A noite está quase acabando, e logo vem o dia

De que modo as pessoas nos reconhecem como seguidores do Senhor Jesus?

“O amor não pratica o mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento da Lei. Façam isso, compreendendo o tempo em que vivemos. Chegou a hora de vocês despertarem do sono, porque agora a nossa salvação está mais próxima do que quando cremos. A noite está quase acabando; o dia logo vem. Portanto, deixemos de lado as obras das trevas e revistamo-nos da armadura da luz. Comportemo-nos com decência, como quem age à luz do dia, não em orgias e bebedeiras, não em imoralidade sexual e depravação, não em desavença e inveja. Ao contrário, revistam-se do Senhor Jesus Cristo e não fiquem premeditando como satisfazer os desejos da carne” (Rm 13.10-14). De que modo as pessoas nos reconhecem como seguidores do Senhor Jesus?

Não será pelo rosto sorridente, não pelas palavras que pregamos, não pelos cânticos que entoamos, não pelo estudo bíblico que praticamos, não pelos conhecimentos que tivermos e defendermos, não por uma religiosidade que venhamos a exibir, mas pelo amor que praticarmos. Visitei certa vez em Lübeck, Alemanha, uma fábrica de marzipã. Na parede estava escrita a seguinte frase: “Não se pode salgar em excesso nenhuma refeição usando açúcar”. Aí me lembrei de que com o amor é a mesma coisa. Não se pode errar nada com ele.

“Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros” (Jo 13.35).

Sem amor, tudo perde a importância. Ele é o impulso para todos os desafios com que o apóstolo Paulo nos confronta em Romanos 13.10-14. Quando sopram as tempestades geladas na Antártida, os pinguins se juntam aos milhares para se aquecerem mutuamente; fazem isso em rodízio, de modo que os das pontas possam aos poucos se aproximar do centro e que os do meio se deslocam para fora. Só assim conseguem superar juntos aquele gélido frio. Nessas tempestades cada vez mais geladas dos tempos finais, torna-se mais e mais importante fixar-se ao amor como objetivo final.

Todavia, por que Paulo diz em Romanos 13.10-14 que a noite está avançada e que o dia está prestes a surgir? Afinal, em outra passagem ele diz o contrário: que os membros da igreja são filhos do dia, não pertencendo à noite:

“Vocês todos são filhos da luz, filhos do dia. Não somos da noite nem das trevas. Portanto, não durmamos como os demais, mas estejamos atentos e sejamos sóbrios, pois os que dormem, dormem de noite, e os que se embriagam, embriagam-se de noite. Nós, porém, que somos do dia...” (1Ts 5.5-8).

A igreja do Senhor Jesus vive à luz do dia: “Porque outrora vocês eram trevas, mas agora são luz no Senhor” (Ef 5.8). Contudo, todas as nações – Israel entre elas – vivem na noite e estão cercadas de escuridão. Como a igreja ainda se encontra no mundo, ela convive com a noite em torno dela, embora ela mesma esteja na luz.

Enquanto Jesus estava fisicamente presente em Israel, era dia. Quando ele deixou Israel, a noite caiu sobre o povo e o dia da salvação amanheceu para as nações

Temos de levar em conta que a carta aos Romanos é a primeira carta apostólica do Novo Testamento (na disposição dos livros na Bíblia). O Espírito Santo dispôs isso assim. As cartas de Paulo contêm uma revelação contínua e ascendente. Nessa primeira carta (no cânon bíblico), o apóstolo se dirige ainda tanto a judeus habitantes de Roma como também a gentios. Nas outras cartas ele faz isso cada vez menos. Na carta aos Romanos, por um lado, ele se ocupa com a justificação de todo homem por meio de Jesus e, por outro, trata detalhadamente do papel de Israel na história sagrada – com seu passado, sua marginalização atual e com sua restauração no futuro (Rm 9–11). E Paulo alterna habilmente o tempo todo entre os judeus e os gentios. A certa altura dirige-se claramente aos judeus, depois novamente aos gentios. Eis um exemplo:

Aos judeus: “Ora, você leva o nome de judeu, apoia-se na Lei e orgulha-se de Deus. Pois, como está escrito: ‘O nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vocês’” (Rm 2.17,24). Às nações: “Afinal de contas, se você foi cortado de uma oliveira brava por natureza e, de maneira antinatural, foi enxertado numa oliveira cultivada, quanto mais serão enxertados os ramos naturais em sua própria oliveira?” (Rm 11.24).

