Haifa, junho de 2023

Os intermináveis protestos e manifestações em Israel mostram que o país enfrenta uma séria crise política interna. O que há por trás dessa crise?

Ao analisar algo, uma retrospectiva sempre é útil. O Estado de Israel celebra neste ano seu jubileu de 75 anos. Quem fundou o Estado? Foram os socialistas e comunistas judeus. Eles dirigiram o destino do país por quase trinta anos, até que, em 1977, o Likud chegou ao poder sob Menachem Begin.

David Ben-Gurion e a maioria dos fundadores do Estado não eram judeus religiosos. Ben-Gurion e muitos outros com ele não criam mais na vinda de um Messias, mas na chegada de uma era messiânica que Israel criaria por meio de educação, ciência e progresso, não só para si mesmo, mas para o mundo inteiro. Com isso, reinam em Israel duas cosmovisões mutuamente contraditórias: por um lado, a religiosa e, por outro, a mais secularizada, dividindo-se assim o povo em duas alas. No entanto, desde a fundação do Estado, os judeus religiosos se tornaram muito mais numerosos, enquanto os mais seculares diminuíram em número.

Há alguns anos, decidiu-se no parlamento que o caráter do Estado seria judeu. Isso aborreceu os drusos e outros não judeus leais ao Estado e engajados no exército. Então a questão é se, por exemplo, árabes e outros não judeus poderão cantar com convicção o hino nacional israelense, que é declaradamente judeu.

Aquilo que está em andamento em Israel poderia de fato enfraquecer seriamente o Estado de dentro para fora.

Como está a expectativa dos judeus religiosos quanto ao Messias? Também aí temos de dizer que, na verdade, eles estão desorientados. Os seguidores do rabino de Lubavitch, que faleceu há mais de vinte anos, creem que ele era o Messias e que retornará. Algo semelhante creem os seguidores do rabi Nachman de Uman, que morreu há mais de duzentos anos.

Há que se dizer que no judaísmo religioso não existe uma expectativa messiânica uniforme. No entanto, eles estão unânimes em que o Messias será um homem como qualquer outro. No entanto, ele precisará satisfazer três condições: primeiro, ele terá de levar o povo de Israel de volta à sua terra. Segundo, ele terá de trazer paz. Terceiro, ele precisa reconstruir o templo.

A primeira condição podemos considerar como cumprida. Para a segunda há esforços em andamento. Sob esse prisma podemos considerar o chamado “Tratado Abraão” com os países do Golfo e outros estados árabes. A terceira condição é um pouco mais difícil.

Durante as recentes manifestações a favor do governo, os manifestantes cantavam: “Bibi, rei de Israel e Messias de Israel”. A oposição contesta energicamente esse perigoso messianismo. Ela receia – provavelmente com razão – que isso acabará em catástrofe.

Se compararmos a atual esperança messiânica com a esperança messiânica bíblica, constataremos que faz tempo que as diretrizes no judaísmo estão orientadas erradamente, uma vez que, ao longo da história, já apareceram numerosos falsos messias, o que certamente também é um motivo para muitos israelenses rejeitarem os atuais desdobramentos. Quando algo parece impossível, os judeus gostam de dizer que “isso terá de esperar até que venha o Messias”. Em meio às atuais controvérsias, isso certamente seria a melhor atitude.

Em meio à expectativa pelo verdadeiro Messias, saúdo a todos cordialmente com Shalom, Fredi Winkler.

Fredi Winkler é guia turístico em Israel e dirige, junto com a esposa, o Hotel Beth-Shalom, em Haifa, que é vinculado à missão da Chamada.

sumário Revista Chamada Junho 2023

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