O mais bem-guardado segredo do judaísmo

O que torna Isaías 53 tão controverso no judaísmo religioso?

No século XVIII, o erudito judeu Rafael Levi admitiu que há muito tempo os rabinos eliminaram uma determinada passagem da leitura bíblica pública na sinagoga, por ela ter causado “muito conflito e grande confusão”. Trata-se do capítulo 53 do profeta Isaías. Por isso hoje é usual nas leituras públicas nas sinagogas que, ao se chegar a Isaías 52, esse capítulo é interrompido na metade e, na semana seguinte, passa-se diretamente para Isaías 54.

Por quê? O que torna Isaías 53 tão controverso no judaísmo religioso?

O anúncio de um Messias sofredor

Ao término do capítulo 52, Isaías faz uma introdução do capítulo 53. Ele diz: “Eis que o meu Servo procederá com prudência; será exaltado e elevado, e será mui sublime” (v 13).

Esse “Servo” significa o Ungido, o Messias que Israel aguardava na ocasião. Ele é o “Servo do Senhor” cuja vinda já fora anunciada em outras passagens do livro – p. ex. nos capítulos 42, 49 e 50, em que o Messias é descrito como servo sofredor. Os feitos desse Servo, que será “elevado” e “mui sublime”, lhe confeririam um status superior ao de qualquer outro rei ou soberano da terra. Segundo Isaías, porém, antes dessa exaltação o Messias sofreria e seria humilhado. Seu corpo seria maltratado e torturado até ser totalmente deformado e tornar-se irreconhecível:

“Como muitos pasmaram à vista dele – pois o seu aspecto estava tão desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a sua aparência, mais do que a dos outros filhos dos homens –, assim causará admiração às nações, e os reis fecharão a sua boca por causa dele. Porque verão aquilo que não lhes foi anunciado, e entenderão aquilo que não tinham ouvido” (v. 14-15).

E ainda assim, apesar desse terrível sofrimento, chegaria o dia em que até reis o contemplariam com reverência.

Os sofrimentos do Messias

Com isso fica armado o palco para o controvertido capítulo 53. Isaías começa com uma pergunta que expressa a falta de fé do povo de Israel: “Quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor?” (v. 1).

Com “o braço do Senhor”, Isaías refere-se ao Messias, que assim é designado como parte do próprio Deus. Já antes, no capítulo 40, Isaías explicou que o “braço do Senhor” reinaria por Deus. E segundo Isaías 51, os não judeus depositariam sua confiança nesse “braço do Senhor”, e este os redimiria. No capítulo 52, o “braço do Senhor” é quem traz a salvação, e no capítulo 53 Isaías passa a escrever sobre ele:

“Porque foi subindo como um renovo diante dele e como raiz de uma terra seca. Não tinha boa aparência nem formosura; olhamos para ele, mas não havia nenhuma beleza que nos agradasse” (v. 2).

Ele chegou a um ambiente espiritualmente seco. Ele não foi atraente para o seu povo. Sua aparência não era nem muito magnífica ou impressionante. Ao contrário daquilo que a Halacá rabínica ensina hoje, segundo essa profecia o Messias não nasceria numa família rabínica ilustre nem se criaria nas nobres residências de rabinos bem situados. A imagem externa do Messias não teria nada de extraordinário.

“Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores e que sabe o que é padecer. E, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso” (v. 3).

A vida do Messias foi marcada por dor, rejeição e sofrimento. Não lhe concederam a honra que cabia ao Messias, mas ele foi desprezado e rejeitado pelos líderes do seu povo. Ele foi um marginal da sociedade, alguém de quem desviaríamos o olhar se passássemos por ele na rua.

“Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o considerávamos como aflito, ferido de Deus e oprimido” (v. 4).

O Messias sofreu em nosso lugar. Ele suportou as nossas enfermidades, nossas aflições, nossas dores... Enquanto isso, seu povo pensava que ele fora punido e que seu sofrimento era o castigo de Deus pelos pecados dele. Ninguém entendeu que aquilo acontecia por causa dos nossos pecados:

“Mas ele foi traspassado por causa das nossas transgressões e esmagado por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos sarados” (v. 5).