Quando a nossa passagem fala da noite avançada, trata-se antes de tudo da noite de Israel. Várias indicações bíblicas confirmam isso. Jesus disse quando estava aqui na terra: “Enquanto é dia, precisamos realizar a obra daquele que me enviou. A noite se aproxima, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo” (Jo 9.4-5).

Enquanto Jesus estava fisicamente presente em Israel, era dia. Quando ele deixou Israel, a noite caiu sobre o povo e o dia da salvação amanheceu para as nações. “A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram” (Jo 1.5). Isaías já havia anunciado isso profeticamente: “Gente de Seir me pergunta: ‘Guarda, quanto ainda falta para acabar a noite? Guarda, quanto falta para acabar a noite?’ O guarda responde: ‘Logo chega o dia, mas a noite também vem. Se vocês quiserem perguntar de novo, voltem e perguntem’” (Is 21.11-12).

O mundo e Israel estavam cobertos de profundas trevas espirituais e sombra de morte. Com a primeira vinda do Senhor Jesus, irrompeu a manhã de um novo dia, de uma nova etapa da salvação. “O povo que caminhava em trevas viu uma grande luz; sobre os que viviam na terra da sombra da morte raiou uma luz” (Is 9.2; cf Mt 4.16). Todavia, com a rejeição do Senhor pelo povo judeu, a manhã apenas irrompeu para logo a escuridão retornar a Israel. Jesus, e com ele o sol nascente, deixou o povo e subiu aos céus. A noite com as sombras da morte sobrevieram aos israelitas muito piores do que antes (Os 5.15–6.3). Para Israel, a presença do Senhor Jesus na terra foi só um breve vislumbre da manhã da salvação, só um luminoso instante.

No entanto, o guarda diz: “Logo chega o dia, mas a noite também vem. Se vocês quiserem perguntar de novo, voltem e perguntem”! – Essa declaração parece ser extremamente profética, como se indicasse uma repetição numa outra época. De fato, Cristo voltará e nos tempos finais o seu povo repetirá essa pergunta.

Já faz dois mil anos que Israel se encontra na noite, mas com a volta de Jesus Cristo irromperá um novo dia. Jesus é tanto a luminosa Estrela da Manhã (Ap 22.16) como também o sol da justiça (Ml 4.2). Pouco antes desse novo dia, porém, virá a noite da grande tribulação e do reino do Anticristo. – A manhã vem aí, mas a noite também.

A propósito, na parábola das dez virgens o Senhor disse mais uma coisa essencial em relação a Israel: “O noivo demorou a chegar, e todas ficaram com sono e adormeceram. À meia-noite, ouviu-se um grito: ‘O noivo se aproxima! Saiam para encontrá-lo!’” (Mt 25.5-6). E na parábola sobre o joio no trigo, ele disse: “Mas enquanto todos dormiam, veio o seu inimigo e semeou o joio no meio do trigo e se foi” (Mt 13.25).

É bem durante a madrugada avançada que se levanta a brilhante estrela matutina (Ap 22.16). Da mesma forma, porém, o Senhor também virá como um ladrão durante a noite (Mt 24.42; 1Ts 5.2; 2Pe 3.10; Ap 3.3; 16.15). Nessas passagens, trata-se sempre do retorno de Jesus em glória para estabelecer seu reino na terra – sempre em correlação com Israel. Para Israel será noite, e um sono espiritual acometeu o povo (Mq 3.6-7; 7.8-9).

