Paralelos Entre as Vindas de Jesus

A primeira vinda de Jesus (a Belém) e seu retorno são uma só unidade na história sagrada. Por isso, nunca entenderemos bem sua primeira vinda no Natal sem a sua segunda vinda, já que ambas estão estreitamente relacionadas.

Quando Jesus nasceu em Belém, todos os povos do mundo se moveram. Realizou-se um recenseamento mundial para que ele pudesse nascer em Belém, segundo as Escrituras (Lc 2.1-7). Ninguém reconheceu o objetivo do movimento dos povos naquela ocasião. Para milhões, pareceu uma iniciativa despropositada empreender uma cansativa viagem até sua cidade natal, mas tudo isso teve um profundo e divino sentido. A iniciativa não foi do imperador Augusto. Não, o próprio Deus vivo estava por trás daquilo. Hoje ocorre o mesmo. Qual é o sentido do movimento mundial dos povos? Tudo se move e há uma grande intranquilidade por todo o mundo. O sentido divino por trás disso, a ação bem orientada e reconhecível de Deus é o retorno de Jesus. Seu trono é edificado em Israel. Curiosamente, também as pessoas, seu comportamento e seus modos são exatamente os mesmos tanto na primeira como na segunda vinda do Senhor. Podemos ver seis paralelos.

Primeiro, os que dormem. Todos “dormiam” quando Jesus chegou. Nem os vizinhos mais próximos perceberam; no entanto, o Rei dos reis havia chegado. Na segunda vinda do Senhor também será assim. O sono é geral. Não é sem motivo que o Senhor adverte tantas vezes e tão seriamente como consta em Lucas 21.36: “Estejam sempre atentos e orem para que vocês possam escapar de tudo o que está para acontecer e estar em pé diante do Filho do homem”.

Todos nós corremos o perigo de nos deixar acalentar pelo mundo material visível, mas o Senhor Jesus tem uma promessa para os que quiserem vigiar: “Felizes os servos cujo senhor os encontrar vigiando, quando voltar. Eu afirmo que ele se vestirá para servir, fará que se reclinem à mesa, e virá servi-los” (Lc 12.37).

Não subestimemos o perigo de adormecer! Mateus 25.5 diz a respeito das dez virgens – as cinco prudentes e as cinco insensatas: “O noivo demorou a chegar, e todas ficaram com sono e adormeceram”. O Senhor Jesus, porém, adverte: “O que digo a vocês, digo a todos: Vigiem!” (Mc 13.37). Com isso chegamos à segunda similaridade das pessoas na primeira e na segunda vindas de Jesus.

Segundo, os vigilantes e os que esperam. É significativo que no Natal tenham sido pastores com suas ovelhas. Hoje, as pessoas que vigiam e esperam a sua vinda não mudaram. São aquelas que, nas palavras de Pedro, são exemplos para o rebanho, que apascentam o rebanho de Cristo, que cresceram seguindo a Jesus, que provaram que o Senhor é bom e amável e que agora ficam dia e noite esperando por ele.

Não foi por acaso que tenham sido justamente pastores com suas ovelhas que, naquela hora noturna da história sagrada, estavam despertos. Eu diria que pastores são aquelas pessoas com mentalidade similar à de Jesus, que disse de si mesmo: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10.11). Quanto mais a nossa mentalidade se tornar similar à de Jesus (Fp 2.5), tanto mais ansiaremos por seu retorno e vigiaremos.

Não foi por acaso que tenham sido justamente pastores com suas ovelhas que, naquela hora noturna da história sagrada, estavam despertos

Terceiro, os teóricos. Na primeira vinda de Jesus havia pessoas que dogmática e racionalmente, ou teologicamente, sabiam tudo sobre a proximidade da sua vinda. Eles orientaram com precisão aqueles homens vindos do Oriente que o procuravam diante de Herodes. Respondendo à pergunta sobre “onde está o recém-nascido rei dos judeus” (Mt 2.2), disseram: “Em Belém da Judeia; pois assim escreveu o profeta: ‘Mas tu, Belém, da terra de Judá, de forma alguma és a menor em meio às principais cidades de Judá; pois de ti virá o líder que, como pastor, conduzirá Israel, o meu povo’” (v. 5-6).