Ele foi “perfurado” por causa das nossas injustiças, dos nossos pecados, conforme consta literalmente no hebraico. O castigo que nós merecíamos caiu sobre ele. Suas feridas, os golpes que sofreu, nos curariam.

“Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu próprio caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós” (v. 6).

Todos nós o ignoramos e seguimos pelos nossos próprios caminhos, mas mesmo assim Deus lançou todo o nosso pecado e nossos erros sobre ele – sobre o Messias.

“Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca. Como cordeiro foi levado ao matadouro e, como ovelha muda diante dos seus tosquiadores, ele não abriu a boca” (v. 7).

Sua dignidade e seu direito a um processo justo lhe foram negados. Ele foi torturado, mas não abriu sua boca. Ou seja, ele não reagiu à sentença injusta. Não tentou rebelar-se ou fugir. Não recorreu a assistência jurídica, embora estivesse ameaçado com a pena capital, mas foi levado como uma ovelha ao matadouro, sem reagir às injustiças que lhe impuseram.

“Pela opressão e pelo juízo, ele foi levado, e de sua linhagem, quem se preocupou com ela? Porque ele foi cortado da terra dos viventes; foi ferido por causa da transgressão do meu povo” (v. 8).

Ele foi preso e julgado. Como resultado do processo, ele foi “cortado da terra dos viventes” – a pena capital –, não por seus próprios crimes, mas pelos do seu povo.

Na Bíblia judaica, “meu povo” sempre significa o povo de Israel. O Messias não morreria pelos seus próprios pecados, mas pelos do seu povo. Ele é aquele que morreu.

Esse Messias é há dois mil anos o segredo mais bem guardado no judaísmo, e muitos prefeririam hoje varrer sua existência para baixo do tapete. Por isso, alguns também o chamam de Yeshu, o que significa algo como “sejam extintos o seu nome e sua memória”. Outros, porém, conhecem-no como Yeshua, o Messias – como Jesus Cristo. Ele cumpriu tudo aquilo que Isaías profetizou.

A obra redentora do Messias

“Designaram-lhe a sepultura com os ímpios, mas com o rico esteve na sua morte, embora não tivesse feito injustiça, e nenhum engano fosse encontrado em sua boca” (v. 9).

Os Manuscritos do Mar Morto estão no Santuário do Livro, em Jerusalém. Eles foram descobertos em 1947-56 ao redor de Qumran. O pergaminho de Isaías é o mais preservado e tem 7,34m  “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu próprio caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós.” (Is 53.6)

Embora ele tivesse de ser executado como um criminoso, ainda que não tivesse cometido nenhuma injustiça e nunca tivesse mentido, na sua morte ele seria sepultado no túmulo de um homem rico. Jesus foi morto na cruz e sepultado no túmulo de um homem rico chamado José de Arimateia, um dos membros do Sinédrio judeu, o que é um nítido símbolo para a ironia da situação: em sua morte, o Messias é homenageado pelo mais nobre dos seus feitos, quando ele tomou sobre si a pena capital que nós merecemos.

“Todavia, ao Senhor agradou esmagá-lo, fazendo-o sofrer. Quando ele der a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos” (v. 10).

Quem foi responsável pela morte do Messias? “Os judeus” (como tantos cristãos acusaram no passado)? Talvez os romanos? Afinal, foram eles que efetivamente o pregaram na cruz. Não.

Ao Senhor, ao próprio Deus, “agradou esmagá-lo”. Deus é o único capaz de perdoar o mundo e trazer-lhe a redenção. Ele (o “braço do Senhor”) sacrificou a si mesmo. Que sacrifício foi esse? Uma oferta pela culpa. A morte do Messias não foi casual. Deus empregou o seu próprio povo como sacerdote para efetivar o perdão dos pecados não só para Israel, mas para toda a humanidade. Em contraste com a oferta da grande festa anual de reconciliação, o Yom Kippur, cuja validade ia só até o ano seguinte e apenas “cobria” o pecado, o sacrifício expiatório do Messias removeu o nosso pecado de uma vez por todas! Nenhum de nós, seres humanos, é perfeito; não temos condições de apresentar a Deus uma oferta perfeita. Só o próprio Deus podia fazer isso.

