“Há uma luta furiosa contra Deus”
“Por que se enfurecem as nações?” Foi o que perguntou Fredy Peter, da Chamada da Meia-Noite, em sua recente série de palestras. A que luta ele se refere? Uma entrevista com David Gysel (IDEA).
Fredy Peter pregando no Salão de Sião, na Suíça.
IDEA: Fredy Peter, você apresentou uma série de palestras sobre o tema “Por que se enfurecem as nações?”. O que há de tão atual nisso? No momento, é mais um vírus que se enfurece...
Peter: Trata-se de uma pergunta formulada por Davi no salmo 2. Não se trata ali de conflitos bélicos entre os povos, mas de uma luta contra Deus e o rei por ele instituído na ocasião. Isso foi há 3 000 anos. Em Atos 4.25-26, o Novo Testamento aplica essa declaração à crucificação do Senhor Jesus Cristo. O cumprimento definitivo se dará no final dos últimos tempos, antes do retorno de Jesus, e nós estamos caminhando para lá a passos largos.
Em sua palestra, você disse – e passo a citar: “A luta de Satanás e dos seus servos contra o Senhor e contra seu ungido prossegue há 2 000 anos”. Como uma pessoa secularizada entenderá isso hoje? Em que fatos históricos você pensa ao dizer isso?
Por princípio, a mensagem de Jesus e de sua igreja está na contramão há dois milênios, uma vez que a reivindicação de Jesus de ser o único caminho para o Pai exclui todos os outros. Um olhar para o nosso passado recente mostra a medida em que as noções bíblicas de moral são questionadas, combatidas e finalmente descartadas. Na Suíça, o divórcio está regulamentado desde 1862; a partir de 1942 legalizou-se o aborto, inicialmente apenas sob indicação médica, mas a partir de 2002 também sob indicação social mediante o critério de prazo. Há anos vemos como o sexo estabelecido por Deus é questionado, e agora a união exclusiva entre um homem e uma mulher, instituída por Deus, é redefinida com o “casamento para todos”. Mas, por favor, quem inventou isso?
Como você descreveria hoje a rebelião contra Deus?
Em muitos países os cristãos são perseguidos e, ao mesmo tempo, persiste a luta contra Israel e os judeus. Nos países ocidentais, isso ocorre de forma sutil, tal como acabamos de comentar a respeito do declínio da moral bíblica. Em última análise, é apenas uma diferença de método. O objetivo é o mesmo que o descrito em Lucas 19.14: “Não queremos que este reine sobre nós”. Com essa precisa descrição, Jesus focaliza a postura da humanidade no período entre sua primeira e sua segunda vinda. Isso pode ser observado, por exemplo, nas tendências de eliminar da Suíça oficial qualquer referência a Deus. O preâmbulo da nossa Constituição, que diz: “Em nome de Deus, o Onipotente” estaria desatualizada. Nosso hino nacional não deveria mais poder apelar dizendo: “Orai, suíços livres, orai!”. E a cruz sobre a cúpula do nosso prédio do congresso em Berna precisa ser removida!
Você citou a declaração do salmo 2: “Os reis da terra se levantam, e as autoridades conspiram contra o Senhor e contra o seu Ungido...”. Quem seriam hoje “os reis da terra”? Como e onde ocorre essa “conspiração”?
Penso nos responsáveis pela política, economia e mídia, se bem que não acredito numa conspiração mundial organizada. Trata-se antes das mesmas convicções que possibilitaram resoluções comuns e desenvolvimentos em conferências e eventos. O escritor britânico Gilbert Keith Chesterton, falecido em 1936, disse certa vez: “Desde que os homens não creem mais em Deus, não creem em nada, creem em todo tipo de tolice”. Nesse contexto, não há mais lugar para um cristianismo bíblico.
Em sua palestra, você fala de uma conspiração demoníaca internacional, até mundial e definitiva, que desembocará no Armagedom. Em que se baseia essa afirmação?
No último livro da Bíblia, que expõe cronologicamente o curso dos eventos do fim dos tempos. Em Apocalipse 19.19 lemos que, ao término do período de sete anos de tribulação, o Anticristo e seus aliados se reunirão em Israel para a última agressão contra o Senhor.
Como impedir que nos tornemos parte dessa conspiração?
Seguindo a promessa final do salmo 2: “Bem-aventurados todos os que nele se refugiam”. Quem depositar sua confiança em Jesus caminha para um futuro glorioso. As circunstâncias atuais podem ser deprimentes, mas é certo que Deus dará o sustento até o final!
A Obra Missionária e seu fundador Wim Malgo enfatizaram, desde o início, os tempos finais e a profecia. Como a visão profética da Chamada se desenvolveu ao longo das décadas até hoje?
Desde a fundação, em 1955, anunciamos que estamos vivendo nos tempos finais e que podemos contar com o retorno de Jesus a qualquer momento. Da mesma forma, vemos na restauração de Israel iniciada em 1948 o cumprimento de profecias bíblicas. Nisso nada mudou, e enxergamos nossa missão na proclamação dessas verdades. No entanto, mudou o estilo da nossa proclamação. Enquanto antes se colocavam certos desenvolvimentos políticos diretamente em conexão com declarações proféticas, somos hoje mais reticentes nesse sentido. Em última análise, o cumprimento será a melhor explicação.
A Chamada se mantém fora de organizações cristãs. Por quê?
Estimamos essas organizações e somos gratos por seu valioso trabalho. Vemo-nos unidos na missão para o mesmo Senhor. Nosso isolamento fundamenta-se em nossa intenção de ser e permanecer independentes.
Voltando à atualidade. Onde está Deus nos tempos da pandemia?
Ele está presente e tem tudo sob controle: ele vê tudo, sabe tudo e pode tudo. Além disso, ele prometeu estar sempre junto dos seus filhos. Isso tudo sabemos da Bíblia, e por isso sabemos que, o que quer que venha por aí, ele fará tudo bem. Sim, os tempos são difíceis, mas em comparação com gerações passadas, nós na Suíça vivemos em um nível de prosperidade inédito. A pandemia nos mostra a rapidez com que isso pode mudar. Há necessidade, por isso, de um dia de ação de graças, arrependimento e oração. Mas na sociedade isso também é cada vez mais controvertido...
E quando terminará a “fúria das nações”?
Quando Jesus Cristo voltar em grande poder e glória e Satanás, o grande perturbador das nações, for preso. Então se iniciará o reino de Deus na terra e então, sim, finalmente haverá paz na terra!
Muito obrigado pela entrevista.
IDEA – (39/2021), p. 10-11.
Publicação com autorização.