A Carta aos Romanos: Capítulo 5 (2ª parte)

Morte ou vida (v. 12-14)

Afinal, qual é o nosso problema? Quem é o culpado daquilo que nos afeta? Quem deveria ser cobrado? É nesse sentido que Paulo passa a argumentar, dizendo: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado veio a morte, assim também a morte passou a toda a humanidade, porque todos pecaram” (Rm 5.12).

Paulo faz algo que hoje se procura evitar de todos os modos: ele aponta responsáveis, atribui culpa, diz quem deve arcar com as consequências do procedimento errado. O homem tende a fugir das consequências, a evitar responsabilidade e a não assumir culpa. A Bíblia, porém, parte de outra abordagem: nós somos responsáveis. Precisamos assumir responsabilidade e, de acordo com isso, também as consequências dos nossos erros. Por isso, Paulo diz: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado veio a morte, assim também a morte passou a toda a humanidade, porque todos pecaram” (Rm 5.12).

Diante de Deus, o homem é culpado. Por isso também todo homem precisa arcar com o castigo pelo pecado, a morte, porque “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23a).

Com isso, fica claro nesse processo judicial da carta aos Romanos que todos nós temos um problema bem definido. É o problema do pecado que nós mesmos provocamos. Pode-se alegar: mas não fomos reconciliados com Deus?

Não temos paz com Deus? Sim, mas mesmo assim a realidade do pecado e de suas consequências permanece, porque ainda temos todos de morrer, e esse fato não pode ser simplesmente ignorado.

Em busca da causa

Paulo chama o problema pelo nome quando escreve: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo...” (Rm 5.12). Com isso, ele o delimita: o problema somos nós – ele faz parte do nosso núcleo.

Não são nem as circunstâncias externas nem as más influências sociais. Somos nós mesmos. Com isso, Paulo não diz nada diferente daquilo que Jesus disse: “Porque de dentro, do coração das pessoas, é que procedem os maus pensamentos, as imoralidades sexuais, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as maldades, o engano, a libertinagem, a inveja, a blasfêmia, o orgulho, a falta de juízo. Todos estes males vêm de dentro e contaminam a pessoa” (Mc 7.21-23). Com isso, o problema é o próprio ser humano e seu coração pecador, e a consequência lógica é a morte como realidade inescapável para todos os homens. Por isso, Paulo prossegue dizendo: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado veio a morte, assim também a morte passou a toda a humanidade, porque todos pecaram. Porque antes de a lei ser dada havia pecado no mundo, mas o pecado não é levado em conta quando não há lei. No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual prefigurava aquele que havia de vir” (Rm 5.12-14).

A morte é esse terrível tirano. Ainda que procuremos reagir com todos os meios, ela reina sobre todas as estruturas sociais, tanto sobre os bons como sobre os maus, sobre ricos e pobres, instruídos e menos instruídos. A morte domina tanto sobre pessoas que conhecem os mandamentos de Deus como também sobre os que nunca ouviram falar deles.

Em termos de acusação, somos culpados por sermos entes morais e assim mesmo não vivermos de acordo, por estarmos informados sobre Deus e mesmo assim não o honrarmos. E assim a morte predomina começando com “Adão até Moisés” (Rm 5.14) e até os nossos dias.

A solução divina (v. 15-21)

Depois de Paulo constatar como comprovação da nossa culpa que “a morte passou a toda a humanidade” (Rm 5.12), ele passa agora a falar da graça. Com isso, Paulo se refere àquele aspecto da graça de que não recebo aquilo que na verdade merecia, mas em lugar disso recebo como dádiva algo a que nem tenho direito.

“Graça significa perdão de qualquer culpa, por maior que seja, aceitação como filho, comunhão com Deus, uma vida cheia de sentido e a esperança da eternidade com ele na luz.”

Por causa do pecado, todos nós merecemos o inferno, mas, por pura graça, Deus nos presenteia com o céu. Por isso, Paulo escreve que “o dom gratuito não é como a ofensa” (Rm 5.15). Graça significa perdão de qualquer culpa, por maior que seja, aceitação como filho, comunhão com Deus, uma vida cheia de sentido e a esperança da eternidade com ele na luz.

