O passado e o futuro de Israel

Qual é a explicação para os dois retornos de Israel à sua terra? Qual é a importância disso para a minha vida? Israel ainda é importante nos planos de Deus? Jerusalém Oriental não deveria pertencer aos árabes?

Deus, o Senhor, falou através do profeta Isaías: “Lembrem-se das coisas passadas, das coisas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro; eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim. Desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade revelo as coisas que ainda não sucederam. Eu digo: o meu conselho permanecerá em pé, e farei toda a minha vontade. Chamo uma ave de rapina desde o Oriente; de uma terra longínqua vem o homem do meu conselho. Eu o disse e também o cumprirei; fiz este plano, também o executarei. Escutem...” (Is 46.9-12). Essa declaração de Deus cumpriu-se integralmente na história de Israel. Isso nos leva a crer que as promessas que ainda não se concretizaram também se cumprirão integralmente. Portanto, temos boas razões para ouvir a Deus!

Por Israel ter sido desobediente, Deus lhes mandou dizer, através dos profetas, que Jerusalém seria tomada pelos babilônios, que o templo seria destruído e que o povo seria levado ao cativeiro babilônico. Moisés já havia predito esses eventos em uma época em que Israel ainda nem se encontrava na terra prometida.

“Os seus filhos e as suas filhas serão entregues a outro povo; vocês verão tudo isso e ficarão morrendo de saudade todos os dias, mas vocês não poderão fazer nada. O fruto da sua terra e de todo o seu trabalho será comido por um povo que vocês nunca conheceram; e vocês serão oprimidos e quebrantados todos os dias; e ficarão loucos pelo que verão com os seus próprios olhos. O Senhor levará vocês e o rei que tiverem constituído sobre vocês a uma nação que não conheceram, nem vocês, nem os seus pais; e lá servirão outros deuses, feitos de madeira e de pedra. O Senhor fará vir contra vocês uma nação de longe, que virá da extremidade da terra, como o voo impetuoso da águia, uma nação cuja língua vocês não entenderão” (Dt 28.32-34;36,49).

Tais afirmações foram literalmente cumpridas em 586 a.C. O rei babilônico Nabucodonosor veio a Israel com suas tropas, tomou Jerusalém e destruiu o templo. O rei que governava Judá nessa época, e de quem Moisés falara, chamava-se Zedequias. Deus, porém, em sua misericórdia, decidiu não aniquilar totalmente Israel, prometendo que o cativeiro babilônico duraria apenas 70 anos; depois disso, ele traria Israel de volta para sua pátria: “Assim diz o Senhor: ‘Logo que se cumprirem para a Babilônia setenta anos, atentarei para vocês e cumprirei a promessa que fiz a vocês, trazendo-os de volta a este lugar. Eu é que sei que pensamentos tenho a respeito de vocês’, diz o Senhor. ‘São pensamentos de paz e não de mal, para dar-lhes um futuro e uma esperança’” (Jr 29.10-11).

Jerusalém

Em 609 a.C., a Babilônia detinha o poderio mundial. Mas no ano 539 a.C. vieram os persas sob o rei Ciro e venceram os babilônios. Nessa época (538 a.C.), Ciro permitiu que os israelitas retornassem à sua pátria, repovoassem a terra e reconstruíssem o templo. O cativeiro durou, portanto, exatos 70 anos.

As principais datas contendo a ascensão da Babilônia ao poder mundial e sua queda são as seguintes”

  • 616 a.C.: primeira vitória da Babilônia sobre a Assíria
  • 614 a.C.: queda de Assur
  • 612 a.C.: queda de Nínive
  • 610 a.C.: Harã é ocupada pelos babilônios
  • 609 a.C.: os egípcios e assírios, a partir de Carquemis, tentam recuperar Harã. A tentativa fracassa; a Assíria, ou o que restou dela, simplesmente desaparece de cena. Dessa forma, a Babilônia torna-se o principal poder mundial em 609 a.C.
  • 605 a.C.: Jerusalém é sitiada pela primeira vez pelos babilônios, havendo a primeira deportação de judeus, dentre eles o profeta Daniel (Dn 1.1).
  • 597 a.C.: nova deportação de judeus de Canaã, dentre eles Ezequiel (Ez 1.2).
  • 586 a.C.: Jerusalém é destruída, com novas deportações ocorrendo.
  • 582-581 a.C.: quarta deportação (Jr 52.27-30).
  • 539 a.C.: Babilônia é completamente conquistada pelos persas (Dn 5–6).
  • 538 a.C.: emissão do decreto, por parte do rei persa, para que os judeus voltem à sua terra natal e reconstruam o templo (Ed 1.1).
  • 609 – 539 = 70: a palavra do Senhor cumpre-se completamente.

