A destruição do templo no meio da guerra de sete anos
O curso da guerra na história e no tempo, durante a qual o templo foi destruído, é de importância decisiva no contexto da profecia em Daniel 9.26-27. A tradução dessa passagem varia bastante entre as diversas Bíblias, porque o hebraico do livro de Daniel não é fácil de entender e algumas partes também foram escritas em aramaico, de modo que até tradutores judeus às vezes divergem entre si.
Se compilarmos as diversas traduções, resultará o seguinte texto:
“E depois de sessenta e duas semanas, o Ungido será aniquilado e não existirá mais. E a cidade e o santuário serão arruinados pelo povo do príncipe que virá. E o seu fim (cidade e santuário) em inundação, e até o fim guerra, devastação firmemente decidida. E ele fortalecerá a aliança para os muitos por uma semana. E na metade da semana ele fará cessar os holocaustos e as ofertas de manjares. E ao lado de asas, abominável devastação, até que devastação firmemente decidida seja derramada sobre a desolação.”
É frequente ainda hoje se atribuir um significado futuro a essa profecia. No entanto, se levarmos em conta a duração dessa guerra, fica claro que, na verdade, essa profecia se cumpriu plenamente naquela ocasião.
A duração da guerra
A rebelião dos judeus contra Roma começou no ano 66, mas a guerra propriamente dita iniciou-se apenas em 67, na Galileia, porque os preparativos requereram tempo. Além disso, a guerra se postergou por causa de distúrbios em Roma.
Em 1º de julho de 68, Vespasiano foi aclamado imperador em Alexandria, no Egito. Ele confiou o comando bélico ao seu filho Tito, que conquistou a cidade de Jerusalém. Com isso se cumpriu a profecia de que o povo do príncipe vindouro destruiria a cidade e o santuário. Praticamente da noite para o dia, Tito tornara-se o príncipe de Roma.
Então foi necessário mobilizar as legiões, e no início do verão de 69 elas partiram para Jerusalém a fim de isolar a cidade. Montaram seus acampamentos no monte Scopus e no monte das Oliveiras, e começaram a apertar o cerco. Com isso, os romanos tentaram mais uma vez forçar a cidade sitiada a negociar, a fim de poupá-la de uma conquista violenta e da destruição. Contudo, os agrupamentos judeus fanáticos em Jerusalém não estavam dispostos a ceder em nada.
Os zelotes, os mais fanáticos entre eles, ocuparam a plataforma do templo e o transformaram em uma fortaleza capaz de ser bem defendida. As quatro torres nos cantos do templo, que podem ser chamados de suas asas ou alas, foram transformadas em torres de defesa por meio de sua elevação com estruturas de madeira. Ao transformarem o templo numa fortaleza, profanaram grosseiramente o local sagrado, que assim realmente se tornou uma grosseira abominação. Todavia, seu fanatismo os cegara completamente. Em meio a essa horrorosa situação, até prosseguiram com o culto sacrifical com as ofertas de animais e tudo que fazia parte daquilo, embora o povo estivesse terrivelmente faminto.
Começa a conquista da cidade
No início do ano 70, os romanos levaram os pesados aríetes blindados até os muros de Jerusalém. O ataque começou pelo lado norte por ser um local mais elevado. O terceiro muro, que Herodes Agripa construíra pouco antes para expandir a cidade, foi rompido rapidamente. Com isso, os romanos atingiram o segundo muro, aquele em que hoje se encontra o portão de Damasco. Aquele demorou mais para ser rompido, mas no fim das contas os defensores não dispunham de nada para resistir ao pesado maquinário dos romanos. Assim chegaram ao primeiro muro, que protegia a fortaleza Antônia e, com ela, também o templo. Este era o alvo dos romanos porque ali se haviam encastelado os fanáticos líderes da guerra.
Os romanos levantaram rampas para romper o muro com seus pesados aríetes. Isso novamente demorou um pouco mais do que antes, mas no final os romanos não puderam mais ser detidos. Com isso estavam diante dos muros da sólida fortaleza Antônia, que romperam pelo mesmo processo já aprovado, demolindo-o. Logo mais penetrariam na área do templo. Os defensores fizeram de tudo para impedir isso, construindo rapidamente mais um muro de proteção. Com efeito, aquilo retardou mais uma vez a penetração dos romanos na área do templo.
Havia intenção de poupar o templo
Segundo Flávio Josefo, Tito dera ordem expressa de não destruir o santuário. Em geral, os historiadores judeus têm desprezado essa informação, considerando-a propaganda. Todavia, relatos de guerras contra outros povos estrangeiros informam que a preservação dos seus santuários era de fato uma tática romana porque, depois da guerra, tal ato tinha efeito construtivo, promovendo a união entre os povos, uma boa base para continuar a conviver. Com a proteção de santuários alheios, Roma somava pontos para si.
Maquete do segundo templo de Jerusalém.
Quando, depois da penetração no templo, começou a luta decisiva e final, os defensores puseram fogo em lenha que juntaram rapidamente por baixo da arcada que cercava o templo. Muitos soldados romanos perderam a vida ali. Com isso, acabou-se a consideração e um soldado enraivecido atirou um toco de madeira ardente através de uma janela para dentro do templo. O fogo se espalhou e o templo todo se incendiou.
Supõe-se muitas vezes que naquela ocasião, os romanos tenham destruído o templo totalmente, mas provavelmente não foi o que aconteceu, e sim que o templo permaneceu em pé como ruína fortemente danificada.
O culto sacrifical termina para sempre
No dia em que os romanos avançaram para dentro do templo, o culto sacrifical terminou para sempre. É espantoso, então, que aquilo se tenha dado exatamente três anos e meio após o início da guerra. Com isso podemos constatar que também a profecia sobre a cessação dos sacrifícios se cumpriu exatamente segundo a previsão de Daniel. A guerra prosseguiu por mais três anos e meio até ser debelada a última resistência. Isto se deu em Massada, no início do ano 74 d.C.
A tentativa de reerguer o templo
Cerca de sessenta anos depois, entre os anos de 132 e 135, irrompeu a segunda revolta judaica contra Roma, liderada por Barcoquebas. O rabi Aquiba declarou que ele seria o Messias. Embora saibamos pouco a respeito, supõe-se que um dos motivos para a segunda revolta foi a intenção de reconstruir o templo. Depois dessa segunda revolta, os romanos decidiram destruir radicalmente e arrasar as ruínas do templo e tudo que ainda restava em pé. É provável que também o túmulo de Davi e os outros túmulos dos reis de Judá tenham sido destruídos a fim de que nada mais lembrasse a grandeza de Judá, o que ainda poderia ter alimentado sentimentos nacionalistas.
Com isso cumpriu-se então a última parte da profecia, segundo a qual a devastação firmemente decidida desabaria sobre o que já estava devastado.
Mais uma tentativa de reconstruir o templo
O imperador Juliano, também conhecido como o “Apóstata”, por renunciar à fé cristã e pretender restabelecer os antigos cultos pagãos, também encorajou nesse contexto os judeus a reconstruírem o seu templo. Chegaram-se a fazer preparativos para isso. Ficou claro, porém, que Deus não abençoou a iniciativa. Juliano perdeu a vida na guerra contra os persas em 363, com apenas 33 anos de idade. Ele governou pouco mais de 19 meses. Com isso, o sonho da reconstrução do templo acabou definitivamente.