O Tallit e a bandeira nacional de Israel

Ao longo dos séculos e milênios, o judaísmo produziu numerosos usos, costumes e tradições que parecem estranhos a quem não é daquele meio. Muitas vezes trata-se de exterioridades que os distinguem de outras pessoas. É claro que o observador se perguntará de onde provém tudo isso. Teriam algum fundamento bíblico ou trata-se apenas de tradições judaicas acrescentadas no decorrer do tempo?

Quando o Estado de Israel foi fundado, tratou-se de definir uma bandeira nacional com algum símbolo característico do judaísmo. Parecia bastante óbvio elevar a símbolo nacional a chamada “Estrela de Davi” ou Magen David, expressão hebraica que significa “escudo de Davi”. De onde, porém, vêm as cores azul e branca e as faixas em ambos os lados? E a propósito, de onde vem a própria estrela de Davi? Será que ela remonta ao rei Davi, como sugere o seu nome?

Há mais de trinta anos, o ex-rabino suíço Roland Gradwohl escreveu que foi apenas no século 13 que o Magen David se tornou um símbolo judeu. Por outro lado, desde a Idade do Bronze muitos povos já conhecem a estrela de seis pontas, o hexagrama, como ornamento ou símbolo mágico, repetidamente encontrado até hoje especialmente no ambiente budista da Índia e da China.

Números 15.38 diz que as franjas devem ser entretecidas com um cordão azul. Portanto, é dessa passagem das Escrituras que provém a cor azul da bandeira de Israel

Textos de magia do século 13 mencionam um escudo de Davi. Ele também aparece numa janela do frontispício de uma sinagoga na Boêmia (atual Tchéquia), construída por volta de 1250. Em 1354, o imperador Carlos IV permitiu então oficialmente que os judeus portarem uma bandeira judaica com a estrela de Davi. Na época, porém, a estrela não era azul, mas amarela ou com a cor real dourada, em memória do rei Davi.

No entanto, a estrela judia amarela associava-se a lembranças negativas de perseguição e o terror que o povo judeu experimentou em especial no período nazista. Procurou-se por isso uma outra cor mais simpática, mas que também simbolizasse um vínculo com o judaísmo bíblico.

A bandeira de Israel

Assim, as vestimentas descritas em Números 15.38-39 e Deuteronômio 22.12 tornaram-se modelos para a bandeira. O tallit – o xale de oração – era originalmente uma capa, como um grande pano, que incorporava nos dois lados mais longos uma faixa colorida. Essas faixas em ambos os lados eram algo como um traje nacional que se expressava no estilo das vestimentas. Isso também foi confirmado por achados arqueológicos de restos de tecido e de pinturas murais. Normalmente, as faixas do tallitsão pretas, mas hoje também existem variantes de outras cores e artisticamente configuradas. De onde, porém, vem a cor azul da bandeira?

Números 15.38 diz que as franjas devem ser entretecidas com um cordão azul. A maioria das traduções diz “azul”, mas o correto seria “azul claro” ou “azul celeste”, tal como é a bandeira de Israel. Portanto, é dessa passagem das Escrituras que provém a cor azul da bandeira de Israel. Fora das faixas coloridas, provavelmente o tallitnão era colorido, permanecendo ao natural, do que resulta a cor branca no fundo da bandeira.

Contudo, para a propaganda anti-israelense árabe, as faixas azuis da bandeira têm outro significado. Afirma-se que as duas faixas azuis representam o Eufrates e o Nilo, indicando que Israel pretende conquistar toda a região entre o Eufrates e o Nilo, o que naturalmente é uma interpretação maldosa.

Existe ainda uma outra teoria para a origem da estrela de Davi como símbolo judeu, a qual não é possível comprovar, mas que parece fazer sentido. O nome de Davi(d) inclui duas vezes a letra “D”. No alfabeto grego, o D maiúsculo, o delta, é um triângulo equilátero (Δ). Chama-se de “delta” também o entorno da foz de um rio, em especial do delta do Nilo, fácil de reconhecer nos mapas via satélite: o frutífero delta verde irrigado pelos braços da foz do Nilo destaca-se claramente do deserto cor de areia circundante, lembrando um triângulo invertido. Se então sobrepusermos os dois triângulos – um deles invertido – cria-se uma estrela de seis pontas.

Se a origem for realmente essa, ela não poderia ser anterior ao período em que o grego era um idioma de uso comum entre os judeus, ou seja, a época da criação da Septuaginta (século 3 a.C.), do Novo Testamento (século 1 d.C.) ou posterior. Fica claro, porém, que não pode remontar até os tempos do rei Davi.

Fredi Winkler é guia turístico em Israel e dirige, junto com a esposa, o Hotel Beth-Shalom, em Haifa, que é vinculado à missão da Chamada.

sumário Revista Chamada Maio 2021

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