Paulo já mencionou em seu grande capítulo sobre Israel, Romanos 11: “Como está escrito: ‘Deus lhes deu um espírito de atordoamento, olhos para não ver e ouvidos para não ouvir, até o dia de hoje’” (v. 8). Trata-se aqui de uma citação de Isaías 29.10. – Quando, porém, esse tempo tiver passado e Jesus aparecer em glória, se dará o cumprimento de Jeremias 31.26: “Então acordei e olhei em redor. Meu sono tinha sido agradável”. Deus transformou os males em algo bom: “... o choro pode persistir uma noite, mas de manhã irrompe a alegria” (Sl 30.5).

Nosso texto diz que “a noite está quase acabando; o dia logo vem”. Que dia seria esse? Nesse contexto, é o grande dia do retorno de Jesus. Quando o apóstolo Pedro escreveu a judeus, ele também tinha esse dia em vista quando disse: “Assim, temos ainda mais firme a palavra dos profetas, e vocês farão bem se a ela prestarem atenção, como a uma candeia que brilha em lugar escuro, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça no coração de vocês” (2Pe 1.19).

Consta que o escritor Goethe teria exclamado em seu leito de morte: “Mais luz!”. Ele possuía um espírito humano iluminado e era um gênio, mas lhe faltava a luz do Espírito Santo vinda de cima. Nessa noite cada vez mais densa, nosso mundo também clama por mais luz, mas esta só pode ser encontrada na Palavra Viva de Deus e na pessoa que a Palavra coloca no centro da redenção: Jesus Cristo!

Todavia, o arrebatamento dos crentes dentre os judeus e gentios já ocorrerá antes do Dia do Senhor. Por isso, Paulo diz que “agora a nossa salvação está mais próxima do que quando cremos”. Quando passamos a crer, nossa alma foi salva, mas agora, com a iminência do retorno do Senhor Jesus, nossa recepção no céu – e com isso nossa redenção corporal – se aproximou mais ainda.

“Façam isso, compreendendo o tempo em que vivemos. Chegou a hora... A noite está quase acabando; o dia logo vem” (Rm 13.11-12). – A noite está avançada! Jesus censurou seus contemporâneos a respeito de algo dos tempos deles, mas certamente essa censura também pode ser aplicada a nós e aos nossos tempos: “Quando a tarde vem, vocês dizem: ‘Vai fazer bom tempo, porque o céu está vermelho’, e de manhã: ‘Hoje haverá tempestade, porque o céu está vermelho e nublado’. Vocês sabem interpretar o aspecto do céu, mas não sabem interpretar os sinais dos tempos!” (Mt 16.2-3). Para a compreensão dos tempos existe um marcante exemplo no Antigo Testamento: “Da tribo de Issacar, 200 chefes que sabiam como Israel deveria agir em qualquer circunstância” (1Cr 12.32a).

A igreja vive no dia da salvação (2Co 6.2; 1Ts 5.5-11). Os cristãos são filhos da luz e do dia. Já Israel e o mundo vivem na noite e são governados pelos poderes e autoridades, pelos dominadores deste mundo de trevas (Ef 6.12). Esses são os efetivos dominadores do mundo. O mundo inteiro jaz no Maligno (1Jo 5.19). Ainda assim, o Maligno não pode tocar nos filhos de Deus (1Jo 5.18; Jd 1.24; 2Ts 3.3; 1Jo 4.4) porque a igreja foi transferida do reino das trevas para o reino de Jesus (Cl 1.13).

“Mas enquanto todos dormiam, veio o seu inimigo e semeou o joio no meio do trigo e se foi.”

Alguém disse certa vez muito acertadamente: “A nova ordem mundial não é uma conspiração judaica, mas satânica”. E outro observou: “O mundo vem amadurecendo para o juízo, o mal para a colheita e a igreja para o arrebatamento”. Segundo Daniel 10.13,20, os governos e impérios são dominados por príncipes que combatem o reino de Deus. Por isso, a igreja convive com a noite em torno dela, porque ainda vivemos no mundo. Convém entendermos que vivemos nos tempos finais. Está escurecendo porque a noite está avançada, mas por isso o novo dia do retorno de Jesus também está iminente.

