A Resposta de Deus à Arrogância das Nações

O segundo sonho de Nabucodonosor aponta profeticamente para o plano de Deus com as nações nos tempos do fim. Ele mostra que, embora as nações se tornem cada vez mais arrogantes, sua arrogância também acabará.

É espantoso ver até onde o profeta Daniel enxergou o futuro: ele viu a pedra que despedaça as nações para tornar-se um grande monte que preenche tudo (Dn 2) – uma visão referente ao retorno de Jesus em glória. Em Daniel 4.1-15 lemos a respeito de outra visão, um outro sonho que o rei Nabucodonosor da Babilônia teve e que Daniel soube interpretar.

O sonho

Nabucodonosor vivia despreocupado em sua casa, feliz, tranquilo e satisfeito em seu palácio. Contudo, ele teve então novamente um sonho que o assustou muito, além de pensamentos que muito o amedrontaram. Tal como já acontecera com o primeiro sonho (cap. 2), ele inicialmente chamou todos os sábios de Babel a fim de conhecer o significado, e mais uma vez nenhum dos intérpretes de sonhos, videntes, astrólogos ou intérpretes de sinais foi capaz de explicá-lo. Então foi novamente a vez de Daniel. Nabucodonosor disse que Daniel tinha o espírito dos santos deuses, mas chamou-o de “Beltessazar” – o nome de um ídolo. Ele narrou o sonho, apresentando os seguintes elementos:

 – Uma árvore no meio da terra (Dn 4.10). Sua altura era enorme. Era grande e forte. Sua copa atingia o céu e ela era visível da terra inteira. Sua folhagem era espessa, os frutos eram ricos e ela fornecia alimento para todos.

– Animais (Dn 4.12) encontravam sombra e alimento sob a árvore.

– As aves do céu (v. 12) se assentavam nos galhos da árvore.

– O vigilante (v. 13) que subitamente desceu do céu e clamou: “Derrubem a árvore, cortem os seus ramos, arranquem as folhas e espalhem os seus frutos. Espantem os animais que estão debaixo dela e as aves que fazem morada nos seus ramos”.

– A raiz (v. 15) que deveria permanecer presa entre a erva do campo e que seria molhada pelo orvalho do céu. A raiz haveria de ser incluída entre os animais por sete tempos, e se comportaria de modo correspondente.

O sonhador

“Podemos presumir que todos os eventos relatados em conexão com Nabucodonosor tenham algum significado profético para todo o desenvolvimento e o fim do tempo das nações.”

O contexto do livro de Daniel revela a importância de Nabucodonosor ter tido esse sonho. Já lemos muito a respeito dele nos três primeiros capítulos. No primeiro sonho (Dn 2), foi revelado a ele o tempo das nações, que só chegará ao fim quando Cristo retornar: ele é a pedra que se desprende no final. Por isso, podemos presumir que todos os eventos relatados em conexão com Nabucodonosor tenham algum significado profético para todo o desenvolvimento e o fim do tempo das nações.

Afinal, ele é a cabeça dourada da estátua, à qual depois se seguirão império após império (cf. o sonho em Dn 2). A cabeça pensa e dirige. Ou seja, o fluxo de ideias de Babel atravessa todos os impérios. Nabucodonosor é uma imagem ou representação de todo o conjunto de nações em termos da profecia bíblica.

A árvore

A árvore do sonho de Nabucodonosor, grande e forte, no meio da terra, visível de todos os lugares, é uma imagem de arrogância e orgulho (Dn 4.20-22). Ela tinha o amplo domínio até o fim do mundo conhecido até então, mas o seu coração se exaltou: a árvore atingiu o céu.

Com isso estamos diante da noção anticristã central de Babel, cujas noções e ideias se espalham pelo mundo das nações. O centro de tudo é querer divinizar a si mesmo. Naquele local em que se elevara a torre de Babel, que deveria alcançar o céu, Nabucodonosor também se estendeu em sua arrogância até o céu. Assim, o “anti” no termo “Anticristo” também significa “em lugar de”. O homem em lugar de Deus. Esta é a arrogância das nações. Elas se consideram divinas.

