Cansamos de esperar Jesus?

Muitas coisas na vida possuem data de validade. Uma delas é a esperança do retorno de Cristo. Como assim?

A data de validade de um medicamento, ao contrário do prazo mínimo de validade de um alimento, indica uma data “absoluta” a partir da qual o produto devidamente armazenado não pode mais ser aproveitado. A exclamação “Maranata”, no entanto, não indica um alimento nem um medicamento, mesmo que possa saciar a fome da nossa alma e amenizar a dor em nosso coração!

Há uma data no plano de salvação de Deus em que Jesus Cristo levará sua igreja para o lar: o arrebatamento.

A data de validade para a exclamação “Maranata”, plena de expectativa, saudade e esperança, está claramente definida. Há uma data no plano de salvação de Deus em que Jesus Cristo levará sua igreja para o lar: o arrebatamento. Com a chegada ao destino, não haverá mais orações-maranata. Contudo, quando vencerá a data da exclamação “Maranata” não consta na embalagem da Bíblia. Somente o próprio Deus, nosso Pai celestial, sabe qual é a data de vencimento (Mc 13.32). Por isso o efeito “Maranata” se estenderá somente até o dia do arrebatamento, como exclamação vivificadora da igreja do Senhor ao redor do mundo.

No entanto, a impressão que tenho é que, em nossas fileiras, ouve-se apenas ainda um bocejo cansado dessa expectativa. É necessário despertar! Hoje, agora, aqui... pois nosso Senhor virá – talvez enquanto você lê estas linhas.

1. Uma exclamação (in)comum?

Como expressão, a palavra “Maranata” (grego, maranatha) é encontrada pela primeira e única vez na Bíblia em 1Coríntios 16.22: “Se alguém não ama o Senhor, seja anátema. Maranata!” (NAA). Quase num mesmo fôlego, o apóstolo Paulo encerra sua carta aos coríntios com uma exortação muito séria e com essa exclamação especial de fé. A oração-maranata normalmente é traduzida por “Vem, Senhor”. Apesar de o Novo Testamento ter sido escrito em grego, trata-se de uma expressão aramaica. Mar significa “Senhor”, an significa “nosso” e atha significa “vem”.

No Antigo Testamento (Torá e Tanakh) também encontramos o idioma aramaico, apesar de a maior parte dele ter sido escrita em hebraico. Entre outros, uma parte do livro de Daniel foi escrita em aramaico (Dn 2.4b–7.28).[1] Isso explica por que atualmente a exclamação “Maranata”, talvez incomum no Novo Testamento, nem seja tão incomum assim aos leitores da Bíblia. Ela também não é a base para uma doutrina especial que trata de apenas um versículo. Desde a Antiguidade ela já foi o chamado dos profetas da antiga aliança que esperavam pelo Messias vindouro e o proclamavam. A vinda do Messias foi anunciada de duas maneiras: em humildade (Zc 9.9) e em glória (Dn 7.13-14). É exatamente nesta passagem de Daniel encontramos o termo aramaico para “vir” que se encontra em “Maranata”. Essa profecia, da volta do Messias glorificado, se cumprirá quando Jesus Cristo voltar de forma visível a esta terra para instituir o seu reino de paz (quando seus pés pisarem no monte das Oliveiras, cf. Zc 14.4). O povo de Israel encontra-se até hoje nessa atitude de expectativa: “Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.10).

A igreja, por sua vez, aguarda pela sua volta nas nuvens para o arrebatamento, antes do início do dos sete anos de tribulação, e então se seguirá o reino milenar. Assim, “Maranata” serve de explicação para a fé: “Jesus Cristo, tu és nosso Senhor, o Maran. Nós expressamos nossa fé de que voltarás atha, para nos levar ao lar, conforme prometeste em João 14.3. Oramos para que essa promessa se cumpra, e nós te convidamos para voltar”. Assim também termina o livro de Apocalipse, onde diz em grego: “Amém. Vem, Senhor Jesus!” (22.20).

A Bíblia nos mostra, assim, que a expressão “Maranata” é algo totalmente normal e comum. Ela revigora a fé que persiste até que Jesus nos leve para o lar.

2. Uma exclamação vivificadora

À época dos primeiros cristãos, de acordo com a tradição, essa exclamação tinha um imenso significado. Era uma saudação que o mundo do idioma grego não conseguia entender. Quando se encontravam (p. ex., no mercado), saudavam-se mutuamente com essa exclamação vivificadora. De maneira prática e realista, ela expressava o desejo e a expectativa de que o Senhor voltasse em breve.

E como nós, cristãos, nos cumprimentamos no século 21? Na maioria das vezes, apenas com um “Como vai?”. Com frequência, em somente alguns segundos passa-se o radar em “todas” as áreas da sua vida e então surgem respostas semelhantes a: “Meus joelhos estão doloridos, o trabalho está difícil. Em casa eu também estou com...”.

É assustador observar como muitas vezes a nossa perspectiva de vida se restringe ao presente, que esquecemos totalmente do glorioso futuro para o qual de fato estamos seguindo.

