Deixem-se encher pelo Espírito!
No Natal temos a manjedoura; na Sexta-Feira da Paixão temos a cruz; na Páscoa, o túmulo vazio; e no Pentecostes – nada! Todavia, a vinda do Espírito Santo não é uma notícia secundária da Bíblia. Deus não apresenta um pedido, mas transmite uma missão: “Enchei-vos do Espírito!”.
Pesquisas revelam que mais da metade da população não sabe por que se comemora o Pentecostes. Isso é algo dramático, pois o Pentecostes nos lembra da concessão do Espírito Santo. Deus se encontra conosco por meio do Espírito Santo. Sem o Espírito Santo não haveria nenhuma comunidade cristã.
O primeiro Pentecostes
Cenário: Jerusalém. Haviam passado 50 dias desde a festa da Páscoa. A cidade se preparava para a “Festa das Semanas”, para o Shavuot judaico (Lv 23.15-22). Nessa ocasião o povo trazia para o templo o primeiro pão com a nova colheita e animais de um ano para o sacrifício. As pessoas vinham de longe até a cidade. Elas se dirigiam ao templo em grupos. Ninguém tinha noção alguma de quão diferente seria a festa daquele ano, pois nesse dia começaria a colheita de Deus entre os homens.
“Chegando o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos num só lugar. De repente veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava.” (At 2.1-4)
Essa notícia passou como um fogo pela cidade! Subitamente o templo e o sacrifício não estavam mais no centro de tudo. Com curiosidade as pessoas se apressavam para chegar àquela casa onde os discípulos de Jesus estavam reunidos e que, de fora, parecia estar repleta com um som de vento. O milagre dos idiomas foi um contraponto à confusão de línguas da construção da torre de Babel (Gn 11.1-9). Naquela ocasião, as pessoas não entendiam o que as outras falavam – no Pentecostes começou a mudança. As pessoas que haviam chegado de todos os rumos entendiam o evangelho em seus próprios idiomas. A vinda do Espírito Santo vence a divisão e marca a reversão da confusão babilônica de idiomas. Deus proclama a mensagem de reconciliação por meio do seu Espírito.
Há dois mil anos, no Pentecostes, pessoas de todas as nações se entenderam. Quanta alegria e dinâmica o Espírito proporcionou naquela ocasião. E o Pentecostes de hoje? Nossos pensamentos são dominados por imagens obscuras. Imagens de terror e guerras. Perseguições aos cristãos. O esfarelamento dos valores conservadores na sociedade. Cristãos irreconciliáveis entre si. Brigas e invejas. Sabemos de filhos e filhas que se desviam de Deus e passam a viver de acordo com as próprias ideias. Observa-se como em geral são limitadas as ligações da sociedade com Deus. A procura pelo sentido da vida é cercada com coisas irrelevantes. A vida é francamente sufocada.
No entanto, nunca é tarde demais para devolver a vida a Deus e a recomeçar! O homem não é um produto do acaso e não é quem forja sua própria felicidade. Deus está no princípio da vida. Nós fomos criados por Deus e para Deus. E Deus está novamente presente no final da vida. Por isso, nossas questões sobre o sentido de uma vida plena precisam começar com ele. Nossa vida deve ser uma resposta para a existência e propósito de Deus. O Espírito Santo nos concede o conhecimento e a força para isso. A uma vida ímpia e incrédula ele convence do pecado (Jo 16.8). Ele guia à verdade (Jo 16.13). Ele tornará Jesus Cristo conhecido e glorificará nosso Salvador (Jo 16.14). Ele é nosso amparo (Jo 16.7). Como a ação do Espírito Santo é necessária para nós!
A era da igreja
No dia do Pentecostes, Pedro pregou o seu primeiro sermão. Em seguida, milhares de pessoas foram batizadas e formaram a primeira igreja cristã. Elas foram as primícias da colheita de Deus – uma colheita que se realiza desde o ano 33 d.C. A igreja cristã cresce desde então; as pessoas são despertas, equipadas e enviadas para se colocarem a caminho com o seu sentimento e em obediência a ele, como parte da igreja de Jesus.
