A Carta aos Romanos: Capítulo XVI

No início da carta aos Romanos, Paulo havia dito: “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1.16).

Se meditarmos nessa afirmativa, não há como não concluir que se trata de uma declaração tremenda, porque se ela não se cumprisse, Paulo seria um charlatão, alguém que arrasta as pessoas à desgraça por meio de palavras vazias, nada mais que um impostor. Com isso também o evangelho perderia a validade e teriam razão os escarnecedores e ateus que exigem em alta voz: “Paulo, forneça provas!”.

Paulo afirmara que o evangelho é poderoso para salvar do pecado, da morte e do Diabo, que o evangelho é o poder de Deus para perdoar pecados, buscar os perdidos, encorajar e dar esperança aos desesperados e proporcionar bem-aventurança e vida eternas.

As comprovações de Paulo

Paulo havia afirmado coisas grandiosas! Nesse último capítulo da carta aos Romanos, então, ele trata de comprovar suas afirmativas. Provavelmente não existe nenhuma prova maior e mais bela do que homens transformados. Quando pecadores se tornam santos, filhos das trevas se tornam filhos da luz, escravos de Satanás se tornam filhos de Deus, quando gente desesperada ganha esperança, quando de repente a descendência e cor da pele não importam mais, quando ao perder algum ente querido as pessoas sabem, apesar de toda a tristeza, que haverá um reencontro, isso não é resultado de algum delírio, mas é o poder e o efeito do evangelho.

Somente a mensagem de Jesus Cristo é capaz disso. Somente o poder de Deus pode renovar gente dessa forma.

Primeira prova: uma mulher (v. 1-2)

A primeira pessoa que Paulo menciona é uma mulher, o que naqueles tempos era algo totalmente incomum, já que o testemunho de uma mulher não tinha grande valor. Mulheres não podiam nem testemunhar em juízo, nem decidir sobre sua própria vida. Mesmo assim, Paulo a menciona, o que deixa claro que, diante do evangelho, todos são iguais.

Creio também que Paulo queria destacar que não só a inocência no paraíso se perdeu por meio de uma mulher, mas que uma mulher também é portadora das boas novas do evangelho. Esta é justamente a maravilha do evangelho: ele não se detém no fracasso, mas mantém a saída aberta.

É interessante o que Paulo tem a fizer sobre Febe: “Recomendo-lhes a nossa irmã Febe, que está servindo na igreja de Cencreia” (Rm 16.1).

“O evangelho é o poder de Deus para perdoar pecados, buscar os perdidos, encorajar e dar esperança aos desesperados e proporcionar bem-aventurança e vida eternas.”

Febe é uma serva. O interessante nisso é que Eva, por sua vez, queria dominar. Afinal, ela (e seu marido) queriam ser como Deus, abandonando com isso suas funções. Já Febe está disposta a servir e, com isso, torna-se instrumento de bênção, portadora do evangelho. Somente o evangelho é capaz de algo assim. Somente o evangelho pode transformar pessoas dessa forma, e assim as mulheres se tornam únicas e preciosas.

Segunda prova: um casal (v. 3-4)

Um casal do qual não conhecemos a idade e nem quando e onde vieram a crer em Jesus Cristo como seu Redentor. É provável também que não tivessem filhos, o que permitiu suas numerosas viagens.

Áquila e Priscila foram uma grande bênção para Paulo e todas as igrejas. O Novo Testamento os menciona seis vezes, e sempre num contexto positivo. Seja como trabalhadores dedicados – eram fazedores de tendas profissionais –, seja como companheiros de Paulo ou como conselheiros e mestres do evangelho: em toda parte onde se faziam presentes, serviam com seu conhecimento e estavam dispostos a ajudar e colaborar.

Como hospedeiros de uma igreja doméstica, sua casa estava aberta e estavam dispostos a compartilhar e a abrir mão da sua privacidade.

Também não fugiam de situações difíceis, empenhando sua própria vida por Paulo e pela causa do evangelho.

