Obra missionária em tempos de pandemia

A crise do novo coronavírus está mais longa e abrangente do que muitos supunham no início. Seus efeitos sobre as diversas bases da Chamada são bastante variados.

Eis um resumo geral:

SUÍÇA

Passamos por restrições que nos parecem muito fortes. Contudo, se olharmos para além das fronteiras, constatamos que estamos lamentando numa posição elevada. Ainda assim, as condições não são mais como antes, e, em particular quanto ao coronavírus, acaba-se percebendo que nem se sabe o que se sabe. Quase não se consegue processar o grande número de notícias, comunicados, fatos ou fake news. Tanto mais importante torna-se o ministério de transmitir a palavra profética de Deus e não se perder em meio a ideias e raciocínios enganosos. Faz parte da tática do Inimigo desviar os filhos de Deus do essencial. Poderíamos dizer que para nós o coronavírus é um cenário marginal. O desafio é conseguir o máximo possível para o Senhor apesar das restrições. Estamos alegres por podermos novamente realizar cultos na igreja da Chamada não só de forma virtual, mas presencial. Também nos alegramos pelas portas abertas na internet. Nossos canais do YouTube têm sido eficazes como “porta para fora”. Desejamos utilizá-los cada vez mais, além das revistas e do ministério de literatura, para alcançar as pessoas.

Jonathan Malgo, Dübendorf

HOLANDA

Não houve muitas mudanças porque trabalhamos no escritório só como casal. Inicialmente foi necessário adiar reuniões de diretoria planejadas, e agora são realizadas no jardim, com distanciamento de um metro e meio. Infelizmente, é provável que não seja possível realizar nosso encontro anual de amigos em novembro. Planejamos um programa alternativo, provavelmente uma livestream ou uma mensagem em vídeo. Em nosso país, a situação do coronavírus não é levada muito a sério. Apesar das cifras crescentes, há poucas restrições. Embora se aplique a regra de distanciamento, muitos holandeses percebem isso como restrição aos seus direitos fundamentais e não a cumprem.

Raphael e Lea Roos, Doorn

ISRAEL

Quando, em meados de março, fechamos a nossa hospedaria Beth-Shalom em Haifa por causa do coronavírus, pensávamos que poderíamos reabrir em até, no máximo, três meses. No entanto, já se passaram mais de sete meses e não há previsão de reabertura e nem da retomada da atividade de viagens a Israel. Entrementes, todos os colaboradores e funcionários estão em “férias forçadas”, mas recebem um pagamento substitutivo do seguro nacional. A única coisa que fazemos é cuidar da casa e prover o sustento necessário. A maioria dos hotéis em Israel continua fechada porque, com as complicadas exigências, não vale a pena abrir. Por enquanto não se sabe como as coisas continuarão. A segunda onda de contágio se abateu com violência e agora já se fala em uma terceira onda no inverno. Assim, tudo depende dos desdobramentos futuros, mas com tudo isso sabemos que estamos nas mãos de Deus.

Fredi e Beate Winkler, Haifa

GUATEMALA

Desde que se decretou, em março, o estado de exceção, não há mais reuniões. O que mais pesou, porém, foi que não havia mais disponibilidade de transporte público, o que prejudicou principalmente os distribuidores de folhetos. Cada localidade instituiu seu próprio regime e chegou-se até a penalizar pessoas que se deslocavam legalmente (como aqueles do Ministério da Saúde). Isso gerou uma certa anarquia em diversas partes do país. Diante dessa situação, publicamos dois folhetos sobre o coronavírus que tiveram ampla aceitação, apesar de todas as restrições. As pessoas se tornaram temerosas e buscam respostas. Também foi possível manter aberta a livraria quase o tempo inteiro, ainda que com horários de abertura reduzidos. Há múltiplas possibilidades de uso da internet. Praticamente todos os dias oferecemos programas pelo Facebook ou Zoom. O interesse pela Palavra de Deus continua presente, e, apesar da situação econômica precária, há muitos pedidos de Bíblias.

André e Ingrid Beitze, Cidade da Guatemala

ARGENTINA

Estamos sujeitos à quarentena desde 20 de março, uma das mais longas do mundo. Circulação em público só é permitida com autorização especial. Quem for flagrado sem esta, está sujeito a processo judicial e confisco da carteira de habilitação ou do carro. É claro que podemos fazer as compras necessárias em lojas próximas ou ir a consultas médicas. A obrigação de máscara é geral. Nas estações rodoviárias e ferroviárias há controle de febre com câmeras, e a autorização especial munida de QR code precisa ser apresentada no celular ou em papel. Vemos aqui dois lados: por um lado, ainda não lamentamos tantas mortes como em alguns países vizinhos. Por outro lado, porém, a economia, que já antes disso estava abatida, quebrou ainda mais. Consta que um quarto de todas as lojas precisou fechar. Muitas empresas recorreram à ajuda estatal, que agora interfere nelas. Nove entre dez famílias estão endividadas. Os muito pobres recebem ajuda estatal em forma de dinheiro. A inflação vem subindo continuamente. As escolas e igrejas estão fechadas. Os alunos têm aula pela internet. Quem não tem acesso à internet ou for aluno de uma escola ou universidade estatal tem muito menos possibilidades de receber ensino. Os assaltos a casas duplicaram, e ouvimos cada vez mais notícias de gente do nosso meio – igreja ou parentes – que se infectou. Até agora, porém, nós como missionários estamos bem.

