Haifa, agosto de 2021

No momento, a pergunta mais emocionante em Israel é: quanto tempo vai durar o novo governo? As diferenças nos oito partidos que compõe a coalização vencedora não poderiam ser maiores. Para que um governo com tantos parceiros diferentes tenha pelo menos uma chance de sobreviver, no mínimo é preciso de uma ideologia que os mantenha juntos. O objetivo que os conectou foi retirar Benjamin Netanyahu do poder. Essa oposição a Netanyahu baseia-se predominantemente em motivos pessoais, não políticos.

Quase todos os partidos do presente governo já estiveram numa coalização com o partido de Netanyahu. A experiência que juntaram aparentemente foi tão negativa que chegaram à conclusão: “Nunca mais”!

Netanyahu anunciou em um discurso que logo voltará ao poder, pois o novo governo carece de coesão interna. Com essas palavras, ele entregou à coalização exatamente a receita que os mantém unidos, a saber: Netanyahu não pode retornar ao poder. Enquanto esse perigo existir, os diferentes partidos do governo, independentemente das graves divergências, provavelmente continuarão dispostos a ceder para, ao contrário do que se prevê, permanecer unidos.

Por que a oposição contra Netanyahu? As razões são complexas, mas o que se mostrou particularmente grave é o fato de que ele buscou sua base de poder – ao lado de seu próprio partido, o Likud – nos partidos ultraortodoxos. Estes recebiam de Netanyahu o apoio financeiro desejado e, em troca, praticamente não influenciavam a política, concedendo liberdade para Netanyahu. Mas eles não garantiam a maioria necessária a Netanyahu, levando-o a precisar de mais um partido em suas coalizões. Essa fração adicional funcionava como um “tapa-buraco” e não como um partido importante. No entanto, o que mais irritava aqueles que formaram uma coalizão com Netanyahu foi a distribuição desigual dos fardos. Os ortodoxos, em sua maioria, não servem no exército, pois inscrevem-se nos estudos religiosos, e recebem para isso dinheiro do Estado – algo que irrita muitos israelenses que desejam o fim de tal benefício.

Esse privilégio havia sido concedido aos judeus estritamente religiosos na fundação da nação, pois constituíam uma pequena minoria na época. Nesse ínterim, acabaram se tornando uma força que não passa desapercebida; portanto, o assunto deve ser regulamentado novamente. Uma vez que sempre foram uma parte importante da coalizão no poder, puderam levar adiante suas demandas.

Durante a apresentação do novo governo, os porta-vozes dos partidos religiosos utilizaram termos “cruéis” para descrever a nova liderança. Eles exigiram que Naftali Bennett, o novo primeiro-ministro, retirasse a quipá que estava usando, pois ele não seria um judeu, mas uma vergonha. Com o partido trabalhista participando da coalizão no governo, também haverá um rabino reformado no Parlamento pela primeira vez na história de Israel. Este foi ainda mais insultado. Aos olhos dos judeus ortodoxos, os judeus reformistas são piores do que os cristãos.

Tudo isso mostra as proporções preocupantes que a turbulência interna de Israel atingiu. A disposição de fazer concessões pela unidade tornou-se uma necessidade indispensável. Esperamos e oramos para que o novo governo seja um começo nesta direção. Com essa esperança, saúdo-vos com Shalom.

Fredi Winkler é guia turístico em Israel e dirige, junto com a esposa, o Hotel Beth-Shalom, em Haifa, que é vinculado à missão da Chamada.

sumário Revista Chamada Setembro 2021

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