Paulo era profeta e por isso ele se refere profeticamente aos tempos finais. Ele diz que “chegou a hora”. Isto confere com as palavras do profeta João, que escreve algo bem semelhante: “Filhinhos, esta é a última hora...” (1Jo 2.18). Com a última hora irromperá a vinda do Anticristo. Essa verdade do Espírito Santo deverá sempre manter-se profeticamente atual, mesmo que nesse meio-tempo ainda possam passar muitos séculos. – Quanto mais temos hoje motivos de testificar a respeito disso?!

Nosso mundo já escureceu muito, e a escuridão vem aumentando em todas as áreas – moral, ética, política, entre as nações, em Israel e em termos religiosos, econômicos e na histeria climática, na qual a Criação é elevada à divindade (Rm 1.23,25). Poderá ocorrer um colapso econômico. Marchamos na tecnologia aceleradamente em direção ao controle total. O mar dos povos está inquieto, e as ondas se agitam em todos os continentes.

Nossa humanidade está efetivamente na noite, não podendo distinguir entre luz e trevas. Ela anda tateando no escuro, sem orientação; tudo se movimenta num caos cego, em confusão e oposição; normas são derrubadas, tropeça-se, não existem mais suportes nem diretrizes. O mundo está desorientado e perdido. Isto não se detém nem diante das portas das igrejas. William Booth, o fundador do Exército de Salvação, disse em sua época: “Tenho a convicção de que os maiores perigos que o próximo século trará são os seguintes: uma religião sem o Espírito Santo, uma cristandade sem Cristo, perdão sem arrependimento, salvação sem novo nascimento, política sem Deus e um céu sem inferno”.

O teólogo Bodo Becker demonstra com base em versículos bíblicos o grau do nosso avanço na noite, a apostasia como sinal do fim iminente: negação de Deus e do seu poder (2Tm 3.4-5); negação da filiação divina de Jesus Cristo (1Jo 2.18; 4.3); negação da reivindicação de soberania de Jesus (2Pe 2.1); negação do retorno de Jesus (2Pe 3.3-4); negação da fé (1Tm 4.1-2; Jd 1.3-4); negação da Bíblia e da doutrina sadia (2Tm 4.3-4); negação de um estilo de vida santificado (2Tm 3.1-7); negação da verdadeira piedade (1Tm 4.3-4); negação da moral cristã (2Tm 3.1-8,13; Jd 1.18); negação de uma autêntica unidade cristã (2Pe 2.1; Jd 1.19); negação do temor a Deus (2Pe 2.10-12); negação da humilde dependência de Deus (Ap 3.17); negação da autoridade (2Tm 3.4); seguirão espíritos e demônios enganadores (1Tm 4.1); aceitação de mandamentos não-bíblicos (1Tm 4.3); adoção de um estilo de vida imoral (2Tm 3.1-5; 2Pe 2.2,13-14; Jd 1.4,18); aceitação de fábulas e mitos (2Tm 4.4); aceitação de muitos mestres não instituídos por Deus (2Tm 4.3); adoção de riqueza e arrogância (Ap 3.17); procedimento irreverente e zombador (2Tm 3.2; 2Pe 2.10-12; 3.3; Jd 1.18).

Parece que já estamos cedendo ao poder sedutor que Paulo menciona em 2Tessalonicenses 2.11. Por isso é preciso cuidarmos do essencial, como aqueles que compreendem “o tempo em que vivemos. Chegou a hora de [1] vocês despertarem do sono, porque agora a nossa salvação está mais próxima do que quando cremos... Portanto, [2] deixemos de lado as obras das trevas e [3] revistamo-nos da armadura da luz. [4] Comportemo-nos com decência, como quem age à luz do dia, não em orgias e bebedeiras, não em imoralidade sexual e depravação, não em desavença e inveja. Ao contrário, [5] revistam-se do Senhor Jesus Cristo e [6] não fiquem premeditando como satisfazer os desejos da carne” (Rm 13.11-14). O que devemos fazer?

Despertar e permitir que sejamos despertados. Uma variante do texto bíblico diz: “Prestem atenção às oportunidades que Deus lhes dá! O tempo urge...”. É preciso que sejamos despertados para entrar em ação. Viajando pelo Egito, ouvi junto ao Nilo a seguinte frase: “Você não chegará à outra margem de um rio se apenas ficar parado e olhando ansioso para lá”.

