Mudanças na política árabe em Israel?

Os partidos árabes continuam com suas idas e vindas, empreendendo grandes mudanças. Causas? O eleitorado e a nova orientação dos parlamentares.

Desde a convocação do Parlamento israelense (Knesset), em 1949, os árabes residentes no país possuem representação. Seus partidos não ocupam tantos assentos como – em proporção ao total de eleitores árabes – talvez poderiam ter. Seus eleitores são quase exclusivamente os cidadãos árabes do país, mas estes nem sempre se mostraram vinculados às urnas, o que pode justificar o número de assentos. Atualmente há quatro partidos árabes representados no Knesset, e que se uniram em um bloco. Nas eleições do ano passado, realizadas no dia 2 de março de 2020, a aliança “Lista Unificada”, formada pelos partidos Hadash, Ra’am, Balad e Ta’al, assumiu sensacionais 15 cadeiras no Knesset. Mesmo que os parlamentares árabes assim formaram o quarto maior partido, eles tradicionalmente encontram-se na oposição, o que pode mudar nas eleições realizadas no mês passado, no dia 23 de março, a 4ª eleição desde 2019! Alguns partidos árabes, como o Ra’am, ainda não formalizaram seu apoio a nenhum dos dois lados, e podem ser decisivos para a formação de uma maioria no Knesset.[1]

Com base na sua orientação político-ideológica, o establishment judeu sempre impediu basicamente que os partidos árabes participassem do governo, o que pode ser atribuído a temores sobre o surgimento de sensíveis assuntos de segurança como a ocorrência de uma Quinta-Coluna. Esta, porém, não é uma posição unilateral: o aproveitamento dessa plataforma democrática em favor de sua comunidade foi, e continua sendo, muito importante para muitos deputados árabes, mas ao mesmo tempo hesitam em participar do processo governamental. Isso com certeza exigiria o apoio a decisões que contrariam basicamente a sua própria ideologia.

Existem ainda muitos outros aspectos nessa sensível malha que desempenham um papel e que transformam a representação de árabes no Knesset em uma tradição que, no entanto, mantem-se dentro de uma moldura claramente estabelecida. Há algum tempo surgiu esporadicamente uma movimentação dentro desses limites determinados, o que – como não poderia deixar de ser – alguns saudaram em apoio, mas para outros era simplesmente uma afronta.

Mansour Abbas, 46 anos, nascido na cidade de Maghar, no norte de Israel, e que após sua formação na Universidade Hebraica de Jerusalém trabalhava como dentista em sua cidade natal, foi eleito pela primeira vez como representante da “Lista Unificada” do Knesset em abril de 2019. Desde então ele lidera os esforços, no círculo de seus concidadãos árabes, para tratar das temáticas de “violência” e “crime”, presidindo a respectiva comissão constituída no Knesset. No final do ano passado ele desencadeou uma grande controvérsia: após a participação extraordinária do primeiro-ministro Netanyahu numa reunião dessa comissão, ele declarou que não teria problemas em se aproximar do sistema governamental judeu. Simultaneamente, quando tentou disputar o cargo com Ayman Odeh (o atual líder da “Lista Unificada”), desencadeou-se uma tormenta de indignação. Mas uma coisa ficou clara: o eleitorado árabe está interessado em mais cooperação.

Nota

  1. “With 95% of ballots tallied, vote count fails to break deadlock”, The Times of Israel, 25 mar. 2021. Disponível em: https://www.timesofisrael.com/overnight-vote-count-fails-to-break-deadlock-over-90-of-ballots-tallied/.

Antje Naujoks dedicou sua vida para ajudar os sobreviventes do Holocausto. Já trabalhou no Memorial Yad Vashem e na Universidade Hebraica de Jerusalém.

sumário Revista Chamada Maio 2021

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