Mantenha o foco no futuro!

Lemos hoje sobre empresas focadas no futuro, gestão do futuro, planejamentos do futuro e até sobre vias futuras. Fala-se em mundos futuros, implementações no futuro e em diretrizes para configuradores do futuro. O que, porém, se dá com a fé da cristandade focada no futuro?

Será que planejamos, administramos e agimos visando ao futuro? Orientamos a nossa vida em função disso? Paulo escreve: “Esquecendo-me das coisas que ficam para trás e avançando para as que estão diante de mim” (Fp 3.13b). Será que ainda contamos firmemente com o futuro de Deus? Com suas promessas focadas no futuro? Aguardamos o retorno de Jesus, seu reino futuro na terra e nos céus? Será que nossa vida está cheia de entusiasmo com isso?

  1. H. Spurgeon expressou isso assim: “Por mais tenebrosa que seja a noite, a manhã virá. Você sabe o que é viver em função do futuro, alimentar-se de esperança, desfrutar do céu antecipadamente?”.

Na vida de Isaque, Jacó e José vemos exemplos de três homens que creram e agiram focados no futuro.

A fé de Isaque era focada no futuro: “Pela fé, igualmente Isaque abençoou Jacó e Esaú, a respeito de coisas que ainda estavam para vir” (Hb 11.20). Os filhos de Isaque eram gêmeos e receberam de Deus promessas diferentes para o futuro:

“Isaque orou ao Senhor por sua mulher, porque ela era estéril. O Senhor ouviu as orações dele, e Rebeca, a mulher de Isaque, ficou grávida. Os filhos lutavam no ventre dela. Então ela disse: ‘Por que isso está acontecendo comigo?’ E ela foi consultar o Senhor. E o Senhor lhe respondeu: ‘Duas nações estão no seu ventre, dois povos, nascidos de você, se dividirão: um povo será mais forte do que o outro, e o mais velho servirá o mais moço.’ Cumpridos os dias para que desse à luz, eis que havia gêmeos no seu ventre. Nasceu o primeiro, ruivo, todo revestido de pelo; por isso, deram-lhe o nome de Esaú. Depois, nasceu o irmão. Com a mão segurava o calcanhar de Esaú, e por isso lhe deram o nome de Jacó. Isaque tinha sessenta anos quando Rebeca deu à luz” (Gn 25.21-26).

É bonito de ver como Isaque orou por sua mulher e foi atendido; e, do mesmo modo, como Rebeca cultivava um relacionamento pessoal com o Senhor, recebendo uma resposta dele. Deus revelou duas coisas sobre as duas nações que proviriam de Jacó e Esaú.

Jacó foi o segundo a nascer, mas mesmo assim sua descendência seria mais forte que a de Esaú. Este, o mais velho, haveria de servir a Jacó, o mais moço.

Jacó foi desde o início um “segurador de calcanhar” e ardiloso. Já no ventre da mãe os irmãos lutavam entre si. Mais tarde, Jacó conseguiu para si de modo nada espiritual o direito da primogenitura. Isso, porém, não impediu Deus de cumprir sua promessa. Depois de Jacó ter enganado seu irmão com um prato de lentilhas, enganando também seu próprio pai ao se fazer passar por Esaú, Isaque abençoou seu filho, pensando que fosse Esaú, e disse: “Deus lhe dê do orvalho do céu, e da exuberância da terra, e fartura de trigo e de vinho. Que povos sirvam você, e nações o reverenciem. Que você seja senhor de seus irmãos, e os filhos de sua mãe se curvem diante de você. Maldito seja quem o amaldiçoar, e bendito quem o abençoar” (Gn 27.28-29).

Jacó recebeu três promessas: a primeira é que receberia uma riqueza abençoada. Segunda, o domínio sobre povos. Terceira, uma proteção divina especial.

Seu pai Isaque creu nessas promessas de Deus. Não só não as cancelou, como ainda as confirmou. Quando Esaú se aproximou, “Isaque estremeceu, sentindo uma violenta comoção. E disse: ‘Mas então quem foi aquele que apanhou a caça e trouxe para mim? Eu comi tudo, antes que você chegasse, e o abençoei, e ele será abençoado’” (Gn 27.33).

Embora Jacó tivesse adquirido a bênção de forma desonesta, e apesar de Isaque nem ter tido a intenção de abençoar Jacó dessa maneira, mas Esaú, para Isaque a promessa de Deus que este fizera quando os filhos nasceram era definitiva. Aqui nos vemos diante do princípio divino da fidelidade de Deus. Ele não pode negar a si mesmo (2Tm 2.13). Ele não se arrepende das suas dádivas gratuitas e de seus chamados (Rm 11.29).

Deus educou Jacó, conduzindo-o por caminhos difíceis, mas não retirou suas promessas. Deus não é homem para que se arrependa (Nm 23.19; 1Sm 15.29).

Para Esaú passou a valer a seguinte profecia: “Sua habitação será longe dos lugares férteis da terra, longe do orvalho que cai do alto. Você viverá da sua espada e servirá o seu irmão; quando, porém, você se libertar, sacudirá do seu pescoço o jugo dele” (Gn 27.39-40).