Desperte para a oração! Desperte para o passo que você já deveria ter dado há tempo. Não fique dormindo e perdendo a chance da sua vida!

Segundo Paulo, além de tudo isso, precisamos ser despertados para o quê? Submeter-se ao governo e não desperdiçar as forças com questões políticas que de qualquer modo não conseguiremos mudar (v. 1-7). Para quem desperta, o que é pequeno torna-se pequeno e o que é grande torna-se grande. É preciso dedicar-se com toda força em favor da troca de governo que ocorrerá com o retorno de Jesus. A maioria das mudanças positivas que ocorreram no mundo deve-se ao evangelho. Por isso, não devemos deixar que o pecado nos determine, mas o amor de Deus (v. 8-10).

Consta que o escritor Goethe teria exclamado em seu leito de morte: “Mais luz!”. Ele possuía um espírito humano iluminado e era um gênio, mas lhe faltava a luz do Espírito Santo vinda de cima.

O cristão deve despertar para o grande tema do retorno de Jesus. Li certa vez que o retorno de Jesus é mencionado 1 527 vezes nos 929 capítulos do Antigo Testamento, e anunciado 318 vezes nos 260 capítulos do Novo Testamento. Tal foi a extraordinária importância que o Espírito Santo atribuiu a isso ao incuti-lo nos autores da Bíblia. Para todos nós, porém, o perigo consiste em perder de vista justamente isso; de nos cansarmos, de sonharmos com outras coisas e de deixarmos a vigilância. A respeito dessa passagem bíblica, alguém escreveu: “É um tanto estranho e vergonhoso que o apóstolo Paulo tenha de convocar os crentes a se levantar do sono, a olhar para o relógio bíblico e a reconhecer o momento ou a etapa presente para abandonar as obras das trevas e revestir-se das armas da luz. Afinal, tais advertências não deveriam ser dispensáveis?”.

Na região da Alemanha em que cresci havia a tradição das “árvores de maio”. Todo povoado erigia por algum tempo sua árvore de maio, e era usual que um povoado tentasse roubar a árvore de maio de outro. Vencia quem tivesse mais árvores no final do mês. Vigiava-se dia e noite. As horas eram escalonadas. Alguns iam roubar a árvore do povoado vizinho e outros vigiavam para que sua própria árvore não fosse roubada.

Em certa ocasião, tive de prestar serviço de sentinela. Sentia-me plenamente desperto. Depois bateu um pouco de sono. Achei então que não faria mal fechar os olhos um pouco, já que ao menor ruído eu despertaria imediatamente. Além disso, não seria fácil roubar silenciosamente uma árvore grande e pesada, profundamente enraizada. De repente, um colega me empurrou, assustei-me e ele me perguntou onde estava a árvore. Eu não tinha noção e tinha plena convicção de ter vigiado. Foi muito constrangedor diante de todos os outros amigos.

O que uma sentinela precisa fazer? Precisa levar a sério sua tarefa – sua obrigação. Deveria amar seu patrão e ser leal a ele. Precisa estar treinada – com os olhos, os ouvidos e as armas (ou, para nós, a Bíblia). Precisa manter contato constante por rádio com o seu superior (para nós, isso se dá por meio da oração e na comunhão do Espírito Santo). Além disso, uma sentinela precisa saber reagir rápida e corretamente. Não deve desviar sua atenção.

Qual a razão de o zelo missionário se perder na igreja ou em nós pessoalmente? Ou o ímpeto para glorificar Jesus com toda a nossa vida e com tudo que temos? Qual a razão de o nosso coração se encher de coisas sem valor e transitórias e de os valores espirituais serem relegados ao quartinho dos fundos? Não estamos mais despertos! Não estamos mais cheios do Espírito. O Espírito de Deus desperta, traz luz, define prioridades, transfigura e glorifica Jesus, zela pela causa de Deus e convence. O pregador radiofônico católico Peter Lip-
pert disse certa vez: “Não se põe fogo no mundo por meio de velas acesas, mas por meio de corações acesos”. E outro comentou: “Só quem está desperto pode despertar outros”.