Suas viagens a favor do evangelho levaram-nos a Roma, Corinto, Éfeso e novamente via Roma de volta a Éfeso. Em toda parte onde apareciam, testemunhavam de Jesus Cristo cheios de zelo, dedicação, fidelidade e fé.

Algo assim somente o evangelho de Jesus Cristo consegue. Só ele é capaz de livrar alguém do egocentrismo para torná-lo servo do evangelho.

Terceira prova: Epêneto (v. 5)

Epêneto é mencionado apenas uma vez na Bíblia, e sua história é extremamente interessante!

Quando Paulo quis em sua segunda viagem missionária visitar também a região em que Epêneto vivia, ele foi impedido “pelo Espírito Santo de pregar a palavra na província da Ásia” (At 16.6).

Desconhecemos os motivos, que no máximo podemos supor. Talvez as pessoas não estivessem dispostas a aceitar o evangelho. Talvez a vida de Paulo e de seus companheiros corresse perigo. Somente na terceira viagem missionária Paulo pôde percorrer essa região e pregar o evangelho também ali, e então Epêneto foi um dos primeiros que se converteram!

A região estava repleta de falsas doutrinas, feitiçaria, idolatria e prostituição cultual. Vemos isso nos objetos que as pessoas incineraram quando vieram a crer em Jesus Cristo: “Também muitos dos que haviam praticado magia, reunindo os seus livros, os queimaram diante de todos. Calculado o valor dos livros, verificaram que chegava a cinquenta mil denários” (At 19.19).

“Infelizmente é assim: onde o evangelho é proclamado claramente, o Diabo também logo se põe a trabalhar.”

Trata-se de uma quantia imensa, correspondendo a um dia de salário de 50 mil trabalhadores. Convertendo isso em valores atuais, seriam cerca de 15 milhões de reais! E um dos primeiros que se converteram, saindo dessa escuridão do pecado, foi Epêneto. É grandioso observar que, mesmo anos depois, Epêneto continuava sendo um fiel seguidor de Jesus. Nem a imoralidade, nem a idolatria, nem seus amigos, nem as obscuras manobras do seu ambiente conseguiram desviá-lo de seguir fielmente sua trajetória com Jesus.

Que testemunho maravilhoso. Só o evangelho é capaz de algo assim, só o evangelho consegue transformar as pessoas dessa maneira.

Quarta prova: uma trabalhadora (v. 6)

Não sabemos muito sobre essa Maria, nem quem ela era nem de onde vinha. Não conhecemos sua condição social e cultural, nem sua profissão e seu estado civil. Contudo, o fato de ela ter podido se dedicar ao apóstolo e a seus companheiros permite supor que ela fosse solteira, porque, se fosse casada, provavelmente não teria encontrado tempo de se dedicar de tal forma à causa de Deus.

Quantas missionárias solteiras fazem o mesmo hoje! As missões mundiais e a diaconia nem seriam imagináveis sem o ministério e a dedicação de mulheres solteiras. Além disso, é provável que ela fosse oriunda das camadas sociais mais pobres, já que estava acostumada a trabalhar. Portanto, sua contribuição para o evangelho não é de natureza financeira, mas de prestação de serviços.

Só o evangelho é capaz de algo assim; só o evangelho consegue transformar as pessoas dessa maneira.

Quinta prova: judeus convertidos (v. 7)

Andrônico e Júnias são cristãos de origem judaica. O evangelho de Jesus Cristo vale tanto para judeus como para gentios.

Ambos são uma prova marcante de que Deus não rejeitou o seu povo. Sim, Andrônico e Júnias são exemplos maravilhosos do poder do evangelho e da graça com Israel, o povo da sua aliança. Não sabemos onde e quando eles vieram a crer em Jesus Cristo, mas é bem possível que tenham estado em Pentecostes entre aqueles que se converteram com a pregação de Pedro. De qualquer modo, já eram crentes há bastante tempo e tinham passado por altos e baixos, haviam crescido na fé com isso e eram aprovados. Mesmo perseguição e prisão por causa do evangelho não conseguiram impedi-los de permanecerem fiéis a Jesus Cristo como seu Messias. Ambos haviam se tornado cristãos maduros, pais na fé e reconhecidos entre os apóstolos.

