Samuel Rindlisbacher

Samuel Rindlisbacher

Quando eu ainda trabalhava como marceneiro, nosso chefe tinha seu escritório bem ao lado da sala com todas aquelas barulhentas máquinas trabalhando em madeira. Quando, porém, entrávamos no seu escritório e fechávamos atrás de nós sua pesada porta, o silêncio predominava. Nada mais se ouvia das máquinas ruidosas, do movimento e do barulho da oficina. Era tranquilidade total porque grossas paredes e uma porta com isolamento acústico impediam o ruído externo de penetrar na sala. Para mim, isso é uma maravilhosa imagem do sossego que encontramos em Jesus Cristo.

Neste mundo todos somos cercados de intranquilidade. A vida diária nos pressiona com suas preocupações. A correria, o estresse e as exigências da nossa vida roubam-nos o sossego e muitas vezes também o sono. E como fica a situação se eu estiver agitado intimamente, quando não consigo me acalmar, quando não consigo mais desligar? Onde posso me abrigar? Para onde fugirei? Lembro-me bem da minha mãe. Éramos cinco filhos, dos quais quatro meninos bem vivos e com um bocado de traquinagens na cabeça. Onde ela encontrava a tranquilidade e a força para suportar tudo aquilo, até porque o nosso pai muitas vezes estava ausente?

A carta aos Hebreus diz: “Nós, porém, que cremos, entramos no descanso...” (Hb 4.3). Com isso, a Bíblia fala de uma tranquilidade sempre presente, não importa em que local, tempo e circunstâncias. É o descanso de Deus. A Bíblia adota uma base completamente diferente, de uma tranquilidade independente das circunstâncias. É o descanso que podemos encontrar em Jesus Cristo (Mt 11.28-30). Minha mãe sabia disso e assim ela achava tranquilidade em Jesus apesar do muito trabalho e do “bando” de crianças que a cercava.

Não há necessidade de nenhum lugar especial para encontrar tranquilidade íntima (embora isso possa ser desejável e representar um bom objetivo). O sossego em Jesus está presente sempre e em toda parte. Assim, é interessante ver Jesus dormindo tranquilamente em meio à tempestade, mesmo cercado dos seus discípulos apavorados e com medo de morrer (Mt 8.23-27). Mais tarde, Pedro foi encarcerado e acorrentado a dois soldados na expectativa de morrer em breve. Ainda assim, ele dormiu perfeitamente tranquilo (At 12). Pedro e muitos outros experimentaram que Jesus Cristo é o único capaz de tranquilizar nossa alma.

Só poderemos sossegar se tivermos um encontro com Jesus, se depositarmos nosso fardo em suas mãos e nos sujeitarmos ao seu jugo. Esse jugo é o “sim” para os seus caminhos, inclusive sob condições adversas. Podemos descarregar todas as nossas preocupações em Jesus – nossos filhos, o trabalho, a saúde, a situação financeira tensa e até mesmo as feridas do nosso passado (Fp 4.6-7). Filipenses 4.6 dirige o nosso olhar na direção correta: “... em tudo, sejam conhecidos diante de Deus os pedidos de vocês, pela oração e pela súplica, com ações de graças”. Minha mãe também conhecia esse segredo. Quantas vezes a Bíblia permanecia aberta sobre a mesa da sala! Nós, os filhos, sabíamos então que naquele momento a mamãe estava orando, tratando de tudo com Jesus. E cada vez que ela fazia isso percebíamos o cumprimento de Isaías 30.15: “... na tranquilidade e na confiança reside a força de vocês”. Nossa tranquilidade íntima provém da confiança nele e pode ser experimentada também na correria dos nossos dias. Como é maravilhoso podermos a qualquer momento enviar um pedido de socorro ao nosso local de descanso, sabendo que ele chegará ao destino e será ouvido. Como é maravilhoso saber que ele está aí e permanece ao meu lado. Ele me carrega. Ele tem controle de toda a situação, e assim podemos fazer o que diz o salmista: “Descanse no Senhor e espere nele” (Sl 37.7). Deus quer que nos tranquilizemos nele. Isso, porém, também significa que precisamos aprender a esperar por ele. Que o Senhor sempre conceda a você e a mim nova graça para isso.

Samuel Rindlisbacher é ancião da igreja da Chamada na Suíça e foi fundamental no desenvolvimento do grande ministério de jovens dela.

sumário Revista Chamada Abril 2022

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