Fascinação Com a Bíblia

Gosto de ler a revista Faszination Bibel [Fascinação com a Bíblia] e por isso a assinei. Ela é proveitosa e esclarecedora e traz informações que normalmente não se lê em outros lugares. É fato que tem havido bons artigos que contribuem para estimarmos e amarmos a Bíblia ainda mais. Ainda assim, tal como ocorre com todos os informativos e artigos cristãos, é preciso distinguir entre o que é fascinante e deprimente. Fiquei deprimido com um artigo de uma senhora (Sara Stöcklin) intitulado: “Paulo, podemos conversar sobre isso?”.

Normalmente, tendemos a ser retraídos com críticas a outros irmãos e obras da fé, mas onde se trata de crítica à Bíblia, é preciso falar, lembrando de Judas 3: “Amados, embora estivesse muito ansioso para escrever a vocês acerca da salvação que compartilhamos, senti que era necessário escrever insistindo que batalhassem pela fé de uma vez por todas confiada aos santos”.

Em seu artigo, a autora afirma: “Apesar de todas as tentativas de negação, ela contém contradições”. Não é assim: muitas vezes, as supostas contradições se devem ao nosso limitado conhecimento – básico – ou podem ser esclarecidas quando se levam em conta as condições de Israel na época. Assim, por exemplo, às vezes há divergências de números porque no reino do Norte a contagem era feita de um modo diferente do que no reino do Sul, mas, dentro do respectivo sistema, ambas as variantes são corretas. Um professor explicou corretamente certa vez que, “no todo, a Bíblia é mais do que a soma das suas referências. Não se pode assimilar a Escritura integralmente sem entender suas partes – e as diversas partes não podem ser assimiladas sem que se entenda a Bíblia em sua íntegra”.

Também deve-se levar em conta a que destinatários as declarações ou os livros da Bíblia foram dirigidos – se a judeus ou gentios. Assim, por exemplo, várias diferenças entre a carta de Tiago e a carta de Paulo aos Gálatas podem ser explicadas pelo fato de Paulo ter sido expressamente o “apóstolo dos gentios” e mestre das nações, enquanto Tiago, Pedro e os outros respondiam pelos judeus (Gl 2.7-10). Declarações divergentes não precisam ser necessariamente contraditórias. “Nem toda forma de ‘contradição’ constitui um questionamento da doutrina da inerrância da Escritura”, escreve John Goldingay.

A senhora Stöcklin semeou muitas dúvidas com o seu artigo, mas em resposta o engenheiro Gottfried Meskemper expôs, numa carta pública à Faszination Bibel: “A propósito, ela também não cita passagens bíblicas, mas refere-se apenas genericamente a ‘textos estranhos’ e ‘incoerências bíblicas’, criticando apologetas que se reportam a ‘erros de tradução’ e desenvolvem ‘teorias especulativas’”.

De fato, a autora não cita contradições concretas e assim fica devendo a comprovação das suas afirmações. Em lugar disso, ela confessa ter “passado por um longo e doloroso processo” para se desvincular da “Declaração de Chicago”, porque “a Bíblia, como tenho percebido cada vez mais, resiste em sua complexidade e profundidade a uma teoria que a reduz a algumas fórmulas simples”. No entanto, a Declaração de Chicago não é uma teoria que “reduz a Bíblia a algumas fórmulas simples”. Segundo Meskemper, “a maioria nem sabe o que ela contém...”. A Declaração de Chicago defende que a Escritura seja inerrante, divinamente inspirada, verdadeira e confiável em todas as questões que aborda, isenta de falsidade, fraude ou engano.

Além disso, Stöcklin lança mão do argumento frequentemente requisitado de que a Bíblia não deveria substituir Deus – opondo assim Deus à sua palavra. Ela escreve: “Sabemos, porém, que Deus está acima da Bíblia. Ela é obra sua com a participação de homens e assim jamais poderá reivindicar perfeição no sentido em que Deus é perfeito. De fato, não creio que a Bíblia seja perfeita”. Deus, o Todo-Poderoso, inspirou a Bíblia a partir de cima, e justamente por isso não podemos separá-la da sua pessoa. Ela incorpora o seu sopro: “Toda a Escritura é inspirada por Deus...” (2Tm 3.16). “No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus e era Deus. Ele estava com Deus no princípio” (Jo 1.1-2). Precisamos “manter em mente que toda a Escritura, ainda que transmitida por diferentes instrumentos humanos, tem um só autor – e esse autor não se contradiz. E ele também não perde a supervisão sobre os seus servos”. Se não pudermos mais confiar na Palavra, não teremos nada de confiável, nada que possa transmitir confiança, porque como saberemos o que é certo e verdadeiro numa palavra imperfeita, e o que não é? Podemos perfeitamente crer e ter certeza de que o Todo-Poderoso foi vigilante em preservar sua Palavra, e sempre será motivo de admiração que os textos atuais ainda continuam a coincidir com as palavras de muitos séculos atrás. Artigos como esse de Stöcklin não estimulam a amar o Livro dos livros. Pelo contrário, tais comentários criam insegurança e trazem dificuldades aos leitores que buscam respostas para confiar plenamente na Bíblia.

Recentemente alguém me disse: “A agressão à Bíblia nos meios cristãos se tornou tão violenta! Ouvi, por exemplo, o argumento de que ‘simplesmente quero abordar a Bíblia honestamente...’, como se confiar na Escritura fosse desonestidade...”.

Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Janeiro 2021

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