Momento de Pausa
Sete Cartas para Sete Igrejas | Parte 2 (Final)
Warner Sallman (1892-1968) foi um talentoso ilustrador e pintor norte-americano de Chicago, mais conhecido por suas obras de imagens religiosas cristãs. Ele é comumente associado com sua simpática obra Head of Christ [Cabeça de Cristo], da qual mais de 500 milhões de cópias foram vendidas e é utilizada por diversas denominações, além de oferecer apreciação devocional privada. Sallman é também muito conhecido por sua representação do Senhor na pintura Christ at the Door [Cristo à porta], uma ilustração baseada em Apocalipse 3.20.
O simbolismo das palavras de Cristo – “Eis que estou à porta e bato” – é óbvio. A luminância de Cristo e do batente da porta revelam um coração pouco escondido, e dessa forma transmitem a paciência do Senhor em resgatar a alma enredada pelo pecado e pela escuridão da ignorância intencional. No entanto, há um indício de esperança, pois há uma abertura gradeada na porta (revelando a escuridão do pecado no interior da alma humana), permitindo que a pessoa que está dentro veja Jesus, que é bom e gentil.
A ausência de qualquer maçaneta ou trava externa na porta é incomum, uma vez que não condiz com a realidade. Sallman entendeu que o versículo de Apocalipse 3.20 diz respeito ao Senhor batendo à porta da vida de um indivíduo. Portanto, ele precisa abrir o seu coração para Cristo, pois Jesus não irá entrar à força. O entendimento de Sallman é popular entre muitos; no entanto, a ordem do Senhor era disciplinar e não evangelística.
Mesmo assim, a descrição de Cristo parado à porta para que pudesse reunir-se com a assembleia dos crentes deveria levar à reflexão sobre as implicações. O retrato é perturbador, não encorajador. A descrição final de Cristo com respeito a uma de suas igrejas é a de que ele está procurando uma entrada. Você diz que Cristo é seu Salvador e, ainda assim, o exclui? A possibilidade de tal indiferença e autossuficiência, exigindo a disciplina e repreensão de Cristo, certamente é motivo para fazermos uma pausa.
Carta à Sardes (Ap 3.1-6)
Sardes se localizava a aproximadamente 48 quilômetros ao sul de Tiatira e cerca de 80 quilômetros a leste de Esmirna. Era uma cidade orgulhosa e capital do antigo reino da Lídia. A cidade se desenvolveu em duas partes, com o assentamento mais baixo tendo como eixo uma estrada leste-oeste, que conectava o interior à costa. Sardes já foi considerada inexpugnável, uma vez que estava situada em um platô alto, cercada por penhascos íngremes que eram quase impossíveis de se escalar. Assim, apenas um caminho estreito de acesso precisava ser defendido. Confiança excessiva acabou eventualmente fazendo com que a cidade fosse facilmente conquistada.
O Senhor ressurreto é revelado como aquele “que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas” (v. 1a), significando que ele é completo em sabedoria e tem controle total sobre a liderança da igreja. Ele claramente conhece suas obras (v. 1b). A situação com essa igreja em particular era tão severa que, se não fosse remediada, iria morrer (v. 1c-2). De fato, o Senhor tornou evidente que nada havia de louvável nessa igreja. Embora ela tivesse uma boa reputação (v. 1c), o Senhor ressurreto considerava esse indivíduos como “morto[s]”, e suas obras não eram perfeitas aos olhos de Deus (v. 2).
Eles começaram muitas coisas, mas nunca as tinham completado. Jesus uma vez perguntou: “Qual de vocês, se quiser construir uma torre, primeiro não se assenta e calcula o preço, para ver se tem dinheiro suficiente para completá-la?” (Lc 14.28). A novidade é o problema para aqueles que começam bem, mas não terminam. Concluir qualquer tarefa requer perseverança. O problema fundamental é deixar de “calcular o preço”, o que é necessário ser feito antes de empreender quaisquer mudanças de vida. O Senhor admoestou essa igreja: “Lembre-se, portanto, do que você recebeu e ouviu... e arrependa-se” (Ap 3.3).
O Senhor é descrito como aquele “que é santo e verdadeiro, que tem a chave de Davi”, significando que ele é justo, genuíno e que tem a capacidade de fazer progredir mesmo em meio a situações impossíveis.
A causa da quase morte dessa igreja era que muitas pessoas estavam se contaminando ao abrirem espaço para o pecado (v. 4; 2Co 6.14-18; Tg 1.27). As bênçãos para a minoria que permanecia fiel era para motivar os outros a se arrependerem. A promessa feita aos vencedores comprova que havia um remanescente piedoso em Sardes, cuja salvação estava eternamente segura (Ap 3.5). Apenas aqueles fiéis a Cristo desfrutariam de comunhão íntima com ele. O Senhor conhece aqueles que são fiéis, que frequentemente discordam da maioria, que tem um bom nome com Deus.
Carta à Filadélfia (Ap 3.7-13)
Localizada a aproximadamente 45 quilômetros a sudeste de Sardes estava a fértil cidade agrícola de Filadélfia. A região estava sob risco perpétuo de terremotos; havia sido destruída e reconstruída no ano 17 d.C. Conforme seu nome indica, Filadélfia era a “cidade do amor fraternal”.
