A parábola da figueira
“Aprendam, pois, a parábola da figueira: quando já os seus ramos se renovam e as folhas brotam, vocês sabem que o verão está próximo” (Mc 13.28).
No nosso jardim há uma figueira. No inverno, ela está seca e sem folhas – parece morta. Subitamente, porém, as pontas dos seus ramos amolecem e criam botões. Um claro sinal de que a primavera chegou!
Na Bíblia, a figueira é uma ilustração que aponta para o povo e a terra de Israel. Israel está novamente verdejante. Após dois mil anos de sequidão e dispersão, os judeus retornaram à terra dos seus pais. Voltaram de países de todo o mundo. Sim, Jerusalém está novamente repleta de gente. Já por várias vezes me sentei na parte antiga de Jerusalém diante da reconstruída sinagoga Churba. Alegrei-me com as crianças que brincavam e com suas famílias, os idosos que, sentados em bancos, aproveitavam o entardecer. Nessas ocasiões, também li às vezes o profeta Zacarias, que em aproximadamente 520 a.C. profetizou o seguinte: “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Os velhos e as velhas voltarão a sentar-se nas praças de Jerusalém, levando cada um na mão a sua bengala, por causa da sua muita idade. As praças da cidade se encherão de meninos e meninas, que nelas brincarão. Assim diz o Senhor dos Exércitos: Isso pode parecer impossível aos olhos do remanescente deste povo naqueles dias, mas não será impossível para mim, diz o Senhor dos Exércitos. Assim diz o Senhor dos Exércitos: Eis que salvarei o meu povo, tirando-o da terra do Oriente e da terra do Ocidente. Eu os trarei, e habitarão em Jerusalém. Eles serão meu povo, e eu serei o seu Deus, em verdade e em justiça” (Zacarias 8.4-8). Israel, a figueira de Deus, está novamente verde e ganhou folhas. E então Jesus nos instrui a aprender dessa figueira. A respeito da figueira botânica andei lendo o seguinte:
“Israel, a figueira de Deus, está novamente verde e ganhou folhas. E então Jesus nos instrui a aprender dessa figueira.”
“Sua frutificação é curiosa. Suas diminutas flores crescem na parede por dentro de uma base em forma de urna, que no período da maturação se torna grosso e carnoso, formando o ‘figo’. Os carocinhos dentro do figo é que são os frutos propriamente ditos, a parte comestível é a floração que se avolumou. Na Palestina, a figueira frutifica três vezes ao ano. A primeira colheita vem da florada do ano anterior, já na primavera. Quando em abril os botões dos ramos formam os novos brotos do ano e ali surgem as primeiras folhas, abrigam-se novos pequenos figos por baixo desses brotos, os chamados pré-figos (paggim). Eles anunciam que o inverno terminou (Ct 2.13). Não são suculentos, mas são comidos assim mesmo, já que naquele período não há outras frutas. Onde eles faltam, a árvore é estéril, razão por que Jesus amaldiçoou aquela figueira cuja folhagem só simulava fertilidade (Mt 21.18-22; Mc 11.12-14,20-26). Mais ou menos no mesmo lugar onde cresceu o pré-figo, desenvolvem-se então no início do verão os figos precoces (bikkurah; Os 9.10). Aproximadamente em fins de maio/começo de junho eles estarão maduros e são muito apreciados por serem bem suculentos (Is 28.4), mas eles não são duráveis. Os brotos que começaram a se desenvolver no início do ano anterior estão agora plenamente desenvolvidos e trazem os chamados figos tardios (tena). Esses são os melhores frutos, e são colhidos em agosto. São consumidos em parte frescos, em parte secos e prensados em ‘bolos’ (1Sm 25.18; 1Cr 12.41). A madeira da figueira é esponjosa e só serve como lenha. Portanto, a utilidade dessa árvore se limita à sua ‘doçura’ e seu ‘bom fruto’ (Jz 9.11), enquanto uma árvore infrutífera é inútil e será abatida (Lc 13.7).”[1]
Quando então Jesus diz que devemos aprender da figueira, creio que com isso ele não se refere apenas aos ramos e às folhas, mas à árvore inteira. Segundo o extrato da enciclopédia bíblica que acabamos de ler, a figueira frutifica em Israel três vezes ao ano. Inicialmente surgem os secos pré-figos em abril (hoje estes não têm mais valor econômico), em seguida vêm os suculentos figos precoces em fim de maio/início de junho. A colheita se encerra com os figos tardios em agosto. É interessante também que, desde o seu plantio até a primeira colheita, a figueira precisa de três anos até produzir os primeiros frutos.
