Putin – defensor da fé ortodoxa?

O patriarca Cirilo, chefe da Igreja Ortodoxa Russa, defendeu em um sermão a agressão de Putin à Ucrânia invocando a resistência cristã à ideologia homossexual do Ocidente. Ele enxerga uma batalha metafísica entre os valores anticristãos do Ocidente e aqueles que a Rússia defende. A proximidade de Putin com a igreja ortodoxa na Rússia não é segredo. O líder russo já aceitou de bom grado ser estilizado como defensor da herança cristã contra a decadência ocidental, ou receber elogios como defensor da fé ortodoxa. Na Ucrânia, porém, ele revelou sua verdadeira face. Segundo o jornal The Guardian, em março ele deu luz verde para até 16 000 milicianos islâmicos da Síria (chamados de auxiliadores voluntários) lutarem ao lado de rebeldes pró-russos na Ucrânia. Muitos dos habitantes da Ucrânia são crentes ortodoxos. O jornalista Rod Dreher, ele mesmo também ortodoxo, escreveu a respeito: “Pergunto-me o que o patriarca Cirilo pensa disso. Pergunto-me se ele consegue conviver com a noção de que seus co-cristãos, tanto ortodoxos como católicos, serão mortos por mercenários muçulmanos, inclusive com estupros de mulheres cristãs. Como é que ele pode calar-se diante disso?”. A verdade é que a agressão à Ucrânia de modo nenhum fortaleceu os crentes ortodoxos, mas ampliou a cisão da igreja na Ucrânia. Com apoio dos americanos e o reconhecimento da igreja ortodoxa grega (sempre motivados pelo poder político), uma igreja ortodoxa ucraniana já se separara da igreja ortodoxa russa. No entanto, muitos ucranianos permaneceram fiéis à igreja ortodoxa russa por considerarem a cisão como transgressão do direito canônico da ortodoxia. Quando, porém, a Rússia se lançou sobre a Ucrânia como um urso feroz, com apoio do líder máximo da própria igreja ortodoxa russa, muitos – inclusive sacerdotes – acabaram por se afastar dela.

sumário Revista Chamada Agosto 2022

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