Cristianismo Homofóbico

Esta é uma das alegações mais frequentes e veementes. Cristãos, em especial evangélicos, são repetidamente acusados de homofobia. Este é um tema delicado e que merece atenção. Seria a Bíblia, ou pelo menos a intepretação dos evangélicos, homofóbica?

Daniel Lima
Esta é uma das alegações mais frequentes e veementes. Cristãos, em especial evangélicos, são repetidamente acusados de homofobia. Este é um tema delicado e que merece atenção. Seria a Bíblia, ou pelo menos a intepretação dos evangélicos, homofóbica?

Em primeiro lugar, precisamos definir o que é homofobia. O site Significados afirma que “homofobia significa aversão irreprimível, repugnância, medo, ódio ou preconceito que algumas pessoas ou grupos nutrem contra os homossexuais, lésbicas, bissexuais e transexuais”.[1] Seguindo esta definição, é bastante claro que a Bíblia não é homofóbica, uma vez que não manifesta aversão, repugnância, medo, ódio ou preconceito contra homossexuais ou qualquer outro tipo de pessoa. Qualquer cristão que se envolva em ataques de qualquer tipo contra homossexuais contrariará não apenas a lei brasileira, como também a Bíblia. É fundamental ressaltar que isso não significa que a Bíblia aprova ou considera indiferente o comportamento homossexual, ou qualquer outro comportamento que contraria os propósitos de Deus para a humanidade – tal como roubo, mentira, promiscuidade, idolatria.

Neste ponto importa lembrar que discordar não significa odiar. Tratamos deste assunto no artigo “Cristianismo Intolerante”. Discordar com respeito é um direito inerente ao ser humano. Inclusive o próprio Supremo Tribunal Federal declara em seu site que “a tese prevê que a repressão penal à prática da homotransfobia não alcança nem restringe o exercício da liberdade religiosa, desde que tais manifestações não configurem discurso de ódio”.[2]

Mais uma vez, precisamos de um definição: o que é discurso de ódio? O próprio texto citado acima explica que “assim entendidas aquelas exteriorizações que incitem a discriminação, a hostilidade ou a violência”. Uma vez mais fica claro que a postura da Bíblia não promove discurso de ódio. Não há uma passagem Bíblica que incite alguém a discriminar, hostilizar ou ser violento contra outra pessoa.

É curiosa, ou talvez triste, esta acusação de homofobia em pelo menos dois aspectos. Primeiro, grupos cristãos ao longo da história, em descumprimento da instrução bíblica, realmente já promoveram discurso de ódio com base em etnia, nacionalidade, costumes e estilo de vida. Em segundo lugar, é triste essa acusação, pois a própria base dos chamados direitos humanos são uma dignidade do ser humano que se baseia em seu valor intrínseco. Para nós, cristãos, este valor está no fato de que fomos criados à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.27). Para os que não creem em absolutos, essa dignidade intrínseca fica baseada nos modismos da época, pois não há um valor moral absoluto. Não surpreende que os mesmos grupos ateus ou agnósticos que afirmam direitos humanos advogam o aborto e a eutanásia.

O cristianismo não é homofóbico, mas alerta todo aquele que se rebela contra o Criador de que há juízo, mas também há salvação em Jesus.

No entanto, como conciliar as claras advertências contra determinadas práticas, chamadas no cristianismo de pecados, com uma postura de respeito do indivíduo e suas escolhas? Jesus ensina claramente que veio buscar os que precisam de ajuda e não condená-los ou hostilizá-los (Jo 3.16-18); na verdade, os relatos de sua vida demonstram que ele convivia com pessoas que eram regularmente rejeitadas pela sociedade da época (Lc 7.34). Por outro lado, a Bíblia afirma que estas práticas têm consequências imediatas e também eternas (1Co 6.9-10). Por isso precisamos de um salvador, por isso precisamos de alguém que nos resgate (1Co 6.11).

Ao mesmo tempo, Deus respeita as escolhas humanas. As advertências visam poupar aqueles que se envolvem com o pecado. Paulo deixa claro: “Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear isso também colherá. Quem semeia para a sua carne da carne colherá destruição; mas quem semeia para o Espírito do Espírito colherá a vida eterna” (Gl 6.7-8).

O cristianismo não é homofóbico, mas alerta todo aquele que se rebela contra o Criador de que há juízo, mas também há salvação em Jesus.

Notas

  1. “Homofobia”, Significados, 1 abr. 2020. Disponível em: https://www.significados.com.br/homofobia/ (ênfases suprimidas).
  2. “STF enquadra homofobia e transfobia como crimes de racismo ao reconhecer omissão legislativa”, Supremo Tribunal Federal, 13 jun. 2019. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=414010.

Daniel Lima é doutor em formação de líderes no Fuller Theological Seminary. Autor e preletor, exerce um ministério na formação e mentoreamento de pastores e líderes.

sumário Revista Chamada Janeiro 2021

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