O Senhor é descrito como aquele “que é santo e verdadeiro, que tem a chave de Davi” (v. 7), significando que ele é justo, genuíno e que tem a capacidade de fazer progredir mesmo em meio a situações impossíveis (v. 8). “Ninguém pode fechar” a porta que Deus abre, mas ela pode ser ignorada ou negligenciada. Na análise final, Deus é quem providencia oportunidades para um trabalho eficaz; portanto, ter “pouca força” nunca é motivo para desencorajamento.
Em contraste com as cartas entregues a Sardes e Laodiceia, a igreja em Filadélfia recebeu apenas elogios. Ela foi aprovada por usar as oportunidades que lhe tinham sido oferecidas por intermédio de “uma porta aberta”. Jesus a elogiou por ter guardado sua palavra e não ter negado o nome dele (v. 8b). Como resultado de sua fidelidade, Deus prometeu vindicar essa igreja diante dos inimigos dela (v. 9; cf. 2.9) e livrá-la “da hora da provação... para pôr à prova os que habitam na terra” (3.10; cf. o contraste em Fp 3.20-21, onde a cidadania do cristão “está nos céus”). O retorno do Senhor Jesus será sem demora (Ap 3.11), e ele honrará aqueles que vencerem (v. 12). Deus escreverá o seu nome sobre os vencedores, o que significa que eles lhe pertencem de uma maneira especial.
De especial interesse na carta à igreja em Filadélfia é a promessa de serem guardados “da hora da provação” (v. 10). Essa declaração não se refere diretamente ao arrebatamento pré-tribulacionista, no entanto, garante proteção contra a “hora da provação” quando aquele período estiver em vigor. A promessa de segurança para os fiéis em Filadélfia é igualmente aplicável aos fiéis em todas as igrejas (cf. v. 13) e presume que eles terão sido levados ao céu pelo arrebatamento no começo da “hora da provação”. Portanto, os fiéis no primeiro século tinham certeza de que seriam livrados da “hora da provação” (ou “tribulação”; cf. Mt 13.21; Mc 4.17; Lc 8.13) se ela acontecesse naquele momento. No entanto, a promessa se aplica aos cristãos de todas as igrejas quando a tribulação profetizada no livro de Apocalipse ocorrer.
A palavra “hora” indica libertação não apenas da “provação”, mas também do período de tempo no qual ela ocorre (i. e., o tempo histórico no qual a provação chegará). A garantia de libertação é “da hora da provação”, ao contrário de preservação durante aquela hora. A combinação do verbo (“guardar”) com a preposição (“da”) certamente significa que Jesus os livrará da tribulação de sete anos (Ap 6–19), ao invés de preservá-los através dela (pós-tribulacionismo) ou removê-los na metade (mesotribulacionismo).
Todas as gerações de cristãos devem viver como se o Senhor pudesse retornar durante o seu tempo de vida e resgatá-los “da ira que há de vir” (1Ts 1.9-10) através do arrebatamento (cf. 1Ts 2.17-19; 3.13; 4.13–5.11; 2Ts 2.1-12). Os crentes na terra se encontrarão com o Senhor no ar e escaparão, assim, da “hora da provação”. A igreja em Filadélfia recebeu promessas desejadas do Senhor, mas a exortação que receberam – “retenha o que você tem” – é aplicável para todas as igrejas hoje. A forma súbita (“Venho em breve!”) na qual Jesus retornará é um incentivo ao evangelismo e à santidade, de forma que os cristãos não sejam pegos de surpresa quando o Senhor retornar para a sua igreja.
Carta à Laodiceia (Ap 3.14-22)
Laodiceia se localizava a aproximadamente 64 quilômetros a sudeste de Filadélfia e 145 quilômetros a leste de Éfeso. A cidade tinha um amplo comércio e era muito rica. Um terremoto destruíra Laodiceia em 60 d.C., mas as pessoas eram bastante engenhosas e autossuficientes para restaurar sua cidade – ao invés de receber ajuda de Roma. Além de ser um centro bancário, a cidade produzia uma pomada medicinal para os olhos. Laodiceia se caracterizava por seu espírito independente.
O Senhor é revelado como o “Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o soberano da criação de Deus” (v. 14). Ele é retratado como o “Amém”, que confirma todas as suas palavras. Ele é fiel, ao contrário daqueles que dão falso testemunho. Todos os direitos do primogênito pertencem a Jesus, tendo preeminência sobre toda a criação (cf. Cl 1.15-18).
Similar à carta a Sardes, a mensagem para Laodiceia contém apenas condenação. O Senhor os repreendeu por não serem frios nem quentes (v. 15-16). O abastecimento de água da cidade era sua única inadequação, pois era intragável em seu estado morno. Jesus usou isso para ilustrar a profissão vazia de Laodiceia. Acreditando que não tinha necessidade de nada, a igreja estava enganando a si mesma e, assim, não conseguia discernir sua própria pobreza espiritual (v. 17-18).
O Senhor aconselha fé e arrependimento (v. 19). Jesus prometeu riquezas verdadeiras (“ouro refinado no fogo”), pureza não fingida (“roupas brancas”) e discernimento espiritual à pessoa que confia nele (v. 18-20). É prometido aos vencedores governarem com Cristo em seu reino (v. 21). Essa promessa é o ápice de todas as que foram dadas aos vencedores (2.7,11,17,26-28; 3.5,12,21). As cartas às sete igrejas foram entregues a todos os cristãos em todas as eras: “Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas” (v. 6,13,22).