O Futuro “Supercelestial” da Igreja

A Palavra de Deus promete aos redimidos da igreja uma herança de glória inimaginável, para além dos céus dos céus. A carta aos Efésios, principalmente, expõe isso.

Nossa santificação e transformação espiritual iniciou-se por ocasião da conversão e do novo nascimento. Durante a vida cristã, o Espírito Santo continua a desenvolver esse processo de santificação e transformação. Todavia, ele só se completará junto a ele na glória, quando o virmos como ele é.

“Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é” (1Jo 3.2). “Assim como tivemos a imagem do homem terreno, teremos também a imagem do homem celestial” (1Co 15.49). “... ele transformará os nossos corpos humilhados, tornando-os semelhantes ao seu corpo glorioso” (Fp 3.21). “Estou convencido de que aquele que começou boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6).

A respeito disso, alguém disse certa vez: “Seremos completados magistralmente. Você não cairá através da peneira”. O “tribunal de premiação” certamente contribuirá para isso.

A igreja é uma representação da infinita riqueza da graça e da bondade divina em Cristo: “Para mostrar, nas eras [plural] que hão de vir, a incomparável riqueza de sua graça, demonstrada em sua bondade para conosco em Cristo Jesus” (Ef 2.7). “... que agora, mediante a igreja, a multiforme sabedoria de Deus se tornasse conhecida dos poderes e autoridades nas regiões celestiais, de acordo com o eterno plano que ele realizou em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Ef 3.10-11).

Esse milagre da graça transformadora será um dos assuntos importantes na eternidade. Ao longo das eras eternas, Deus revelará aos exércitos celestiais o que ele operou com aqueles homens insignificantes, degenerados, pecadores e dominados pelo Diabo.

“Que é o homem, para que com ele te importes?” (Sl 8.4). Ele não apenas se importou conosco e nos salvou, mas nos elevou acima de tudo e demonstrou em nós toda a riqueza da sua graça.

William MacDonald escreve em seu comentário sobre Efésios 2.7: “O milagre de graça transformadora será o assunto da eterna revelação. Durante toda a eternidade Deus desvendará às multidões celestiais quanto custou ao Senhor levar o castigo dos nossos pecados sobre a cruz. É um assunto que nunca terá fim”.1

Paulo escreve que a eterna riqueza de Deus em sua atuação salvadora é insondável – assim como hoje o Universo. Neste sentido, a ciência moderna precisa reconhecer que, por mais que cresçamos no conhecimento do Universo, mais constataremos quão pouco sabemos... e as perguntas se multiplicam. – “Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e inescrutáveis os seus caminhos!” (Rm 11.33).

Um Deus infinito nos ensinará infinitamente, nos revelará coisas novas e nos introduzirá em sabe-se lá ainda quantos mistérios.

“Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus, a fim de encher todas as coisas” (Ef 4.10). – Existe uma paternidade nos céus (Ef 3.15) e uma Jerusalém celestial (Hb 12.22). O sumo sacerdócio do Senhor Jesus é exaltado acima dos céus (Hb 7.26). Ele adentrou os céus para o posto máximo (Hb 4.14).

O trono de Deus Pai é o posto máximo nas eternidades, muito acima de todos os lugares celestiais. Ele é a central de governo, a casa paterna, a origem de toda criação, é a eternidade das eternidades. Mesmo a “nova Jerusalém” é limitada, mas Deus não. A igreja em Cristo é trasladada para lá.

“Deus colocou todas as coisas debaixo de seus pés e o designou cabeça de todas as coisas para a igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche todas as coisas, em toda e qualquer circunstância” (Ef 1.22-23). – Somos literalmente membros espirituais do seu corpo (1Co 12.27; Ef 5.30). “Pois em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade, e, por estarem nele... vocês receberam a plenitude” (Cl 2.9-10).

A descrição “corpo de Cristo” como organismo foi revelada nas cartas apostólicas somente depois da ascensão de Jesus e era um mistério (Ef 3.3-7). O apóstolo Paulo fala pela primeira vez da igreja como corpo de Cristo em 1Coríntios 6.15.