A isso se segue uma declaração muito interessante: “Verá a sua posteridade e prolongará os seus dias”. Isso não significa nada menos do que sua ressurreição dos mortos! E o que vem a ser a “posteridade” que ele “veria”?

“Ele verá o fruto do trabalho de sua alma e ficará satisfeito. O meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si” (v. 11).

Muitos serão justificados pelo sofrimento que ele suportou. Esse é o seu prazer e satisfação. Todos que o reconhecerem como Messias serão sua “posteridade” em sentido espiritual.

“Por isso, eu lhe darei a sua parte com os grandes, e com os poderosos ele repartirá o despojo, pois derramou a sua alma na morte e foi contado com os transgressores. Contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu” (v. 12).

O Messias foi aquele que nos defendeu, um intercessor por nós pecadores diante de um Deus santo. O Messias tomou sobre si o pecado de todos os que nele cressem. Deus não está interessado apenas no perdão expresso em palavras, mas também em atos. Por isso ele assumiu a forma de servo e tomou sobre si a pena que cabia a nós.

Isaías 53 no judaísmo antigo

É importante compreender que não se trata aqui apenas de uma interpretação cristã – também os sábios judeus da antiguidade sempre interpretaram Isaías 53 como um discurso a respeito do Messias.

Hoje os rabinos não querem admitir que Yeshua possa ter sido o Messias que foi rejeitado, sofreu e morreu. Hoje os rabinos não querem admitir que Yeshua possa ter sido o Messias que foi rejeitado, sofreu e morreu.

Na antiga tradução judia de Jonatã ben Uzziel (Targum Jonatã), do primeiro século, essa passagem é introduzida com as palavras: “O servo ungido”. Ou seja, ben Uzziel vinculava o capítulo ao Messias, o Ungido.

O rabino Isaac Abravanel disse séculos atrás: “A interpretação de Jonatã ben Uzziel, dizendo que se tratava do Messias que viria, era também a opinião dos sábios (de bendita memória), conforme podemos verificar nos seus comentários”.

O livro de Zohar reconhece o princípio vicário segundo o qual viria um Messias sofredor para suportar os sofrimentos que outros mereciam por seus pecados. Sobre “certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades”, o livro de Zohar diz: “No Jardim do Éden existe um palácio chamado de Palácio dos Filhos da Enfermidade. O Messias adentra esse palácio e convoca toda dor e toda tortura de Israel: todas vêm e repousam sobre ele. E se ele não as tivesse removido dessa forma de Israel, tomando-as sobre si, ninguém teria podido suportar o sofrimento de Israel decorrente da transgressão da lei”.

O Midrash Konen atribui ao profeta Elias as seguintes palavras ao discutir Isaías 53: “Assim diz o Messias: Suporta os sofrimentos e a sentença do teu Mestre que te faz sofrer por causa do pecado de Israel, porque está escrito: ‘Ele foi traspassado por causa das nossas transgressões e esmagado por causa das nossas iniquidades’ até os tempos do fim”.

O Tratado Sinédrio do Talmude Babilônico (98b) diz sobre o nome do Messias: “Seu nome é ‘o leproso’ porque está escrito: ‘Ele suportou as nossas dores e levou consigo os nossos sofrimentos. Todavia, nós o consideramos como leproso, açoitado e torturado por Deus’”.

O Midrash Tanhuma diz: “Rabi Nachman diz que isso não se refere a ninguém outro além do Messias, o Filho de Davi, do qual se diz que ele é um homem chamado de ‘a planta’, e Jonatã traduziu aqui de um modo que significa o Messias, e o correto será: ‘Homem de dores, familiarizado com tristeza’”.