A primeira colheita
A enciclopédia descreve essa colheita dos chamados pré-figos: “Embora não suculentos, são consumidos porque naquele momento não existem outras frutas”. Jesus esperava da sua figueira (Israel) que frutificasse. Afinal, ele cuidara dela intensamente por três anos. Vivera entre o povo, ensinando, pregando, operando milagres e provando de muitas formas a sua messianidade – isto na esperança de que a figueira (Israel) frutificasse. Mas Jesus precisou dizer: “... Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e, vindo procurar fruto nela, não achou. Então disse ao homem que cuidava da vinha: ‘Já faz três anos que venho procurar fruto nesta figueira e não encontro nada. Portanto, corte-a! Por que ela ainda está ocupando inutilmente a terra?’ Mas o homem que cuidava da vinha respondeu: ‘Senhor, deixe-a ainda este ano, até que eu escave ao redor dela e ponha estrume. Se vier a dar fruto, muito bem. Se não der fruto, o senhor poderá cortá-la’” (Lc 13.6-9). Jesus tinha feito de tudo pela figueira! Tinha escavado em torno dela, adubado e regado. Mas a caminho de Jerusalém e do Calvário, no tempo próprio dos pré-figos e após três anos de cansativo trabalho, ele teve de constatar que não havia frutos. Nem sequer os pequenos, insignificantes e secos pré-figos. Temos aqui uma nota profética de que Israel rejeita o seu Messias, o repudia e acaba por mandar pregá-lo na cruz pelos romanos. Jesus previu isso profeticamente em Lucas 13.6.
A segunda colheita
Os figos da segunda colheita “estão maduros e são apreciados por serem particularmente suculentos, mas não são duráveis”. Do ponto de vista da história sagrada e profeticamente, também esta colheita já se cumpriu, a saber, em fins de maio ou início de junho do ano de 33 d.C., no Shavuot, a festa de Pentecostes, em que milhares de judeus vieram a crer em Jesus Cristo. É a imagem da figueira de Israel frutificando maravilhosamente. É o momento dos figos precoces, desses maravilhosos, grandes, suculentos e saborosos frutos. Vemos o cumprimento dessa colheita na história sagrada no apóstolo Pedro dirigindo-se ao seu povo em Pentecostes e dizendo: “Portanto, toda a casa de Israel esteja absolutamente certa de que a este Jesus, que vocês crucificaram, Deus o fez Senhor e Cristo. Quando ouviram isso, ficaram muito comovidos e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: ‘Que faremos, irmãos?’ Pedro respondeu: ‘Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos seus pecados, e vocês receberão o dom do Espírito Santo. Porque a promessa é para vocês e para os seus filhos, e para todos os que ainda estão longe, isto é, para todos aqueles que o Senhor, nosso Deus, chamar’” (At 2.36-39).
O resultado desse sermão é a maravilhosa segunda colheita, anunciada na figueira: “Então os que aceitaram a palavra de Pedro foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas” (At 2.41). Israel frutifica! Em um único dia, três mil judeus confessam Jesus Cristo como seu Messias, e alguns dias depois acrescentam-se ainda mais: “Porém muitos dos que ouviram a palavra creram, subindo o número desses homens a quase cinco mil” (At 4.4). Eis aí o fruto, doce, suculento, maravilhoso!
Todavia, a segunda colheita de figos tem uma grande desvantagem: os frutos se estragam rapidamente. Não é possível armazená-los nem conservá-los. Profeticamente, é uma ilustração daquilo que aconteceu com Israel. Embora no Shavuot houvesse uma maravilhosa segunda colheita, ela não durou muito, e novamente se cumpria a palavra de Jesus em Lucas 13.