Só o evangelho é capaz de algo assim, só a graça pode transformar pessoas dessa forma.

Sexta prova: muitas pessoas cuja vida Jesus transformou (v. 8-16)

Por trás de todos esses nomes existem pessoas. Gente com sua própria história, suas próprias circunstâncias de vida e sua própria situação. São escravos e livres, trabalhadores e aristocratas, instruídos e menos instruídos, pobres, mendigos e também pessoas ricas e de posses. Tudo que os reúne e mantém unidos é o evangelho de Jesus Cristo.

Todos eles descobriram que por si sós estão perdidos, incapazes de salvar a si mesmos. Conscientes disso, estão unidos.

Trata-se de saber que só em Jesus Cristo pode ser encontrada a salvação, a experiência do perdão e a maravilhosa esperança da eternidade com ele na luz.

Essa unidade se sustenta por Paulo lhes escrever: “Saúdem uns aos outros com um beijo santo. Todas as igrejas de Cristo mandam saudações” (Rm 16.16).

Esse deve ter sido o sinal identificador entre eles. Ele removia todas as diferenças de classe e deixava claro que em Jesus Cristo todos estavam unidos numa grande família. Assim como Paulo escreve numa outra passagem: “Aqui não pode haver mais grego e judeu, circuncisão e incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre, mas Cristo é tudo e está em todos” (Cl 3.11).

Algo assim só o evangelho consegue: só o evangelho pode transformar pessoas dessa forma.

Últimas recomendações e saudações (v. 17-24)

Antes de Paulo encerrar suas considerações e terminar a carta aos Romanos, ele ainda acrescenta uma última recomendação (Rm 16.17-18). São palavras semelhantes àquelas que ele dirigiu aos presbíteros da igreja de Éfeso ao se despedir: “Eu sei que, depois da minha partida, aparecerão no meio de vocês lobos vorazes, que não pouparão o rebanho” (At 20.29).

Infelizmente é assim: onde o evangelho é proclamado claramente, o Diabo também logo se põe a trabalhar. Por isso é tanto mais importante justamente em nosso tempo permanecermos fiéis ao evangelho claro e eternamente válido.

Com essa recomendação e a séria advertência de permanecerem fiéis às bases da fé cristã tal como foi apresentada na carta ao Romanos, Paulo encerra essa carta. Ao mesmo tempo, ele está cheio de gratidão, especialmente ao se lembrar da igreja em Roma: “Pois a obediência de vocês é conhecida por todos; por isso, me alegro por causa de vocês. Quero que sejam sábios no que diz respeito ao bem e simples no diz respeito ao mal. E o Deus da paz, em breve, esmagará Satanás debaixo dos pés de vocês. A graça de nosso Senhor Jesus esteja com vocês” (Rm 16.19-20).

Uma pergunta final (v. 25-27)

Será que Paulo também estaria cheio de gratidão se olhasse para a nossa vida, porque nos destacamos pela obediência à Palavra de Deus, por amarmos a Palavra de Deus e a aplicarmos em nossa vida, porque se fala de nós num sentido bíblico e espiritual? Será que também sobre a nossa vida paira o maravilhoso encerramento com louvor a Deus?

Que a glória de Deus possa ser uma realidade em sua vida por meio do nosso Senhor Jesus Cristo, e ricas bênçãos para você, para o louvor do seu nome!

Que Deus nos abençoe!

Samuel Rindlisbacher é ancião da igreja da Chamada na Suíça e foi fundamental no desenvolvimento do grande ministério de jovens dela.

sumário Revista Chamada Agosto 2023

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