O Midrash Shumel diz sobre Isaías 53: “O sofrimento foi dividido em três partes: uma para a geração dos patriarcas, uma para a geração de Shmad e uma para o Rei Messias”.

Nas orações para o Yom Kippur, Isaías 53 também é atribuído ao Messias. No século VII, o rabi Eliezer introduziu a seguinte oração para o Yom Kippur: “Nosso justo Messias se afastou de nós, agimos tolamente e não existe ninguém que nos justifique. Ele suporta a nossa culpa e o jugo das nossas transgressões e é traspassado por nossas transgressões. Ele suporta nossos pecados em seus ombros a fim de encontrar perdão para os nossos malfeitos. Por suas feridas somos curados”.

Quanto mais profundamente penetrarmos nessa oração para o Yom Kippur, tanto mais significativa ela se torna. A oração passa a impressão de que o Messias abandonou o seu povo. “Nosso justo Messias se afastou de nós”. Isso significa que o Messias já chegou e voltou a se retirar. Além disso, o Messias sofreu em lugar do povo; os pecados do povo foram lançados sobre ele. Ou seja: depois que o Messias sofreu, ele abandonou o seu povo. Por isso o povo clama por seu retorno. Grande parte dessa oração foi extraída diretamente de Isaías 53, com o que podemos provar que até o século VII o judaísmo ainda mantinha a opinião – inclusive entre os rabinos – de que Isaías 53 se refere ao Messias.

Em Gênesis Rabbah, o rabino Mosche haDarschan diz que Deus capacitou o Messias a salvar almas, mas que ele também sofreria muito por causa disso. Também Maimônides aplica Isaías 53 ao Messias em sua carta ao Iêmen. O rabino Shimon bar Yochai escreve: “E o Messias de Efraim morreu ali e Israel está de luto por ele, conforme está escrito: ‘Ele foi desprezado e rejeitado pelos homens’ e ele se retrai e se oculta, porque se diz que ‘escondemos a nossa face diante dele’”.

Também no tratado Sotah 14, no Midrash Rabbah Parasha 5, no Midrash Tanhuma, no Midrash Konen, em Yalkut Shimoni e, na verdade, em todo o Talmude, o capítulo sempre é aplicado ao Messias, assim como todos os rabinos fizeram até cerca de mil anos atrás. Todos eram unânimes em que Isaías 53 profetiza o Messias.

Isaías 53 na Idade Média

Na França do século XI, em que judeus e cristãos conviviam, viveu também Rashi, famoso comentarista da Bíblia hebraica. Amigos cristãos e vizinhos de Rashi tentaram convencê-lo de que as profecias bíblicas apontavam para Yeshua. É claro que, além de outras profecias, eles também lhe apresentaram Isaías 53. Como a profecia era tão clara e inequívoca, ele não teve escolha e, se não quisesse admitir que Yeshua era o Messias, teria de tentar reinterpretar a profecia de tal modo que ela não se aplicasse mais ao Messias, mas ao povo de Israel. Assim, Rashi afirmava que o servo sofredor era uma metáfora para o povo de Israel que sofria sob as mãos dos não judeus.

Muitos diferentes rabinos – Saadia Gaon, Naphtali Ben Asher e Moisés Alshich – opuseram-se à nova interpretação de Rashi e exigiram que os sábios de Israel o ignorassem e retornassem à interpretação original. O mais famoso entre eles foi Maimônides, que declarou categoricamente que Rashi estava completamente errado.

Mesmo assim, hoje os rabinos aceitam a exegese de Rashi. Também eles não querem admitir que Yeshua possa ter sido o Messias que – tal como Isaías profetiza – foi rejeitado, sofreu e morreu.

Um bom exemplo vem do rabino Haim Rettig, que escreve: “Seria possível que algum cristão em algum lugar do mundo se encaixasse na descrição do Servo do Senhor que é conduzido ao matadouro como uma ovelha? Não é possível que o profeta Isaías tenha predito antes um evento cristão do que um judeu. A profecia de Isaías fala do povo de Israel através de todas as gerações. O próprio Israel fez de si mesmo a ovelha inocente”.