A morte e a ressurreição de Jesus significam que está terminando a era do domínio de Satanás, que ainda não terminou totalmente. O Espírito Santo derramado significa que está começando a era messiânica, que ainda não está completa.
O cristão atualmente já vive no espírito do novo mundo de Deus. Porém, ele simultaneamente ainda está com os dois pés na terra, onde dúvidas e tentações, pecado e egoísmo – isto é, “nossa carne” – tentam se opor ao Espírito e onde Satanás ataca (Gl 5.16-26).
Apesar disso, a vinda do Espírito e a instituição da nova aliança afirmam que uma nova era começou – mas ela ainda não está completa! O reino de Deus já está presente, porém ainda não está pronto de maneira visível. Todavia, ele está aí e está crescendo!
Duas coisas deveriam ocupar o ponto central em uma igreja cristã: (1) transmitir a mensagem do evangelho da graça de Deus e (2) viver a ética do reino dele em meio às tensões dos dias atuais.
Depois da ressurreição, Jesus explicou aos seus seguidores: “Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra” (At 1.8).
Condições para receber o Espírito
Tornar-se e ser cristão não é algo hereditário, nem é transmitido aleatoriamente, mas depende de uma tomada de decisão pessoal. No primeiro dia do Pentecostes, Pedro formulou a condição para que o Espírito Santo passasse a habitar na pessoa: “Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos seus pecados, e receberão o dom do Espírito Santo” (At 2.38).
Sem o Espírito Santo não haveria nenhuma comunidade cristã.
Retornar em arrependimento por ter dado as costas para Deus. Receber perdão. Abandonar uma vida que pretende dar significado a si mesmo – e voltar-se para Cristo. Deus perdoa o pecado e concede o Espírito Santo como dádiva, como dom para a pessoa. Sua vida passa então a ter novo direcionamento. Inicia-se uma nova vida. Que milagre!
Com isso, a pessoa faz duas coisas: converte-se e é batizada; e Deus concede duas coisas: o perdão e o Espírito Santo.
Nós agradecemos muitas vezes pelo primeiro presente de Deus – o perdão da culpa. E pelo segundo presente? Quem já agradeceu a Deus pelo dom do Espírito Santo?
Cheio do Espírito Santo
Um cristão está sempre totalmente cheio do Espírito Santo? A resposta é: não! Do mesmo modo que um fogo não consegue se desenvolver se não receber ar, a força do Espírito não consegue agir se não for liberada.
A expressão “estar cheio do Espírito” é encontrada várias vezes na Bíblia. Um exemplo do livro de Atos: os primeiros cristãos escolheram assistentes para cuidar dos necessitados. Isso aconteceu porque os apóstolos descuidaram das viúvas gregas. É lógico que os cristãos gregos se queixaram porque suas viúvas eram desfavorecidas nos cuidados diários. Os apóstolos então convocaram a igreja e definiram prioridades: “Não é certo”, diziam eles, “negligenciarmos o ministério da palavra de Deus, a fim de servir às mesas”. Assim, eles escolheram colaboradores:
A vinda do Espírito Santo vence a divisão e marca a reversão da confusão babilônica de idiomas.
“Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho, cheios do Espírito e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa e nos dedicaremos à oração e ao ministério da palavra” (At 6.3-4).
Nesse “anúncio de emprego” foram apresentados três requisitos para a participação: (1) bom testemunho, (2) ser cheio do Espírito e (3) de sabedoria.
Isso significa que nem todos os cristãos daquela época preenchiam os três critérios. Havia diferenças. O fato de mencionar especialmente o critério de ser cheio do Espírito significa que nem todo cristão está no mesmo nível de espiritualidade em qualquer tempo.
