Decifrando o código bíblico
Quais são algumas diretrizes comprovadas que nos levarão a uma compreensão confiante das passagens proféticas da Bíblia? Aqui estão quatro fundamentos que nunca o desapontarão.
1. Interprete literalmente. Pergunte: “Qual é o entendimento claro, normal da passagem?”. Afinal de contas, a Bíblia não foi escrita em hieróglifos, mas na linguagem simples da época. Então, pergunte a si mesmo: qual é o entendimento normal, gramatical e histórico da linguagem usada na passagem? Essa abordagem não ignora símbolos ou figuras de linguagem, mas as interpreta como elas eram para ser compreendidas.
Também deveríamos perguntar: “O que essa passagem significava para os ouvintes ou leitores originais?”. Essa abordagem presume que os autores da Escritura (os quais cremos que foram sobrenaturalmente inspirados pelo Espírito Santo) registraram sem erro sua revelação escrita à humanidade nos manuscritos originais. Assim, quando comunicaram essa verdade original, os autores teriam usado a construção gramatical mais apropriada e relevante à sua antiga audiência. Eles também teriam sido historicamente precisos e usado o contexto da época, tais como costumes contemporâneos e práticas culturais, a fim de transmitir significado. Logo, ao lermos qualquer passagem bíblica, tomamos o significado simples e literal como o mais confiável, a não ser que haja uma razão convincente para fazer o contrário (p. ex., símbolos, metáforas, parábolas).
2. Não ignore símbolos. Já afirmei que a interpretação simbólica não é um método confiável, especialmente quando atribui significados de forma arbitrária a esses símbolos. Mas há símbolos na Bíblia. Como a Bíblia utiliza esses símbolos, isso não exige uma mudança repentina do método interpretativo usado para entender o seu significado.
Um símbolo é algo que representa algo diferente de si mesmo. Então, a chave é encontrar o que o símbolo representa. Faça isso e você encontrará o significado do símbolo! Por exemplo, as taças de incenso em Apocalipse 5.8 são simbólicas; representam as orações dos santos que estão no céu. Sabemos disso porque é revelado a nós no mesmo versículo. Símbolos proféticos não são indecifráveis e já são muitas vezes explicados para nós no contexto imediato ou próximo. A interpretação responsável não nos dá permissão para inventar nossos próprios significados dos símbolos.
3. Deixe a Escritura interpretar a Escritura. A Bíblia muitas vezes é a sua própria intérprete. Mas esse princípio se aplica não apenas no contexto imediato, mas também ao longo de toda a Bíblia. A Escritura, incluindo a profecia, pode às vezes parecer um pouco um quebra-cabeça, mas não um que não possa ser montado ou entendido. Por exemplo, ao ler as palavras de Tiago 2.14-17 a respeito do papel das obras na salvação, você pode ter a impressão de que as obras são de alguma forma um pré-requisito para ser salvo. Todavia, os escritos de Paulo em outros lugares nos resguardam de chegar a essa conclusão. Quando lemos Tiago e Paulo juntos (Ef 2.8-9; Rm 3.28; 5.1; Gl 5.1-12), podemos comparar a Escritura com a Escritura e ver o quadro geral do quebra-cabeça. Como cremos que toda a Bíblia é inspirada pelo mesmo autor, o Espírito Santo, ela não pode e, de fato, nunca se contradiz (2Pe 1.20-21).
À medida que você busca entender uma passagem profética (ou qualquer porção da Escritura), sempre pergunte: “O restante da Bíblia diz algo sobre isso?”.
4. Considere os picos e vales proféticos. Deus não revelou toda a profecia a nenhum de seus profetas. Alguns receberam apenas partes da história, mas tiveram acesso negado a outras porções da narrativa futura. Isaías e Miqueias, por exemplo, predisseram o nascimento do Messias (Is 7.14; Mq 5.2). Isaías também profetizou sobre o sofrimento do Messias (Is 53.1-12). Daniel viu as atividades do Anticristo (Dn 7.19-27). Daniel, Isaías, Miqueias e Ageu receberam vislumbres do futuro reino do Messias (Dn 7.13-14; Is 2.1-3; Mq 4.1-2; Ag 2.5-9). Todos esses são considerados grandes “picos das montanhas” na profecia bíblica.
Todavia, nenhum desses profetas teve a permissão para ver o “vale” da igreja, o qual Paulo descreve como “mistério guardado em silêncio desde os tempos eternos, e que, agora, tornou-se manifesto” (Rm 16.25-26; Ef 3.3-6).
Os profetas do Antigo Testamento contribuíram para os “picos” das verdades proféticas da Escritura, sem conhecer todos os detalhes de como suas profecias um dia se uniriam para contar a história do Messias. Para alguns, havia também uma distância cronológica entre um e outro e suas profecias originais. Hoje, temos o privilégio de ver toda a cadeia montanhosa, não apenas um ou dois picos.
Ao olhar para passagens proféticas, deveríamos perguntar: essa profecia já foi cumprida? Se sim, de que forma? E quando? Se não, para qual tempo futuro ela aponta? O que o restante da Bíblia diz? Essa profecia é repetida em outro lugar? Existe um cumprimento próximo e um distante da mesma profecia na Escritura? E como essa profecia se relaciona com Jesus (Ap 19.10)?
Nosso Deus é o contador de histórias por excelência, e a profecia é feita para confrontar e confortar, mas não para confundir. Uma hermenêutica consistente é como um artista com uma mão firme que está dando pinceladas em um retrato detalhado. A tela é a história mundial, o pincel é a mão soberana de Deus, e as tintas são as centenas de profecias bíblicas usadas pelo Todo-poderoso ao longo das eras para trazer à realidade “as coisas... que hão de acontecer” (Ap 1.19).
Precisamos nos lembrar de que a Palavra de Deus foi escrita para ser entendida, e isso inclui as profecias. Isso não significa que sabemos e compreendemos cada detalhe a respeito dos últimos dias, Apocalipse e a tribulação. Também não quer dizer que não podemos ter visões divergentes dentro do corpo de Cristo. Mas, como vimos anteriormente neste livro, o significado da profecia muitas vezes se torna mais claro à medida que nos aproximamos de seu cumprimento.