A Liberdade diante da Lei e as Obras da Carne

Em Gálatas 4, Paulo apresenta algumas imagens relativas ao contraste entre lei e graça. Eis o que ele escreve.

1. A lei gera dureza; a graça, felicidade

“O que aconteceu com a felicidade que vocês tinham? Porque posso dar testemunho de que, se fosse possível, vocês teriam arrancado os próprios olhos para me dar! Será que, por dizer a verdade, me tornei inimigo de vocês?” (Gl 4.15-16).

Os gálatas haviam sido seduzidos de tal forma pelos judaístas, que se alteraram negativamente. Anteriormente, eles teriam feito qualquer coisa a favor de Paulo; agora agiam como inimigos.

2. Os dois filhos de Abraão

“Digam-me vocês, os que querem estar sob a lei: será que vocês não ouvem o que a lei diz? Pois está escrito que Abraão teve dois filhos: um da mulher escrava e outro da mulher livre” (Gl 4.21-22).

O filho da escrava Agar prefigura a aliança no Sinai (a aliança da lei), que gera escravidão. Isaque, o filho de Sara, prefigura a liberdade pela fé (a aliança de Abraão).

3. As duas Jerusaléns

“Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus filhos” (Gl 4.25).

Israel e Jerusalém, incluindo o templo e o ministério sacerdotal, representam a lei e a escravidão. A Jerusalém celestial, por sua vez, é livre – e nós não pertencemos ao que é da terra, mas do céu.

“Mas a Jerusalém lá de cima é livre e ela é a nossa mãe” (Gl 4.26).

4. A perseguição

“Como, porém, no passado, aquele que nasceu segundo a carne perseguia o que nasceu segundo o Espírito, assim também acontece agora. Mas o que diz a Escritura? Ela diz: ‘Mande embora a escrava e seu filho, porque de modo nenhum o filho da escrava será herdeiro com o filho da mulher livre’. Portanto, irmãos, somos filhos não da escrava, mas da livre’” (Gl 4.29-31).

Anteriormente, também Paulo, o “zeloso pela lei”, perseguia a igreja de Jesus, cujos membros nasceram segundo o Espírito (renasceram). Então ele se converteu, considerou tudo aquilo como perda e passou a ter somente Jesus diante dos olhos.

A lei moral de Deus

A lei moral de Deus tem validade permanente, mas ela não se baseia mais na aliança com Moisés, e sim na nova aliança que Jesus instituiu. Assim, Paulo nunca viveu sem lei – ele apresentou mais ordens e instruções do que qualquer outro no Novo Testamento. Só em Romanos 12.9-21 encontramos trinta ordens. As cartas pastorais estão cheias de mandamentos e instruções para a igreja. A base, porém, é sempre a nova aliança. Esse é o fundamento no qual nos baseamos.

É marcante que Paulo nunca insistiu no cumprimento dos mandamentos da antiga aliança, mas nos da nova aliança, que contém vários elementos da aliança antiga. Parece existir uma exceção, mas também esta precisa ser observada com precisão. Na carta aos Efésios, lemos: “Filhos, obedeçam a seus pais no Senhor, pois isto é justo. ‘Honre o seu pai e a sua mãe’, que é o primeiro mandamento com promessa” (Ef 6.1-2).

Ali Paulo não cita a lei, o que ele poderia ter feito sem observações adicionais se os cristãos ainda vivessem sob a aliança antiga. No entanto, foi exatamente isso o que ele não fez – ele deu sua própria instrução de obedecer aos pais: “Filhos, obedeçam a seus pais no Senhor, pois isto é justo”. Em seguida, ele lançou mão de uma referência à lei para enfatizar a importância dessa instrução: era o primeiro mandamento com promessa.

Além disso, muitas coisas já tinham sempre sido ordenadas ou eram pecado, seja antes da época da lei, ou depois, sob a nova aliança. Mentir sempre foi e permanece sendo errado, assim como o furto, a idolatria, a ganância, a prostituição etc.

As obras da carne

“Estarmos livres da lei do Sinai não representa de forma alguma liberdade para um procedimento superfi cial, sem compromisso e pecador.”

A carta aos Gálatas é uma declaração de guerra aos representantes da lei, mas é justamente nessa carta que Paulo escreve que “se são guiados pelo Espírito, vocês não estão debaixo da lei. Ora, as obras da carne são conhecidas e são: imoralidade sexual, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçarias, inimizades, rixas, ciúmes, iras, discórdias, divisões, facções, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas. Declaro a vocês, como antes já os preveni, que os que praticam tais coisas não herdarão o Reino de Deus” (Gl 5.18-21).

Ainda que não estejamos debaixo da lei, as obras da carne são extremamente malignas. Estarmos livres da lei do Sinai não representa de forma alguma liberdade para um procedimento superficial, sem compromisso e pecador. Não se trata de usar a liberdade para encobrir o pecado (1Pe 2.16), mas temos de estar conscientes da obrigação de cumprir as exigências de Deus sob a nova aliança.

O Novo Testamento ensina:

– a levar uma vida no Espírito com o fruto do Espírito e a crucificar a carne, as paixões e as ambições (Rm 12; Gl 5.22-25);

– a se empenhar em ter a “mente de Cristo” (1Co 2.14-16);

– a sermos imitadores de Cristo ou de Deus (1Co 11.1; 1Ts 1.6; Ef 5.1-2);

– a ter a mesma índole que Cristo (Fp 2.5);

– a se conscientizar de que somos um só espírito com o Senhor porque pertencemos a ele (1Co 6.13-17);

– a estarmos em Cristo e Cristo em nós (Ef 2.13; 3.17; Cl 1.27);

– que devemos santificar Cristo em nosso coração (1Pe 3.15);

– que somos chamados à comunhão com o Filho de Deus (1Co 1.9);

– que devemos buscar o que está no alto, onde Cristo está (Cl 3.1);

– que todo aquele que tem esperança em Cristo e em sua vinda purifica a si mesmo como ele é puro (1Jo 3.3);

– que somos chamados a levar uma vida que glorifique o Senhor Jesus (2Co 8.23; 2Ts 1.12).

O conhecimento dessas verdades nos guardará de levar uma vida profana, carnal e pecadora e nos encoraja a trilhar o caminho da santificação pessoal.

Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Junho 2023

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