Os locais sagrados na Terra Santa
Israel é o país de onde surgiu a fé cristã. Não se pode dizer o mesmo da fé judaica. A ênfase desta localiza-se no Sinai e na aliança que Deus celebrou ali com os israelitas.
O significado central de Jerusalém para a fé cristã
O centro da fé cristã localiza-se em Jerusalém. Ali ocorreu o que tem importância central e é essencial para a fé cristã: a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Em Jerusalém ocorreram os eventos mais importantes para o cristianismo. Mesmo assim, a maior parte dos relatos nos evangelhos trata de eventos ocorridos na Galileia, onde também se localiza a cidadezinha de Nazaré.
A importância de Nazaré no Novo Testamento
Como se sabe, Jesus cresceu na Galileia, a região norte do país, na cidade de Nazaré. Mateus 2.19-23 relata que José e Maria não foram a Belém na Judeia quando retornaram do Egito, mas para a Galileia, para a cidadezinha de Nazaré, e depois acrescenta que foi “para se cumprir o que foi dito por meio dos profetas: ‘Ele será chamado Nazareno’” (v. 23).
Pode-se então perguntar onde isso está escrito nos profetas, e então constataremos que literalmente dessa forma não consta em lugar nenhum, embora pareça razoável que a referência seja a Isaías 11.1, que diz: “Do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes brotará um renovo”.
O termo hebraico para renovo é nezer. Consta, portanto, que um rebento – ou renovo – oriundo da casa de Davi, um broto de Jessé, frutificaria. Na época em que Jesus nasceu, a casa de Davi era irrelevante – praticamente como se fosse um toco de árvore ressecado, do qual, porém, a força das raízes poderia fazer brotar novos renovos.
Os descendentes da casa de Davi ainda mantinham a esperança de que um dos seus descendentes – ou renovos – seria o Messias prometido por Deus.
Supõe-se que, na época do segundo templo, a localidade de Nazaré tenha sido refundada por um clã da casa de Davi e que tenha recebido o seu nome com base em Isaías 11.1. O topônimo Nazaré não ocorre no Antigo Testamento, e não se sabe o nome que o local teve antes da sua refundação.
Jesus, então, finalmente cumpriu a antiga promessa pela qual esperavam principalmente os descendentes de Davi, mas também os israelitas em geral. No Novo Testamento, Jesus é chamado cinco vezes de nazareno (no texto original grego, o termo é nazoreu). Duas passagens bíblicas são particularmente significativas em relação a isso. Primeiramente Marcos 1.24, em que os demônios chamam Jesus de “Jesus Nazareno”, e depois Atos 22.8, em que o próprio Jesus se apresenta a Paulo na estrada de Damasco como o Nazareno.
Esse cognome era particularmente importante, porque o nome Jesus (ou Yeshua, em hebraico) era amplamente difundido na época, e não existiam sobrenomes.
A Galileia na profecia bíblica
Em contraste com Nazaré, Isaías menciona a Galileia explicitamente. Mateus cita repetidamente em seu evangelho a expressão “a fim de que se cumprisse o que foi dito pelos profetas”. O público-alvo de Mateus era o povo judeu, e, assim, ele insistia em mostrar aos judeus como as promessas do Antigo Testamento se cumpriram em Jesus.
“A grande luz era Jesus e o seu evangelho, que ele anunciou principalmente na Galileia.”
Em Mateus 4.13-16 lemos: “E, deixando Nazaré, [Jesus] foi morar em Cafarnaum, situada à beira-mar, na região de Zebulom e Naftali. Isso aconteceu para se cumprir o que tinha sido dito por meio do profeta Isaías: ‘Terra de Zebulom, terra de Naftali, caminho do mar, além do Jordão, Galileia dos gentios! O povo que vivia em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região e sombra da morte resplandeceu-lhes a luz’”.
Essa declaração baseia-se quase literalmente em Isaías 8.23 e 9.1. Mateus prossegue então no versículo 17 e diz: “Daí em diante Jesus começou a pregar e a dizer: ‘Arrependam-se, porque está próximo o Reino dos Céus’”.
A grande luz era Jesus e o seu evangelho, que ele anunciou principalmente na Galileia. A palavra Galileia significa algo como distrito, e, nesse caso, designava a região norte de Israel. Naquele tempo, Nazaré era um pequeno e insignificante povoado, oculto na região das colinas da Galileia, razão por que Natanael, que vinha de Caná, a qual, ao contrário de Nazaré, se situava numa planície maior e junto a uma importante estrada, perguntou: “De Nazaré pode sair alguma coisa boa?” (Jo 1.46).
Por que Galileia das nações ou dos gentios?
Por que as profecias chamam a Galileia de Galileia das nações ou dos gentios? A Galileia faz fronteira com o Líbano e a Síria, e sempre abrigou uma população mista. Particularmente nos tempos de Jesus, moravam ali muitos não judeus. Quando os judeus retornaram da Babilônia, eles se instalaram predominantemente na Judeia. A rejudaização da Galileia ocorreu só depois de 165 a.C., quando os Macabeus chegaram ao poder e aos poucos passaram a dominar o país inteiro.
Quando Alexandre Magno conquistou o Oriente e implantou ali um processo de helenização, surgiram naquela região as chamadas Dez Cidades, de caráter grego, formando o que em grego se chamou de Decápolis. No relato do Sermão do Monte, consta que as pessoas vinham de longe para ouvir Jesus, inclusive de Decápolis. A influência grega chegou a ser perceptível mesmo na Galileia, um tanto distante. Três dos discípulos de Jesus tinham até nomes gregos: André, Filipe e Pedro. Assim, ao contrário da Judeia, a Galileia abrigava uma população mista – e foi bem ali, e não na Judeia, que Jesus cresceu e iniciou seu ministério.
Por que justamente Cafarnaum?
Quando Jesus foi informado da prisão de João Batista, aquilo foi para ele o sinal para se apresentar e atuar publicamente, e Nazaré não era a base ideal para o seu ministério público, tanto que mais tarde Jesus disse que “nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra” (Lc 4.24). Por isso, Jesus abandonou deliberadamente a insignificância da sua cidade e se mudou para Cafarnaum, para a região de Zebulom e Naftali.
“Cafarnaum já era uma das maiores localidades judias na Galileia e possuía uma sinagoga bem representativa. [E]ra a base ideal para o ministério público de Jesus.”
Na ocasião, Cafarnaum já era uma das maiores localidades judias na Galileia e possuía uma sinagoga bem representativa. Cafarnaum era a base ideal para o ministério público de Jesus. A razão decisiva, porém, foi provavelmente o fato de Pedro morar ali. Junto com mais quatro dos seus futuros discípulos, Jesus já o conhecera antes por ocasião do seu batismo no Jordão.
Tudo indica que Jesus se hospedava na casa de Pedro. Na verdade, essa casa não pertencia propriamente a Pedro, mas à família da sua esposa. Pedro era natural da localidade vizinha de Betsaida, a leste do Jordão. Assim, Jesus pôde dizer com razão que “o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9.58). Ele não possuía uma cama nem casa própria, nem muitas das coisas de que normalmente as pessoas dispõem. Ele literalmente se tornou pobre para que nós enriquecêssemos.
Isso nos permite agora entender por que tantas vezes Jesus se recolhia à solidão a fim de buscar a vontade do Pai celestial. Ele tinha de cumprir cada detalhe que os profetas haviam predito a respeito dele, e a grande luz que a distante Galileia foi a primeira a enxergar realmente se tornou a luz das nações, brilhando até os confins da terra, conforme predisse Isaías (Is 49.6).