Testemunhos arqueológicos dos tempos de Esdras e Neemias em Jerusalém
Um selo e um carimbo duplo descobertos na Cidade de Davi atestam a restauração da cidade na época de Esdras e Neemias.
Escavações arqueológicas da Autoridade de Antiguidades de Israel no estacionamento Givati, na Cidade de Davi, resultaram em dois significativos achados que poderiam indicar que, após a destruição do primeiro templo, apesar da situação precária de Jerusalém, esforços foram feitos para restaurar a administração da cidade.
Como Jerusalém lidou com a terrível destruição que desabou sobre o país por meio do exército babilônico no século 6 a.C.? Um carimbo duplo em uma bulla e um selo de cerâmica, datados com alta probabilidade do período persa, poderiam responder a esta questão. Eles foram encontrados junto às ruínas de uma grande edificação destruída durante a conquista de Jerusalém pelos babilônicos.
Os carimbos (bullae) eram pequenos fragmentos de argila utilizados na Antiguidade para autenticar documentos ou recipientes (p. ex. jarros para armazenar produtos agrícolas recolhidos como tributos). Destinavam-se a conservar selados os recipientes no trajeto até seu destino. Muitas vezes, os objetos marcados com selos eram mesmo mantidos fechados. Ou se decompunham com o passar do tempo, principalmente os documentos, mas as bullae se conservaram e deixaram pistas das autoridades administrativas e até das pessoas que as representavam.
Segundo o professor Gadot e o dr. Shalev, “o achado do carimbo e do selo na Cidade de Davi sugere que, apesar da situação catastrófica da cidade depois da destruição, houve esforços de restauração da estabilidade das autoridades administrativas, e que os habitantes continuavam a utilizar parcialmente as estruturas destruídas”.
“A descoberta desses novos achados acrescenta muitas informações sobre a estrutura da cidade durante o período que conhecíamos principalmente pela literatura bíblica – os livros de Esdras e Neemias.”
O duplo carimbo foi descoberto num fragmento de argila. O tamanho do fragmento, de aproximadamente 4,5 centímetros, sugere que ele tenha sido usado para selar algum recipiente de grande porte – talvez um jarro – e não um documento. O carimbo retrata uma pessoa sentada sobre uma grande cadeira, com duas colunas à sua frente. A configuração da imagem aponta para um estilo babilônico. A figura provavelmente representa um rei, e as colunas são símbolos que representam os deuses Nabu e Marduque. Segundo o dr. Ido Koch, do departamento de arqueologia e antigas culturas orientais da Universidade de Tel Aviv, acharam-se em Israel cerca de apenas dez artefatos desse estilo (em locais como Ein Gedi e Jerusalém), que parecem ter sido usados durante o período persa. Uma outra bulla desse estilo, também do período persa, foi descoberta em escavações da dra. Eilat Mazar na vertente oriental da Cidade de Davi.
O selo consiste numa grande peça de cerâmica de confecção local, na qual se gravou externamente uma moldura circular. Ela está dividida em duas partes que contêm várias gravuras lineares. As gravuras provavelmente representam duas pessoas, mas também pode tratar-se de um selo com desenhos semelhantes a letras. No verso do selo encontra-se um fragmento que possivelmente indique uma empunhadura fixada nele. O tamanho do selo, de cerca de 8 centímetros, indica ter sido usado para selar objetos de grande porte.
Outros artefatos ainda foram encontrados juntamente com esses objetos. Segundo os pesquisadores, “a descoberta desses novos achados na vertente oriental da Cidade de Davi acrescenta muitas informações sobre a estrutura da cidade durante o período de retorno a Sião, uma época que conhecíamos principalmente pela literatura bíblica – os livros de Esdras e Neemias. Os escassos achados daquele período dificultavam entender a condição e a extensão da cidade. Os achados das escavações no estacionamento Givati lançam luz sobre e renovação da administração local numa área semelhante ao período anterior à destruição do primeiro templo, cerca de 100 anos antes”.
Nathanael Winkler