Projeto contra projetista

“Qual é o melhor argumento a favor da existência de Deus que o senhor já ouviu?” Essa pergunta foi feita numa entrevista ao biólogo evolucionista dr. Richard Dawkins. Sua resposta foi marcante.

O dr. Richard Dawkins, residente em Oxford, é um dos mais destacados ateus da atualidade e se tornou conhecido por bestsellers como Deus, um delírio. Ele consta ser simpático, tratável, cordial e gentil, embora adversários o chamem de “rottweiler de Darwin”, “fundamentalista ateu exacerbado”, “maioral dos ateus” ou “papa dos ateus”.

Dawkins deu a seguinte resposta à pergunta acima ao Migros-Magazin de 7 de outubro de 2013: “Não existem bons argumentos a favor do deus cristão. Os melhores argumentos a favor da existência de uma espécie de poder sobrenatural poderiam contemplar o deus da física, baseando-se na interação admiravelmente elegante dos fenômenos físicos”.

Não haveria mesmo bons argumentos a favor da existência de Deus? Não seria a vida de Jesus o maior argumento a favor de um Pai celestial? Aquilo que está escrito sobre ele, o que ele mesmo fez e o que outros testemunharam dele é um argumento extremamente forte. Sua vida é incomparável, a apresentação de Jesus na história encaixa-se de forma tão exata no conjunto das previsões da palavra de Deus e da história em geral que todo aquele que se ocupe seriamente com isso terá dificuldade em encontrar um argumento contra o Deus da Bíblia.

Especialistas têm constatado que comprovadamente mais de trezentas profecias sobre o Messias sofredor, expostas ao longo de um período de mais de mil anos por cerca de quarenta autores diferentes, se cumpriram literalmente em Jesus de Nazaré. Só nas últimas 24 horas da vida de Jesus cumpriram-se 33 profecias concretas.

Em seu livro As Afirmações Impressionantes da Profecia Bíblica, o escritor americano Mark Hitchcock cita o cético francês Ernest Renan, que teria admitido: “Seria necessário que tivéssemos um Jesus para inventar Jesus e, se o que temos na Bíblia de fato for uma falsificação gigantesca, então precisamos adorar o indivíduo que foi tão brilhante, a ponto de imaginar a figura de uma pessoa como Jesus de Nazaré e toda a história da Palavra de Deus”[1].

Philip Yancey, por sua vez, cita em Alma Sobrevivente: Sou Cristão, Apesar da Igreja, o escritor russo Dostoiévski, que diz: “Este credo é muito simples: crer que não existe nada mais belo, profundo, misericordioso, razoável, viril e perfeito do que Cristo”.

Basta alguém se ocupar um pouco mais profundamente com a genealogia de Jesus para criar uma admiração sem limites e chegar à conclusão de que aquilo precisa ser verdade. O mesmo se aplica às previsões proféticas da parte de Jesus. Infelizmente, muito poucas pessoas se ocupam seriamente da Bíblia. Na busca da verdade, preferem o caminho mais fácil de absorver aquilo que os adversários do cristianismo lhes fornecem já pré-mastigado. Aquilo é então deglutido de boa vontade sem maiores questionamentos. É doloroso para mim observar como um popular jornal suíço de grande circulação parece ter uma posição tendenciosamente crítica contra a fé cristã. Frequentemente, ele manifesta ceticismo em relação ao cristianismo.

O dr. Dawkins, que não enxerga argumentos a favor do Deus cristão, defende porém ao mesmo tempo os melhores argumentos sobre o “deus da física”, o que ele fundamenta simplesmente com a interação espantosamente elegante dos fenômenos físicos. Não seria isso aplicável justamente à existência de um Deus como aquele que pergunta a Jó: “Será que você pode atar as correntes do Sete-estrelo ou soltar as cordas do Órion?” (Jó 38.31). Esse Deus se revelou não apenas de forma genérica na criação, mas além disso particularmente em sua Palavra e em seu Filho. Tudo isso se encaixa tão bem e está afinado entre si de forma tão exemplar que permite reconhecer uma imagem correta de Deus.

Com isso em vista, também não é possível admitir a resposta de Dawkins à pergunta sobre o que ele diria se após a morte se deparasse com Deus, em que citou livremente o filósofo e ateu britânico Bertrand Russell: “Perguntaria a Deus por que ele se empenha tanto em se esconder”. Afinal, Deus não se escondeu – foi o homem que se escondeu após a queda no pecado (Gn 3.8). O pecado é o que o separa de Deus (Is 59.2). Deus, porém, revelou-se novamente ao homem por meio de sua Palavra, de seu povo Israel e de seu Filho Jesus Cristo. Para as pessoas que crêem nele, Deus não está mais “escondido”; pelo contrário, caem como que escamas dos seus olhos para que possam voltar a enxergar espiritualmente (At 9.17-18; Ef 1.18). A questão é que não se alcança o conhecimento de Deus e a comunhão com ele apenas pela via intelectual, mas por meio da fé no Filho de Deus. Quando alguém rejeita a revelação de Deus e coloca sua própria sabedoria acima da Palavra de Deus, seu raciocínio se obscurece (Mt 11.25; 1.Co 1.20; 2.6; 3.19).

Hans Schneeberger, redator-chefe do jornal Migros, também tem alguma dificuldade com a posição de Dawkins diante da fé. Em uma nota marginal, ele escreve: “Suas declarações são interessantes, quer se queira crer nelas, quer não. Honestamente, eu mesmo tenho dificuldade com elas. A ideia de que a nossa existência é de tal modo casual que nenhum tipo de centelha divina possa acompanhar a nossa vida é de algum modo deprimente”.

O cientista prof. Sanford começou a meditar na simplicidade, na complexidade e no conteúdo inesgotável da Bíblia, acabando por concluir o que Thomas Lachenmaier cita na factum de janeiro de 2011: “Sim, de fato ninguém poderia escrever assim. Homem nenhum poderia escrever assim a menos que Deus lhe tivesse incutido essas palavras no coração. Preciso buscar esse Deus, abrir-me para ele e confiar nele”.

É o que desejamos de coração também ao dr. Richard Dawkins e a todos que duvidam junto com ele.

Nota

  1. Mark Hitchcock, As Afirmações Impressionantes da Profecia Bíblica (Porto Alegre: Chamada, 2015), p. 74.

Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Março 2022

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