A resistência cerebral dos pica-paus

Quando alguém bate com a cabeça em uma superfície dura, sofrerá dores de cabeça ou, em casos mais graves, uma concussão ou derrame cerebral. Com o pica-pau não acontece nada disso, mesmo que ele esteja constantemente martelando os troncos das árvores com o seu bico. Julian Heiermann, da Liga de Proteção da Natureza da Alemanha (NABU, na sigla original), explica o porquê: “A constituição do corpo do pica-pau possui uma série de ajustes que lhe possibilitam martelar algo”. Pesquisadores demonstraram isso em vários estudos. De acordo com eles, um dos segredos do pica-pau seria a anatomia especial da cabeça.

“O cérebro não se localiza imediatamente atrás do bico, mas mais acima, de maneira que o impacto da batida não atinge diretamente o cérebro”, diz Heiermann. Articulações ósseas dobráveis e os fortes músculos do bico reduzem o impacto da bicada. Assim como faz um boxeador à espera de um golpe, os músculos são tensionados pouco antes do impacto e assim absorvem grande parte da energia. Pouco antes do impacto, o pica-pau fecha as pálpebras para que a força não desloque os seus olhos das cavidades oculares. Além disso, o cérebro do pica-pau é envolvido com menos líquido cerebral do que o dos seres humanos. Quando nós batemos a cabeça, nosso cérebro se choca contra a parede craniana, o que pode provocar uma concussão. No caso do pica-pau, o cérebro tem menos espaço de deslocamento por causa da menor quantidade de líquido que o envolve. De acordo com os estudos, o pica-pau bate com seu bico até 20 vezes por segundo na madeira dura, como se fosse um martelo pneumático. Assim, a colisão frontal acontece com aproximadamente 25 km/h. “As batidas características do pica-pau substituem o seu cantar”, esclarece Heiermann. Na época de namoro, o pica-pau bate o bico até doze mil vezes ao dia contra madeiras – preferencialmente ressonantes.

sumário Revista Chamada Março 2021

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