É claro que quase não saímos de casa. Nunca ficamos tanto tempo sem viajar. No entanto, o que do ponto de vista humano foi muito ruim, revelou-se por outro lado como grande bênção. De toda parte recebemos convites para reuniões, palestras, mensagens, aulas, retiros, conferências e entrevistas radiofônicas. Fazemos isso via livestream ou gravamos e passamos adiante. Nossos atendimentos triplicaram, e tudo isso sem viajar. Também ganhamos muitas portas abertas a vizinhos ou famílias e de crianças da escola dominical. Junto com a igreja, ajudamos com alimentos, vestuário, cobertores etc. Como temos na qualidade de “religiosos” uma autorização especial para circular, tudo passa por nós. Além disso, há muita procura por aconselhamento. Nossas agendas sempre estão preenchidas até tarde da noite. Agradecemos ao Senhor e pedimos que ele nos dê sabedoria para fazer tudo de modo correto.

Stephan e Carina Beitze, Buenos Aires

BRASIL

Só podemos dar graças a Deus pelo modo como ele nos sustentou até agora e continua sustentando. Nossas duas livrarias ficaram fechadas por três meses. Os pedidos de folhetos também foram esparsos, o que, afinal, era de se esperar, uma vez as pessoas tiveram de ficar em casa – e ainda devem continuar assim. Mesmo assim, porém, pudemos pagar as nossas três funcionárias e também os aluguéis das lojas. Perdemos uma funcionária por conta da pandemia, pois ela luta com depressão. Diante da situação no Brasil, abriremos mão de uma das livrarias, que cederemos a um pastor. Orem conosco por sabedoria e clareza sobre o modo como o trabalho poderá prosseguir segundo a vontade de Deus.

Ernesto e Elvira Kraft, São Paulo

BOLÍVIA

Em razão das medidas precoces do governo, a escola e o internato estão fechados desde meados de março. Nesse meio tempo, passamos com a população por todos os estágios, desde compreensão até desespero, e estamos certos de que o nosso Senhor Jesus nos sustenta e de que dependemos dele.

Muitos dos colaboradores passaram por todos os sintomas da infecção. Os dias mais tristes até agora foram entre junho e julho. Em alguns dias, chegamos a redigir até três notas de pêsames. Temos visto muitos funerais nas ruas. Em Riberalta foi implantado um cemitério especial para vítimas do Covid-19. A Aliança Evangélica publicou um vídeo com 70 pastores falecidos de todas as denominações. Um colaborador nosso, aposentado, perdeu – em uma semana – sua esposa e seu filho. Vários irmãos da igreja faleceram, pastores foram contagiados e muitos dos professores da nossa escola adoeceram. Alguns procuravam desesperadamente por oxigênio, e as farmácias não tinham mais nem sequer aspirina. Em parte, Riberalta ficou completamente isolada por precaução. É um milagre que Obed e Rebekka Hanisch, bem como recentemente a última voluntária que trabalhava conosco, ainda puderam deixar o país. Entrementes, os contágios têm regredido um pouco, mas esperava-se o pico para agosto, e Riberalta faz parte das regiões de maior risco. Quase não se realizam mais testes. No momento, está havendo uma flexibilização de todas as providências, porque as pessoas precisam trabalhar para poder sobreviver. Os suprimentos voltaram a ser quase totalmente normalizados e desde 1º de agosto as lojas podem novamente trabalhar até às 17 horas. Aglomerações humanas estão proibidas, mas a polícia quase não exerce mais controle.

Em julho, nossos professores empenharam-se intensamente para elaborar um plano de aulas virtuais, tendo criado contato com alunos e pais. Mesmo assim, para 1/3 das famílias o custo da internet é proibitivo. Devido à desigualdade, houve protestos por toda parte e existe perigo de desestabilização. Como os que protestaram rejeitaram muitas das opções para a atividade escolar, o governo encerrou oficialmente o ano letivo a partir de 1º de agosto (!). Depois de todo o trabalho que tiveram, isso representa uma grande decepção para os nossos professores. Nada é seguro na Bolívia, e nós nos perguntamos de que modo tudo continuará.

A liderança da igreja decidiu prosseguir com as mensagens aos domingos de manhã apenas por via virtual. Por causa do perigo de contágio, na central missionária nos reunimos de manhã ao ar livre para um devocional, e somos muito abençoados com isso. Nossa pequena equipe trabalha na manutenção do local; implantaram-se canteiros de horta e em quatro salas de aula os móveis foram lixados e repintados. Nas novas instalações do internato, realizaram-se com pessoal reduzido obras sanitárias nos banheiros e foi feito o acabamento de portas e janelas. A livraria voltou a abrir duas vezes por semana e agora deverá abrir diariamente por meio período. A procura por Bíblias e material didático para crianças é grande. Um novo grupo de WhatsApp provê melhor acesso à nossa revista.

O interesse das pessoas também é encorajador, em particular quanto à eternidade. Nas repartições, as pessoas puxam conversa e nos perguntam a respeito dos sinais do fim dos tempos. Gente que não consegue dormir à noite testemunha sua gratidão pelos programas radiofônicos e uns e outros perguntam como podem enviar alguma oferta para a obra. Um mecânico também consertou de graça o nosso trator em apoio ao nosso ministério (anos atrás, seu colega recebeu no Iraque, onde trabalhava, um pacote de literatura da Chamada). As pessoas têm abordado Rosmarie na rua, expressando sua alegria em vê-la. A impressão é de que se alegravam pelo fato de alguns estrangeiros enfrentarem a situação junto com o povo local. Somos gratos por todas as intercessões!

Eberhard e Rosmarie Hanisch, Riberalta

sumário Revista Chamada Novembro 2020

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