“Assim, o ‘anti’ no termo ‘Anticristo’ também significa ‘em lugar de’. O homem em lugar de Deus. Esta é a arrogância das nações.

Contudo, assim como Nabucodonosor teve de reconhecer Deus em toda a sua grandeza, as nações também deverão reconhecer que ele é o Senhor, conforme a Bíblia diz mais de sessenta vezes. Ele é Deus e ninguém mais. É ele que institui e depõe os reis.

A árvore que chega até o céu é uma imagem do império anticristão em que as pessoas se julgam seguras à sua sombra e creem que ele suprirá tudo de que precisam. No sonho, a árvore tinha uma bela folhagem e frutos abundantes para tudo e todos. Nabucodonosor não foi apenas um grande conquistador, mas dirigia um bom sistema administrativo e econômico. A árvore proporcionava prosperidade, dava a todos abrigo, paz, riqueza e o suficiente de tudo, mas também ali se observava a arrogância: o estado se vê como único supridor e alimentador de todos. O ápice desse desenvolvimento totalitário aparece em Apocalipse 13, quando nada mais funciona sem envolver sua marca.

Diante da imagem dessa árvore, é inevitável lembrar da parábola do grão de mostarda em Mateus 13.31-32, que, na minha opinião, apresenta a cópia satânica do reino nos tempos do fim até o retorno de Jesus. Ela descreve o crescimento desordenado no reino durante e após a rejeição de Jesus como rei por seu povo. Ao brotar e crescer rapidamente, a semente de mostarda expressa o rasante predomínio da anomia e o rápido surgimento do reino anticristão nos tempos do fim. O grão de mostarda contrasta com o grão de trigo, que cresce mais lentamente.

Deus semeou um grão de trigo que caiu na terra e morreu, foi despertado e gerou um fruto maravilhoso: Cristo. Satanás imitou isso e semeou o grão de mostarda, que se tornou o império anticristão. Anti: em lugar de. Ao contrário disso, Deus utiliza em Ezequiel 17.22-24 a imagem da árvore para o verdadeiro reino do céu, o reino de Davi. Vemos assim duas árvores representando reinos, com ou sem Deus.

Os animais

A árvore também ofereceu sombra para animais. Na Bíblia, animais, especialmente os animais impuros, simbolizam os povos das nações ou pessoas dessas nações. Em Ezequiel 31.6, por exemplo, lemos a respeito da Assíria, representada por uma árvore: “Todas as aves do céu se aninhavam nos seus galhos, todos os animais do campo davam cria debaixo dos seus ramos, e todos os grandes povos se assentavam à sua sombra”. Aqui os animais do campo são comparados às nações (grandes povos).

Encontrar sombra e alimento debaixo de uma árvore significa prosperidade. Essa imagem é interessante quando pensamos no sistema econômico global descrito no livro de Apocalipse. A questão será então qual será a árvore debaixo da qual buscaremos sombra e alimento. Confiaremos em Deus e em seu suprimento ou depositaremos nossa esperança na economia, na política e nos homens?

As aves

A árvore permitia que as aves se aninhassem e habitassem ali. O que significa isso? Temos uma passagem decisiva para comparação em Apocalipse 18.2: “Então exclamou com potente voz, dizendo: ‘Caiu! Caiu a grande Babilônia! Ela se tornou morada de demônios, refúgio de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo tipo de ave imunda e detestável’”. Ou seja, as aves representam demônios, espíritos imundos e malignos no mundo invisível.

De resto, o que fazem as aves na parábola do semeador? Elas vêm comer a semente da Palavra.

O vigia

Veio então um vigilante – provavelmente um anjo de Deus vindo do céu – e mandou derrubar a árvore. Ele veio do mundo invisível (cf. o conselho dos vigilantes em Dn 4.14). A árvore seria derrubada; Nabucodonosor e seu governo cairiam: há remoção da folhagem, dispersão do alimento, fuga dos animais e aves. Na visão profética, isso significa que se dará um fim abrupto àquela árvore político-religiosa e anticristã – e isso acontecerá quando Jesus retornar.