Precisamos ver a diferença: o batismo com o Espírito Santo ocorre uma vez, por ocasião da conversão, quando Deus insere uma pessoa no corpo de Cristo (1Co 12.13); então o Espírito passa a habitar nesta pessoa e a sela até o dia da redenção (Rm 8.9; 2Co 1.22; Ef 1.13; 4.30). Encher-se do Espírito, no entanto, é uma realidade que se repete na vida do cristão e está relacionada com a sua atitude de coração e com o seu modo de viver.
Encher-se do Espírito é uma realidade que se repete na vida do cristão e está relacionada com a sua atitude de coração e com o seu modo de viver.
Dessa forma, posso viver sob a constante ação do Espírito Santo caso eu permita ser orientado pela Palavra de Deus, viva de acordo com ela e mantenha o relacionamento com Deus por meio da oração. A Palavra de Deus é uma palavra cheia do Espírito, e não apenas letra vazia! Ouvir a Palavra de Deus e obedecer a ela com confiança nele permite que o Espírito Santo tome conta e promova mudanças. Isso inclui a disposição de reconhecer a própria culpa e testemunhar do evangelho, mas também abandonar preocupações e temores e confiar no poder e na providência de Deus. Estar cheio do Espírito Santo significa ter uma vida consciente e obediente na presença do Senhor Jesus Cristo.
Despertem!
Infelizmente, também podemos adormecer espiritualmente! Na carta aos Efésios, Paulo formula um sério chamado de alerta:
Ser cheio do Espírito não é um privilégio para os líderes e alguns especialmente piedosos. Todos devem viver no poder de Deus. Não há exceções para isso.
“Por isso é que foi dito: ‘Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e Cristo resplandecerá sobre ti’. Tenham cuidado com a maneira como vocês vivem; que não seja como insensatos, mas como sábios, aproveitando ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus. Portanto, não sejam insensatos, mas procurem compreender qual é a vontade do Senhor. Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo Espírito, falando entre vocês com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando de coração ao Senhor, dando graças constantemente a Deus Pai por todas as coisas, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Sujeitem-se uns aos outros, por temor a Cristo” (Ef 5.14-21).
O que significa a exortação “deixem-se encher pelo Espírito”? Seguem algumas observações:
UMA MISSÃO – no imperativo
Algo se destaca: não se trata de uma sugestão ou de uma possibilidade entre muitas, como: “Caso você, querido leitor ou leitora, algum dia tiver vontade, seria legal então você se deixar encher pelo Espírito de Deus”. Não, não é assim. Deus não apresenta uma sugestão, mas transmite uma missão: “Deixem-se encher pelo Espírito”.
PARA TODOS – no plural
Essa missão está formulada no plural e vale para todos: “Todos vocês – toda a comunidade cristã –, encham-se todos do Espírito!”. Ser cheio do Espírito não é um privilégio para os líderes e alguns especialmente piedosos. Todos devem viver no poder de Deus. Não há exceções para isso.
POR MEIO DELE – no passivo
A missão de Deus foi formulada no modo passivo. Ali não consta “Enchei a vocês mesmos...”, mas “Deixem-se encher pelo Espírito”. O enchimento é uma ação de Deus. Nós somos os receptores.
UM PROCESSO – no presente
“Deixem-se encher pelo Espírito” está escrito no modo presente. Na linguagem usada no Novo Testamento, significa que trata-se de um processo contínuo. O chamado de Paulo também poderia ser traduzido com: “Permitam-se ser enchidos constantemente”.
O maná no deserto durava um dia. Do mesmo modo, um almoço é insuficiente para uma semana inteira. O nível de Espírito de hoje não é provisão para amanhã. O nível de enchimento do Espírito não é estático; ele está relacionado com o modo que vivemos, ou não vivemos, a nossa fé diariamente. “Deixem-se encher pelo Espírito” é um mandamento para os cristãos: eles devem viver constantemente sob a ação do Espírito Santo, permitindo que a Palavra de Deus domine e dirija seus pensamentos e ações, reconhecendo sua culpa e buscando a vontade de Deus. Estar cheio do Espírito tem o mesmo significado de “andar no Espírito”.