Depois de uma frutífera fase inicial, os figos se estragam e ocorre uma parada. Observamos isso nos eventos que Lucas descreve em Atos quando Paulo prega aos judeus na sinagoga de Corinto: “E todos os sábados Paulo falava na sinagoga, persuadindo tanto judeus como gregos. Quando Silas e Timóteo chegaram da Macedônia, Paulo se entregou totalmente à palavra, testemunhando aos judeus que Jesus é o Cristo. Como eles se opuseram e blasfemaram, Paulo sacudiu as roupas e disse-lhes: ‘Que o sangue de vocês caia sobre a cabeça de vocês! Eu estou limpo dele e, a partir de agora, vou para os gentios’” (At 18.4-6).
Israel se afasta do seu Messias, rejeita o evangelho e diz “não” a Cristo – e isso apesar de o homem que cuidava da vinha, o próprio Deus (cf. Jo 15.1), ter dado a Israel uma nova chance. O fruto se perde e acontece o que o homem que cuidava da vinha disse: “... Se não der fruto, o senhor poderá cortá-la” (Lc 13.9). Em 70 d.C., Israel é cortado e disperso entre as nações. A figueira seca é temporariamente posta de lado por Deus em sua função salvadora. A consequência são quase dois mil anos de secura e esterilidade.
A terceira colheita
Creio que essa terceira colheita começou a se cumprir hoje diante dos nossos olhos. Mas retornemos primeiro um pouco: em termos da história sagrada, a primeira colheita se deu em 33 d.C. quando Jesus, a caminho do Calvário, procurou frutos em Israel e não encontrou. A segunda colheita se cumpriu só pouco tempo depois, em Pentecostes. Essa foi maravilhosa, mas infelizmente também só de curta duração. Com isso, a figueira foi abatida. Ela secou e desapareceu do palco da história sagrada – por quase dois mil anos.
“Cada vez mais israelenses reconhecem, confessam e dizem: ‘Jesus Cristo é o Messias de Israel!’.”
Hoje a figueira Israel voltou a verdejar. Os judeus retornaram de mais de 140 nações. De volta à terra dos seus pais. Os ramos da figueira voltaram a encher-se de seiva, geraram botões e ganharam folhas. E com isso, creio eu, também chegou o momento da terceira colheita. Leiamos mais uma vez o que a enciclopédia bíblica Lexikon zur Bibel diz a respeito: “Os brotos que começaram a desenvolver-se no início do ano precedente agora estão crescidos e produzem os chamados figos tardios. Esses frutos são os melhores e são colhidos em agosto. São consumidos em parte frescos, em parte secos e prensados em forma de ‘bolos’”. Esses frutos, que Jesus procurou em sua caminhada para o Calvário, mas sem encontrá-los, estão hoje presentes em Israel. São pessoas do povo judeu que confessam Yeshua como seu Messias, creem nele, seguem-no e o servem. Quando o Estado de Israel foi fundado em 14 de maio de 1948, apenas um punhado de israelenses cria no Messias. Hoje as comunidades cristãs messiânicas em Israel contam com mais de 30 000 membros registrados. Enquanto por ocasião da fundação do Estado de Israel não havia nenhuma igreja liderada por judeus messiânicos, hoje são mais de 300. A figueira voltou a frutificar! As igrejas messiânicas desenvolvem uma atividade missionária extremamente intensa. Elas têm sua própria faculdade teológica, formam pastores judeus e árabes, operam sua própria emissora de rádio cristã messiânica, prestam assistência social, ajudam enfermos, idosos, drogados e sobreviventes do Holocausto, apoiam soldados e se fazem cada vez mais presentes na sociedade israelense. Um ramo missionário muito particular é o dos variados vídeos missionários em língua hebraica e também inglesa. Nestes, israelenses testemunham como encontraram o Messias Jesus Cristo. É profundamente comovente quando rabinos, cientistas de renome, donas de casa e operários testemunham como reconheceram em Jesus o seu Messias. Esses vídeos têm milhões de espectadores em Israel (e mundialmente) e geraram um tremendo eco no país.[2] Tudo isso desperta em mim uma expectativa e um anseio: poderia ser que o círculo se está fechando? Que se cumpra a palavra segundo a qual “as trevas cobrem a terra, e a escuridão envolve os povos; mas sobre você aparece resplandecente o Senhor, e a sua glória já está brilhando sobre você” (Is 60.2) e: “Porque não quero, irmãos, que vocês ignorem este mistério, para que não fiquem pensando que são sábios: veio um endurecimento em parte a Israel, até que tenha entrado a plenitude dos gentios” (Rm 11.25)!
