A Carta aos Romanos: Capítulo XIII
O cristão e o Estado (v. 1-7)
Deus determinou e instituiu os órgãos estatais para proteger a vida humana, preservar a propriedade, assegurar o direito e a ordem e possibilitar uma vida pacífica e tranquila. Para tanto, o governo deve agir com base nos mandamentos de Deus.
Os Dez Mandamentos como base da organização humana
- Não tenha outros deuses diante de mim.
- Não faça para você imagem de escultura e não adore essas coisas.
- Não tome o nome de Deus em vão.
- Descanse no sétimo dia.
- Honre seu pai e sua mãe.
- Não mate.
- Não cometa adultério.
- Não furte.
- Não dê falso testemunho.
- Não cobice.
Os governos devem promulgar suas leis e conduzir a administração pública segundo essas diretrizes divinas, e elas devem determinar o procedimento do povo.
Quando isso é aplicado levando em conta toda a debilidade humana, o homem viverá num relacionamento correto com Deus, a relação entre trabalho e descanso será adequada, a vida e a propriedade humanas serão protegidas e se ministrará justiça sem acepção de pessoas.
A economia poderá desenvolver-se baseada em confiabilidade, pontualidade, honestidade e consciência do dever. Também as artes se desenvolverão, sejam na literatura, na escultura, na pintura, etc. Ao mesmo tempo, abrem-se novos horizontes na educação e na ciência.
Ninguém é obrigado a submeter-se às diretrizes de Deus, e nenhum governo é obrigado a adotar os Dez Mandamentos como base para sua legislação, mas a história tem demonstrado que, quando essas diretrizes foram adotadas, elas sempre resultaram em bênção e o povo e o país floresceram. Quando, porém, os governos se decidiram contra elas, a sociedade foi perdendo o rumo, a sustentação e, finalmente, o próprio governo. Por isso Deus instituiu governos, para que estes pratiquem suas atividades tão proximamente do padrão bíblico quanto possível, protejam a vida humana, preservem a propriedade, administrem direito e ordem e possibilitem ao seu povo uma vida tão ordeira e pacífica quanto possível.
“Assim, aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus, e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação” (Rm 13.2). Cada um deve submeter-se. Com isso, a Bíblia estabelece de antemão que Deus proíbe toda espécie de anarquia.
O princípio da submissão perpassa a Bíblia inteira. Ela é um princípio divino para benefício e bênção de todos.
O princípio da submissão perpassa a Bíblia inteira. Assim, os governos devem submeter-se a Deus, os povos aos seus governos, os empregados aos seus empregadores. Os maridos devem submeter-se a Cristo, as esposas aos seus maridos, os filhos aos seus pais e, finalmente, a igreja aos seus presbíteros, que, por sua vez, devem submeter-se ao padrão bíblico. A submissão é um princípio divino para benefício e bênção de todos.
Um outro padrão
Como fica a situação quando o governo é ímpio? Preciso então submeter-me também a um déspota? A ditadores megalomaníacos da categoria de Adolf Hitler, Stalin ou Lenin? Simplesmente aceitar que esses déspotas formem governos e oprimam, explorem ou até matem pessoas?
Quando Paulo escreveu essas linhas sobre submissão para a igreja em Roma, reinava ali o déspota megalomaníaco Nero, um homem para quem valia tudo que consolidasse sua própria posição. Arbitrariedade, intriga e assassinato faziam parte do negócio político. Nero mandou incinerar cristãos como tochas, envolveu-os em peles de animais para lançá-los a cães ferozes para serem devorados, etc. Embora esse déspota estivesse no poder em Roma, Paulo enfatiza que “aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus, e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação” (Rm 13.2).
Isso é algo muito difícil de aceitar e também de aplicar. Só poderemos entender essa declaração de Paulo se levarmos em conta que a igreja de Jesus e o estado mundano não duas corporações fundamentalmente diferentes.
A igreja de Jesus tem uma vocação celestial, não terrena. Embora a igreja de Jesus viva no mundo, ela não é do mundo. A igreja tem orientação celestial e não terrena. Ela está aqui só de passagem, a caminho da pátria celestial: “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20).
Por isso, a igreja sempre será um corpo estranho na terra, sem direito de permanência: “Todos estes morreram na fé. Não obtiveram as promessas, mas viram-nas de longe e se alegraram com elas, confessando que eram estrangeiros e peregrinos na terra” (Hb 11.13).
No mundo é preciso dar cotoveladas, ter mentalidade carreirista, avançar mesmo às custas dos mais frágeis. A igreja de Jesus, porém, vive segundo um outro padrão:
“Não paguem a ninguém mal por mal; procurem fazer o bem diante de todos. Se possível, no que depender de vocês, vivam em paz com todas as pessoas. Meus amados, não façam justiça com as próprias mãos, mas deem lugar à ira de Deus, pois está escrito: ‘A mim pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor’” (Rm 12.17-19).
O Estado como servo de Deus
O Estado é uma corporação instituída por Deus. É sua função viabilizar a convivência inter-humana, proteger a vida e a propriedade, promover o bem e punir o mal, sendo a estrutura governamental algo secundário. Para poder se desincumbir dessa obrigação, o Estado também tem o direito de arrecadar impostos: “É por isso também que vocês pagam impostos, porque as autoridades são ministros de Deus, atendendo constantemente a este serviço” (Rm 13.6). Paulo não discute o nível dos impostos, mas simplesmente constata que os impostos devem ser pagos e que os cristãos também não estão dispensados disso: “Paguem a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra” (Rm 13.7).
A igreja de Jesus na sociedade (v. 8-14)
Com a instrução: “Não fiquem devendo nada a ninguém, exceto o amor de uns para com os outros. Pois quem ama o próximo cumpre a lei” (Rm 13.8), Paulo volta a se dirigir explicitamente à igreja de Jesus e, ao mesmo tempo, esclarece que esta tem um ministério diferente daquele do Estado.
Na igreja de Jesus, o amor é a medida de todas as coisas. Movida por esse amor, seja sob qual sistema político ela tenha de viver, a igreja de Jesus deve ser um testemunho, aplicando aquilo que Paulo escreve: “Portanto, somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por meio de nós. Em nome de Cristo, pois, pedimos que vocês se reconciliem com Deus” (2Co 5.20).
O amor deve determinar o meu procedimento: “Nisto todos conhecerão que vocês são meus discípulos: se tiverem amor uns aos outros” (Jo 13.35).
Quem realmente ama do modo como a Bíblia ensina não adulterará, não poderá matar ou roubar, não defraudará nem fará mal algum ao seu próximo (Rm 13.9-10).
Com isso, Paulo chega a uma exortação final ao escrever: “E digo isto a vocês que conhecem o tempo: já é hora de despertarem do sono, porque a nossa salvação está agora mais perto do que quando no princípio cremos. Vai alta a noite, e o dia vem chegando. Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz” (Rm 13.11-12).
Consideremos a nossa vida diária como um campo de treinamento para vivermos de acordo com o padrão de Deus, aproveitando as situações da vida como oportunidades para nos aprimorar e nos desfazer conscientemente de tudo o que não corresponda a Deus e à sua Palavra e natureza.
“Vivamos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedeiras, não em imoralidades e libertinagem, não em discórdias e ciúmes. Mas revistam-se do Senhor Jesus Cristo e não façam nada que venha a satisfazer os desejos da carne” (Rm 13.13-14).