Mosaicos reveladores

Encontramos mosaicos por toda parte de Israel – fabulosas obras de arte da Antiguidade, cada uma mais notável que a outra. Todavia, um recente achado mostra que uma nova descoberta científica também pode causar espanto.

Mosaicos antigos descobertos por arqueólogos na Terra Santa com frequência rendem manchetes, mesmo em outras partes do mundo. Um exemplo é o piso de mosaico encontrado durante viárias obras em Lida, que, com seus 180 metros quadrados, representa o maior mosaico encontrado em Israel até agora. No entanto, o mosaico descoberto em Megido também é importante – ele foi encontrado durante obras de modificação de um presídio. Assim, encontram-se ali mosaicos por toda parte, como em Ein Gedi junto ao mar Morto, em locais proeminentes como Cesareia e Massada, em Berseba e Mamshit no Sul, bem como os mais suntuosos provavelmente em Séforis no Norte. Mosaicos descobertos em locais inacessíveis ou de difícil acesso podem ser admirados no Museu do Bom Samaritano, na estrada de Jerusalém para o mar Morto.

Mosaicos narram histórias – mais histórias do que suas imagens mostram. Com base em imagens de animais nos antigos mosaicos, pode-se reconstruir o conhecimento sobre criaturas há muito extintas que viviam na Terra Santa. É bastante frequente encontrar cenas bíblicas, já que não são poucos os mosaicos encontrados em edificações que no passado foram usadas como sinagogas ou igrejas. Todos eles têm em comum que, apesar da sua antiguidade, geralmente ainda preservam belíssimas cores, causando naqueles que os contemplam admiração por causa da grande habilidade artística necessária para sua criação.

Um pouco diferente é o que se constata num mosaico recentemente descoberto por arqueólogos da Universidade de Haifa, na antiga cidade de Majdulia nas Colinas de Golã (hoje nas proximidades do moderno assentamento de Natur), numa edificação que servia de sinagoga. Sabe-se que essa antiga cidade foi fundada na época em que os romanos estavam destruindo o segundo templo em Jerusalém. Pouco antes, em 67 d.C., ocorrera a queda de Gamal, geralmente considerada como a Massada do Norte. Consequentemente, supunha-se que Majdulia nem teve oportunidade de florescimento, porque logo em seguida os judeus daquela região ficaram sujeitos a maciças mudanças. No entanto, sabe-se agora que Majdulia esteve habitada mais ou menos até meados do século 4.

O achado de um mosaico numa sinagoga datada do século 3 d.C. é raro. Esse achado, descoberto durante escavações iniciadas em 2014, desafia os cientistas porque os obriga a rever antigas suposições. Sabe-se pouco sobre a presença judaica nas Colinas de Golã durante esse período histórico. No país inteiro encontraram-se poucas sinagogas daquela época do domínio romano sobre aquela terra – e este é justamente o ponto crítico no achado dessa sinagoga de Majdulia: ele evidencia que, mesmo depois da destruição do templo, as tradições de uso das sinagogas, tais como o arranjo dos assentos e a pouca decoração, persistiram. Ao mesmo tempo, a influência do domínio romano fica clara, porque aqui você pode descobrir elementos que foram estabelecidos posteriormente nas sinagogas: representações coloridas em mosaico de vários animais e das mais diferentes formas geométricas. Como esse mosaico, infelizmente bastante malconservado, foi encontrado numa ala lateral da sinagoga, ficou claro que surgiam ali os primeiros passos de uma mudança no uso da mesma, afastando-se das sinagogas como locais exclusivamente de estudo religioso em direção a um local de reunião para oração comum de todos os membros da comunidade.

O diretor da escavação, dr. Mechael Osband, da Universidade de Haifa, explicou a respeito: “Sinagogas datadas dos tempos finais do período romano ou até do início do período bizantino eram usadas para cultos comunitários. Eram uma espécie de ‘pequenos templos’, razão pela qual também encontram-se nelas a partir daí decorações bem mais luxuosas. Nossa descoberta em Majdulia é o achado mais antigo dessa espécie feito até agora, o que lhe confere grande importância não só para a revisão da nossa suposição de que naquela época não houvesse presença judia no Golã, mas também como primeira comprovação das mudanças que conhecemos de períodos mais tardios nas sinagogas”.

Antje Naujoks

Antje Naujoks dedicou sua vida para ajudar os sobreviventes do Holocausto. Já trabalhou no Memorial Yad Vashem e na Universidade Hebraica de Jerusalém.

sumário Revista Chamada Março 2020

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