Israel, a figueira, está frutificando, o fruto da terceira colheita. O que pareceu impossível ao longo de séculos, já que somente poucos judeus encontravam o seu Messias, é hoje algo que se passa diariamente em Israel! Judeus reconhecem em Jesus Cristo o seu Messias. Parece que o véu que por séculos cobriu os seus olhos vem agora sendo retirado pouco a pouco; que o círculo se vai fechando e o evangelho vai retornando ao seu ponto de partida: a Jerusalém!
Isso me lembra mais uma vez o ciclo festivo dos peregrinos judeus, composto de Páscoa, Shavuot e Sucot. Em termos da história sagrada, a primeira dessas festas se cumpriu na Páscoa, quando Jesus Cristo subiu a Jerusalém para ali morrer como Cordeiro de Deus. Naquela ocasião, ele não encontrou fruto nenhum. Também a segunda festa, o Shavuot, se cumpriu quando em Pentecostes se recolheu uma grandiosa colheita, mas que infelizmente não durou muito. O que hoje ainda se espera na história sagrada é a terceira festa, o Sucot: a festa das cabanas. Esta é a festa da consumação. Sobre essa, o judeu messiânico Martin Baron diz: “A Festa das Cabanas é a festa da consumação, a sétima festa. É uma festa longa, alegre e de alívio – e as nações do mundo estão incluídas nela. É o grand finale, a ocasião em que se vive sob a proteção do Senhor, em sua ‘cabana’”.[3] A Festa das Cabanas é uma indicação profética sobre o futuro reino de Deus na terra e o cumprimento da oração de Jesus: “Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.10). O Sucot se cumprirá com o reino pacífico de mil anos do Messias sobre a terra. É a última das três festas de peregrinação, celebrada em fins de setembro e começo de outubro. É interessante que essa festa se segue à terceira colheita de figos – aquela cujos frutos permanecem, são duráveis, podem ser conservados e proporcionam a colheita mais abundante.
Se assim for, eu me pergunto: seria talvez isso que observamos hoje na figueira Israel – o fato de haver judeus reconhecendo o seu Messias – a última colheita antes da chegada do Reino de Deus? O cumprimento da profecia de Jesus quando ele disse: “Eis que a casa de vocês ficará deserta. E eu afirmo a vocês que não me verão mais, até que venham a dizer: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor!’” (Lc 13.35). Cada vez mais israelenses reconhecem, confessam e dizem: “Jesus Cristo é o Messias de Israel!”. Seria possível que a terceira colheita se iniciou e que esta culminará na futura conversão dos 144 000 de Israel (Ap 7.1-8)? Se realmente for assim, como deverá estar próximo o arrebatamento da igreja de Jesus!
Por isso, justamente nestes atuais tempos tão turbulentos, voltemos o nosso olhar para o iminente retorno do Senhor Jesus Cristo, não permitindo que qualquer coisa turve o nosso olhar para ele. Nada e ninguém deveria nos reter e nos roubar a esperança de um breve arrebatamento. Voltemos a olhar novamente para Jesus Cristo e orar cheios de alegria: “... Amém! Vem, Senhor Jesus! A graça do Senhor Jesus esteja com todos (Ap 22.20-21).
Notas
- Fritz Rienecker, Lexikon zur Bibel, p. 394.
- https://www.oneforisrael.org/outreach/
- Martin Baron, Die 7 Feste der Bibel und ihr Geheimnis: Band 7: Sukkot - Das Laubhüttenfest.