Assim como os membros do nosso corpo fazem parte de nós, assim nós fazemos parte de Cristo como seus membros. Junto com Cristo, a igreja é como corpo a plenitude daquele que preenche tudo em todos. Cada detalhe da eternidade estará preenchido de Cristo e do seu corpo, a igreja, e isso não vem de nós: é tão somente graça de Deus. Quem poderia sofrer de tédio nesses mundos eternos?

A ciência moderna precisa reconhecer que, por mais que cresçamos no conhecimento do Universo, mais constataremos quão pouco sabemos... e as perguntas se multiplicam.

No livro Die Vollendung des Leibes Christi [A perfeição final do corpo de Cristo], Fritz Binde escreve o seguinte na página 15: “Isso ultrapassa de longe a nossa capacidade de compreensão. Compreenda quem puder que Deus tenha deliberado isso em seu propósito de salvação e tenha chamado à existência esse maravilhoso organismo. Seu Cristo não estará completo sem o corpo. [...] Sim, só o conjunto desses membros é que perfaz a plenitude do Cristo”.

Somos informados de três coisas sobre o futuro da igreja: (1) ela será coerdeira; (2) ela também será julgadora; e (3) ela participará do reinado.

Ela participará da libertação da criação (Rm 8.19-21). Ela governará sobre todas as regiões celestiais (2Tm 2.12). Ela julgará o mundo: “Vocês não sabem que os santos hão de julgar o mundo?” (1Co 6.2a). Posso imaginar que isso já começará na grande tribulação... (Ef 5.6; Cl 3.6).

A igreja julgará anjos: “Vocês não sabem que haveremos de julgar os anjos?” (1Co 6.3a). Ela retornará com ele em glória. “Quando Cristo, que é a sua vida, for manifestado, então vocês também serão manifestados com ele em glória” (Cl 3.4).

Nunca seremos Deus, nunca estaremos onipresentes como ele, mas com Cristo estaremos em todo lugar que ele estiver. Como seu corpo, como coerdeiros de Cristo, similares a ele, a igreja participará do reinado (cf. Jd 1.14; Ap 19.11; Zc 14.5; 2Ts 1.7,10; 1Ts 3.13).

“Eis que venho em breve! A minha recompensa está comigo, e eu retribuirei a cada um de acordo com o que fez” (Ap 22.12).

Isaías 53.12 diz que Deus lhe dará “uma porção entre os grandes” e que ele “dividirá os despojos com os fortes”. Não poderia isso significar que o Senhor voltará com “sua recompensa”, ou seja, com a igreja adquirida por meio do seu sangue?

Como a igreja é o corpo de Cristo, ela participará ao seu lado do reinado terrestre. Ela estará sempre onde Cristo estiver. Seu destino essencial e supremo, porém, está nos céus. Provavelmente determinará a partir do céu o que se passará na terra, claro que sempre subordinada à Cabeça.

Até onde entendo, durante o reino milenar Jesus não estará presente com sua igreja apenas na terra. Por isso, após sua ressurreição, Davi será instituído como representante e príncipe (Ez 34.23-24; 37.24-25; Os 3.5). “Eu, o Senhor, serei o seu Deus, e o meu servo Davi será o líder no meio delas. Eu, o Senhor, falei” (Ez 34.24). “O meu servo Davi será rei sobre eles...” (Ez 37.24).

Poderá ser algo semelhante ao que ocorreu após a ressurreição do Senhor: ele podia estar visivelmente presente, desaparecer subitamente, encontrar-se na eternidade ou no mundo dos mortos. O eterno Filho de Deus jamais estará limitado apenas à terra; ele preencherá e determinará todas as eternidades. Como Deus, será onipresente.

Reino dos céus significa que o céu dominará a terra. Isso aponta para uma união íntima, talvez semelhante àquela anterior à queda no pecado. De modo semelhante, sua igreja corporal e espiritual transfigurada reinará como seu corpo a partir do céu e certamente não ficará confinada a algum local, embora nós nunca seremos onipresentes. Os anjos também já têm acesso à terra, embora não sejam onipresentes como Deus.

Com Cristo, a igreja se apresentará com qualidade real e sacerdotal (Ap 1.6). Como já mencionamos, ela participará do governo na nova terra e nos novos céus em Cristo Jesus e o Pai. Ali haverá o suficiente para fazer – basta pensar nas infinitas amplidões.

  1. William MacDonald, Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento (São Paulo: Mundo Cristão, 2011), p. 620.

Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Fevereiro 2020

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