Desenvolvido para formar viciados

Não é por acaso que muitos utilizam seus celulares e computadores como se fossem viciados: os fornecedores de programas desenvolveram mecanismos que tornam o usuário dependente de seus serviços. (A maioria conhece isso: basta olhar rapidamente algo no Instagram ou no YouTube e já se gasta muito tempo, pois ficamos “presos” sem objetivo navegando por causa dos anúncios.) Por meio da estratégia do stickiness [aderência], os desenvolvedores pretendem conseguir fazer com que os clientes utilizem seus equipamentos durante o maior tempo possível (“adesão do usuário”), para aumentar o tempo de publicidade e fazê-los ligar muitas vezes o seu celular (“retenção”). Um dos truques para tornar o usuário dependente é a rolagem infinita – fica-se “rolando” eternamente, sem conseguir chegar ao ponto que nos aproxima do final. Algo semelhante acontece quando comemos os salgadinhos diretamente do pacote até esvaziar totalmente a embalagem. Fica difícil parar.

Enquanto isso, o antigo colaborador da Mozilla e descobridor da técnica de “rolagem infinita”, Aza Raskin, está arrependido com sua descoberta. À BBC, disse que as empresas desenvolvem técnicas para manter os usuários dependentes conscientemente. Um desses truques é a técnica de “toque para atualizar”: a relação dos anúncios é atualizada durante a rolagem. Tristan Harris, que trabalhava para a Google, compara isso a um caça-níqueis: os projetistas técnicos maximizam o vício “ao combinarem a ação do usuário [como a movimentação de uma alavanca] com uma recompensa variável”. O fator viciante aumenta de acordo com a maior variação da recompensa.

Assim como o efeito viciante do pacote de salgadinhos, esse mecanismo também pode ser esclarecido pelos cientistas. Os desenvolvedores aproveitam-se do efeito que provoca o derramamento de hormônios da felicidade, como a dopamina.

factum-magazin.ch

sumário Revista Chamada Julho 2020

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