A raiz

No entanto, a raiz será preservada acorrentada. Daniel explica que o rei será expulso da comunidade humana e contado entre os animais, e que ele se comportará assim por sete tempos. As correntes mostram que ele não manda mais nada e que de modo nenhum ainda será soberano – até que o rei reconheça que Deus exerce a máxima autoridade sobre os reinos humanos, entregando-a a quem ele quiser. Tendo reconhecido isso, receberia de volta o seu reino. Além disso, durante esse período em correntes o orvalho do céu regará a raiz.

Daniel recomendou então ao rei que aceitasse o conselho e abandonasse seus pecados.

O cumprimento

Doze meses depois do sonho, Nabucodonosor foi passear na cobertura do seu palácio (Dn 4.29). Ou seja, por doze meses Deus permitiu que sua arrogância se manifestasse – assim como também hoje a passagem do tempo revela cada vez mais a arrogância das nações, até que se complete e chegue o momento do retorno do glorioso Filho, Jesus Cristo, e do reino messiânico.

Assim se revelou a arrogância de Nabucodonosor depois de Deus ter esperado doze meses: “Não é esta a grande Babilônia que eu construí para a casa real, com o meu grandioso poder e para a glória da minha majestade?” (Dn 4.30).

Babel era de fato grandiosa, com enormes edificações e muros. Nabucodonosor, porém, passou a governar com arrogância. Pilatos também falou em termos arrogantes, com um grande “eu”. Ele afirmou ter autoridade para libertar ou crucificar Jesus. Como, porém, o Senhor reagiu a isso? “O senhor não teria nenhuma autoridade sobre mim se de cima não lhe fosse dada”.

Como julgamos nós as nossas conquistas? Não há nada que não provenha das bondosas mãos de Deus.

Nabucodonosor não tinha sequer terminado seu autoelogio, quando veio uma voz dizendo que seu reino lhe tinha sido tirado. Ele se tornou um animal ao começar a se comportar como tal, comendo capim como um boi no campo, e isso por sete tempos (Dn 4.33). A essa altura, ele também já tinha quase o aspecto de um animal: seus cabelos cresceram como penas de águia e suas unhas como garras de aves.

Assim como naquela ocasião Nabucodonosor foi julgado, também acontecerá com os povos das nações, também por sete tempos. Ou seja, sete anos até o quebrantamento de Nabucodonosor, sete anos até o quebrantamento das nações. Isso corresponde à última semana-ano antes do retorno do Senhor. A grande árvore anticristã é destruída. O fundo do poço será atingido quando, tal como os animais, as nações passarem a olhar apenas para a terra e para longe de Deus.

Parecia que a árvore seria completamente aniquilada, mas a raiz permaneceu – embora acorrentada. É uma imagem do juízo, mas ainda havia o orvalho do céu: Deus é misericordioso e se mantém fiel ao seu plano.

“O objetivo de Deus é o reconhecimento da sua soberania. Acima de tudo, os poderosos e as potências deverão reconhecer isso.”

Nabucodonosor recebeu seu reino de volta depois de elevar seus “olhos ao céu” (Dn 4.34). Essa é uma previsão altamente profética do reino milenar: os povos das nações não serão totalmente aniquilados nos juízos. De algum modo, aprenderão por meio dos juízos a serem justos, voltarão a receber terras e a adquirir poder. Tal como Nabucodonosor, as nações louvarão e exaltarão a Deus, trarão presentes e se admirarão.

O objetivo de Deus é o reconhecimento da sua soberania. Acima de tudo, os poderosos e as potências deverão reconhecer isso. O reconhecimento da soberania de Deus se contrapõe à arrogância das nações. É isso o que proverá o saneamento das relações mundiais. É a base para a renovação da terra. Sem o Renovador não existe renovação.

Além disso, não lemos mais nada de direto sobre Nabucodonosor. Seu reconhecimento do Altíssimo é a última palavra sobre ele. Também isso é uma imagem para o reconhecimento universal de Deus no reino que o Deus dos céus estabelecerá quando a pedra preencher a terra toda como uma montanha – Jesus Cristo.

Philipp Ottenburg estudou teologia na Bibelschule Breckerfeld, Alemanha, e agora trabalha nos setores editorial e de vendas da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Outubro 2023

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