Segundo Daniel 10.13,20, os governos e impérios são dominados por príncipes que combatem o reino de Deus. Por isso, a igreja convive com a noite em torno dela, porque ainda vivemos no mundo.

É preciso trocar de roupa: “Portanto, deixemos de lado as obras das trevas e revistamo-nos da armadura da luz” (Rm 13.12b). Depois que o despertador tocou, trocamos de roupa. Despimos o pijama e vestimos a roupa para o dia.

O pregador Fritz Binde afirmou: “Os cristãos não são mascarados”. Os cristãos devem ser autênticos. Não pode haver inverdade neles, nenhuma hipocrisia, atitude dúbia, nenhuma vida nas sombras. As obras das trevas devem ser despidas e substituídas pelas armas da luz. As obras das trevas são aquelas com que o mundo lida e que são comandadas pelo príncipe das trevas: toda espécie de pecado, egoísmo, vantagem ilícita, ganância, abuso, ódio, mentira, guerra, ocultações, fraudes etc.

Odeiem o que é mau (Rm 12.9). Afastem-se de toda forma de mal (1Ts 5.22). Recuperem o bom senso e parem de pecar (1Co 15.34). Vivam como filhos da luz (Ef 5.8).

As armas da luz são a natureza de Jesus Cristo, o revestimento pela Palavra de Deus, na expectativa da volta do Senhor, na dedicação dos dons da graça, com a mesma mentalidade e foco no alvo. Só poderemos ser luz verdadeira se combatermos as obras das trevas em nossa vida – e isso só pode ser feito com as armas da luz. Essa expressão foi uma escolha consciente do Espírito Santo. As obras das trevas realmente só podem ser vencidas com as armas da luz. Vivemos em combate!

Marchamos na tecnologia aceleradamente em direção ao controle total.

A arma do amor vence as obras do ódio. Li há algum tempo a biografia do pastor Richard Wurmbrand e de sua esposa, Sabina, fundadores da missão A Voz dos Mártires. A leitura me marcou permanentemente. O casal decidira amar no meio de um ambiente de ódio, e essa arma abateu as pessoas mais duras a ponto de se tornarem cristãs convictas.

A arma do Espírito Santo (a Palavra de Deus) derrota as obras da mentira, destroça a dúvida e a desesperança (veja a armadura em Ef 6). – Quando os comunistas invadiram a casa de Wurmbrand, procuraram um pretexto para prendê-lo. Assim, interrogaram Sabina a respeito de armas escondidas. Ela respondeu: “A única arma que temos nesta casa é esta” – e lhes mostrou sua Bíblia. A respeito de Richard Wurmbrand, consta: “Depois de precisar ouvir por anos a fio sempre as mesmas palavras de ordem comunistas, ele descobriu uma arma mais poderosa que a lavagem cerebral: a ‘lavagem do coração’. Nossa cabeça sempre obedece ao coração, e se Jesus Cristo tiver limpado o nosso coração, a cabeça inevitavelmente seguirá, pois ‘a boca fala do que está cheio o coração’ (Lc 6.45). [...] Como Cristo havia perdoado seus pecados, ele agora dispunha da soberana liberdade de perdoar os pecados de todos os seus semelhantes, mesmo dos seus inimigos. Os comunistas não tinham espaço para Jesus no coração. Pois bem, então Richard não abriria espaço a Satanás no seu coração”.

Precisamos levar em conta as instruções para o dia: “Comportemo-nos com decência, como quem age à luz do dia, não em orgias e bebedeiras, não em imoralidade sexual e depravação, não em desavença e inveja. Ao contrário, revistam-se do Senhor Jesus Cristo e não fiquem premeditando como satisfazer os desejos da carne” (Rm 13.13-14).

