Norbert Lieth

Quem tiver lido o livro O Peregrino, de John Bunyan, conhece a seguinte história: “Cristão”, o peregrino convertido, está a caminho de uma hospedaria. Nisso, duas pessoas vêm ao seu encontro: “Desconfiança” e “Hesitante”. Eles lhe relatam que deram meia-volta porque havia leões no caminho à hospedaria. Cristão prossegue, mas, ao ver os leões, também quer retornar. Contudo, o porteiro da hospedaria o chama e lhe diz: “É sua força assim tão pouca? Não tema os leões, pois estão acorrentados e foram colocados aqui para testar a fé dos que a têm e para revelar aqueles que não a têm. Mantenha-se no meio do caminho, e nada sofrerá”.[1] Cristão segue o conselho e chega bem ao destino. Essa história me lembra a passagem que diz: “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não está no pecado; aquele que nasceu de Deus o protege, e o Maligno não o atinge” (1Jo 5.18).

Qual é, afinal das contas, o nosso objetivo com esta revista? Queremos nos animar a permanecer no centro do caminho, sendo o próprio Jesus o caminho e o centro. É nosso desejo que nós e os nossos leitores mantenham uma orientação cristocêntrica, e desejamos oferecer uma contribuição equilibrada que leve em conta todo o propósito de Deus.

O apóstolo Pedro nos adverte, dizendo: “Estejam alertas e vigiem. O Diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem possa devorar” (1Pe 5.8). Como é que o inimigo tenta nos prejudicar e como podemos nos proteger contra o leão ameaçador? Seus principais nomes esclarecem isso: “O grande dragão foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada Diabo ou Satanás...” (Ap 12.9).

O Apocalipse aplica ao nosso adversário a imagem de um furioso dragão vermelho como fogo. Segundo as palavras de Pedro, ele é um leão que ruge e que “procur[a] a quem possa devorar”. Uma fera furiosa sempre atacará em sua caça a vítima mais fraca ou mais próxima. Em nosso ponto mais fraco é que somos particularmente vulneráveis e acessíveis ao dragão. O Diabo espreita isso. Nossa proteção é sermos vigilantes.

O Diabo não conseguirá devorar uma vida centrada em Cristo.

Ele também é a antiga serpente que injeta seu veneno – que vai progressivamente se tornando mais forte. Quem arriscar aproximar-se demais da serpente (também uma imagem do pecado) será mordido e envenenado. Pequenos pecados iniciais podem estender-se, e leves tentativas podem viciar. Podemos ser dominados pelas opressões e nosso ser pode mudar completamente num sentido negativo. Nossa proteção será evitar qualquer tentação e pecado.

A palavra “Diabo” (gr. diabolos) significa “acusador” ou “difamador”. O Diabo quer nos acusar, mediante o mundo, por meio de outros irmãos na fé e também mediante a nossa própria alma (a autoacusação). Podemos nos proteger invocando Jesus e a obra que consumou. Diabo também significa “criador de confusão”. Ele difama a Palavra de Deus, distorce-a, vira tudo ao contrário, transforma o bem em mal e o mal em bem. Nossa proteção será permanecer fiel à Palavra de Deus.

“Satanás” significa “adversário”. Ele se opõe à verdade, a tudo que Deus é ou que lhe pertence. É contra isso que ele luta: contra Israel, contra a igreja, contra o cristão individual, contra a Bíblia. O adversário luta contra a palavra profética para que a percamos de vista. Nossa proteção é entregar o domínio ao Espírito Santo.

Tudo isso significa que protegeremos a nós mesmos se permanecermos no caminho, no centro dele, em Cristo, no Espírito Santo, na Palavra de Deus. O Diabo não conseguirá devorar uma vida centrada em Cristo.

Esperamos que também esta edição possa contribuir para nos manter no centro do caminho. Que Deus te abençoe!

Notas

  1. John Bunyan, O Peregrino (São Paulo: Mundo Cristtão, 2017), p. 62.

Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Setembro 2020

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