por meio do Espírito. Não é? No entanto, essas expressões são também as gloriosos efeitos da Palavra de Deus, expostos no salmo 119. Portanto, ficar cheio do Espírito pode ser equiparado a ficar cheio da Palavra.

Não se trata, pois, de procurar experiências místicas ou algo similar, mas de fazer o que o salmista diz em Salmos 119.97: “Quanto amo a tua lei! É a minha meditação todo o dia”.

Com isso, submetemos ao Senhor o coração, os pensamentos, sentimentos e desejos, a vontade e as obras – e, assim, o Espírito Santo nos induz a nos orientarmos, sermos marcados e nos submetermos àquilo que lemos e entendemos na Bíblia. Esse processo é o que a Bíblia chama de santificação. São os efeitos da fé e da obediência. Dessa maneira, experimentaremos o que Paulo testifica em 1 Tessalonicenses 2.13: “... a palavra de Deus... está atuando eficazmente em vocês, os que creem”.

É isso o que Deus nos quer mostrar.

Notas

  1. Lewis Sperry Chafer e John F. Walvoord, Principais Temas da Bíblia (Porto Alegre: Chamada, 2021), p. 112.
  2. Charles C. Ryrie, Die Bibel verstehen (Dillenburg: CV, 1996), p. 383.
  3. Benedikt Peters, Der Heilige Geist (Augustdorf: Bethanien, 2003), p. 9.
  4. James I. Packer, Gott erkennen (Leun: Herold-Schriftenmission, 2014), p. 265-266.

Fredy Peter é responsável pelo trabalho de relações públicas e publicações da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Setembro 2022

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