Haifa, outubro de 2022

No calendário judaico, o dia 9 de Av é o dia de memória e luto pela destruição do primeiro e do segundo templos. Na maioria das vezes, esse dia cai no mês de agosto. Vale notar que, segundo o calendário judaico, o primeiro e o segundo templos foram destruídos no mesmo dia. Nesse dia memorial, sempre se publicam artigos de jornal nos quais se questionam as razões pelas quais aquilo possa ter acontecido. Sobre os motivos da destruição do primeiro templo, o Antigo Testamento oferece informações claras. Já a destruição do segundo templo ocorreu após a redação dos últimos livros do Antigo Testamento, e, por isso, este só consegue tratar do assunto marginalmente, ainda que em Daniel 9.26 esse acontecimento já tenha sido predito.

Por meio do historiador Flávio Josefo, porém, temos relatos detalhados sobre os eventos que levaram à destruição do segundo templo. Seu livro A Guerra dos Judeus ainda hoje parece matéria de manchete de jornal. Foi terrível o que aconteceu naquela ocasião. A maior tragédia de tudo aquilo, porém, foi a desunião interna, que acabou levando à maior catástrofe do povo judeu.

Tem-se comentado repetidamente que a desunião interna é o maior inimigo do Estado judeu. Aquilo que acontece agora em Israel por causa das eleições em novembro demonstra mais uma vez o quanto o povo judeu continua, ainda hoje, desunido e dividido entre diferentes facções.

Quando os romanos avançaram sobre Jerusalém, a cidade estava dividida em pelo menos três facções rivais que lutavam umas contra as outras. As rivalidades internas chegaram ao ponto de os fanáticos assassinarem, numa única noite, cerca de duas mil pessoas da elite que buscava um entendimento com Roma a fim de encerrar a guerra. Com isso, já se chegara a uma guerra entre irmãos, e nada poderia ser mais destrutivo e debilitante para a defesa do que a desunião interna.

Esses eventos daqueles dias sempre são citados no contexto desse dia memorial como advertência para o moderno Estado de Israel e, em particular, para a situação atual.

Por ocasião da fundação do Estado de Israel, a catástrofe do Holocausto estava presente de forma tão generalizada que todos estavam conscientes de que apenas uma união incondicional poderia prevalecer sobre a predominância dos inimigos. Também então havia controvérsias entre o povo judeu, mas estas desapareceram diante do objetivo maior da criação de um estado próprio.

Entrementes, passaram-se 74 anos e muitas ideologias também brotaram em Israel. Em particular, as diferentes tendências religiosas criam cada vez mais cisões entre o povo judeu. Israel é um dos países com maior número de partidos políticos e religiosos. Antes de cada eleição, surgem novos partidos e coalizões políticas prometendo aos eleitores a solução para a situação política emperrada. Infelizmente, porém, geralmente o ego político prevalece e o bem do povo na totalidade fica em último lugar.

O fato de Israel não ser apenas mais um Estado entre muitos, mas que, por trás de sua origem, existem fatores adicionais, como o cumprimento de antigas promessas bíblicas, nos dá a confiança de que, apesar dos desdobramentos maléficos, o Deus Onipotente está presente para garantir que seu plano com Israel e o mundo chegue a bom termo.

Nessa maravilhosa esperança saúdo a todos com shalom, Fredi Winkler.

Fredi Winkler é guia turístico em Israel e dirige, junto com a esposa, o Hotel Beth-Shalom, em Haifa, que é vinculado à missão da Chamada.

sumário Revista Chamada Outubro 2022

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