Por que o Senhor limitou o tempo de cativeiro a 70 anos e reconduziu os judeus à sua terra? O povo havia mudado? Havia se arrependido? Havia voltado para seu Deus em seus corações? Não! A resposta é encontrada em Isaías 45.4, onde Deus faz saber a Ciro: “Por amor do meu servo Jacó e de Israel, meu escolhido, eu o chamei pelo seu nome e lhe dei um título de honra, mesmo que você não me conheça”. Mais ou menos 170 anos antes que Ciro entrasse em cena, Isaías já o mencionou por nome (Is 45.1), inspirado pelo Espírito Santo! Ciro, que era um rei gentio e, portanto, não conhecia o Deus de Israel, mesmo assim o serviu, contribuindo para que a Palavra de Deus se cumprisse. Por causa da eleição divina ele teve de deixar o povo de Deus, Israel, voltar para sua pátria.

O Todo-Poderoso move e dirige a política mundial de forma que esta corresponda à sua vontade, a fim de que ele alcance o objetivo que tem para seu povo (Ed 1.1). O mesmo continua válido hoje. O Estado de Israel não é um produto do acaso ou uma conquista das Nações Unidas, mas fruto das obras do Deus de Israel dentro das nações. Tudo o que acontece hoje a nível político-global, seja a favor ou contra Israel, serve ao desígnio de Deus da história da salvação.

Sobre o primeiro retorno

Qual foi a razão mais profunda para a libertação do povo de Israel? A resposta é que as promessas de Deus aos patriarcas precisam se cumprir. Segundo essas promessas, o Messias nasceria como judeu em Israel. Mas isso somente seria possível se os judeus estivessem outra vez em sua pátria, se tivessem uma organização própria e possuíssem um novo templo. Afinal, Jesus deveria nascer em Belém, entrar no templo, morrer em Jerusalém e ressuscitar dos mortos. A salvação do mundo deveria ser consumada em Jerusalém. Por isso, os judeus obrigatoriamente tinham de regressar para sua terra. Mais uma vez, a razão reside única e exclusivamente em Jesus. O Novo Testamento diz a este respeito: “Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gl 4.4).

Ilustração da antiga Babilônia e o templo de Bel. Foto: Wikipedia, William Simpson (1823—1899).Ilustração da antiga Babilônia e o templo de Bel. Foto: Wikipedia, William Simpson (1823—1899).

Quando Jesus veio, a liderança de Israel o rejeitou, fazendo com que ele fosse crucificado. Pouco antes de sua morte, o Senhor profetizou sobre Jerusalém: “Jerusalém, Jerusalém! Você mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, mas vocês não quiseram! Eis que a casa de vocês ficará deserta. Pois eu lhes afirmo que, desde agora, não me verão mais, até que venham a dizer: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor!’” (Mt 23.37-39). Jesus também anunciou em outras ocasiões que Jerusalém seria outra vez tomada por forças estrangeiras, que o templo seria destruído e que o povo seria disperso, mas dessa vez pelo mundo todo (Lc 21.5-7,20-24). Essas palavras se cumpriram em 70 d.C. Os romanos destruíram Jerusalém, queimaram o templo e conduziram inúmeros judeus ao cativeiro entre nações gentias. Será que foi acaso a destruição do segundo templo ter acontecido no mesmo dia da destruição do primeiro templo pelo babilônios, ou seja, em 9 de av (julho/agosto)?