O estar cheio do Espírito nunca se refere a tirar proveito próprio, mas sempre de glorificar a Cristo e de servir ao próximo.
Paulo compara o vinho com o Espírito. Nessa comparação, a pergunta que surge é: “Quem está no controle e quem influencia a minha vida?”. A pessoa é determinada por aquilo que ela contém. Na minha mocidade, nas festas, a influência do álcool me levava a ficar em pé sobre as mesas, com meus colegas, gritando: “Nós todos iremos para o céu, porque somos tão comportados...”. Tal influência reprovável, blasfema e mentirosa era provocada em mim pelo consumo exagerado de álcool!
Com o que eu encho o meu coração? Qual é a orientação que eu busco para os meus objetivos? O que/quem influencia o meu modo de viver? O apóstolo Paulo deseja que vivamos sob a influência e o controle do Espírito Santo – isto é, conscientemente na presença de Jesus – e que ele governe nossa vida por meio da sua Palavra. Estando cheio com ele, hoje novamente sinto vontade de cantar, principalmente novos cânticos espirituais que expressam a atitude renovada do meu coração.
Façamos algumas perguntas:
- Para quem eu vivo?
- O que me influencia?
- A quem eu procuro honrar?
- Eu pretendo ser dominado por uma culpa?
- Sou grato por ter recebido, de graça, o Espírito Santo?
- Pretendo ser uma testemunha para Jesus entre meus colegas?
- Desejo que o Espírito Santo governe a minha vida?
Ser cheio do Espírito não é algo isolado, mas algo muito prático, que traz consequências na vida. Para isso, Paulo dá algumas dicas. Três dos seus pedidos estão relacionados com direcionamento para Deus, com louvar, agradecer e cantar. O quarto pedido se refere à nossa atitude em relação ao próximo.
O estar cheio do Espírito nunca se refere a tirar proveito próprio, mas sempre de glorificar a Cristo e de servir ao próximo.
O Espírito Santo deseja remodelar nossa vida. Para isso ele permite que cresçam características pessoais positivas. Isto é o seu fruto: “... amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio” (Gl 5.22-23). Essas características são agradáveis para todos. Os cristãos precisam sair de sua resignação discreta e seus costumes passivos. Cristo não é uma sombra do passado. Ele é o Senhor ressuscitado, o Vencedor que virá! O mundo necessita urgentemente de cristãos despertos, convincentes e cheios do Espírito! E o Espírito Santo fala uma linguagem que todos entendem – a linguagem do amor.
Broto dormente?
Em nosso jardim transplantamos uma árvore. Depois disso ela não cresceu mais como antes – vieram apenas alguns ramos e folhas no topo. Era um quadro desagradável. Pedimos orientação a um jardineiro. Ele nos mostrou algo especial: os brotos dormentes, também chamados de “olhos dormentes”. No tronco havia muitos brotos pequenos, mas que não se desenvolviam. De fato, eram brotos dormentes. O que fazer? Foi dolorido, mas precisei cortar uma grande parte superior da árvore. Sabem o que aconteceu em poucas semanas? Os “olhos dormentes” despertaram, desenvolveram ramos e folhas em toda a extensão do tronco – agora nossa arvorezinha tornou-se um belo salgueiro – um colírio para os olhos!
Há cristãos que agem como os brotos dormentes. Eles precisam ser despertados. Isso exige mudanças e estas têm um preço. Os ganhos, no entanto, são múltiplos! A ordem bíblica é: “Deixem-se encher pelo Espírito”. Cristãos não seguem uma imagem triste e embaçada do passado – eles pertencem ao atual e futuro Senhor do mundo! A Bíblia não deixa nenhuma dúvida de que Jesus Cristo voltará. A história mundial anda na direção dele e ele vem ao nosso encontro, a partir do futuro. É isso que o Espírito Santo nos comprova. Ele deseja assumir o governo em nós, para que proclamemos e vivamos as boas novas.
Rolf Höneisen
Publicado com autorização de factum-magazin.ch.