Paz na terra: Fato ou Fake?
Há 2 000 anos, na chamada Noite Santa, anjos anunciaram em Israel “paz na terra” (Lc 2.14). Por onde anda a paz hoje? Será que os anjos se enganaram?
Isso move Israel já há milhares de anos, desde que um antigo líder tribal chamado Jacó, também conhecido como Israel, anunciou ao seu filho Judá, que comparou com um leão, que viria um shilo – um tranquilizador ou pacificador. Este reinaria para sempre e os povos lhe obedeceriam (Gn 49.8-10). Até hoje, porém, não reina nenhum pacificador da tribo israelita de Judá ao qual os povos da terra obedeçam. Pelo jeito, alguém exagerou um bocado nos velhos tempos...
Séculos depois, um feiticeiro chamado Balaão, proveniente da região da Babilônia (o atual Iraque) confirmou contra sua própria vontade essa profecia. Ele lamentou só poder dizer aquilo que Jeová lhe incutisse (Nm 23.12). Jeová é o Deus triúno da Bíblia, o único Deus verdadeiro que, naquela ocasião, se apresentou claramente como o Deus dos descendentes de Israel – que àquela altura formavam um povo plenamente constituído. Segundo ele, viria de Israel um rei de um reino excelso. Balaão comparou-o a um leão (Nm 24.5,7-9). De má vontade, ele declarou: “Eu o vejo, porém não agora; eu o contemplo, mas não de perto. Uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro... Israel fará proezas” (Nm 24.17-18).
Mais alguns séculos depois, realmente um rei da tribo de Judá governou Israel. Ele fez de Jerusalém a capital de seu reino. Seu nome era Davi, filho de Jessé. O Senhor Deus, Jeová, prometeu solenemente a ele: “Quanto a você, a sua casa e o seu reino serão firmados para sempre diante de mim; o seu trono será estabelecido para sempre” (2Sm 7.16).
São belas profecias para Israel, que hoje não está propriamente competindo pelo prêmio de favorito mundial ou de fazer “proezas”... Mas acaso reinaria hoje algum descendente de Davi em Israel sobre um reino “excelso”? Ao antigo Israel também foi anunciado grandiosamente um rei sobre os povos para depois desse rei Davi ou de seu filho Salomão. Assim, por exemplo, o profeta Isaías disse há mais de 2 700 anos que um descendente de Davi castigaria a terra com a vara da sua boca e mataria os perversos (Is 11.1,4). Como é que um ser humano haveria sequer de conseguir tal coisa? O profeta Miqueias até afirmou saber de que localidade aquele rei viria. Seria de Belém, a cidade natal de Davi, o filho de Jessé. Segundo Miqueias, de modo bastante estranho esse soberano de Israel também proviria da eternidade, do ambiente do Deus eterno Jeová: “... cujas origens são... desde os dias da eternidade” (Mq 5.2). A rigor, então, Miqueias falava de Deus: o próprio Jeová e filho de Davi ou descendente de Jessé. Como combinar isso?
“Nem em Jerusalém, nem em parte alguma da terra governa hoje um rei que seja salvador e pacificador, cujo domínio se estenda de mar a mar e até os confins da terra, e cujo domínio 'não passará'”.
O profeta Zacarias previu que o rei seria um salvador e que entraria em Jerusalém montado num jumentinho (Zc 9.9-10). No entanto, nem em Jerusalém, nem em parte alguma da terra governa hoje um rei que, conforme as palavras de Zacarias, seja salvador e pacificador (shilo), cujo domínio se estenda de mar a mar e até os confins da terra, e cujo domínio “não passará”, conforme profetizou o vidente Daniel (Dn 7.14). Em outra passagem, Zacarias chegou a declarar: “O Senhor será Rei sobre toda a terra” (Zc 14.9).
Passaram-se mais alguns séculos. O Novo Testamento relata que, certa noite, alguns pastores estavam juntos nos campos de Belém quando subitamente surgiu um anjo que anunciou solenemente: “Não tenham medo! Estou aqui para lhes trazer boa-nova de grande alegria, que será para todo o povo: é que hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2.10-11).
Nascera o Senhor e Salvador. Seu nome: Jesus Cristo. Acontecera o Natal. Seria esse o anunciado rei judeu? Justamente um grupo de magos pagãos, tais como Balaão, originário da região da Babilônia, se convenceu de que aquela criança haveria de ser o rei dos judeus que fora profetizado. Eles haviam visto um sinal no céu a que seu patrício Balaão já havia aludido há muitos, muitos anos (Mt 2.1-2).
É digno de nota que aqueles astrólogos estrangeiros quisessem adorar o bebê. Somente Deus, que provém da eternidade, é digno de adoração. Crianças, não. Sim, aquele reizinho era o próprio Senhor em forma de homem. Mais tarde, aqueles astrólogos ficaram sabendo que o rei nascera em Belém e não em Jerusalém – exatamente como o profeta Miqueias anunciara... E, humanamente, esse rei realmente descendia de Davi. Ele era tanto Deus como homem.
Mais tarde, o rei – Jesus Cristo – entrou em sua cidade de Jerusalém montado num jumentinho, conforme o profeta Zacarias anunciara (Mt 21.1-9). Mas acaso ele reinaria hoje sobre o mundo inteiro como rei dos judeus, salvador e pacificador? Estamos no ano de 2021 depois de Cristo – depois do surgimento do rei, depois do Natal – e o Senhor não é rei sobre toda a terra. Não há “paz na terra”, conforme naquela ocasião inúmeros anjos anunciaram sobre os campos de Belém (Lc 2.14). E agora?