A pequena palavra “até” em Mateus 23.39 tem um grande significado. É como se ela fizesse uma ponte, explicitando que também dessa vez o povo não seria disperso para sempre, mas que em tempos futuros haveria um novo retorno dos judeus de do mundo inteiro para sua pátria. E realmente, desde 1948, depois de 1 900 anos de Diáspora, existe novamente um Estado judeu, e desde 1967 Jerusalém pertence outra vez aos israelitas! A pequena palavra “até” também refuta a assim chamada “teologia da substituição”, que ensina que a igreja substituiu Israel e, portanto, o povo judeu não teria mais futuro. A história de Israel é a história dos procedimentos de Deus neste mundo. Deus lida com Israel e assim escreve sua história mundial. Israel é, por assim dizer, uma caneta nas mãos de Deus. O Senhor não jogou fora esta caneta, mas a utiliza continuamente. Ele também definirá o final da história com ela.

A igreja ou a comunidade cristã não é uma borracha que pode apagar as linhas que Deus escreveu com Israel. Em vez disso, a história do cristianismo também foi escrita com uma caneta judaica. Apesar de todos os fracassos de Israel e apesar de toda a turbulência na história mundial, Deus manteve Israel vivo para que ele ainda exista e seja mostrado vivo aos povos.

Sobre o segundo retorno

Por que o Deus Todo-Poderoso fez os judeus voltarem uma segunda vez, dando-lhes sua terra de volta? Há uma razão mais profunda para esse retorno a Israel? Sabemos que eles não se tornaram pessoas melhores na Diáspora. A maior parte de Israel continua rejeitando o Senhor Jesus.

A razão é a mesma do retorno dos judeus do cativeiro babilônico. Assim como eles retornaram da primeira vez para que Jesus pudesse vir a este mundo (nascendo em Belém), os judeus do mundo inteiro retornaram uma segunda vez – e ainda hoje continuam retornando para sua terra – para que Jesus possa vir novamente, e desta vez em glória! Portanto, a volta de Jesus está estreitamente ligada à existência do povo judeu em sua própria terra.

Em muitas ocasiões e por ordens do Deus vivo, os profetas predisseram que o Senhor Jesus voltará para Jerusalém e que seus pés estarão no monte das Oliveiras, que ele salvará seu povo e que regerá o mundo todo a partir de Jerusalém. Ele certamente chegará a Israel, e haverá um ponto da história do povo judeu em que aqueles que o rejeitaram e exclamavam: “Não queremos que este reine sobre nós” (Lc 19.14) afirmarão: “Bendito o que vem em nome do Senhor!” (Mt 23.39).

Navio Exodus chegando a Terra de Israel em 1947 na grande imigração judaica chamada Aliá. Ilustração da antiga Babilônia e o templo de Bel. Foto: Wikipedia, William Simpson (1823—1899). Foto: WikipediaNavio Exodus chegando a Terra de Israel em 1947 na grande imigração judaica chamada Aliá. Ilustração da antiga Babilônia e o templo de Bel. Foto: Wikipedia, William Simpson (1823—1899). Foto: Wikipedia

O próprio Jesus prometeu que um dia irá voltar: “Então verão o Filho do Homem vindo nas nuvens, com grande poder e glória. E então ele enviará os anjos e reunirá os seus escolhidos dos quatro ventos, da extremidade da terra até a extremidade do céu” (Mc 13.26-27).

Sim, o Senhor voltará e conduzirá até os últimos judeus para a terra de Israel. Mesmo que Israel, no futuro próximo, ainda vá passar por muito sofrimento, por conflitos e guerras e por grande tribulação, é vã qualquer tentativa das nações inimigas de apagá-lo do mapa mundial. Elas não serão bem-sucedidas. Isso é afirmado por Mateus 24.34-35: “Em verdade lhes digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça. Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão”.

O sinal evidente e visível da volta dos judeus à sua terra confirma que a volta de Jesus está adquirindo uma proximidade palpável, pois a única razão e o único motivo da restauração de Israel são a volta do Senhor Jesus: “O furor da ira do Senhor não se desviará até que ele execute e cumpra os desígnios do seu coração. Nos últimos dias, vocês entenderão isso. ‘Naquele tempo, diz o Senhor, serei o Deus de todas as tribos de Israel, e elas serão o meu povo.’ Assim diz o Senhor: ‘O povo que se livrou da espada obteve favor no deserto. Eu irei e darei descanso a Israel’” (Jr 30.24–31.2).