Teriam então essas pessoas feito uso do seu saber teórico sobre a vinda do Rei para também irem correndo até Belém? Levaram-lhe presentes? De modo nenhum! Parece incrível, mas é verdade: por causa da sua arrogância religiosa, não tinham mais anseio no coração para irem à procura do Rei.

Também neste ano muitos celebrarão o Natal perfeitamente informados sobre a vinda do Senhor, muito receptivos para cenários sentimentais. Fato é que existem aqueles que não enxergam mesmo de olhos abertos, apesar de judeus vindos de toda parte terem retornado a Israel e de os sinais dos tempos clamarem cada vez mais alto que “o Rei está chegando!”. Apesar de conhecerem sua Bíblia, não atendem a isso de coração. Conhecimentos bíblicos sem obediência prática nos tornam frios e sem receptividade para a vinda do Senhor. Diga-me, meu irmão e minha irmã, você tem um forte anseio pela vinda dele?

Quarto, aqueles que veem o Rei. De acordo com Mateus 2.1, eles seriam os “magos [ou sábios] do Oriente”. Por que eram sábios? Porque eram receptivos para a luz. Seguiram essa luz sem se deixar desviar, e esses gentios ignorantes testificam diante dos religiosos ortodoxos: “... Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2.2). E, ao dizer “viemos”, eles dão enfático testemunho da sua obediência por fé. Dizem com isso: “Largamos tudo porque precisamos ver Jesus”.

Que coisa impressionante: os teóricos, que estavam tão próximos da luz, não a veem. Belém é visível de Jerusalém, e em Jerusalém as pessoas sabiam de tudo e mesmo assim não o reconheceram. Que tragédia! “A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram [ou ‘reconheceram’]” (Jo 1.5).

No entanto, os gentios, embora ofuscados, a reconheceram: vieram de longe, pagaram o preço de ver Jesus e, quando viram sua estrela, se alegraram muito. De fato, muitos últimos serão primeiros. A qual grupo você pertence? Você segue a luz? Aqui aprendemos que a luz não é religião, mas o próprio Jesus que mais tarde, em João 8, exclama após o seu primeiro choque com os religiosos: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida” (v. 12).

Quinto, os reis que se recusam a retroceder. O rei do qual os profetas falaram, nasceu, e então lemos em Mateus 2.3: “Quando o rei Herodes ouviu isso, ficou perturbado, e com ele toda Jerusalém”. Por quê? Porque Herodes reconheceu ali uma ameaça ao seu reinado. Ele se havia imposto, assentando o seu trono sobre os cadáveres de outros. Ele era um homem sanguinário e, para firmar o seu domínio, chegou a assassinar sua própria família. Conta que o imperador Augusto tenha certa vez dito que um porco de Herodes estaria em melhor situação que o filho dele. Nesse tirano cruel temos uma imagem do egoísmo extremo – não havia lugar para nenhum outro rei. Ele temia a tomada do poder a partir de cima. Herodes assustou-se; o perigo era geral: seu poder, mas também sua riqueza.

Existem hoje muitos “Herodes” que, embora cercados de um ambiente religioso, aconselhados e ensinados por religiosos, têm mentalidade arrogante e materialista. O Rei Jesus virá! Você está disposto a entregar o que tem? Seria ele o Senhor, o Rei no seu coração? Os “Herodes” que não admitem uma troca de governo necessariamente se assustam diante do Rei que vem chegando.

Sexto, os que têm mentalidade celestial e estão purificados. Houve desses na primeira vinda de Jesus e também existem agora na sua segunda vinda. São os anjos. Quando a terra se calou, o céu rejubilou. Incontáveis exércitos de anjos expressaram seu júbilo nos campos de Efrata, em Belém: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor” (Lc 2.14).

