Novas eleições em Israel
Apesar de Israel estar entre as mais bem-sucedidas democracias, inclusive entre os principais países da OCDE[1], o premiê Naftali Bennett teve de anunciar o fracasso do seu governo. Ele não tem mais maioria no parlamento e, em 1º de novembro, Israel passará pela quinta eleição em três anos e meio.
Cédula, boletim de voto e urna usadas para as eleições israelenses
Em um estreito paralelismo com os discursos televisivos dos dois líderes da coalizão, Bennett e seu substituto Lapid, nos quais, a contragosto, eles anunciaram as novas eleições, correu amplamente em todos os canais a propaganda da Emirates, a maior empresa aérea árabe. Algo que há apenas dois anos era totalmente inimaginável, tornou-se uma normalidade que não passa de uma peça no mosaico da mudança dos tempos no Oriente Próximo. Não faz muito tempo que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, manifestou sua empolgação em ser como Israel. Com isso ele queria dizer que seria capaz de se defender contra a superpoderosa Rússia, assim como Israel se defendeu durante os últimos 74 anos contra mais de uma dúzia de países muçulmanos hostis e organizações terroristas. O presidente da Finlândia, Sauli Niinistö, disse que seu país se protegeria por meio de uma defesa antiaérea proveniente de Israel, e a presidente da EU, Ursula von der Leyen, anunciou em sua visita a Jerusalém que Israel teria as soluções de que a EU necessitava.
Com isso, os presidentes e ministros do Exterior e da Defesa, que em meados do ano se revezaram num ritmo de três dias em visitas a Jerusalém, referiram-se a um Estado de Israel mundialmente exemplar nas três principais disciplinas que um Estado precisa dominar: defesa do país, economia e combate à pandemia.
Defesa do país
É verdade que, nos últimos três meses, Israel sofreu dolorosos atentados terroristas com mais de vinte vítimas. Mesmo assim, os últimos doze meses foram o período mais pacífico em Israel em muito tempo. O Irã ameaça a cada segunda e quinta-feira atacar o estado judeu, a organização terrorista Hamas em Gaza e o Hezbollah no Líbano falam diariamente que logo mais haverá uma chuva de mísseis sobre Tel Aviv. Efetivamente, porém, trata-se de um teatro verbal sem fundamento factual. O chefe terrorista do Hezbollah, Nasrallah, há anos não se arrisca a se apresentar publicamente em Beirute. Ele sabe que sua expectativa de vida seria diminuta. A força aérea israelense se move no espaço aéreo do Líbano e da Síria quase como em casa.
Yair Lapid e Naftali Bennett
Na primavera de 2022, Israel apresentou uma nova arma defensiva: a Or Magen [Luz da defesa]. Trata-se de um raio laser que destrói ainda no ar mísseis, lançadores de granadas, drones e tudo o que possa vir pelo ar representando perigo para o país. Em sua visita em maio de 2022 à RAFAEL, a empresa responsável por essa novidade, o premiê Bennet a classificou como pioneira, porque essa nova arma não só seria uma eficiente defesa contra o ataque inimigo, mas o agressor seria levado à falência. Ele teria de investir dezenas de milhares de dólares em um míssil, enquanto o Iron Beam custa, por raio de luz, dois dólares em custo de energia. A imprensa local relata que, nos primeiros testes no sul de Israel, tudo foi abatido do céu antes que pudesse causar danos. Com isso, Israel teria agora um amplo sistema de defesa que complementa harmonicamente os recursos Iron Dome, Arrow 2, Arrow 3 e a Funda de Davi. Ele consegue aniquilar mísseis balísticos oriundos inclusive do espaço externo ou projéteis balísticos de médio ou grande alcance, de 40 a 300 quilômetros.
Enquanto isso, a Alemanha incluiu em seu orçamento de defesa uma verba de 3,2 bilhões de euros. Com isso, Berlim pretende posicionar-se com o Arrow 2 contra uma possível agressão de Putin vinda do Oriente, e mais: a ex-ministra alemã da Defesa relatou em sua visita a Jerusalém que a UE pretende expandir sua defesa pelo valor de 200 bilhões de euros. Fornecedor preferencial: Israel.
Os novos parceiros de Israel, os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein, dois dos quatro países que assinaram os Acordos de Abraão e que vêm normalizando suas relações com Israel desde setembro de 2020, querem proteger-se contra o inimigo comum, o Irã, com a ajuda de tecnologia israelense. A Arábia Saudita também apoia esse plano e, embora ainda não tenha relações diplomáticas com Israel, entrementes também já deu publicamente luz verde para uma cooperação.