Nos últimos dias, o povo judeu que fugiu da espada – por exemplo por ocasião do mais terrível dos genocídios: o Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial – encontrará misericórdia “no deserto”. As cidades de sua pátria serão reedificadas (Ez 36.33-36). Característica para a realização dessa promessa divina é a atual cidade de Tel Aviv, que há cerca de 100 anos foi edificada sobre as dunas às margens do Mediterrâneo. Das primeiras humildes cabanas formou-se uma cidade respeitável, uma das mais importantes de Israel. Nossa geração é testemunha ocular do cumprimento de todas essas profecias bíblicas. O retorno de Israel e a reconstrução do país, no final, farão com que o Senhor volte e conduza Israel à paz do reinado messiânico (Hb 4.8-9).

Deus estabeleceu um sinal com o fato de os judeus hoje estarem em casa outra vez e possuírem um Estado próprio. Nós, que temos outra cidadania, devemos levar isso em conta, pois a Bíblia diz: “Levantará um estandarte para as nações, ajuntará os desterrados de Israel e recolherá os dispersos de Judá desde os quatro cantos da terra” (Is 11.12). Um estandarte é uma bandeira com um brasão de algum território ou país. O ajuntamento de Israel em sua pátria, portanto, nos foi dado como um sinal desse tipo, um estandarte lembrando às nações que Deus sempre cumpre o que promete. Isso é o que diz o profeta Jeremias, falando explicitamente aos povos gentios: “Escutem a palavra do Senhor, ó nações, e anunciem isto nas terras distantes do mar. Digam: ‘Aquele que espalhou Israel o congregará e o guardará, como um pastor faz com o seu rebanho’” (Jr 31.10).

Sobre Jerusalém Oriental

Afirma-se repetidamente que Jerusalém Oriental já foi puramente árabe e, portanto, esta parte deve se tornar a capital dos palestinos. O fato é, porém, que há judeus em Jerusalém Oriental há mais tempo do que os árabes, e que os judeus também estavam lá primeiro, muito antes de nossa era.

Os judeus precisavam regressar para sua terra única e exclusivamente por causa de Jesus.

Quando o rei Davi, por volta de 1000 a.C., conquistou Jerusalém, os habitantes da cidade eram jebuseus (2Sm 5.6-9). Eles não eram árabes no sentido moderno, mas um grupo populacional cananeu que não existe mais (Gn 10.16; 15.21; Êx 3.8). Os jebuseus não eram mais árabes do que os outros povos cananeus que viviam naquela região na época: amorreus, hititas, ferezeus e heveus. Esses povos, incluindo os filisteus, eram descendentes de Cam e não de Sem (Gn 10.6-21). Os árabes típicos, por outro lado, são um grupo étnico semita. De um jebuseu chamado Ornã (também chamado de Araúna), Davi comprou a eira em Jerusalém Oriental, na qual o templo judaico foi posteriormente construído (2Sm 24.17-25; 1Cr 21.15-29; 2Cr 3.1).

Depois que os judeus foram expulsos de sua terra natal, por volta de 70 d.C., o país foi inicialmente ocupado pelos romanos. Os muçulmanos só a conquistaram em 638 d.C. No entanto, mesmo durante esse tempo, Israel e Jerusalém nunca estiveram completamente livres de judeus. A partir de 1844, pode-se provar que os judeus voltaram a constituir a maior parte da população em Jerusalém. O primeiro grande retorno e onda de imigração de judeus para sua terra natal ocorreu em 1882. Não foi até o conflito em 1948 que a Liga Árabe conquistou Jerusalém Oriental, expulsou a população judaica, saqueou suas casas, destruiu as sinagogas e deliberadamente profanou sepulturas judaicas no monte das Oliveiras. Aqui, por uma questão de justiça, seria preciso perguntar quem realmente ocupou Jerusalém Oriental, que só foi libertada novamente pelos israelenses em 1967? Qualquer livro de história respeitável fornecerá informações sobre os fatos. A única questão é se alguém deseja enfrentar esses fatos históricos objetivamente.

A história deixa claro que o período cananeu foi substituído pelo israelita. Uma vez que os cananeus desapareceram completamente da história, ninguém além de Israel pode reivindicar a propriedade das terras. Todas as outras nações que já ocuparam a região o fizeram apenas temporariamente até 1948, quando os judeus recuperaram o controle que lhes pertencia e a ninguém mais.

Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Maio 2023

Confira