Afeganistão: fugir ou ficar?
A vida dos cristãos afegãos é arriscada. Os talibãs criminalizam o cristianismo. Muitas vezes, a fé no evangelho implica automaticamente a pena de morte para ex-muçulmanos. Para muitos, a fuga acaba sendo a única opção. Todavia, deixar o Afeganistão também incorpora seus próprios riscos. Quer um cristão fuja do Afeganistão ou permaneça ali, o resultado muitas vezes será uma grande angústia. Todos os cristãos afegãos se converteram do islã, uma decisão que aos olhos do Talibã merece a morte. Por essa razão muitos fugiram, mas é frequente não conseguirem escapar da perseguição. Um dos convertidos ao cristianismo relata: “Quando vivia no Afeganistão, fui durante a guerra comandante de um dos partidos que lutavam contra os talibãs. Passada a guerra, os talibãs me localizaram, fui preso e fiquei detido por seis meses. Em seguida tive de fugir sozinho para a Turquia para depois encontrar um meio de trazer também minha família. Ao chegar à Turquia, fiquei muito decepcionado e me descontrolei, mas Deus me deu nova esperança e uma nova paz (por meio de Jesus). Apesar da perseguição a que agora estou sujeito por causa da minha fé, assumi como objetivo fazer discípulos de pessoas de todas as nações segundo o evangelho de Jesus Cristo.”
Normalmente, os crentes afegãos fogem do Talibã para algum outro país islâmico, onde talvez os convertidos não sejam mortos tão rapidamente, mas também não são bem-vindos. Na sua condição de refugiados, geralmente não dominam o idioma local e por isso buscam apoio entre outros exilados. Com isso, a ameaça pelo Talibã poderá ser exportada. Em um caso relatado pelo International Christian Concern (ICC), um afegão convertido foi sequestrado no Irã e trazido de volta ao Afeganistão como parte de um acordo que outra pessoa havia fechado com o Talibã. Uma mulher que passou por uma experiência semelhante relata: “Conseguimos assegurar nossa travessia com ajuda do meu tio. No caminho para lá chegamos à fronteira, onde meu marido desapareceu subitamente. Sem aviso prévio, de repente meu marido não estava mais ao meu lado e não houve possibilidade de obter alguma informação sobre o que poderia ter acontecido com ele. Suponho que o Talibã tenha algo a ver com seu desaparecimento, mas não consigo prová-lo”. Para os cristãos do Afeganistão, ficar ou fugir é uma loteria na qual nenhum dos dois possíveis resultados promete segurança. Não obstante esses desafios, os afegãos crentes em Jesus muitas vezes têm grande esperança. Um cristão afegão declarou: “Depois que passei a confiar em Jesus, me senti feliz. Reconheci como poderia viver à sombra de Jesus. Experimentei a sensação de esperança pela vida, o céu e o dia da ressurreição. Tentei depositar tudo nas mãos de Jesus Cristo porque sei e compreendo que só ele é o Deus onipotente, soberano acima de tudo, tanto sobre o bem como aquele que promove o bem em meio ao mal”.
Desde a retirada dos EUA do Afeganistão em agosto de 2021 e a subsequente tomada do poder pelo Talibã, cresceu a ameaça aos cristãos – que são todos considerados como apóstatas (mutadd) do islã – e a outras minorias religiosas.[1]