Também sobre o futuro dele foram ditas três coisas: primeiro, que Esaú habitaria num ermo ou deserto (Edom, Jordânia). Segundo, Esaú viveria da espada, mas serviria ao seu irmão. Os edomitas foram de fato um povo guerreiro, embora dominado por Judá. Terceiro, um dia Esaú lançaria fora o jugo de Jacó. Isso se cumpriu na época do rei judeu Jeorão: “Nos dias de Jeorão, os edomitas se revoltaram contra o poder de Judá e constituíram o seu próprio rei... Assim, Edom se rebelou para se livrar do poder de Judá até o dia de hoje” (2Rs 8.20,22a).

As bênçãos de Isaque foram ao mesmo tempo profecias do futuro que se cumpriram literalmente. Isaque creu nessas promessas. Ele confiou plenamente nas promessas de Deus sobre o futuro dos seus filhos.

Sobre a fé de Jacó focada no futuro: “Pela fé, Jacó, quando estava para morrer, abençoou cada um dos filhos de José e, apoiado sobre a extremidade do seu bordão, adorou a Deus” (Hb 11.21).

A atitude de Jacó foi semelhante àquela anterior do seu pai Isaque. Seu filho José tinha dois filhos com sua mulher egípcia Asenate: o primogênito, Manassés, e o segundo, Efraim (Gn 41.50-52). Quando Jacó já estava doente e prestes a morrer, ele abençoou os dois filhos de José, e nesse ato deu preferência a Efraim, o segundo, sobre o primogênito Manassés: “Assim, os abençoou naquele dia, declarando: ‘Por vocês Israel abençoará, dizendo: “Deus faça com você como fez com Efraim e com Manassés”’” (Gn 48.20). Ademais, os dois filhos de José foram com isso elevados à categoria dos outros filhos de Jacó e equiparados a estes (Gn 48.5).

Em seguida, Jacó adorou a Deus apoiado no seu bordão e faleceu. Isso mostra que ele já estava muito debilitado pela idade, mas que sua fé continuava forte. Ele não poupou esforços para adorar a Deus como portador das promessas. Até o fim ele levou uma vida focada em Deus. Estava consciente da presença de Deus e sabia que enunciava profecias divinas. A respeito da peregrinação da sua vida, que durou 147 anos (Gn 47.28), ele só pôde adorar a Deus: o bordão era um símbolo disso. Talvez esse bordão o lembrasse da sua luta com Deus quando este deslocou seu quadril, obrigando desde então Jacó a usar uma bengala para andar. Ele era grato por essa experiência que havia causado uma grande inflexão em sua vida.

“A fé não está focada apenas neste mundo, mas também no futuro, e isso deveria marcar a nossa atuação aqui.”

Arnold Fruchtenbaum explica que tanto a bênção de Isaque como a bênção de Jacó expressaram uma fé focada no futuro. Há muito para aprender disso: a fé não está focada apenas neste mundo, mas também no futuro, e isso deveria marcar a nossa atuação aqui. Podemos crer nas promessas para o futuro ainda pendentes, confiando nelas, baseando-nos nelas e adorar a Deus por isso. Com base nisso, viveremos, serviremos e levaremos uma vida dedicada a Deus (2Tm 4.6-8).

A fé com foco no futuro de José: “Pela fé, José, próximo do seu fim, fez menção do êxodo dos filhos de Israel, bem como deu ordens a respeito de seus próprios ossos” (Hb 11.22).

José tornara-se um grande homem no Egito, mas ele cria nas promessas que Deus dera a Abraão, Isaque e Jacó sobre o futuro de Israel e da terra prometida (Sl 105.8-11). Ele sabia que algum dia o seu povo retornaria a Canaã. Israel haveria de se tornar uma grande nação, possuindo uma terra própria e ser uma bênção para todas as nações por causa do Messias.

“Devemos pensar no futuro e ocupar-nos dele, focando nele e preparando-nos adequadamente.”

A respeito de José, lemos que ele afirmou: “Deus certamente visitará vocês. Quando isso acontecer, levem os meus ossos daqui” (Gn 50.25). “Moisés levou consigo também os ossos de José, pois este havia feito com que os filhos de Israel jurassem solenemente, dizendo: ‘Deus certamente visitará vocês. Quando isso acontecer, levem os meus ossos daqui’” (Êx 13.19). “Os ossos de José, que os filhos de Israel trouxeram do Egito, foram sepultados em Siquém, naquela parte do campo que Jacó havia comprado dos filhos de Hamor, pai de Siquém, por cem peças de prata, e que veio a ser a herança dos filhos de José” (Js 24.32).

Tudo isso são exemplos que podem fortalecer a nossa fé. Devemos pensar no futuro e ocupar-nos dele, focando nele e preparando-nos adequadamente. Ou seja: crer mesmo ainda não enxergando nada, e assim abençoar, trabalhar e viver.

“A fé é uma ave que canta quando a noite ainda está escura” (ditado chinês).

Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Outubro 2023

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