René Malgo
No bazar das opiniões cristãs são oferecidas muitas coisas diferentes, às vezes contraditórias. Também é possível que verdadeiros cristãos tenham visões diferentes quanto a questões de doutrina. No entanto, mesmo se interpretarmos a Palavra de modo diferente, não deveríamos encontrar um verdadeiro núcleo em torno do qual todos poderiam e deveriam se unir? Sim. A fé cristã “uma vez por todas confiada aos santos” (Jd 1.3) e a única “sã doutrina” dos apóstolos (2Tm 4.3) existem.
No quinto século, um certo Vicente de Lérins († antes de 450) ocupou-se com essa questão, pois, já em sua época, falsos mestres se empenhavam em abusar da Escritura Sagrada. A “crítica piedosa da Bíblia” já existe desde os primeiros séculos da igreja, por exemplo, quando falsos mestres apresentavam Paulo como contrário a Jesus, como acontece muitas vezes de maneira invertida atualmente. Caso não consigamos mais enxergar através do matagal das “interpretações” conflitantes da Escritura, a sugestão de Vicente é: a verdadeira fé pode ser reconhecida “no que se creu em todo lugar, sempre e por todos”. Quando um intérprete da Bíblia segue a igreja “na totalidade, desde a Antiguidade e na sua unanimidade” desde os apóstolos, então ele está no lado seguro. O propósito de cada cristão deveria ser, a qualquer custo, permanecer “na regra gloriosa e santa da doutrina a nós transmitida” (Clemente de Roma).
O apóstolo Paulo resume essa única doutrina – essa única “regra de fé” (Irineu de Lyon; cf. 2Ts 2.15) – naquilo que nós cristãos, no “vínculo da paz”, devemos sem falta manter: “Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a qual vocês foram chamados é uma só; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos” (Ef 4.4-6; cf. v. 2-3).
A igreja tem uma só fé: essa fé única é simplesmente que Jesus é o Senhor (At 16.31; 20.21). Essa fé única se expressa em um só corpo de Cristo: ali onde a igreja se reúne em nome do Senhor Jesus, o adora, pratica a comunhão do corpo no partir do pão da ceia e proclama a doutrina dos apóstolos (1Co 10.16-17; At 2.42).
Ser cristão é ter uma vida em real devoção diante da face de Deus. Onde quer que andemos ou estejamos, Deus está ali, e assim devemos glorificá-lo por meio de nossa vida.
A doutrina dos apóstolos nessa única fé e em um corpo trata de um Espírito, de um Senhor, de um Pai e de um batismo. O batismo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (Mt 28.19) com certeza é a porta para a igreja do Deus Trino (cf. 1Co 12.13). O Pai, o Filho e o Espírito Santo são o único verdadeiro Deus em três pessoas. A Trindade de Deus – a diferenciação de Deus Pai, do Senhor Jesus e do Espírito Santo, e mesmo assim seu reconhecimento como o próprio Deus – é a característica fundamental da fé cristã e da doutrina apostólica, como nunca submergiu através das eras (e das divergências de opinião).
Além disso, a doutrina apostólica assinala o reconhecimento de que o Pai está acima de todos e através de todos e em todos nós. Em tudo que nós fizermos devemos tratar da sua glória. Ser cristão é ter uma vida em real devoção diante da face de Deus. Onde quer que andemos ou estejamos, Deus está ali, e assim devemos glorificá-lo por meio de nossa vida.
Para isso encontramos incentivo nessa uma esperança de nosso chamado; ou seja, na firme esperança de que Cristo voltará e que nós estaremos com ele para sempre. Nosso inabalável alvo é a eterna e clara comunhão com o Pai, com o Filho e por meio do Espírito Santo na glória do céu e da ressurreição.
Quem crê nessas coisas e as proclama age no âmbito da doutrina apostólica. No entanto, quem as rejeita – mesmo que (erradamente) o atribuindo à Bíblia – se afasta da área da fé cristã “histórica” e mergulha em doutrinas próprias e falsas, que não foram dadas pelo Espírito, nem são da vontade do Senhor e também não honram ao Pai.
Maranata, vem, Senhor Jesus!