Esse louvor proveio dos céus, e quanto mais afirmarmos nossa posição celestial em Jesus Cristo neste tempo em que o Rei está retornando (Ef 2.6; Fp 3.20), tanto mais proclamaremos o seu louvor, porque nos campos de Efrata o louvor a Deus ecoou do céu para os pastores. Não é de uma beleza comovente quando lemos em Lucas 2.9 o que o anjo irradiava – “a glória do Senhor resplandeceu ao redor deles”?

Muitas das pessoas que se atiram no frenesi natalino depois despertam dele decepcionadas e desiludidas.

E que mensagem era essa dos anjos! Por quê? Porque tinham mentalidade e natureza celestiais. Que mensagem, que luz, que efeito tiveram suas palavras, porque os pastores encontraram Jesus! Ó meu irmão e minha irmã, que nossa mentalidade e natureza também se tornem cada vez mais celestiais, conforme diz Colossenses 3.1-2. Somente assim seremos também uma luz brilhante na escuridão da noite; só nessa mentalidade é que poderemos conduzir a Jesus pessoas que realmente esperam e buscam (Lc 2.16).

Conclusão

Agora resta ainda responder a esta última questão: por que Jesus não era e não é esperado ansiosamente e com alegria?

A resposta é evidente. Sua primeira vinda significou que ele se igualou a nós: “Por essa razão era necessário que ele se tornasse semelhante a seus irmãos...” (Hb 2.17). O Natal não é um evento envolto numa luz suave e romântica, mas a realidade nua e crua; é a representação do homem por Deus na pessoa de Jesus, nascido como criancinha indefesa numa estrebaria junto aos animais, jazendo em profunda pobreza na manjedoura. Aquilo foi como se Deus quisesse dizer: vocês são aos meus olhos assim como eu agora entrego meu Filho a vocês; assim também está o seu coração: uma estrebaria de noite. Há esterco e lixo dentro de vocês, mas, no meio dessa escuridão, eu entrego o meu Filho.

Vejam: é por isso que os homens não o querem e por isso também não querem a cruz, porque, quando Jesus foi suspenso na cruz, ressoou pelo Universo que assim é você, homem, tão degenerado, tão perdido. A refulgente tragédia do Natal, agora de novo neste mês, consiste em que se acendem muitas luzes, ao mesmo tempo em que o coração permanece na escuridão; que se distribuem e recebem presentes, mas ao mesmo tempo se permanece tão pobre; que neste período natalino se anseia tanto por aconchego, comunhão e um lar amigo, permanecendo com tudo isso tão indescritivelmente solitário. Muitas das pessoas que se atiram no frenesi natalino depois despertam dele decepcionadas e desiludidas. Por quê? Ouça a palavra do Senhor: “O dia do Senhor será de trevas e não de luz. Uma escuridão total, sem um raio de claridade” (Am 5.20). Esta é uma palavra dura, porém necessária a fim de que você finalmente se disponha a concordar com a solidariedade de Jesus com você e sua depravação. Então realmente será Natal para você, porque então Jesus será o Rei no seu coração.

São exatamente esses os efeitos colaterais que encontramos agora na segunda vinda do Senhor. Muitos crentes o aguardam com alegria porque sua segunda vinda significará, em sentido inverso, a identificação com ele. Quando ele veio a Belém, tornou-se igual a nós; quando ele vier para nos buscar, contudo, nós haveremos de ser iguais a ele (1Jo 3.2). Muitos crentes, porém, não buscam a santificação, não se identificam com ele, não são transformados à sua imagem e por isso não têm como se alegrar com o retorno do Senhor. Bem que gostariam de separar o Natal de sua iminente chegada. Mas será que ele não virá mesmo logo? Quando isso ocorrer, você será igual a ele? Você está preparado para a vinda de Jesus?

Wim Malgo (1922-1992) é o fundador da Chamada da Meia-Noite. Autor de mais de 40 livros, pregou e ensinou durante décadas.

sumário Revista Chamada Dezembro 2020

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