Depois de despertar e trocar de roupa, saímos de casa. “Comportemo-nos com decência, como quem age à luz do dia.” Outra versão possível seria: “Andem como quem caminha de dia”. A palavra grega euschēmonōs significa “boa postura”. Andem como quem mantém uma boa postura, no esquema de Cristo. O cidadão do céu vive de dia, à luz do sol. Tudo fica visível, seu testemunho é bom e puro. Não há nada oculto, secreto, que precisaria ser escondido. Paulo relaciona seis atitudes negativas, citadas aos pares:

Orgias e bebedeiras. – Trata-se de sinais de falta de domínio próprio e de disciplina. Enxerga-se tudo fora de foco. Falta uma visão clara e os passos firmes e certos em direção ao alvo.

Imoralidade sexual e depravação. – É preocupante observar como o adultério e o divórcio também se multiplicam no ambiente cristão. Muitas vezes o motivo é de se ter ultrapassado o limite em direção ao mundo, às trevas, e se mantém nas sombras. Aí fica fácil dar um passo para algo pior.

“Não se põe fogo no mundo por meio de velas acesas, mas por meio de corações acesos.”

Desavença e inveja. – Tiago chama desavenças e inveja de sabedoria que vem de baixo, do Diabo (Tg 3.14-17). Alguém comentou que o ciúme seria a icterícia da alma. Um conhecido meu escreveu: “A atmosfera de uma igreja é profundamente determinada por aquilo que o indivíduo pensa e fala sobre os outros. Ainda que não articulemos nenhuma palavra, nossa postura e mentalidade negativa em relação ao outro são golpes baixos que ferem e que, se não forem depurados, podem desagregar e destruir uma igreja inteira. Inversamente, pensar e falar de forma favorável a respeito dos outros são irradiações divinas, que por sua vez permeiam e vivificam toda a igreja. Temos aqui na mão um bocado de energia que pode ser usada para avivar ou esclerosar a igreja. [...] Afinal, não podemos sondar o coração do outro – só o Senhor pode fazer isso. Ele revelará as motivações e decisões ocultas do coração, mostrando por que isso e aquilo aconteceu, e então cada um receberá sua recompensa de Deus”.

Desta forma, então, somos chamados a nos revestir do Senhor Jesus. Sim, mas Cristo já vive em nós! O que o apóstolo Paulo quer dizer com isso? Que devemos vestir a natureza e a mentalidade do nosso Senhor! A meta de Deus é termos a mesma mente que Cristo Jesus (Fp 2.5). Devemos nos apropriar por fé daquilo que ele realizou por nós. “É, porém, por iniciativa dele que vocês estão em Cristo Jesus, o qual se tornou sabedoria de Deus para nós, isto é, justiça, santidade e redenção” (1Co 1.30). “Portanto, ele é capaz de salvar definitivamente aqueles que, por meio dele, se aproximam de Deus, pois vive sempre para interceder por eles” (Hb 7.25). – Isso não deixa nada a desejar, e deveríamos nos revestir das promessas que Deus nos oferece em Cristo. Alguém disse: “Jesus cumpriu a condição para que Deus possa amar você incondicionalmente”.

“... não fiquem premeditando como satisfazer os desejos da carne.” Também seria possível traduzir “Nada mais façam daquilo que desperte seus desejos”. A mentalidade da carne é inimiga de tudo que é espiritual. Aqui nos encontramos no combate entre Espírito e carne (Gl 5.17). Por isso é importante crescer “na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3.18).

“... agora a nossa salvação está mais próxima do que quando cremos... o dia logo vem.” O que realmente importa é a viva esperança da nossa redenção vindoura. Esta nos foi assegurada por uma garantia divina!

Jesus vem para nos levar ao seu reino. Somos filhos de Deus, coerdeiros de Cristo, seu corpo. Espera-nos uma vida com Deus Pai e seu Filho em incompreensível e indescritível beleza e perfeição. Qualquer paisagem terrestre, por mais bela que seja, torna-se insignificante perto disso. Esse é um grande incentivo para pôr tais coisas em prática na nossa vida. Recebamos a esperança oferecida tendo em vista o seu amor por nós e movidos pelo nosso amor por ele. É para isso que somos chamados a despertar... agora! Sim, não permaneça apenas junto à margem.

Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Março 2020

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