Quando olhamos para o Brasil e o mundo, é difícil não perceber as intrigas e desavenças presentes na maioria das famílias, sociedades e igrejas. Como cristãos, ainda possuímos uma outra arena para debates e discórdias; além dos âmbitos sociais e políticos (esporte, política, gênero, sexo etc.), também temos o âmbito religioso, onde há o debate da teologia, de diferentes doutrinas e assim por diante. Em seu artigo desta edição, René Malgo constata que “vivemos em uma sociedade fragmentada, na qual cada vez menos pessoas conseguem concordar entre si a respeito das questões fundamentais da vida” (leia na pág. 13).

Encontramos a situação oposta nos primórdios da igreja, quando lemos: “Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações. Todos estavam cheios de temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos. Os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum” (At 2.42-44, ênfase acrescentada). Que incrível! Esse momento inicial de avivamento e construção da igreja mostra a verdade contida no Salmo 133: “Como é bom e agradável quando os irmãos convivem em união! Ali o Senhor concede bênção da vida para sempre” (v. 1,3b)! Tal período, no entanto, não durou mais que alguns anos, pois logo encontramos exortações à unidade em diferentes cartas neotestamentárias (p. ex. Rm 15.5-7; 1Co 1.10; Ef 4.1-16; Fp 2.1-2; Hb 10.25).

Na carta aos cristãos em Éfeso, de forma especial, podemos observar quanta importância Paulo dá ao assunto, dedicando boa parte da carta para ele. A máxima é: “Façam todo o esforço para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4.3, ênfase acrescentada). A fim de alcançar – ou chegar perto de – tal medida de união, recebemos a seguinte instrução no versículo anterior: “Sejam completamente humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando uns aos outros com amor”. Semelhantes são as palavras do apóstolo Pedro: “Quanto ao mais, tenham todos o mesmo modo de pensar, sejam compassivos, amem-se fraternalmente, sejam misericordiosos e humildes. Não retribuam mal com mal, nem insulto com insulto; ao contrário, bendigam; pois para isso vocês foram chamados, para receberem bênção por herança. Afaste-se do mal e faça o bem; busque a paz com perseverança” (1Pe 3.8-9,11). Esses são exercícios espirituais que todos nós precisamos buscar fazer em nossa caminhada com Jesus.

O apóstolo escreve até mesmo sobre situações onde a apologética e a teologia podem estar no centro da desunião: “Antes, santifiquem Cristo como Senhor em seu coração. Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que pedir a razão da esperança que há em vocês. Contudo, façam isso com mansidão e respeito, conservando boa consciência, de forma que os que falam maldosamente contra o bom procedimento de vocês, porque estão em Cristo, fiquem envergonhados de suas calúnias” (1Pe 3.15-16). Falando sobre regras para uma conduta correta, Norbert Lieth acrescenta: “Da mesma maneira como devemos manter o estreito vínculo com a doutrina bíblica, devemos nos manter o mais afastado possível das falsas doutrinas ou argumentações e não incorrer em discussões sobre elas” (leia na pág. 19).

Diante de tudo isso, devemos sempre ter o exemplo de nosso Senhor Jesus Cristo em mente (1Pe 2.21-22) e, em meio a esse exercício diário pela busca da unidade na igreja, o corpo de Cristo, lembrar que “se aproxima o Dia”, como está escrito em Hebreus 10.25.

Desejamos uma boa leitura a todos.

sumário Revista Chamada Março 2020

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