Trinta anos do fim do comunismo soviético

“Os que queriam matar o menino já morreram” (Mt 2.20c). O que podemos aprender hoje da queda da União Soviética há trinta anos?

Passaram-se trinta anos desde a queda do comunismo soviético. Nomes como Marx, Engels, Lenin e Stalin estão inequivocamente ligados aos seus setenta anos de regime de terror. Todos eles tinham em comum uma orientação anticristã até a ponta dos dedos, agindo então correspondentemente com desprezo pelo ser humano. Por isso, o cristianismo era visto como um dos maiores inimigos do regime soviético. Karl Marx escreveu que a religião seria “o ópio do povo”. Do ponto de vista dos comunistas, a fé se opunha à modernização. Por isso, um dos grandes alvos do comunismo soviético era extirpar o cristianismo, matar a fé em Deus e declarar que Deus mesmo estava morto. O símbolo era o punho de pedra elevado contra o céu a fim de se opor brutalmente ao Todo-Poderoso. Não se poupavam esforços, mentiras e custos para disseminar mundialmente a ideologia ateia. Inúmeras pessoas de todas as camadas sociais caíram nessa armadilha.

Quem odeia Deus, também odeia os homens. Quem não dá valor ao Senhor da vida, despreza o valor de qualquer vida. O preço que as diversas camadas populacionais tiveram de pagar foi alto, muito alto. Muitos milhões de vidas humanas foram vítimas do sistema – a historiografia fala até no “holocausto vermelho”. O indivíduo não contava, tudo era atribuído e submetido ao materialismo. Tudo que sequer lembrasse a Bíblia era discriminado e eliminado. O medo e o terror, porém, não dominavam apenas a população local, mas também o mundo ocidental. Guerra fria, competição armamentista, acusações mútuas de culpa e ameaças estavam na ordem do dia. O Exército Vermelho, fundado em 1918 por Leon Trótski, era um dos mais temidos de todo o mundo. Esse exército, porém, não atuava só externamente: por meio dele os governantes também dominavam seu próprio povo e o oprimiam da maneira mais desumana. Assim, qualquer resistência era brutalmente abatida.

Muito particularmente, Salmos 14.1 aplica-se também ao comunismo e à sua funesta história: “Diz o insensato no seu coração: ‘Não há Deus’. São corruptos e praticam abominação; já não há quem faça o bem”. Esse versículo deixa claro que a mentalidade ímpia cria danos ilimitados.

Já Herodes, o Grande, introduziu em sua época um estado policial e espião. As pessoas eram observadas e controladas. Para ele importava apenas preservar seu poder. Tudo que se opusesse a isso era esmagado, sem dor na consciência. O menor perigo para o seu reinado ele considerava como seu maior inimigo. Quando Jesus nasceu, as crianças de Belém perderam a vida por causa disso – uma inimaginável tristeza para as casas e famílias.

Quer seja o reinado de Herodes, o nazismo desprezador do ser humano ou o domínio terrorista do comunismo: todos eles tinham sua origem no poder das trevas. É a luta do Diabo contra o Deus vivo, é seu ódio ao Senhor da vida. Trata-se da luta do reino das trevas contra o reino de Deus: a mensagem de Jesus Cristo e da sua perfeita obra redentora não pode ser disseminada e precisa ser combatida de todas as maneiras. O Diabo não carece de imaginação para bloquear à humanidade o acesso ao reino de Deus. A luta contra o Filho de Deus estende-se ao longo de toda a história. A profecia divina de que “você lhe ferirá o calcanhar” (Gn 3.15) tem milhares de facetas. O que, porém, diz Salmos 2.4? “Aquele que habita nos céus dá risada; o Senhor zomba deles”.

Sem qualquer dramatização, a Bíblia informa então, sobre Herodes e suas cruéis manobras, que “os que queriam matar o menino já morreram”. Já o plano de Deus para a redenção da humanidade se manteve e finalmente se cumpriu. O que começou em Belém, consumou-se na cruz e na ressurreição: “Este lhe ferirá a cabeça” (Gn 3.15c).

Também o domínio nazista sucumbiu, e três anos depois se fundava o Estado de Israel. Sem grandes anúncios, em um momento em que ninguém pensava numa virada, chegou a grande mudança. O comunismo, cujos segredos e terrores o mundo inteiro temia, viu subitamente a transparência do Glasnost, introduzido em princípios de 1986 por Mikhail Gorbatchov. Em brevíssimo tempo, o apodrecido sistema comunista experimentou o processo de remanejamento e modernização da Perestroika, e isso sem violência armada. O desmanche da União Soviética terminou com a independência de quinze de suas repúblicas, processo encerrado em 25 de dezembro de 1991.

O comunismo soviético sucumbiu e o cristianismo sobreviveu, porque as portas do inferno não podem prevalecer sobre a igreja de Jesus (Mt 16.18).

Entrementes, outras crises nos atingiram. A humanidade está diante de novos obstáculos e desafios, e a igreja continua sofrendo. Crises ambientais e a política climática dominam a mídia. A loucura de gênero avança sem limites. O islã é uma ameaça crescente e pandemias modificam as estruturas mundiais. Tudo junto atua como um catalisador para conduzir o mundo ao seu alvo definitivo – um grande império anticristão. Mas espere! Mais uma vez, o plano está sendo feito sem Deus. Jesus, cuja primeira vinda não pôde ser impedida, voltará, e todos os eventos avançam para este maior de todos os acontecimentos. O plano de Deus está se cumprindo. Sua redenção se completa. A igreja não sucumbirá, mas será conduzida ao seu alvo definitivo, ao chamado celestial. Colossenses 1.16 diz de modo maravilhoso que finalmente tudo, tudo mesmo, até o mal, terá de servir à causa de Deus em Jesus Cristo.

“Pois nele foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl 1.16).

Como é bom sabermos disso como cristãos! Os senhores deste mundo se vão; Cristo vem.

Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Dezembro 2022

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