É assustador observar como muitas vezes a nossa perspectiva de vida se restringe ao presente, que esquecemos totalmente do glorioso futuro para o qual de fato estamos seguindo. É muito triste ver – eu diria até dramático – que não vivemos mais na expectativa como alguém que crê que Jesus Cristo pode voltar a qualquer momento. Estamos cansados de esperar? Observemos o exemplo da atitude de expectativa imediata dos tessalonicenses! Paulo escreveu-lhes uma carta e os incentivou com as palavras: “Consolem-se uns aos outros com essas palavras” (1Ts 4.18). Que palavras eram essas? A igreja de Tessalônica estava desesperada. Eles esperavam que Jesus voltaria a qualquer momento. Mas o Senhor ainda não havia chegado, e alguns irmãos e irmãs já haviam falecido. O que aconteceria com os que adormeceram quando Jesus voltasse repentinamente? É por isso que Paulo, em sua carta, lhes revela o mistério do arrebatamento (1Ts 4.13-18; veja tb. 1Co 15.51-52).

Para o leitor da Bíblia, abre-se um panorama do arrebatamento com incríveis detalhes; inclusive, indicando que, por ocasião da sua volta, os corpos dos que já faleceram ressuscitariam primeiro, e depois os que estivessem vivos seriam arrebatados juntamente com eles. Essa ordem detalhada comprova novamente que Deus é um Deus de ordem e de planejamento, o que podemos ver espelhado também na Criação.

Agora, passados quase dois mil anos, já há milhões de cristãos que faleceram. A esperança do arrebatamento talvez ainda se encontra escondida em algum cantinho do nosso coração, mas até agora a expressão “Maranata” ainda não conseguiu trazer Jesus de volta. Seu efeito vivificador talvez está superestimado? Mas, espere: a exclamação é válida até que pare de soar, ou seja, até o vencimento.

3. Uma exclamação enfraquecida

Logicamente, a data de validade ainda não chegou. Somente Deus sabe quando a oração-maranata perderá sua validade (At 1.7), quando então passamos do crer para o ver. “Maranata” é a expressão de fé de alguém que não calcula datas (e assim erra, como já aconteceu tantas vezes no passado e continua acontecendo no presente), mas que conta com o arrebatamento a qualquer momento. O ensino do arrebatamento, a quem ele envolve (todos os crentes do Novo Testamento, quer estejam vivos ou mortos, v. 1Ts 4.16) e como ele ocorrerá está claramente descrito.

Efeitos práticos do Maranata

Efeitos práticos do “Maranata”

Há opiniões diferentes sobre o seu encaixe no decorrer do fim dos tempos e o seu contexto. Dentro do entendimento bíblico geral, no entanto, podemos reconhecer claramente que o arrebatamento ocorrerá antes dos sete anos de tribulação. A Palavra de Deus, considerada em seu conjunto, nos ensina em muitas passagens que ele levará sua igreja para si ainda antes que os incrédulos sejam submetidos à sua ira durante a tribulação. Por exemplo, 1Tessalonicenses 1.10: “E esperar dos céus seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos: Jesus, que nos livra da ira que há de vir”, ou também 1Tessalonicenses 5.9: “Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para recebermos a salvação por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”. Uma outra indicação decisiva consta em Apocalipse. Nos primeiros três capítulos, a igreja ainda é mencionada, mas ela não aparece mais a partir do capítulo 4 até o capítulo 18. A partir do capítulo 19, lemos então sobre o casamento do Cordeiro com sua noiva – a igreja.

Segue um breve resumo dos últimos eventos do plano de salvação que ainda acontecerão: arrebatamento; sete anos de tribulação; reino milenar. Ao contrário dos demais acontecimentos limitados ao tempo, nenhum sinal a mais é necessário para o arrebatamento. Por isso nós, cristãos, podemos esperar que o Senhor Jesus Cristo venha para nos levar ao lar a qualquer segundo. Nenhum novo acontecimento é necessário, nem alguma série de incidentes como aquela relacionada à tribulação (p. ex., os juízos).

Nosso consolo, assim como foi para os tessalonicenses, é o fato de que Cristo voltará para nos arrebatar. Então terá terminado o período de noivado e a noiva estará diante do seu amado Noivo, o qual a ama de tal modo que se entregou totalmente por ela (Jo 3.29; 2Co 11.2; Ef 5.27).

Esperar pela volta de nosso Senhor em um futuro longínquo torna nossa fé muito teórica e desconexa.

Não haverá mais nenhum obstáculo entre a igreja e Jesus Cristo. Também estaremos finalmente libertos da presença do pecado. Nenhuma dor, nenhum lamento, nenhuma lágrima! É justamente por isso que esperamos o nosso Senhor de todo coração e utilizamos a expressão “Maranata” em nosso dia a dia. Esperar pela volta de nosso Senhor em um futuro longínquo torna nossa fé muito teórica e desconexa. No entanto, se esperamos sua volta para HOJE, isso muda concretamente nosso pensar, nossos desejos e orações. E uma coisa fica clara: nossa fé é uma fé genuína se ela for prática e concreta.

Por isso, ore junto comigo: “Maranata! Vem, Senhor... quem sabe HOJE!”.

Nota

  1. Roger Liebi, “Das Buch Daniel (1-3)” (PDF), p. 2. Disponível em: https://www.rogerliebi.ch/sites/default/files/downloads/daniel_-_kapitel_fuer_kapitel-1-3.pdf. Acesso em: 28 jan. 2019.

Publicado originariamente
em bibel-center.de.

Johannes Vogel é o reitor do Seminário Bíblico Breckerfeld, Alemanha. Com frequência é convidado como palestrante ou professor em eventos, tanto na Alemanha como no exterior.

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