Norbert Lieth
Reconhecemos a medida em que Cristo habita conosco pelo espaço que abrimos à sua Palavra. “Que a palavra de Cristo habite ricamente em vocês. Instruam e aconselhem-se mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus com salmos, hinos e cânticos espirituais, com gratidão no coração” (Cl 3.16).
O evangelista Erino Dapozzo (1901-1974) publicou certa vez um anúncio num jornal suíço no qual ele pedia por Bíblias usadas para fins missionários. O dono de um hotel respondeu. Quando Dapozzo o procurou, ele se espantou com a quantidade de Bíblias ali. O hoteleiro apontou para a igreja do outro lado da rua e explicou que ali se realizavam muitos casamentos e que todos os casais de noivos recebiam ali uma Bíblia. Em seguida, eles vinham com seus convidados para o hotel. Quando então os recém-casados se retiravam, geralmente arrancavam da Bíblia a folha em que constava seu nome e a data, e abandonavam a Escritura Sagrada ali. Com o tempo, acumularam-se ali 62 bíblias sem uso.
Infelizmente, muitos não sabem o quanto a Palavra de Deus seria útil para a sua vida e o que perdem quando levam a vida sem ela. A Bíblia é o melhor conselheiro, justamente para o casamento. A Escritura Sagrada é benéfica para o espírito e a alma e, por isso, não raro também para o corpo. A leitura acalma, mas também nos desperta. A Bíblia nos põe em contato com o nosso Criador e com a redenção pelo seu Filho Jesus Cristo. Só ela nos transmite a verdade sobre Deus. Ela transmite esperança viva e nos oferece uma visão para além dos limites da vida diária, até a eternidade. Ela testifica a certeza da salvação e nos revela o maravilhoso propósito de Deus para a salvação deste mundo. A Palavra de Deus nos traz ensino benéfico e não um vazio sem valor. Ela revela pecados e erros de procedimento, mas também nos apresenta a misericórdia de Deus e o caminho do perdão e da reconciliação. A Palavra de Deus é viva porque provém do Espírito eterno de Deus e porque Jesus é a palavra de Deus em pessoa.
O apóstolo Paulo, e não só ele, valorizou muito nossa ocupação profunda com a Palavra de Deus, tanto pessoalmente quanto em nossas igrejas: “Este Cristo nós anunciamos, advertindo a todos e ensinando a cada um em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos cada pessoa perfeita em Cristo” (Cl 1.28).
Paulo refere-se aqui ao ministério do ensino na igreja e visa a uma meta tríplice: (1) advertir a todos; (2) ensinar todos em toda a sabedoria; (3) a fim de apresentarmos cada um perfeito em Cristo.
Trata-se de conduzir o cristão a toda a riqueza de Cristo, e a isto Paulo se dedicava intensamente. Não havia esforço excessivo para ele, conforme ele diz no versículo seguinte (v. 29): “É para esse fim que eu me empenho, esforçando-me o mais possível, segundo o poder de Cristo que opera poderosamente em mim”.
Empenhar-se significa ocupar-se intensamente de alguma coisa e alinhar-se com ela. Luta é a completa dedicação espiritual e física com todos os respectivos esforços. Também significa não desistir, mesmo se chegarmos aos limites da nossa substância. Não se quer ser derrotado, mas vencer acima de tudo. A eficácia do poder de Deus o impelia a essa dedicação.
Fica evidente a intenção de Deus de penetrarmos mais profundamente na sua Palavra e de crescermos no conhecimento dele mesmo (Ef 1.17; 2Pe 3.18). Esse conhecimento, porém, só encontramos por meio da Palavra de Deus – e para isso não basta a leitura diária de uma passagem; é necessário estudar a Palavra, pesquisando-a e nos aprofundando nela, observando os contextos e os paralelos. Certamente não seria pouca a influência sobre a vida das nossas igrejas e nossas famílias se a Palavra de Cristo habitasse ricamente em nosso coração. Não à força e sob exagerada exortação, mas em sabedoria e amor. Que esta edição contribua para fazer a Palavra de Deus brilhar e nos fazer crescer.
Reconhecemos a medida em que Cristo habita em nós pelo espaço que abrimos à sua Palavra.