“O Ocidente não deve tratar os palestinos como crianças”

Gilad Erdan, um político e diplomata israelense que desde 2020 é representante permanente de Israel nas Nações Unidas, integrou também por algum tempo o tão importante gabinete de segurança em Israel. Alguns anos atrás ele publicou o comentário a seguir, que até hoje não perdeu nada de sua veracidade.

“O Ocidente parece estar perdendo a paciência com o conflito árabe-israelense. Alguns procuram atalhos, como por exemplo os certamente bem-intencionados membros do parlamento britânico. Agora a Suécia reconheceu a Palestina como Estado – uma decisão pouco construtiva que prejudica o processo de pacificação mais do que o promove. Muitos ocidentais cultivam ao extremo uma retórica crítica contra Israel, e infelizmente apenas contra Israel.

“Esse foco unilateral é compreensível, porque Israel é, com razão, considerado parte do Ocidente (o que também corresponde à sua autopercepção), o único ‘adulto responsável’ na região. Já os palestinos são vistos como crianças inocentes e incapazes, simultaneamente vítimas e herdeiros da tradição árabe de irresponsabilidade política.

“No entanto, tratar os palestinos como crianças é o caminho mais seguro para prolongar o conflito em vez de acabar com ele. Para que em algum momento possa haver uma paz autêntica entre israelenses e palestinos, ambos os lados precisam se sujeitar a difíceis conciliações. O premiê israelense Benjamin Netanyahu tem insistido repetida e expressamente nessa singela verdade, tendo empreendido passos para realizar o objetivo dele e do seu povo quanto a uma paz negociada com os palestinos. A esses passos, que incluem uma moratória de colonização na Cisjordânia, o Ocidente tem usualmente respondido com exigências de ainda mais concessões e disposição ao risco por parte de Israel.

“Ninguém exige a sério concessões dos palestinos, porque, como ‘crianças’, espera-se pouco deles e também não se cobra responsabilidade por seus erros. Se, por exemplo, a Autoridade Nacional Palestina (ANP) celebra uma aliança com extremistas que rejeitam o direito de existência de Israel, dizem-nos que, afinal, a liderança palestina é fraca e faz aquilo para se legitimar internamente. Quando os líderes da ANP exigem um ‘direito ao retorno’ dos refugiados em clara contradição com a paz negociada, o Ocidente se recusa a confrontá-los com o fato de que essa fantasia maximalista permanecerá como tal. Quando a ANP transforma terroristas oficialmente em heróis nacionais, dizem-nos que não deveríamos solapar a narrativa deles.

“Se o Ocidente continuar a tratar os palestinos como crianças e simplesmente deixar passar esses e outros temas, por que, afinal, eles se esforçariam para se tornar adultos?

“A intranquilidade ocidental que se expressa tão-somente em pressão sobre Israel valoriza ainda mais a infantil teimosia palestina. Se os palestinos já ganham seu ‘estado’ reconhecido pelas Nações Unidas, a Grã-Bretanha ou a Suécia, sem precisarem contemporizar ou sequer negociar, que estímulo terão então para a pacificação? O reconhecimento de um estado palestino sem negociações e iniciativas palestinas unilaterais na arena internacional não acabarão com o conflito, mas prepararão o palco para seu prosseguimento e até sua escalação. Em vez de criar um estado palestino, essa tática levará a mais gestos teatrais e sem conteúdo que não aproximarão o povo palestino de um estado autêntico.

“Os países ocidentais que desejarem uma paz verdadeira entre israelenses e palestinos precisam decidir se vão continuar a tratar os palestinos como crianças, prolongando o conflito, ou podem assumir um papel construtivo para sua solução, exigindo que os palestinos assumam responsabilidade por seus atos como gente grande. Isso significa, entre outras coisas, que o extremismo deixe de ser recompensado e que não existe alternativa para negociações diretas sobre todos os temas importantes – inclusive assentamentos, fronteiras e segurança.

“O Ocidente deveria fazer sua generosa ajuda e seu apoio diplomático aos palestinos depender da disposição palestina por negociações e compromissos sérios. Outras condições incluiriam uma inequívoca rejeição à violência e o reconhecimento de Israel como estado nacional do povo judeu. Essas são as premissas fundamentais para uma paz segura e permanente. Uma diplomacia reduzida e míope não proporcionará isso”.

Antje Naujoks dedicou sua vida para ajudar os sobreviventes do Holocausto. Já trabalhou no Memorial Yad Vashem e na Universidade Hebraica de Jerusalém.

sumário Revista Chamada Julho 2023

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