Que ironia! Embora os rabinos tivessem distorcido o nome de Yeshua em “Yeshu, o cristão”, a alteração do seu nome não fez dele um cristão. Yeshua era verdadeiro judeu, da linhagem de Davi, e viveu em Israel.

Poderíamos realmente dizer, como afirma o rabino Rettig, que a profecia em Isaías se refere a Israel, que se entregou como cordeiro inocente? O cordeiro inocente é uma definição bíblica para alguém isento de pecado, irrepreensível e impoluto, que nunca faz nada de mau e nunca pecaria, mas que é perfeito, puro e imaculado pelo pecado. Seria essa descrição mesmo aplicável a Israel? Basta abrir o jornal ou ouvir o noticiário para obter uma resposta.

E como estamos falando do profeta Isaías, deixemos que ele mesmo responda a essa pergunta. Observe suas palavras dirigidas ao povo de Israel apenas seis capítulos depois: “Porque as mãos de vocês estão manchadas de sangue, e os seus dedos, de iniquidade; os lábios de vocês falam mentiras, e a sua língua profere maldade. Não há ninguém que clame pela justiça, ninguém que compareça em juízo pela verdade; confiam no que é nulo e andam falando mentiras; concebem o mal e dão à luz a iniquidade” (Is 59.3-4).

Uma coisa é certa: para Isaías, Israel não era um “cordeiro inocente”!

Por que Isaías 53 realmente se refere ao Messias

“o Deus que nos ama fez por nós o que jamais poderíamos ter feito por nós mesmos.” “o Deus que nos ama fez por nós o que jamais poderíamos ter feito por nós mesmos.”

O Servo de Deus sofredor é, sem exceção, apresentado como pessoa individual e não como um plural ou um nome coletivo para um grupo étnico. O versículo 8 de Isaías 53 diz: “Foi ferido por causa da transgressão do meu povo”. A que povo pertencia Isaías? Naturalmente ao povo de Israel. Portanto, “meu povo” só pode referir-se ao povo de Israel. Por isso, é impossível que Israel seja o Servo sofredor do Senhor. Se o povo de Israel fosse aqui o Servo do Senhor, quem seria então “meu povo”?

Além disso, o Servo do Senhor sofre voluntariamente, submisso e sem contestação. O povo de Israel nunca sofreu voluntariamente! Segundo a Torá, o sofrimento de Israel foi consequência do pecado e não da sua justiça, enquanto o Servo do Senhor sofreu como justo e não porque tivesse pecado. O Servo do Senhor era inocente, mas, segundo a Torá, o povo de Israel sempre foi punido e sofreu por causa do seu pecado – assim, os não judeus não recebiam cura da parte de Deus porque o povo judeu era perseguido.

O Servo do Senhor sofreu em nosso lugar como oferta pelo nosso pecado. Já o povo de Israel não sofreu em favor dos não judeus, mas por causa da sua malignidade.

O Servo do Senhor ressuscitou dos mortos, mas o povo de Israel nunca foi totalmente “cortado” da vida e, assim, também não poderia “ressuscitar” dos mortos.

Resumindo: cometemos injustiça e o Messias foi punido. Pecamos e ele sofreu. Merecemos a morte, e ele foi crucificado em nosso lugar. Um Deus perfeito assumiu a forma de um servo para se revelar a nós como um de nós. Ele permitiu que o humilhássemos, rejeitássemos e torturássemos até a morte a fim de tomar sobre si os nossos pecados. Portanto, cabe também a nós sofrer em favor de outros que pecam contra nós. Se Deus, que é perfeito, pode perdoar a nós, que somos imperfeitos, quanto mais não deveríamos nós perdoar uns aos outros? Esse é o mais bem-guardado segredo do judaísmo e a maravilhosa mensagem do Servo de Deus: “o Deus que nos ama fez por nós o que jamais poderíamos ter feito por nós mesmos”.

Publicado com autorização de oneforisrael.org

 

sumário Revista Chamada Junho 2023

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