Economia
A economia israelense registrou, no ano passado, um crescimento de 8%, e para o ano corrente se esperam 5,5%. São cifras com que mesmo os bem-sucedidos países da OCDE conseguem apenas sonhar. Também em Israel a inflação continua subindo, os professores entraram novamente em greve e as famílias jovens se queixam em alta voz contra o aumento dos aluguéis e a explosão dos preços dos imóveis. Ainda assim, o futuro econômico de Israel contempla um horizonte róseo. O propulsor disso é a alta tecnologia que vem sendo desenvolvida em nove mil start-ups e em cerca de 400 centros de P&D internacionalizados. De trimestre a trimestre, bilhões de dólares alimentam a inteligência artificial, aprendizagem profunda e tecnologia dos alimentos, que já estão oferecendo soluções para os prementes problemas da humanidade como alimentação e água potável para todos.
O Estado de Israel tem sido mundialmente exemplar nas três principais disciplinas que um Estado precisa dominar: defesa do país, economia e combate à pandemia.
Além disso, pelo menos desde 2018 Israel é fornecedor de energia para a região do Oriente Próximo e também para a Europa, que quer se livrar da dependência do gás da Rússia. No Cairo, foi assinado um convênio com a UE com o propósito de bombear gás de Israel para o Egito, onde será liquefeito e transportado à Europa por navio. Embarcaram nisso a Jordânia, os países árabes dos Acordos de Abraão, além de Chipre e Grécia, que também dispõem de fontes de gás. Todos querem ter parte nesse bolo vital de energia. Israel criou uma unidade especial da marinha que zelará pela integridade das fontes de gás no Mediterrâneo oriental. O negócio da energia vem unindo bastante os ex-inimigos no Oriente Próximo. Mesmo a Turquia, que durante a última década foi adversária de Israel, busca agora a proximidade com Jerusalém.
Parlamento israelense reunido em Jerusalém, Israel.
A pandemia de covid
Mesmo as cifras da COVID estão boas agora. A assistência médica pelos dois últimos governos – Netanyahu e Bennett – tem limitado a pandemia. Via de regra, os casos de coronavírus transcorrem como uma gripe. A taxa de mortalidade e o número de casos sérios estão na ordem percentual de zero vírgula alguma coisa. Os lockdowns, que tanto prejudicaram a economia, são coisa do passado.
Por que não há maioria?
Por que então o governo Bennett/Lapid não consegue maioria, apesar dos resultados em geral tão bons? A democracia é sabidamente o mais complicado dos sistemas de governo, mas até agora não se encontrou nada melhor, especialmente num país multicultural como Israel, com 9,5 milhões de habitantes de 70 países, três línguas oficiais, três religiões monoteístas e dúzias de culturas que naturalmente querem impor seus direitos. Pela primeira vez, Bennett conduziu uma coalizão óctupla da extrema esquerda à extrema direita, incluindo pela primeira vez também o partido árabe muçulmano Ra’am. No entanto, em quase todos os projetos de lei, os votos oscilaram entre 59 e 61 de 120.
Não faltam no parlamento israelense egomaníacos que inflam seus interesses pessoais para torná-los matéria de Estado.
Não faltam no parlamento egomaníacos que inflam seus interesses pessoais para torná-los matéria de Estado. Trata-se nesse caso de leis relativamente secundárias, como o status dos israelenses na Judeia e na Samaria, mais conhecidas como “Jordânia Ocidental ocupada”. Na vanguarda dos egomaníacos está o atual líder oposicionista, Benjamin Netanyahu, que de modo nenhum consegue se conformar em ver seu ex-chefe de gabinete, Bennett, na posição de premiê há um ano. É o cargo que antes ele ocupou com bastante sucesso por doze anos. Por outro lado, a promotoria pública já está há anos no encalço de Netanyahu por corrupção e abuso do poder. Caso ele consiga recuperar em outubro o cargo de premiê, esse processo, que está se arrastando, será novamente postergado por vários anos.
Para meados de julho, o presidente americano Joe Biden havia anunciado uma visita, que apesar das eleições anunciadas ele não quis adiar. Ele foi recebido oficialmente pelo premiê em exercício, Yair Lapid, mas tanto ele como todos sabem que, com Netanyahu e Bennett, os principais competidores pelo cargo máximo no país também continuarão representando o eixo em torno do qual tudo girará mesmo depois das eleições, provavelmente em 25 de outubro.
Publicado com autorização
de audiatur-online.ch.
Nota
- “Politik und Zeitgeschichte”, CRP, 3 fev. 2022. Disponível em: https://crp-infotec.de/organisationen-oecd/.