Os profetas do Antigo Testamento também anunciaram um servo que assumiria as injustiças e transgressões do povo de Deus. Isaías, em especial, tratou disso (Is 52–53). Dificilmente, porém, alguém teria tido a ideia de que o próprio rei assumiria os pecados do seu povo e até do mundo inteiro. Assim, a seu tempo, o rei morreu fora de Jerusalém na colina do Gólgota, vencendo ali o pecado e a morte ao ressuscitar dos mortos ao terceiro dia. E então aconteceu algo que os profetas não haviam previsto: formou-se um novo povo de Deus – a igreja, uma unidade de judeus e gentios (o restante do mundo). Assim, hoje todas as pessoas de todos os povos podem tornar-se coerdeiras, familiares e participantes da promessa por meio da fé em Jesus Cristo (Ef 3.6).
O que é a promessa? Já vimos antes: os profetas insistiram em afirmar de diferentes maneiras que o Senhor salvaria o seu povo e que reinaria na terra ou numa nova terra, que Deus viveria em meio ao seu povo, reinando baseado em Jerusalém (cf. Is 65.17-25). Essa é a promessa.
Depois da ascensão do rei Jesus Cristo, a igreja cresceu como novo povo de Deus (At 1s), enquanto o antigo povo de Deus, Israel, os judeus, perdeu seu templo, sua cidade e sua terra. Teria então a igreja substituído o povo de Israel? Teríamos agora de entender o reinado terreno do rei figuradamente como tendo sido cumprido na obra redentora no Gólgota e na igreja?
“De modo nenhum!” E com isso chegamos ao que importa: o rei tantas vezes anunciado no Antigo Testamento e nascido neste mundo há pouco mais de 2 000 anos retornará e governará como israelita da tribo de Judá. Isso movimenta Israel. E é disso que nos lembra – ou deveria lembrar – a festa de Natal. Jesus Cristo continua sendo “descendente de Davi” (2Tm 2.8; Ap 22.16). Ele é “o Leão da tribo de Judá” (Ap 5.5). Ele é o que governará a terra como príncipe da paz sediado em Jerusalém (Is 9.5-6).
Quando Jesus Cristo ressuscitou dos mortos, ele não ressuscitou como um suíço neutro, mas como judeu filho de Davi. Paulo enfatiza em 1Coríntios 15 que o homem Jesus Cristo ressuscitou. O Filho de Deus tornou-se um homem da tribo de Judá e permaneceu um homem da tribo de Judá. Nosso Deus, que se tornou homem no Natal, continua sendo um filho de Davi.
Isso significa que as profecias sobre o reino (“judeu”) de Deus na terra não foram canceladas. O Senhor e Salvador nascido em Belém também governará em Jerusalém. Uma parte das profecias veterotestamentárias já se cumpriu e o restante também se cumprirá. Assim, a criação do Estado de Israel em 1948 confirma impressionantemente a realidade do reino divino vindouro na terra, tal como os profetas anunciaram. Subitamente, depois de 1 900 anos de exílio, Israel voltou a existir como nação. Jerusalém, mesmo que ainda um cálice de atordoamento dos povos e pisoteada pelas nações, situa-se numa terra judia – não no Império Otomano ou num mandato britânico. O palco está montado. Note bem: se Jesus Cristo é realmente judeu e um descendente de Davi, então Jerusalém é sua capital e Israel é sua terra – e então este será o local ao qual ele há de retornar fisicamente – exatamente como os profetas disseram.
Com isso, Deus nos mostra não ter abandonado o povo judeu. Deus nos mostra que ele realmente fincará seus pés no monte das Oliveiras e que realmente derramará o seu Espírito sobre os habitantes (judeus) de Jerusalém, tal como Zacarias profetizou (Zc 12.10; 14.4). Deus nos mostra que ele realmente quis dizer aquilo que afirmou no Antigo Testamento.
Quando Jesus Cristo vier, e seus santos com ele (2Ts 1.5-10), o céu se abrirá... E finalmente, finalmente se estabelecerá nesta terra de fato um reino celestial, e a promessa natalina de “paz na terra” (Lc 2.14) se cumprirá de forma plena. Virá um reino de paz quando o Filho de Deus humanizado e glorificado fincar seus pés no monte das Oliveiras. Então toda a terra ficará efetivamente cheia do conhecimento do Senhor (Is 11.10).
Quando Jesus Cristo vier, e seus santos com ele, o céu se abrirá e finalmente se estabelecerá nesta terra de fato um reino celestial, e a promessa natalina de “paz na terra” se cumprirá de forma plena.
O profeta Zacarias diz a respeito daquele dia, que talvez já esteja bem mais próximo do que possamos imaginar: “... Então virá o Senhor, meu Deus, e todos os santos virão com ele... Naquele dia, águas vivas correrão de Jerusalém, metade delas para o mar oriental, e a outra metade para o mar ocidental; isso acontecerá tanto no verão como no inverno. O Senhor será Rei sobre toda a terra. Naquele dia, um só será o Senhor, e um só será o seu nome” (Zc 14.5,8-9).
Lembre-se disso ao celebrar o Natal neste ano: quem sabe com que brevidade Jeová, o Deus da aliança de Israel e nosso Deus, o Rei dos judeus, Jesus Cristo, será em Jerusalém Senhor “sobre toda a terra” – e justamente a miraculosa criação do Estado judeu de Israel em 1948 comprova essa realidade!
“Porém, tão certo como eu vivo”, diz o Deus de Israel, “toda a terra se encherá da glória do Senhor” (Nm 14.21). “Aquele que dá testemunho destas coisas diz: ‘Certamente venho sem demora.’ Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22.20).
René Malgo é encarregado do trabalho editorial das revistas da Chamada em alemão. Também é autor e coautor de diversos livros.