No entanto, há uma coisa que nós mesmos temos de fazer: aceitar essa graça. A graça de Deus se dirige pessoalmente a cada um, fazendo parte da natureza dela não se impor a ninguém. E aí não importa o que tenhamos feito. O volume da culpa, a gravidade das transgressões – tudo isso não importa para Deus. Se nos achegarmos a Jesus, valerá o seguinte para a nossa vida: “... se muitos morreram pela ofensa de um só, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, foram abundantes sobre muitos!” (Rm 5.15).

Para Deus, o pecado não tem a última palavra!

“... se muitos morreram pela ofensa de um só, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, foram abundantes sobre muitos!” (Rm 5.15)

O presente da graça de Deus está à disposição de todos que queiram tê-la e aceitá-la, e Paulo escreve exatamente isto: “O dom, entretanto, não é como no caso em que somente um pecou. Porque o julgamento derivou de uma só ofensa, para a condenação; mas a graça deriva de muitas ofensas, para a justificação” (Rm 5.16).

A graça de Deus justifica todo aquele que aceitar a oferta de Deus, por mais pesado que o fardo possa parecer, a culpa seja ilimitada e as transgressões sejam incontáveis: mesmo aí a graça de Deus justifica o pecador, porque “a graça deriva de muitas ofensas, para a justificação” (Rm 5.16b).

Jesus é maior

Mais uma vez Paulo enfatiza: “Se a morte reinou pela ofensa de um...” (Rm 5.17). O pecado e a morte reinam inclementes.

Ao longo de todos os séculos da história humana, o pecado deixou uma marca de desgraça, e o seu assecla, a morte, nada mais que lágrimas, sofrimento e ruína!

Agora, porém, alguém mais forte se manifesta com poder: alguém maior, a quem foi dado todo o poder e que domina sobre o pecado, a morte e o Diabo. Por isso, Paulo pode agora escrever: “... muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo” (Rm 5.17).

O vencedor é e permanece sendo Jesus Cristo. Com ele, ninguém mais precisa ser servo do pecado, joguete do Diabo ou escravo dos seus próprios desejos. Pelo contrário: podemos reinar com Jesus Cristo!

Decida-se!

Ao dizer “portanto” (v. 18), Paulo nos convoca a tomar uma posição clara: ou a favor do pecado, separando-nos assim de Deus, ou por Jesus Cristo e com isso por uma vida baseada em sua graça e em sua luz. E, para enfatizar mais uma vez todo o alcance dessa decisão, Paulo escreve: “Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos” (Rm 5.19).

Logo, tome a decisão certa. Escolha a vida e você será justo perante Deus.

Lei e graça

“A lei veio para que aumentasse a ofensa...” (Rm 5.20). A existência da lei se justifica plenamente, já que torna evidente a nossa perdição e incapacidade de cumpri-la. Além disso, por meio da lei se completa a medida do pecado.

Assim, a lei desperta em nós o anseio por um redentor, com o que por meio da lei também a graça de Deus se torna maior: “... aumentou muito mais ainda a graça” (Rm 5.20)! Portanto, a lei não só desperta o desejo por um salvador, mas também torna a graça ainda maior, já que a graça de Deus é sempre maior que qualquer fracasso próprio e a incapacidade de cumprir os mandamentos de Deus.

Tudo aquilo que a lei não consegue – transformar e renovar minha pessoa – a graça provê. Debaixo da graça posso aprender: “... a fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim também a graça reinasse pela justiça que conduz à vida eterna, por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 5.21).

Sob a graça posso aprender a reinar com Jesus Cristo e a levar uma vida renovada. A partir daí o pecado – cujo domínio levava à morte eterna – não me dominará mais, mas a graça levará à vida eterna em Jesus Cristo.

Samuel Rindlisbacher é ancião da igreja da Chamada na Suíça e foi fundamental no desenvolvimento do grande ministério de jovens dela.

sumário Revista Chamada Junho 2022

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